domingo, 31 de março de 2024

UMA MONUMENTAL OBRA MUSICAL ESCULPIDA EM FILIGRANA


Por PEDRO AMARAL *
 
Transcrevemos com a devida vênia do jornal PÚBLICO, edição de 25/03/2024, p. 29, da coluna Obituário: Péter Eötvös (1944-2024), compositor, maestro e intérprete foi um dos grandes da Europa musical das últimas décadas.

Péter Eötvös regendo - Crédito: https://van-magazin.de/mag/peter-eoetvoes/
 

Na língua húngara, o nome Eötvös evoca a profissão de ourives: o que trabalha os metais preciosos e os torna peças de arte. Péter Eötvös, que morreu ontem, aos 80 anos, foi, à sua maneira, um joalheiro da arte musical, partindo do som, cuidadosamente depurado, e dando vida a extraordinárias peças de música, como compositor e intérprete. 

Nascido na Transilvânia em plena Segunda Guerra Mundial, em Janeiro de 1944, o início da sua vida será marcado pela devastação, numa Europa em escombros. Fugindo ao flagelo da Frente Leste, a família irá rumar a Dresden, sem imaginar que a sua chegada iria coincidir com os bombardeamentos dos Aliados que se traduzirão em mortes incontáveis, e dos quais a criança de berço escapou como por milagre numa cave incógnita. 

Crescerá numa Hungria capturada pelo regime soviético onde, segundo o seu próprio testemunho, professores e alunos se atinham a um veemente silêncio nas obrigatórias aulas de língua russa, como forma de resistência e protesto. Ainda em criança estudará na Academia de Música de Budapeste por indicação de Zoltan Kodály, derradeiro expoente da grande modernidade que, com Bartók, transformara a tradição húngara e criara uma escola estética internacionalmente reconhecida. 

Concluídos os estudos em Composição, irá procurar um novo curso que lhe permita adiar o serviço militar obrigatório. Por mero pragmatismo envereda pela Direcção de Orquestra, sem imaginar que essa dupla formação viria a talhar de forma decisiva a sua personalidade musical, conferindo-lhe um perfil raro e de excelência que o imporia como uma das grandes figuras da Europa musical das últimas décadas. 

Autorizado a prosseguir os seus estudos na Europa Ocidental, Eötvös escolherá Colónia, epicentro de uma vanguarda musical liderada por Bernd Alois Zimmermann e Karlheinz Stockhausen. Aluno do primeiro na Musikhochschule, rapidamente entrará no círculo do segundo, integrando como pianista o Grupo Stockhausen, com o qual virá a partir para o Japão, participando em centenas de concertos com as obras do mestre na Exposição Universal de Osaka. 

A carreira como maestro ganha um fortíssimo impulso quando substitui Michael Gielen na direcção de Hymnen mit Orchester, de Stockhausen, em Paris, em 1977 — um momento histórico na sequência do qual Pierre Boulez viria a convidá-lo a dirigir o concerto inaugural do IRCAM, frente ao Ensemble Intercontemporain, de que se tornará depois director musical. 

O resgate da ópera

Após anos em que se viu submerso pela actividade de intérprete, recentrou-se como compositor em torno da ópera

Submerso pela actividade de intérprete, a sua obra como compositor revelar-se-á numa fase tardia, em meados da década de 1990, com a composição da ópera Três Irmãs, a partir de Tchékhov. Se a sua adolescência e juventude, em Budapeste, tinham sido marcadas pela colaboração com o teatro e o cinema, para os quais escreveu abundante música, não é surpreendente que o recentrar da sua vida na composição, já depois dos 50 anos de idade, tenha passado por um reencontro entre teatro e música. 

Três Irmãs conhecerá um extraordinário sucesso numa Europa que há muito aguardava por uma reconciliação da ópera com a modernidade. Nas quase três décadas que, entretanto, se seguiram, Eötvös apresentará 12 novas óperas, de cada vez explorando novas temáticas, novos textos, novas línguas, novas visões possíveis da dramaturgia musical. A derradeira, Valuska, é simultaneamente a única das suas óperas de maturidade em que reencontra a sua língua materna, o húngaro que, na juventude, marcara as suas primeiras colaborações com o teatro. 

As primeiras visitas de Eötvös a Portugal remontam aos anos em que serviu como director musical do Ensemble Intercontemporain. Já no século XXI, dirigirá a London Sinfonietta na Temporada Gulbenkian, em Fevereiro de 2006, interpretando obras suas e de compositores por si propostos (entre as quais a minha Paraphrase, que tinha dirigido em estreia dias antes, em Londres). Dirigiria ainda a Orquestra Gulbenkian em dois inolvidáveis concertos com a sua música (zeroPoints e Jet Stream) e o magnífico poema sinfónico Die Seejungfrau, de Alexander von Zemlinski. 

Em 2010 regressará a Lisboa para uma rara produção de Momente, que considerava a obra-prima de Stockhausen, com o Coro Gulbenkian. Nos anos seguintes iria desenvolver uma forte relação com a Casa da Música, iniciada em Novembro de 2014, com a estreia portuguesa da sua obra Atlantis. Acolhendo-o como artista residente, a instituição será co-comanditária de três das suas obras — Da capo, Secret Kiss e o recente Concerto para Harpa, estreado em Paris em Janeiro. 

Foi ainda Artista Associado da Orquestra Metropolitana de Lisboa na Temporada 2020/21. Agendada anos antes, uma parte da programação foi comprometida pela pandemia de covid-19. Salvou-se, entre outros, o concerto com o seu Dialog mit Mozart, apresentado no Centro Cultural de Belém, lado a lado com a Quarta Sinfonia de Gustav Mahler. 

Na noite de sábado, dirigi em Budapeste a estreia húngara do seu Concerto para Saxofone e Orquestra, Focus, página brilhante, jazzística, sedutora, que evoca memórias antigas de Paul Desmond e Gerry Mulligan, entre outros. “Desde a infância sempre me senti muito próximo do saxofone, porque soa como se fosse eu próprio a cantar”, escreveu. 

Deixámos tudo em palco, como sói dizer-se — a orquestra, a solista, Erzsébet Seleljo, e eu próprio —, num misto de completo envolvimento, de emoção e daquele puro prazer musical que Péter tão bem cultivava na sua escrita e nas suas interpretações. Assim que terminou o concerto dei-lhe conta do enorme sucesso da sua obra, aplaudida em apoteose. 

Quis o destino que fosse o seu derradeiro aplauso público em vida. Tinha prometido visitá-lo na tarde de ontem. Horas antes de ir ao seu encontro, fui surpreendido pela notícia devastadora da sua partida. Repousa em paz, querido Péter.

* Compositor português nascido em Lisboa em 1972, é um dos mais activos e promissores compositores portugueses da nova geração.

Colaborador: PEDRO AMARAL

Nascido em Lisboa em 1972, PEDRO AMARAL é um dos mais activos e promissores compositores portugueses da nova geração. Depois de estudar em Portugal deslocou-se para Paris em 1994 com o objectivo de estudar composição com Emmanuel Nunes, no Conservatório Superior de Paris. Diplomou-se quatro anos mais tarde. Durante o mesmo período desenvolveu estudos teóricos na École des Hautes Etudes en Sciences Sociales, obtendo o grau de mestre com uma tese sobre Gruppen de Stockhausen (1998) e, em 2003, o de Doutor, com uma tese em torno da obra Momente e o problema da forma musical na música serial. Estudou direcção de orquestra com Emílio Pomarico e com Peter Eötvös.  
 
Transmutations, para piano e electrónica em tempo real, foi composta durante a sua primeira estadia no IRCAM em 1998/1999. Depois de ter sido tocada durante a temporada musical de 1999 daquele Instituto, a obra foi escolhida para representar Portugal na Tribuna Internacional de Compositores (UNESCO), no contexto da qual foi difundida pelas estações de rádio de todo o mundo. No final de 2001 a mesma obra representou a secção portuguesa do ISCM no Festival World Music Days, no Japão. 
 
No mesmo ano, Porto Capital da Cultura encomendou a Pedro Amaral Organa, para conjunto instrumental e electrónica ao vivo ad libitum, obra que foi igualmente desenvolvida nos estúdios do IRCAM. Em 2003, e por um período que se estende por 2003, Pedro Amaral manter-se-á pelo terceiro período no IRCAM na categoria de "Compositeur en recherche". 
 
Convidado por Peter Eötvös, ele foi compositor residente no Herrenhaus em Edenkoben, na Alemanha, entre Fevereiro e Julho de 2001. Foi galardoado pela Académie de France à Rome, pelas suas obras Anamorphoses (para Orquestra) e Organa (ensemble e electrónica em tempo real ad libitum, sendo o seu projecto de criação na Villa Medici, desde Maio de 2003, a composição de uma obra cénico-musical a partir de diversos fragmentos poéticos, analíticos e teatrais de Fernando Pessoa. A música de Pedro Amaral tem sido tocada por orquestras e conjuntos instrumentais de renome quer sob a sua direcção quer sob a direcção de maestros como Mark Foster, Muhai Tang, Lucas Pfaff, Renato Rivolta, Johannes Kalitzke, Franck Ollu, Michael Zilm e outros; é regularmente apresentado em Festivais de Música Contemporânea em Portugal, Espanha, França, Alemanha e Japão.
 

Dª ANNA BRAGA LOPES (“Dª ANNITA”)


Por GIL FURTADO *
 
Autêntica mulher brasileira e sanjoanense. Filha/irmã/mãe/tia/avó/bisavó. A todos trata com a mesma atenção, delicadeza e caridade. (In “Personalidades proeminentes de nossa história local”)
Anna Braga Lopes (✰ 30/10/1912, São João del-Rei - ✞ 18/03/2004, BH

ANNA BRAGA LOPES para os mais íntimos, Dª Annita, mamãe, tia Annita... Filha de José da Silva Braga ("Nhonhô Braga") e Dª Josefina de Carvalho Braga, Dª Anna nasceu em 30 de outubro de 1912, em São João del-Rei, mais precisamente na Vila do Rio das Mortes. Em 1920, cursou a Escola Primária na mesma localidade, em um internato feminino sob a direção de Dª Ernestina de Barros e posteriormente em São João del-Rei, foi a aluna de Dª Celina Amélia de Rezende Viegas. 

Em 20 de outubro de 1929, casou-se com Miguel Lopes de Oliveira. Dessa feliz união nasceram onze filhos. Ficou viúva em 1980. Dª Annita conviveu vários anos com o sogro e a sogra: Eduardo Lopes de Oliveira e "Mãe" Donana  a "sá" Donana, como diz Dª Annita. Desta convivência saudável, aprendeu muito, inclusive a confeccionar as até hoje famosas "broinhas da Esperança", pois residiam no local denominado Caixa d'Agua da Esperança, onde passava a "Maria Fumaça", o trenzinho de RMV, que ia para Sítio (hoje Antônio Carlos). Enquanto o trem parava, as "broinhas da Esperança" eram vendidas aos passageiros e tripulantes. Em 1944, juntamente com sua sogra, fez um estabelecimento onde recebia jovens convocados para prestar serviço militar e que partiriam em seguida para a já distante Segunda Guerra Mundial. Sempre atenciosa, Dª Annita é grande amiga de seus parentes e tem por eles muita estima, tanto do lado de seus familiares, como da família de seu falecido marido Sr. Miguel. Dª Annita teve seis irmãos: José da Fonseca Braga, Sebastião da Fonseca Braga, Roque da Fonseca Braga, Roberto Norberto da Fonseca Braga, todos infelizmente já falecidos. Suas irmãs vivas: Dª Olga Braga Teixeira, viúva de Júlio Teixeira, e Dª Maria das Mercês Braga Lovatto, viúva de Antônio Lovatto. 

EXEMPLO DE MULHER, DE ESPOSA E DE MÃE 

Em 1954, seu esposo Miguel sofreu um derrame. Dª Annita, paciente e muito carinhosa, acompanhou seu marido adoentado por 26 anos, até 1980, quando veio a falecer. Quando ocorreu a doença do Sr. Miguel, seu filho mais velho estava com 22 anos e o caçula com apenas 2 anos de idade. Dª Annita, com muita fé, perseverança e confiança em Deus e coragem, conseguiu continuar a educação dos filhos, com a ajuda firme e decidida de seu primogênito Eduardo  arrimo da família  e dos demais filhos que também auxiliaram na criação dos irmãos menores. O SALMO 128(127) serve para ilustrar a vida de Dª Annita. Vejam:  
“Felizes os que temem o Senhor, 
os que andam em seus caminhos. 
Poderás viver do trabalho de tuas mãos, 
Serás feliz e terás bem-estar. 
Tua esposa será qual videira profunda 
No interior de teu lar. 
Teus filhos, ao redor de tua mesa, 
como rebentos de oliveira. 
É esta a recompensa 
do que teme o Senhor. 
O Senhor te abençoe desde Sião, 
Que contemples o orgulho de Jerusalém 
Todos os dias de tua vida, 
E possas ver os filhos de teus filhos. 
Paz a Israel.

FAMÍLIA. EXEMPLO DE MULHER CORAJOSA 

Onze filhos, dezoito netos, cinco bisnetos:
1) Eduardo José Braga de Oliveira, casado com Dolores Olívia. Eduardo e Dolores deram três netos à Dª Annita: Douglas, Simone e Diana. 
2) Miguel Maurício Lopes de Oliveira (recentemente falecido). foi casado com Marilda. Filhos do casal: Terezinha e André. Bisnetos: Thaís, filha de Terezinha e Rudney; Karina e Bruna, filhas de André e Marília. 
3) Ana Maria (morreu quando criança). Era afilhada do casal Dª Risoleta e Dr. Tancredo Neves 
4) Álvaro Bosco Lopes de Oliveira, casado com Emma Lana. 
5) Eduardo Lopes de Oliveira, residente em Belo Horizonte. 
6) Celso Eduardo Lopes, casado com Eliana Márcia. Do casal nasceram Tatiana, Felipe e Bruno. 
7) Ana Maria Lopes Rezende, casada com José Alvim Rezende. Do casal nasceram Luciana, Daniela e Cristina. 
8) Francisco Eduardo Lopes, casado com Nelly. Do casal nasceram: Cliver, Dany, Nayro e Sabrina. De Cliver, casado com Marília, nasceu Isabela. De Nayro e Ilona nasceu Luiz Felipe, até agora o caçulinha dos bisnetos de Dª Annita. 
9) Laura Maria Lopes de Oliveira, casada com Délio. Do casal nasceram Daniel e Matheus. 10) Maria do Carmo Lopes de Oliveira Braga, casada com Carlos Fernando dos Santos Braga. Do casal nasceu Olavo José, caçula dos netos. 
11) Fernando Eduardo Lopes de Oliveira, casado com Bernadeth. Do casal nasceu Lorena. 
 
TRAÇOS MARCANTES DO CARÁTER DE Dª ANNITA 
 
Bondade, humildade, tranquilidade, resignação, compreensão, amizade, calma, discrição, simplicidade e paciência. De todos esses traços o que mais impressiona em Dª Annita é a paciência aliada a uma fé inabalável e uma religiosidade convicta. Católica praticante, devota de Nossa Senhora do Carmo, ela dá o testemunho sobretudo pelo exemplo. Quero ressaltar que "Tia Annita"  permita-me chamá-la assim ao menos desta vez  é o protótipo da mulher mineira e sanjoanense. Quero, de público, lhe agradecer. Devemos-lhe muitas finezas —, não só à sra., mas a todos os seus filhos e filhas também —, eu e Lourdinha, sua querida sobrinha, filha de Conceição e Pedro Ferreira Júnior. 
O que muito me encanta e edifica é o carinho e atenção que todos os seus filhos dedicam à sra. , Tia Annita. 
Para a sra., eu, Gil Furtado, reproduzo o que contém o estribilho daquele canto lindo que leva o título de "Ainda que eu fale a língua dos homens": 
(...) O amor é paciente, tudo crê. É compassivo: não tem rancor, não se alegra com a injustiça e com o mal. Tudo suporta; é dom total.
Finalmente repito um gesto que sempre me apraz e me comove, quando nos encontramos, Tia Annita: beijo, com todo o respeito e carinho, suas mãos benditas! 
Seu amigo e admirador, 
Gil Furtado. 
São João del-Rei, 16 de julho de 2002 (Dia de Nossa Senhora do Carmo)
 
* Escritor e autor do Hino de Lumiárias-MG, sua terra natal; bacharel em Letras e Filosofia pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del-Rei; professor de português no Colégio Estadual Cônego Osvaldo Lustosa de São João del-Rei.
 
Observação do Gerente do Blog: A homenagem que Gil Furtado prestou à sua "tia" Annita ocorreu durante o penúltimo ano de vida da homenageada, quando tinha 90 anos de idade, visto que ela nasceu em 30 de outubro de 1912, em São Sebastião da Vitória, distrito de São João del-Rei. Ela veio a falecer em 18 de março de 2004 com a idade de 91 anos, com o diagnóstico de um AVC.
Para maiores informações sobre a vida de Tia Anita com uma atualização sobre sua descendência, recomenda-se o livro Anita: uma vida a serviço do amor” por sua filha, Maria do Carmo Lopes de Oliveira Braga, Belo Horizonte: Bellas Artes Gráfica e Editora Ltda., 2012, 210 p., lançado por ocasião do centenário de nascimento da homenageada.

Colaborador: GIL FURTADO


Por Francisco José dos Santos Braga
 
GIL FURTADO nasceu em Luminárias-MG e é o autor da música do hino da sua cidade natal.
Aqui, oferece-se a oportunidade de falar sobre a cidade natal de Gil Furtado. Segundo a Wikipedia, Luminárias foi distrito de Lavras de 1840 a 1944, quando se tornou distrito de Itumirim. Sua emancipação como município se deu em 17/12/1948. 
Eclesiasticamente a paróquia de Nossa Senhora do Carmo de Luminárias pertence à Diocese de São João del-Rei. 
Sua grande festa religiosa é o Dia da Padroeira (16 de julho). 
Sua história remonta ao século XVIII, quando de seu primeiro núcleo de povoação. Nos anos de 1760 foi se constituindo como povoado por estar em uma rota considerada de abastecimento para viajantes e localizar-se num ponto de confluência entre a região de São João del-Rei e o Sul de Minas.  
Consta que os primeiros registros da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, de Luminárias, datam de 1798, tornando sua história bicentenária. Nesse ano,  foi construída uma capela em honra a Nossa Senhora do Carmo, por iniciativa de D. Maria José do Espírito, capela essa que existe até hoje, popularmente denominada "Igreja Velha". Devido à ereção da capela, a região passou a ser conhecida por “Carmo das Luminárias”.
A cidade faz parte da rota da Estrada Real.
Quanto a Gil Furtado, sabe-se que frequentou o seminário. Na Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del-Rei obteve graduação em Letras e Filosofia. 
Também nesta cidade casou-se com Ana Lourdes Ferreira ("Lourdinha"). 
Lecionou português no Colégio Estadual Cônego Osvaldo Lustosa de São João del-Rei. 
Consta que Gil Furtado sofria de depressão, tendo períodos de euforia seguidos de outros de melancolia e perturbação mental. Em certa ocasião, teve que ser internado em hospital psiquiátrico e sua internação durou cerca de oito meses. Pouco tempo depois, faleceu.

sábado, 30 de março de 2024

RELEASE DA SESSÃO SOLENE DA AFL-ACADEMIA FORMIGUENSE DE LETRAS EM 22 E 23/03/2024


Por PAULO JOSÉ DE OLIVEIRA *
 
Aconteceram nos dias 22 e 23 de março de 2024, o início das comemorações dos 15 anos de fundação da entidade, os atos solenes de posse de novos acadêmicos e lançamento de obras literárias de vários membros da Academia Formiguense de Letras (AFL), inclusive o lançamento da 14ª Antologia da AFL intitulada Asas de Águia.

Foto de Acadêmicos e Neoacadêmicos ao final da sessão solene

 
Foto social ao final da sessão solene

MISSA EM AÇÃO DE GRAÇAS DE 15 ANOS: Na sexta, 22 de março, às 19 horas os acadêmicos puderam participar da Missa em Ação de Graças, celebrada na intenção/pelos 15 anos da AFL, realizada na Igreja Matriz São Vicente Férrer, celebrada pelo Padre Elígio Stülp SCJ, a quem agradecemos. 

Igreja de São Vicente Férrer com seu órgão de tubos

JANTAR E SARAU: No mesmo dia 22 de março, com início às 20 horas no Relicário, foi realizado um Jantar Fraterno com Sarau Poético de recepção aos novos acadêmicos, junto com seus familiares e amigos. 

Confraternização no jantar e sarau

PASSEIO TURÍSTICO: Já no sábado, 23 de março, com início às 9:30 horas foi realizado um passeio turístico por alguns pontos importantes de Formiga, sendo estes: o Museu Municipal Francisco Fonseca, o Cristo Redentor, a Igreja Matriz São Vicente Férrer, a Lagoa do Fundão em especial o Country Clube, terminando com um almoço no Pesque e Pague Silveira. 

 

SESSÃO SOLENE: No sábado, com início às 19:30 horas, no Auditório do Centro Municipal de Aprendizagem - CEMAP - Rua Alderico Nogueira, nº 470 - Bairro Sagrado Coração de Jesus, Formiga/MG, aconteceu a Sessão Solene de Posses e Lançamento das Obras Literárias. Presidida pelo Acadêmico Paulo José de Oliveira (Pajo Poeta) e tendo como Cerimonialista a Professora Acadêmica Maria Lúcia Oliveira Andrade, aconteceu a solenidade com um grande público presente. 

APRESENTAÇÃO CULTURAL PRÉVIA: Abrindo os trabalhos da noite, a AFL, em homenagem aos acadêmicos empossandos, brindou a todos com uma bela apresentação musical de piano e canto lírico com o Duo Rute Pardini * & Francisco Braga *, vindos da cidade de São João del-Rei, o qual encantou a todos com o seguinte repertório: 

1) CARLOS GOMES: Quem sabe (modinha)
2) REYNALDO HAHN - À Chloris, Si mes vers avaient des ailes, L'Heure Exquise; 
3) GIACOMO PUCCINI - O mio babbino caro; 
4) FRANÇOIS CHOPIN (com base no Estudo "Tristesse" - opus 10 nº 3 em mi maior) - Dans la nuit; e 
5) MIKOLA LYSENKO / Arr. Francisco Braga - Que noite estrelada e enluarada! 
 
* FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS BRAGA é Acadêmico da AFL, natural e residente em São João del-Rei, escritor, pianista, arranjador e compositor, além de tradutor para o português das literaturas grega e latina, russa, polonesa, alemã, inglesa e francesa. Gerencia o Blog do Braga, onde assina seus próprios artigos, traduções inéditas de poemas e prosa de autores universais, além de discursos e ensaios de sua autoria, e o Blog de São João del-Rei. Pertence a várias outras entidades. É comendador agraciado com as seguintes honrarias: Comenda da Liberdade e Cidadania (2011-1ª edição), Medalha do Mérito Cívico “Tomás Antônio Gonzaga” (2011), Medalha comemorativa dos 30 Anos da Academia de Letras de Brasília (2012), Medalha “Frei Orlando-Patrono do SAREx” (2013) e Comenda Guimarães Rosa (2023). 
 
* RUTE PARDINI BRAGA é cantora lírica na categoria soprano lírica coloratura brasileira e pesquisadora em música. Bacharel em Música com habilitação em Canto Lírico pela UnB, frequentou simultaneamente a Faculdade Mozarteum de São Paulo e Escola de Música de Brasília. 
Participou do “Curso de Invierno de Técnica vocal y Actuación dinâmica” (Instituto Superior de Arte del Teatro Colón, em Buenos Aires). 
Participou da apresentação de “As Bodas de Fígaro”, de Mozart, como Susanna (Teatro da UNIP-DF), no evento Ópera Estúdio dos Departamentos de Música e Artes Cênicas da UnB (Teatro Ulisses Guimarães da UNIP-Universidade Paulista). 
Atuou como Frasquita na ópera “Carmen”, de Bizet, no evento Ópera Estúdio dos Departamentos de Música, Artes Cênicas e Artes Visuais da UnB, encenada na Sala Martins Pena do Teatro Nacional Cláudio Santoro. 
Atuou como “Voz Lírica” na peça teatral “O Sonho de Lady Macbeth”, encenada na praça e na rampa do Museu da República, durante 3 noites consecutivas (https://willscard.carbonmade.com/projects/2914943). 
 
Homenagem do presidente Pajo à cantora Rute Pardini

 
A cantora Rute Pardini com o Acadêmico Professor Dr. Wilson Alves Figueira

 
COMPOSIÇÃO DA MESA DE HONRA: Compuseram a Mesa de Honra, os seguintes Acadêmicos da AFL: o presidente Paulo José de Oliveira e o Dr. Arnaldo de Souza Ribeiro – presidente da AILE – Academia Itaunense de Letras, e a representante das Bibliotecas Públicas de Formiga Bibliotecária Bernadete Maria de Carvalho. 
 
HOMENAGEM AO DUO RUTE PARDINI E FRANCISCO BRAGA: De forma especial, a Academia Formiguense de Letras – AFL, pelas mãos do presidente Sr. Paulo José de Oliveira, prestou uma singela homenagem ao Duo Rute Pardini Braga e Francisco Braga, pela bela apresentação, com um certificado de congratulação e agradecimento. 
 
HOMENAGEM DO DUO RUTE PARDINI E FRANCISCO BRAGA A GENTIL PALHARES: O casal, por sua vez,  fez a doação de um quadro de GENTIL PALHARES, grande escritor, natural de Formiga, que deu um grande impulso às letras na cidade de São João del-Rei. 
 
Crédito pela foto: Dr. Leonardo Almeida
 
O acadêmico afoleano e são-joanense Francisco Braga explicou que aquele quadro era um preito de gratidão que prestava a Gentil Palhares por ter proferido o elogio fúnebre de seu pai, Roque da Fonseca Braga (1918-1984), ambos torcedores do clube recreativo, esportivo, futebolístico e social do Minas Futebol Clube são-joanense, solicitando a permissão para ler um texto com a biografia dele que poderia ser de muita valia para a AFL dar uma ideia aos leitores e estudiosos sobre a estatura do grande escritor formiguense que se tornou filho adotivo de São João del-Rei, onde escolheu para residir e engrandecer:
 
“(...) GENTIL PALHARES era natural de Formiga-MG, onde nasceu em 9 de março de 1909, filho de Olivério de Fontes Palhares e de Maria Clara de Melo, que eram respectivamente contador e partidor no Fórum local, e professora. Transferiu-se para São João del-Rei aos cinco anos, onde residia seu avô materno, Antônio Rodrigues de Melo, homem de vasta cultura, professor, teatrólogo e latinista.
Estudou no Grupo Escolar João dos Santos e, posteriormente, no Ginásio Santo Antônio e no Seminário do Caraça, para onde seguiu em 1923. 
Voltou à sua terra natal, Formiga, para trabalhar na casa comercial de seu primo José Maria Palhares, naqueles tempos a maior casa de varejo do Oeste de Minas. 
Em 1930 seguiu para Araxá, onde trabalhou na Singer como viajante comercial até 1932, quando retornou a São João del-Rei para ingressar no Exército como soldado. Ali fez carreira. 
Em 1937, quando servia como cabo na Escola de Aviação Militar do Rio de Janeiro, casou-se com a carioca Elvira Coelho dos Santos, com quem teve oito filhos.
Tomou parte na Segunda Guerra mundial como sargento, seguindo para os campos da Itália em 22 de setembro de 1944. No seio do Exército recebeu as seguintes condecorações: Medalha de Campanha, Medalha de Esforço de Guerra, Medalha do Pacificador, Medalha do 1º Congresso Nacional dos Veteranos de Guerra e Medalha dos 30 anos do Término da Guerra. 
 
Foto de Francisco Braga discursando, após doar um quadro de Gentil Palhares à AFL - Crédito pela foto: Dr. Leonardo Almeida
 
Regressando da Itália, continuou no Exército, no 11º Regimento de Infantaria, até 1957, quando passou para a reserva como Primeiro Tenente. 
Já na reserva, foi nomeado Chefe do Serviço de Recrutamento na cidade de Passos, onde permaneceu até 1959, quando regressou definitivamente a São João del-Rei, da qual recebeu, muito merecidamente, o título de cidadão honorário. 
Foi Assessor de Imprensa da Prefeitura de São João del-Rei, de forma graciosa, na gestão do Prefeito Dr. Milton de Resende Viegas, colaborando também, ininterruptamente, com a imprensa local, levando seu saber aos leitores através dos mais variados artigos e crônicas. (...) Seus textos versavam sobre os mais variados temas. 
Publicou também os seguintes livros: De São João del-Rei ao Vale do Pó; A morte de Frei Orlando - crônicas; Roteiro Turístico de São João del-Rei; Histórico do Minas Futebol Clube; Frei Orlando, o Capelão que não voltou; São João del-Rei na Crônica; e De Tomé Portes a Tancredo Neves. Desses destacam-se dois que enaltecem Frei Orlando, Capelão do 11º R.I. na Itália e que lá tombou a serviço de Deus e da Pátria — o que demonstra mais uma faceta generosa da personalidade de Gentil Palhares, pelo fato de que, sendo espírita praticante, não deixava de respeitar e reconhecer os valores pessoais daqueles que seguiam os mais diferentes credos religiosos. 
O saudoso bispo Dom Delfim Ribeiro Guedes costumava referir-se a ele sempre como seu Grande Amigo Espírita. E o fato de sua esposa ser católica praticante nunca foi óbice para que tivessem vivido, por toda a vida, em perfeita harmonia e comunhão. (...) 
Pessoa de espírito ativo, irrequieto, pertenceu às mais diversas instituições culturais, tais como: Academia Municipalista de Minas Gerais, Academia de Letras de São João del-Rei, Academia de Letras de Ipatinga, Academia de Letras de Barbacena, Instituto Brasileiro de Estudos Sociais de São Paulo, Instituto Histórico de Juiz de Fora e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei.
Foi presidente da Associação dos Ex-Combatentes em duas gestões. (...)  
Erigiu o busto de Frei Orlando, na Av. Andrade Reis, em São João del-Rei. 
Foi também presidente da Associação dos Subtenentes e Sargentos, membro do Conselho Fiscal do Minas Futebol Clube, secretário da Academia de Letras de São João del-Rei e presidente do Centro Espírita Amor e Caridade. (...) 
Faleceu em 11 de junho de 1994, aos 85 anos. (...)”
 
 
Fonte: Breves notas biográficas extraídas do Discurso de Defesa do Patrono Gentil Palhares, pronunciado pelo Confrade José Carlos Hernández Prieto em 1º de julho de 2012 na sede do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, conforme Ata nº 471.
 
ENTRONIZAÇÃO: Iniciando a solenidade foi executado os hinos Nacional e de Formiga, e na sequência foi elencado os neoacadêmicos com seus respectivos padrinhos e na sequência o presidente Acadêmico Paulo José abriu os trabalhos procedendo ao ato de posse, com os neoacadêmicos e neoacadêmicas, de pé, proferiram, junto aos seus acadêmicos padrinhos, o juramento de fidelidade aos princípios e anseios da Academia Formiguense de Letras, com a mão direita estendida. Em seguida passou-se aos discursos de saudação pelos padrinhos e de posse e saudação aos seus Patronos, os respectivos neoacadêmicos, sendo eles: ALTERAÇÃO DE CATEGORIA: Conduzida e saudada pelo presidente, fora certificada como Acadêmica Efetiva a Professora Cristina Resende Eliezer, que era Acadêmica Formiguense Ausente. Conduzida pelo seu padrinho, Acadêmico Professor Dr. Wilson Alves Figueira, entronizou-se no átrio, empossando a ACADÊMICA EFETIVA, NA CADEIRA 11, a PROFª ANA PAULA SANTIAGO. Conduzida pela sua madrinha, Acadêmica Professora Maria Rosilene Costa Silva, entronizou-se no átrio, empossando a ACADÊMICA EFETIVA, NA CADEIRA 19, a PROFª GISELE HELOISA DE OLIVEIRA. Conduzida pelo seu padrinho, Acadêmico Dr. Raimundo de Paula Andrade, entronizou-se no átrio, empossando a ACADÊMICA EFETIVA, NA CADEIRA 21, a PROFª DÉBORA MARIANO DE ANDRADE TAVEIRAS BESSAS. Conduzida pelo seu padrinho, Acadêmico Jornalista Manoel Gandra Fonseca, entronizou-se no átrio, empossando o ACADÊMICO FORMIGUENSE AUSENTE, NA CADEIRA 12, o Sr. ROBLEDO CARLOS TEIXEIRA (DIVINÓPOLIS/MG), CUJA PATRONA É A PROFESSORA ANGELA TONELLI VAZ LEÃO. Conduzida pelo seu padrinho, Acadêmico Dr. Leonardo Wanderley Almeida, entronizou-se no átrio, empossando a ACADÊMICA CORRESPONDENTE NACIONAL, NA CADEIRA 18, a MS. CLÁUDIA CARVALHO FONSECA MACHADO (GOIÂNIA/GO), PATRONA CORA CORALINA. Conduzida pelo seu padrinho, Acadêmico Víctor Marques Paiva Alves, entronizou-se no átrio, empossando o ACADÊMICO CORRESPONDENTE NACIONAL, NA CADEIRA 16, o DR. FÁBIO AMERICANO (BH/MG), CUJO PATRONO É Dr. WALTER VEADO. 
 
Acadêmicos  afoleanos empossados  

 
Juramento
 
LANÇAMENTO DE OBRAS LITERÁRIAS: Na sequência, e com grande alegria e júbilo, pela seara de produção literária, o presidente Sr. Paulo José de Oliveira procedeu o ato de lançamento da 14ª Antologia Literária da AFL intitulada “Asas de Águia”, e também, o lançamento das obras literárias dos Acadêmicos empossados, sendo elas, além do Asas de Águia (AFL): 
As Cartas Que Nunca Escrevi Para Meu Pai (da Acadêmica Cláudia Machado), 
A Construção da Oralidade Escrita (da Acadêmica Ana Paula Santiago); 
Incluir Brincando – Coleção (da Acadêmica Débora Bessas); 
À Sua Sombra (do Acadêmico Robledo Teixeira); e 
Walter Veado - Dignidade de uma Vida (do Acadêmico Sr. Fábio Americano). 
 
Foto dos autores afoleanos
 
ENCERRAMENTO: Finalizando a solenidade após as falas dos membros da Mesa de honra, momento em que o presidente Paulo José registrou os agradecimentos a todos os que contribuíram para com a realização da solenidade, ao CEMAP – Secretaria Municipal de Educação, à Secretaria Municipal de Cultura, nas pessoas do Sr. Ivar Salviano que ali cuidou da sonorização, ao Rotary Clube de Formiga, à imprensa, em especial ao Jornal O Pergaminho, e aos que foram prestigiar o nosso evento. 
 
Passou-se ao final, à sessão de fotos, autógrafos pelos autores das obras lançadas, encerrando-se os trabalhos, após o que foi servido um Coquetel aos presentes. 
 

 

Fotos e Filmagens: Membros da AFL. 
 
* Pajo Poeta (Paulo José de Oliveira), presidente da AFL.

quinta-feira, 28 de março de 2024

DISCURSO DE POSSE DE DR. FÁBIO AMERICANO NA AFL-ACADEMIA FORMIGUENSE DE LETRAS


Por DR. FÁBIO AMERICANO *
 
 
Neoacadêmico afoleano Dr. FÁBIO AMERICANO - Cadeira 16 - Patrono: Dr. Walter Veado

Boa noite! 
 
Cumprimento aos componentes da mesa diretora na pessoa do Presidente da Academia Formiguense de Letras, o confrade Paulo José de Oliveira. Cumprimento a todos presentes, acadêmicos, neoacadêmicos, autoridades e convidados. 
 
Agradeço essa oportunidade preciosa de pertencer a AFL, de me tornar um afiliado e mais do que isso, de estar aqui e conhecer tantas pessoas simpáticas, entusiasmadas com a cultura, e acolhedoras. 
 
Vivo aqui e agora dois fatos excepcionais: a minha posse como membro da AFL e a oportunidade de homenagear ao Desembargador Walter Veado, um homem muito especial, com o lançamento de um livro sobre sua vida. 
 
Vou dedicar meu breve tempo ao Dr. Walter Veado, meu patrono nesta Casa de Cultura. 
 

 
 
Walter Veado – A dignidade de uma vida”, é um livro sobre um homem raro, um homem como todos nós deveríamos ser, um precioso exemplo de cidadão, de pai de família e profissional. 
 
Formiga foi uma das cidades a que serviu no interior de Minas, sendo a que mais marcou a vida desse notável magistrado, que aqui chegou em 1961, e aqui permaneceu até 1973. 
 
Durante os 12 anos em que aqui viveu, participou de todas as atividades em que sua colaboração foi solicitada, e de muitas outras por iniciativa própria, com destaque para o equacionamento do problema do menor abandonado, trabalho apoiado pelo Rotary Club, prestigiado clube de serviços do qual foi sócio fundador e presidente. 
 
Nascido em Belo Horizonte, Walter Veado diplomou-se pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, turma de 1944. 
 
Em 1949, ingressou na magistratura mineira, após aprovação em brilhante concurso, tendo judicado nas comarcas de Espinosa, Passa Tempo, Corinto, Formiga e Belo Horizonte. Em 1979, viu-se promovido para o extinto Tribunal de Alçada. Em 1984, foi promovido a Desembargador, integrando a 2a Câmara Cível. 
 
Aposentado, foi nomeado pelo Presidente do Tribunal de Justiça de MG, Superintendente da Memória do Judiciário Mineiro, cargo no qual teve mais um desempenho brilhante entre 1995 e 2002. 
 
Quando judicava na comarca de Formiga, ingressou no corpo docente da Faculdade de Direito do Oeste Mineiro, em Divinópolis, cadeira de Direito Processual Civil e depois, em Belo Horizonte, tornou-se professor da Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais, também na cadeira de Direito Processual Civil. 
 
Era casado com D. Célia Gomes Veado, e foi pai de cinco filhos: Márcio, Marcelo, Marco Aurélio, Maria Clara e Marta. Todos viveram intensamente a infância e adolescência em Formiga, e possuem fortes vínculos afetivos com a cidade. 
 
23 de março de 2024
 
 * Associado Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico MG
Cadeira 86 - Patrono Daniel Serapião de Carvalho
 
Presidente da AFL, Paulo José de Oliveira ("Pajo"), e Dr. Fábio Americano

Neoacadêmicos e Pajo

Pajo, Dr. Fábio Americano e Dr. Arnaldo de Souza Ribeiro




 
Como a biografia e a descrição dos valores e méritos do Desembargador Walter Veado não podem ser resumidos em poucos minutos, vou deixar que alguns personagens da sua vida aqui se manifestem, pois dessa forma evidenciaremos a estima e respeitabilidade que desfrutou de todos com os quais conviveu. 
 
“De cem em cem anos nasce um Walter Veado.” 
Desembargador Gudesteau Bíber Sampaio 
 
“O Tribunal se vê desfalcado de uma das mais brilhantes inteligências que já passaram por aqui. ... trata-se de um homem completo na expressão da palavra. Quer como cidadão ou pai de família, ele foi sempre exemplar. ... que sinto por um homem que encarna todas as virtudes que se pode desejar. 
Desembargador Ayrton Maia 
 
“Homem de família, professor, magistrado, intelectual, ator social, amigo sincero, facetas da mesma pessoa, em múltiplos lugares, que talvez passasse despercebida aos que não se encontrassem no enorme contingente de gerações diretamente influenciadas pelo caráter marcante de Walter Veado. Meu professor, particular amigo, exemplo de honra e dignidade sem exasperação ou soberba, de quem espero poder algum dia ser dito continuador. Sua vida não necessita discurso de sustentação, nela inexistem mistérios, sofismas e o que mais falseia o argumento. Alguém diria, numa suprema síntese, que foi um bom homem; estaria ao mesmo tempo correto e distante de expressar por completo quem foi e, em seus inúmeros discípulos, continua a ser Walter Veado”. 
Desembargador Bruno Terra Dias - aluno 
 
“Todas as suas palavras, atitudes e referências fazem-me equipará-lo a um homem de bem. Na sua vida e na magistratura, cumpriu a lei da justiça, de amor e caridade, na sua maior pureza. Nunca desprezava uma oportunidade de ser útil. Parecia ter natural satisfação de fazer o bem pelo bem, sem esperar paga alguma, encontrando satisfação nos benefícios que prestava. Sua atitude mostrava humanidade e benevolência. Apesar de suas responsabilidades como magistrado e professor, não havia, em sua expressão, qualquer traço de ansiedade ou tensão. Não se envaidecia com sua condição de magistrado, de autoridade. Não usava autoridade para subjugar seus semelhantes, evitando tornar mais penosas as posições subalternas. Parecia colocar seu espírito acima das circunstâncias e dos bens temporais”. 
Advogado William Freire – aluno e amigo 
 
“Em seus 79 anos de vida, soube cativar muitos amigos, que sempre o admiraram. Desempenhou com dignidade, responsabilidade e competência a sua profissão de magistrado. Como professor de cursos secundário e superior, foi querido por todos os alunos, que nele se espelharam em toda a sua caminhada. Como Pai, ensinou aos filhos a retidão do caráter, a honestidade acima de tudo e o amor ao próximo, indicando-lhes o caminho correto e digno da vida. Como esposo, demonstrou o amor, a confiança e o respeito à sua companheira de todas as horas. Como filho e admirador, transcrevo aqui todos os seus passos, cheio de percalços, alegrias e tristezas, mas, percorridos com honestidade, dignidade e caráter”. 
Marcelo Gomes Veado - filho 
 
“Walter Veado não foi apenas um Juiz de Direito respeitado em sua época, mas também um amante das letras, um entusiasta da cultura e um defensor ardente da educação. Sua paixão pela justiça e sua dedicação ao aprimoramento da sociedade através da literatura deixaram uma marca indelével na comunidade formiguense”. 
Marco Aurélio Gomes Veado - filho
 
Convite da AFL para os dias 22 e 23/03/2024

 

terça-feira, 19 de março de 2024

ETHELINE ROSAS, a “conservadora de arte moderna” (1924-2012)


Por SÉRGIO C. ANDRADE *
 
O gerente do Blog dedica este artigo ao Acadêmico António Valdemar que lhe sugeriu a publicação feita pelo jornal PÚBLICO de 19/03/2024, Ano XXXIV, nº 12.273, pp. 28-29.

 

Etheline com o marido José  António Rosas - Cortesia: Jorge Rosas


Não será fácil encontrar a palavra que melhor defina quem verdadeiramente foi Etheline Rosas, a brasileira nascida em São Paulo, faz hoje cem anos, que no início dos anos 1960 se radicou no Porto, e aí haveria de desempenhar um papel crucial, ao lado de Fernando Pernes (1936-2010), no projecto que viria a resultar no Museu de Arte Contemporânea de Serralves (MACS). 
 
Conservadora, coleccionadora, galerista, museóloga, curadora, especialista em arte moderna? 
 
Tendo em conta que alguns destes conceitos nem sequer existiam nos anos em que a jovem Etheline começou a trabalhar, como simples funcionária, no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, fundado em 1946 pelo industrial e coleccionador brasileiro Francisco Matarazzo Sobrinho (também conhecido como “Ciccilio” Matarazzo) e da sua mulher Yolanda Penteado, talvez a definição mais ajustada seja a avançada pela investigadora portuguesa Sofia Ponte: “Conservadora de arte moderna”. 
 
Na aparente contradição da expressão estará a síntese feliz para retratar o que foi o trabalho tão inovador quanto discreto desta brasileira que, no Porto, foi “a mais proeminente mulher a contribuir para o desenvolvimento inicial da rede internacional da arte contemporânea”, escreve Sofia Ponte no capítulo que dedica a Etheline Rosas no livro recém-publicado em Londres, Women Art Dealers — Creating Markets for Modern Art, 1940-1990
 
Women Art Dealers - Creating Markets for Modern Art, 1940-1990

 
Nesta edição com a chancela Bloomsbury, a brasileira é uma entre 17 mulheres que marcaram os caminhos da arte naquela metade do século XX. Entre elas, encontrando-se coleccionadoras como a americana Peggy Guggenheim ou a italiana Mara Coccia; e galeristas como a americana Bertha Schaefer ou a peruana Simone Rachel Kahn, que em França se tornou depois Simone Breton, mulher do fundador do surrealismo. 
 
Sofia Ponte, investigadora no IADE — Universidade Europeia, em Lisboa, traça nesse livro a biografia de Etheline Rosas (1924-2012), explicando as suas dimensões de “conservadora de arte moderna”, mas também “art dealer” e “museóloga”, realçando o seu contributo para as várias instituições e projectos a que se associou. 
 
Nascida na capital paulista a 19 de Março de 1924, filha de ucranianos emigrados para o Brasil no início do século, Etelvina Isaac Chamis (que, após o casamento, passaria a Etheline Rosas) entrou no mundo da arte moderna quando, com pouco mais de vinte anos, começou a trabalhar no referido Museu de Arte Moderna. 
 
Ao lado do actor David Niven e do coleccionador "Ciccilio" Matarazzo, na V Bienal de São Paulo
 
Em 1949, participa na montagem da primeira exposição oficial do MAM-São Paulo, Do Figurativismo ao Abstraccionismo. A abrir a década seguinte, acompanha o lançamento da bienal de arte paulista, cuidando ao longo de uma década do secretariado, inventário, catalogação e empréstimos, tarefas que lhe dão um conhecimento seguro do meio, mas também de “várias personalidades ligadas à modernidade progressista brasileira”, escreve igualmente Sofia Ponte no artigo para o dicionário Quem É Quem na Museologia Portuguesa (Instituto de História da Arte, Universidade Nova de Lisboa, 2019). Destas relações, a investigadora destaca a colaboração com o crítico Mário Pedrosa, e a coordenação das bienais de 1961 e 1963.
 
 
Encontro na Ilha Bela 
 
Por esta altura, Etheline tinha-se já cruzado com o portuense José António Rosas (1919-1996), empresário da Casa Ramos Pinto, que então se ocupava do comércio do vinho do Porto no Brasil, e com quem viria a casar em 1964. O filho de ambos, Jorge Rosas, conta ao PÚBLICO as circunstâncias desse encontro: “Numa das idas do meu pai ao Brasil, ele decidiu ir passar um fim-de-semana de barco à Ilhabela, no litoral do Estado de São Paulo, e, numa noite em que houve um baile a bordo, o comandante do navio apresentou-os: dançaram ‘no maior respeito’, como então era de bom-tom, mas a química aconteceu ali.” No dia seguinte, voltaram a encontrar-se, por mero acaso, numa padaria junto ao hotel e ficaram depois a namorar-se apaixonadamente por carta — “era o WhatsApp da altura”, diz Jorge, entre risos.
 
Etheline recebeu, entretanto, uma bolsa para visitar vários museus nos Estados Unidos e na Europa, e foi numa dessas viagens que ambos se reencontraram, e casaram na Suíça em 1964, explica o descendente e actual CEO da Ramos Pinto. 
 
Para o Porto, Etheline Rosas traria não apenas a sua colecção pessoal de arte como a experiência e uma carteira de contactos que a ajudaram a manter a relação com os meios artísticos desse tempo. 
 
“Era uma mulher muitíssimo cosmopolita, como o era também José António Rosas, ambos extremamente viajados”, nota Sofia Ponte em declaração ao PÚBLICO, lembrando, em contrapartida, os costumes conservadores da burguesia portuense onde ela veio parar.
 
O filho realça esse contraste: “O meu pai provinha de uma família muito conservadora; a minha mãe vinha do Novo Mundo, da arte moderna e contemporânea, que pouca gente tinha visto em Portugal”. E cita um episódio que exemplifica esse contraste: “Ela, uma brasileira ultramoderna, chegou ao Porto, à casa dos meus avós, que viviam na Avenida de Montevideu, frente ao mar, e ia para a praia com um biquíni que então já se usava no Brasil, mas ninguém conhecia cá! As minhas primas contaram-me que aquilo eram 30 a 40 homens a olhar para ela, porque era a primeira mulher a usar biquíni na praia da Foz!” 
 
Da Árvore à Mini Galeria 
 
No Porto, e apesar desse meio conservador, Etheline manteve-se activa no mundo da arte, nomeadamente apoiando a acção da recém-fundada Cooperativa Árvore a dar voz aos artistas jovens e independentes — e onde fez chegar figuras como o referido Mário Pedrosa. 
 
Em 1972, passa a dirigir a Mini Galeria, na zona da Boavista, propriedade de Fernando Luís van Zeller, também ligado ao vinho do Porto. No curto período de actividade desta galeria, que fecharia a seguir ao 25 de Abril de 1974 — lembra Sofia Ponte —, Etheline privilegiou artistas que se aventuravam na arte abstracta, e a edição em múltiplos, e deu espaço a jovens como Júlio Resende, Helena Almeida, Ângelo de Sousa, João Machado ou Zulmiro de Carvalho. 
 
Ao PÚBLICO, este escultor recorda ter mostrado nesse espaço, numa altura em que estudava em Londres, o projecto de uma escultura de dez elementos, que só muito recentemente viria a realizar (Ruptura, agora em exposição em Lisboa, na Galeria Quadrado Azul, até 16 de Abril). 
 
“Não a conheci na altura da Mini Galeria, mas tive depois contactos com ela, no Museu de Soares dos Reis, para o Centro de Arte Contemporânea [CAC], em que teve um papel primordial. Ela tinha uma visão muito avançada sobre o que devia ser feito, mas fazia-o sempre com uma delicadeza especial”, recorda Zulmiro de Carvalho. 
 
Foi no projecto do CAC que Etheline Rosas se associou a Fernando Pernes, e coube-lhe mesmo coordenar a montagem da exposição que deu o pontapé de saída do projecto, Levantamento da Arte do Século XX no Porto, em Julho de 1975, no Soares dos Reis. 
 
Desde essa altura, a dupla Pernes-Etheline não mais se desfez, e foi desse trabalho conjunto e porfiado que nasceu o projecto que levaria ao Museu de Serralves. “Nos papéis em que fui remexer para a minha investigação, encontrei evidências de que ela era uma parceira de facto de Pernes, não uma mera assistente”, nota Sofia Ponte. 
 
Em 1979, ambos integram a designada Comissão Organizadora do Museu Nacional de Arte Moderna do Porto, ao lado de Maria Emília Amaral Teixeira, então directora do Soares dos Reis, dos artistas Júlio Resende e Fernando de Azevedo e do crítico José-Augusto França. 
 
“No arquivo do Soares dos Reis, há um documento em que Maria Emília torna explícito que a direcção do projecto é tanto de Pernes quanto de Etheline”, acrescenta Sofia Ponte, lamentando que o nome dela seja normalmente pouco referido quando se fala de Serralves. 
 
“Etheline Rosas apoiou indiscutivelmente Fernando Pernes, assim como o fez com Mário Pedrosa, nas muitas tarefas e esforços que um director artístico tem em mãos. Mas insistir em que o seu papel foi secundário é bastante tendencioso”, escreve a investigadora no artigo de Women Art Dealers, acrescentando que a análise dos documentos e os testemunhos de amigos e familiares mostram que Etheline era “uma conservadora de arte implacável, uma negociante de arte convincente e uma museóloga consistente”. 
 
Uma caracterização confirmada por Luís Valente de Oliveira, que com ela colaborou no processo que deu origem à Fundação de Serralves e posteriormente ao MACS. “Privei de muito perto com o casal Rosas; a Etheline era uma senhora de uma cultura artística muito sólida; entusiasmava-se por tudo aquilo que fazia, e foi muito importante, no Porto, para expandir o gosto pela arte moderna”. Sem esquecer o papel “fundamental e o rigor profissional notável” de Pernes, o ex-administrador de Serralves realça que a sua colaboradora “trazia concepções novas para o Porto, trazia aqueles contactos todos da sua experiência na Bienal de São Paulo; além das suas imensas qualidades pessoais: o entusiasmo, a aplicação, um espírito muito ordenado”. 
 
Valente de Oliveira recorda ainda a exigência e veemência com que Etheline acompanhou a escolha do lugar para o Museu de Arte Contemporânea do Porto. “Depois da exposição no Soares dos Reis, nós estávamos todos de acordo sobre a necessidade de termos uma colecção de arte moderna bem exposta. Avancei para esse trabalho fazendo a ligação entre a dupla Pernes-Etheline e o engenheiro [então presidente da Câmara do Porto] Paulo Vallada. A procura foi grande, e depois de várias hipóteses, soube-se que Serralves estava à venda”, recorda. E destaca a firmeza com que Etheline Rosas defendeu essa solução. 
 
Legado em Serralves
 
Quem, de algum modo, assumiu em Serralves o legado de Etheline Rosas a seguir à sua reforma em 1992, foi Marta Moreira de Almeida, actualmente directora adjunta do MACS. 
 
Cruzou-se com a conservadora brasileira em 1990, quando ainda estudava História da Arte na Faculdade de Belas-Artes do Porto. “Recebi então um convite para integrar a equipa do Serviço Educativo de Serralves, numa altura em que ela era a responsável pelas exposições e pela Colecção e trabalhava directamente com Fernando Pernes”, diz Marta Almeida ao PÚBLICO
 
Durante cerca de um ano, a jovem estudante colaborou muito de perto com Etheline, no acompanhamento dos artistas e na montagem de exposições. “Foi uma relação muito intensa, em que ela partilhou tudo comigo: a história de Serralves e da Colecção, a organização de exposições... Foi uma pessoa importante no meu trabalho”, nota, realçando o seu empenhamento em tudo o que fazia e na defesa do projecto de Serralves, de quem foi sempre “um pilar”, numa “permanente cumplicidade” com Pernes. 
 
Marta Almeida nota, no entanto, que Etheline “nunca foi curadora”. “Ela fazia questão de que o pensador era o Pernes”, o que não significa que o seu nome tivesse ficado apagado na história de Serralves. “No Porto, e nos meios artísticos, toda a gente conhecia o trabalho dela.” 
 
Aconteceu depois que Jorge, o filho de Etheline e José António Rosas, casou com uma irmã de Marta, e essa circunstância acrescentou um vínculo familiar à amizade entre ambas. “Ela passou-me o seu legado em Serralves e, mesmo depois de reformada, nunca deixou de manter-se ligada à fundação”, testemunha Marta, realçando a sua permanente preocupação com a gestão da Colecção, a conservação das obras, as questões da humidade, da temperatura, de que tinha um conhecimento bastante apurado, adquirido no Brasil e através de uma cultura anglo-saxónica”. “Aprendi tudo com ela”, resume a directora adjunta do MACS. 
 
“Etheline não se punha nunca em bicos de pés, era uma pessoa muito discreta, mas sempre muito firme e eficaz, características a que associava uma permanente insatisfação”, sintetiza Valente de Oliveira. 
 
 
* Licenciado em Filosofia (Universidade do Porto); professor do ensino secundário (1979-88). Jornalista profissional desde 1988, com carreira em O Primeiro de Janeiro (1988-89) e PÚBLICO (desde 1989); colaborador n’O Comércio do Porto, Expresso e Grande Reportagem; co-fundador das revistas Cinema Novo e A Grande Ilusão. Autor dos livros O Porto na História do Cinema (2002), Ao Correr do Tempo – Duas Décadas com Manoel de Oliveira (2008) e Serralves – 20 Anos e Outras Histórias (2009). Autor do documentário Manoel de Oliveira, O Caso Dele (2007). Co-autor do Dicionário de Personalidades Portuenses do Século XX (2001) e de As Casas da Música no Porto – Vols. I, II e III (2009-2011).