sábado, 15 de outubro de 2016

UMA SAUDADE ENTRE MUITAS


Por João Baptista Lopes de Oliveira, do I.H.G.


A morte levou-me mais um amigo: Adenor Simões Coelho ¹. Ainda agora, ao iniciar estas linhas, vêm-me à lembrança as últimas vezes que com êle me encontrara.

Adenor era um homem amável, de insinuante simpatia, observador sensato e de conversa fluente.

Era um prazer palestrar com êle.

Os nossos encontros mais freqüentes ocorriam na saída das reuniões do Instituto Histórico e Geográfico, quando descíamos juntos para nossas residências.

Adenor era um devotado membro da Instituição. Referia-se a ela com entusiasmo, antevendo-lhe um futuro auspicioso no serviço das nossas tradições.

Um dia revelou-me que ocuparia, na primeira oportunidade, o plenário do sodalício. O seu tema seria uma impressionante figura humana que êle conhecera na sua mocidade e de que jamais se esqueceu.

Na verdade o seu trabalho, por sinal muito bem feito, veio a lume no seu jornal, PONTE DA CADEIA, logo após a sua morte ².

Conheci Adenor Simões desde a minha mocidade. A mais recuada lembrança que tenho dêle é como integrante de uma equipe do Minas, que se tornou famosa e da qual se fala até hoje.

Fazia parte dêsse time o "Pelé" daquela saudosa época: Manuel Dias. Morreu moço o extraordinário craque. Adenor, fiel à sua memória, referia-se a êle sempre que revíamos o passado.

Lembro-me, a propósito, que no tempo de Sílvio Magalhães, em que eu me encarregara de um programa esportivo na Rádio local, Adenor me facilitou por uma evocação ali feita ao valoroso "player".

Adenor tinha dêsses gestos amáveis, naturais do seu cavalheirismo inato.

Naquele aplauso que êle me enviara havia duplo objetivo: solidarizar-se com a homenagem ao inesquecível coparticipante de equipe e incentivar o cronista no seu mister em prol do esporte da cidade.

E, para dizer a verdade, foi Adenor um dos poucos que, durante a vida do programa, se dispuseram a tais gentilezas, inegavelmente muito úteis ao ânimo de quem escreve.

Recordo-me hoje, com imensa saudade, dêsse dileto amigo que, entre outras pessoas igualmente queridas, se me antecipou na Eternidade. 


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NOTAS EXPLICATIVAS, por Francisco José dos Santos Braga




¹   Adenor Simões Coelho, membro e um dos sócios-fundadores do IHG de São João del-Rei, faleceu em 12 de junho de 1970.

²  O texto em questão foi intitulado "Meu tipo inesquecível" e foi publicado originalmente no jornal "Ponte da Cadeia", em 21/6/1970, uma semana após o sepultamento do seu diretor. Esse texto foi reproduzido pelo Blog de São João del-Rei em 20/9/2016, com idêntico título, in http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2016/09/meu-tipo-inesquecivel-por-adenor-simoes.html 



AGRADECIMENTO



Devo consignar aqui minha gratidão à Sra. Maria do Carmo Lopes de Oliveira Braga pela cessão do presente artigo e de uma coletânea de outros, igualmente bem elaborados, a serem publicados proximamente neste Blog, constantes do trabalho intitulado "João Baptista Lopes de Oliveira: dados pessoais, profissionais e jornalísticos", da autoria de José Eduardo Lopes ("Zuca"), o que constitui importante colaboração para reavivamento da memória do saudoso tio daquela e pai deste.
 

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Colaborador: JOÃO BAPTISTA LOPES DE OLIVEIRA (06/09/1901-12/04/1989)


Por José Eduardo Lopes ("Zuca", ☆ 13/03/1934 ✞ 23/09/2005) *


     João Baptista Lopes de Oliveira, aos 87 anos de idade.                                             Foto datada de novembro de 1988.  

João Baptista Lopes de Oliveira nasceu no dia 06 de setembro (embora comemorasse seu aniversário no dia 06 de outubro) de 1901 em São Miguel do Cajuru, distrito de São João del-Rei, filho de Eduardo Lopes de Oliveira e de Ana Joaquina de Paiva. Era o nono filho dos doze que o casal teve, na seguinte ordem dos seus respectivos nascimentos: 
1 - Maria, falecida quando criança.
2 - Ana, casada com Carlos Alberto Alves, português, não tiveram filhos.
3 - Ricarda, casada com Pedro Ivo de Carvalho, tiveram seis filhos.
4 - Maria das Dôres, casada com Acácio Alves, português, com três filhos.
5 - Idalina, casada com Antônio Joaquim da Silva, tiveram nove filhos.
6 - Maria do Carmo, casada com José Belini dos Santos, com sete filhos.
7 - Maria da Conceição, casada com Pedro Ferreira Souza Júnior, tiveram duas filhas. 
8 - Luíza, solteira.
9 - João Baptista, casado em primeiras núpcias com Ercília Senna, tiveram um filho, falecido ao nascer; em segundas núpcias, casou-se a 25 de setembro de 1926 com Elpídia Senna, tiveram seis filhos.
10- Laura, casada com Joaquim de Araújo Alves, português, com uma filha adotiva.
11- Miguel, casado com Ana Braga, tiveram dez filhos.
12- José, casado com Irene Geraldina Rios, com dois filhos.

Ainda pequeno, João Baptista transferiu-se com os seus pais para o Arraial do Rio das Mortes, ali permanecendo por vários anos.

Já adolescente, mudou-se para São João del-Rei, acompanhando  seu pai que se estabelecera com um armazém de laticínios por atacado, no Tejuco, atualmente Rua General Osório. 

Nesta cidade, João Baptista ingressou em 1923 no comércio, como representante e viajante comercial da firma Alves Neto & Cia.

Vários anos depois, integrou o quadro de funcionários da Estrada de Ferro Oeste de Minas, na função de Agente Fiscal.

Em 1934, voltou a trabalhar na firma Alves Neto & Cia. como agente comercial, ali permanecendo até 1941.

Logo depois é admitido como gerente da Serraria e Carpintaria Oeste, pertencente à firma Alves & Abreu Ltda.

Em 1947 é admitido na Fiação e Tecelagem Matozinhos S/A, onde permanece até 1948.

Em 1949 ingressa na Construtora Interestadual de Melhoramentos de Obras S/A - CIMOSA, como chefe de escritório.

A partir de 1949, passou a ocupar a gerência da Empresa F. Cupello & Cia. Ltda (que, além de ter arrendado o Teatro Municipal de 1940 a 1961, mandou construir o CINE GLÓRIA, inaugurado em 21/08/1947) e de suas sucessoras, Cinemas Cupello S/A e Lombardi & Resende Ltda até 1962, data em que veio a aposentar-se.
Além de suas atividades profissionais e jornalísticas, João Baptista Lopes de Oliveira ainda participava das seguintes Entidades, ocupando em quase todas elas, cargos que os exerceu com elogiável e profícua atuação: Irmandade do Santíssimo Sacramento, Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte, Arquiconfraria de Nossa Senhora das Mercês; Conferência Vicentina de Santo Antônio, da qual foi um dos confrades fundadores em 23 de dezembro de 1927; membro do Conselho Deliberativo do Minas Futebol Clube em diversas gestões administrativas; Associação Comercial; Sindicato dos Empregados no Comércio e membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei.  

João Baptista Lopes de Oliveira encontra-se entre os Sanjoanenses que muito fizeram para o progresso e desenvolvimento da cidade, quer no meio industrial e comercial, através das diversas Empresas, que com dedicação e honestidade serviu, quer no meio cultural pelos notáveis artigos, crônicas e contos, trabalhos esses muito bem feitos, de agradável leitura, somados ao elevado e apurado conhecimento literário e comprovada competência jornalística.    

Destacou-se também na música. Ainda jovem ingressa em uma das Bandas de Música da cidade, se me não engano na atual Theodoro de Faria, executando o pequeno instrumento, mas de grande importância numa Corporação Musical: o flautim.                           

Alguns anos depois, passa a executar com virtuosidade a flauta e forma com a sua primeira espôsa, Ercília, que também tocava brilhantemente o bandolim, uma harmoniosa dupla musical constituída de flauta e bandolim.

Com a morte prematura da espôsa, desgostoso, abandona definitivamente esse instrumento.

No decorrer de muito tempo, já com 74 anos de idade, reacende-se nele o mesmo entusiasmo de outrora pela música e escolhe, na ocasião, o bandolim e em poucos meses passa a tocá-lo com apreciável habilidade e desenvoltura, em primorosas apresentações, predominando em seu vasto repertório as lindas e antigas valsas de compositores e intérpretes nacionais.

João Baptista faleceu em 12 de abril de 1989, nesta cidade.

Dos inúmeros trabalhos que fêz no decorrer desses anos todos, transcrevemos alguns, publicados nos citados jornais da época. Infelizmente, não possuímos todos, apenas alguns que conseguimos guardar.  ¹

A êle, tributamos a nossa justa homenagem pelos edificantes exemplos que nos deixou e que possam ser lembrados por todos aqueles que com êle tiveram a honra e o privilégio de conviver.

São João del-Rei, 06 de setembro de 2001 
(Homenagem aos cem anos do nascimento 
de João Baptista Lopes de Oliveira)  

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*  José Eduardo Lopes ("Zuca") foi economista, gerente de agência da Caixa Econômica Federal, aposentado. Essa colaboração de sua autoria foi extraída do trabalho intitulado "João Baptista Lopes de Oliveira: dados pessoais, profissionais e jornalísticos", de sua autoria, como filho do homenageado.  

¹   Dentro do possível, o Blog de São João del-Rei vai publicar toda a série de artigos de João Baptista Lopes de Oliveira incluídos no trabalho supracitado. Importante lembrar que o homenageado João Baptista Lopes de Oliveira não foi apenas um membro efetivo, mas um dos 20 memoráveis sócios-fundadores do IHG de São João del-Rei.
 

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

SANTIAGO SABINO CARVALHO, UM VIOLONCELISTA SÃO-JOANENSE INTERNACIONAL


Por Francisco José dos Santos Braga


Santiago Sabino Carvalho em foto relativamente recente


I.  TEXTO DO PROGRAMA DE ESTREIA DE SANTIAGO SABINO EM CONCERTO COM A SINFÔNICA


Inicialmente informo que será respeitada a grafia do texto que aparece abaixo, no programa musical em questão. Com essa ressalva passemos então à leitura do que consta do referido programa musical:


SANTIAGO SABINO CARVALHO nasceu em São João del-Rei aos 30 de dezembro de 1942. São seus progenitores Francisco de Assis Carvalho, mais conhecido como "Juju", violoncelista da S.C.S. ¹  e Conceição Carvalho ².
Iniciou, com seu pai, os seus estudos de música aos 8 anos de idade. Aos 9 anos ingressou na Orquestra "Lira Sanjoanense", sob a regencia de Pedro de Sousa. Em 29 de julho de 1953 ³, fez a sua estreia na Sociedade de Concertos Sinfônicos onde vem atuando com verdadeira dedicação e onde granjeou a simpatia e estima de seus pares. O Conselho Artístico da S.C.S., diante de seus predicados artísticos, escolheu-o para executar o solo da partitura de "Poeta e Camponês".

PROGRAMA

1ª  PARTE 

ORQUESTRA

I      POETA E CAMPONÊS Von Suppé
II JEUNESSE DORÉE        E. Waldteufel
III DIVAGANDO                 João Feliciano de Souza
IV CÉLEBRE NOTURNO   F. Chopin
V CAPRICHO ITALIANO  P. Tschaikowsky

Regencia de Dr. Pedro de Sousa 

2ª  PARTE

ORFEÃO MIXTO 

BOLIEIRO                               Verso de Araujo Silva e música de Vicente Vale
II MULHER RENDEIRA                Tema Nordestino Arr. de A. Wilson de Castro
III EM MIM SOA UMA CANÇÃO    F. Chopin
IV PRIMAVERA                                 Aecio de Souza Salvador


Regencia de A. Wilson de Castro 


Estreia do violoncelista são-joanense Santiago Sabino Carvalho, tocando o solo de "O POETA E O CAMPONÊS", de Von Suppée, com a "Sinfônica" de São João del-Rei



II.  NOTAS EXPLICATIVAS 



¹   Francisco de Assis Carvalho, o Juju, foi também o 1º professor de violoncelo do Maestro Aluízio José Viegas (1941-2015).
 
[CINTRA, 1994: 252-3] assinala que o violoncelista são-joanense Santiago Sabino de Carvalho 
"(...) com 8 anos de idade iniciou estudos de violoncelo com o seu pai, o que fez até completar 15 anos de idade.
Muito concorreu para o seu êxito profissional as lições que recebeu do pai, que sempre deu muito valor à execução instrumental, mais do que à teoria.
Santiago Sabino frequentou a Escola de 1º Grau "João dos Santos" e o acatado Curso de Admissão da professora Maria do Carmo Assis ("Carmita"), sobrinha do saudoso Arcebispo Dom Antônio Augusto de Assis (1863-1961). Cursou o ginasial e o científico no colégio Santo Antônio, desta cidade. (...)
Em 1962, venceu o concurso "Jovens Talentos Musicais", sob os auspícios do Ministério da Educação. Depois frequentou a Escola Nacional de Música, tendo como mestre Iberê Gomes Grosso.
Também venceu, em 1962, o concurso "Jovens Solistas", promovido pela Orquestra Sinfônica Brasileira, onde atuou como solista. Exibiu-se pela Rádio Ministério da Educação e Cultura, como recitalista.
Em 1963, alcançou grande vitória no concurso nacional para "Instrumentalistas de Cordas", patrocinado pela Fundação da Casa do Brasil em Londres, juntamente com a Real Academia de Música de Londres. Em Londres, centro de alta cultura musical, Santiago Sabino foi aluno do violoncelista Douglas Cameron e de Sydney Griller, professor de música de câmara.
As vitórias surgiam a cada passo, elevando o nome de nosso conterrâneo e consequentemente o de São João del-Rei.
Ao terminar o curso de violoncelo, alcançou o 1º prêmio de Música de Câmara, proporcionando-lhe dois anos de estudos em Paris, na qualidade de bolsista do Governo Francês, onde recebeu aulas do notável violoncelista francês André Navarra. Retornando a Londres, cursou Pós-Graduação no Royal College of Music. Depois conquistou por concurso um lugar na Orquestra da Ópera Real Inglesa, onde ficou durante três anos. Em 1967, diplomou-se pela Accademia Musicale Chigiana. Participou de master classes, dirigidas por Pablo Casals, em 1968, em Marlboro, nos Estados Unidos. Em 1972, ingressou na Orquestra Filarmônica de Londres, laureado em memorável concurso.
Já se apresentou como solista em vários países. Em setembro de 1975, atuou na Temporada Oficial da Sala Cecília Meireles, da cidade do Rio de Janeiro. A 02/09/1985, deu Recital de Violoncelo no Teatro Municipal de São João del-Rei, com a participação da pianista carioca Sônia Maria Vieira. Obteve consagradores aplausos de seus conterrâneos. (...)"
Este blog anteriormente já publicou outro trabalho que traz matéria referente a Santiago Sabino, assinado por José do Carmo Barbosa, com o subtítulo: "Artista sanjoanense na Europa: Santiago Sabino recebe da Duquesa diploma da Royal Academy of Music", a saber: 
http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2011/12/comentarios-1-edicao-do-jornal-tribuna.html 


²   Conceição Carvalho foi o nome que foi dado à mãe de Santiago Sabino, embora no Cartório Civil constasse Maria das Dores Carvalho.

³ [GUERRA, 1968: 275] registra outra data (de 27/11/1952) como estreia de Santiago Sabino, atuando como solista da "Sinfônica": 
"Em seu 119º Concêrto a 'SINFÔNICA' apresentou ao público como solista da partitura de Von Suppée, O POETA E O CAMPONÊS, o jovem musicista Santiago Sabino Carvalho, já exímio violoncelista aos 11 anos de idade."
Resumo da vida e obra de Von Suppée pode ser encontrado in http://folhadiferenciada.blogspot.com.br/2016/05/hoje-na-historia-21051895-morre-o.html   Acesso in 10/10/2016.




III.  AGRADECIMENTO 




Registro aqui meu agradecimento a José do Carmo dos Santos, o "Tetê", presidente da Sociedade de Concertos Sinfônicos e meu confrade no IHG são-joanense, por ter facilitado meu acesso a esse programa que engrandece a Instituição que ele tão bem dirige.



IV.  BIBLIOGRAFIA

 

CINTRA, Sebastião de Oliveira: Galeria das Personalidades Notáveis de S. João del-Rei, São João del-Rei: 1994, 270 p., publicado com o apoio da FAPEC-Fundação de Apoio à Pesquisa, Educação e Cultura. 

GUERRA, Antônio Manoel de Souza: Pequena História de Teatro, Circo, Música e Variedades em São João del-Rei - 1717 a 1967, Juiz de Fora: Sociedade Propagadora Esdeva-Lar Católico, 1968, 327 p.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O CINQUENTENÁRIO DO GRUPO ESCOLAR JOÃO DOS SANTOS (26/7/1908-26/7/1958)


Por Francisco José dos Santos Braga 
Dedicado à memória de Luiz Antônio Ferreira, o "Irmão"               (⭐︎ São João del-Rei, 2/2/1949 ✞ Barbacena, 5/3/2015), parceiro de muitas pesquisas.
Escola Estadual "João dos Santos", atualmente com 108 anos 
(1908-2016) - Crédito:  Rita Barreto


I.  INTRODUÇÃO, por Francisco José dos Santos Braga


O presente post vai cobrir exclusivamente os festejos do jubileu comemorativo do Grupo Escolar João dos Santos ¹,  com base no jornal são-joanense DIÁRIO DO COMÉRCIO, Ano XXI, nº 5.983, edição de 26 de julho de 1958, cujo diretor responsável era Dario de Castro Monteiro.

Inesquecível para o aluno de então foi aquele jubileu áureo. Sentia-se um a mais naquela multidão de pessoas que compareciam àquelas solenidades; no entanto, tinha de que se orgulhar: ao participar daquele momento histórico, que não se repetiria depois com a mesma gala e intensidade em futuras comemorações, sentia-se único. Como se esquecer daquela inusitada festa de aniversário preparada para serem apagadas 50 velinhas e devorados 50 bolos pela meninada?  

 
Jubileu do Grupo Escolar João dos Santos - Crédito: Celina Maria Braga Campos, a 1ª aluna de óculos, no lado direito da foto, na classe de 2º ano primário da Profª Zilda Natalina Gonçalves Gomes


No ano de 1958, eu cursava o terceiro ano primário, na classe de D. Yvane Leite de Andrade ², irmã da diretora d. Beatriz Leite de Andrade. 

As festividades do cinquentenário do "João dos Santos" transcorreram num fim de semana: sábado, 26 de julho, e domingo, 27 de julho de 1958. Recordo-me ainda que, na noite anterior aos festejos, isto é, no dia 25 de julho, fui levado a um belo recital dos Pequenos Cantores de São Domingos ³, da cidade de Juiz de Fora, no palco do "Clube Artur Azevedo". Interessante observar que o jovem são-joanense José Maria Neves (1943-2002), por ter ido para Juiz de Fora em 1955 estudar na Escola Apostólica de São Domingos, apresentou-se naquela histórica audição como coralista. Posteriormente atuou ainda como preparador e regente daquele grupo coral juiz-forano, até 1962. 

Tive a sorte de ter tido como professoras no Grupo Escolar "João dos Santos":
1) no jardim de infância "Cristiano Machado" (em 1955): Lúcia Rodrigues dos Santos;
Meu diploma de jardim de infância. Professora Lúcia Rodrigues dos Santos. Ilustração da Professora Maria Aparecida Paiva.

2) no curso primário (de 1956 a 1959), respectivamente durante os 4 anos consecutivos: Eneida Simões Alves (1956), Zilda Natalina Gonçalves Gomes (1957), Yvane Leite de Andrade (1958) e Beatriz Maria de Resende Silva (1959), que faziam parte daquele corpo docente vitorioso que conduziam as centenas de alunos pelo caminho seguro do Conhecimento.

Não é nenhum exagero dizer que pelas carteiras da hoje chamada Escola Estadual "João dos Santos" passaram grandes mulheres e homens brasileiros, hoje ministros, parlamentares, juristas, magistrados, industriais e comerciantes, que se destacaram em suas profissões e nas várias áreas do conhecimento. Cito, dentro da minha experiência, o escritor e intelectual Olavo Celso Romano, presidente da Academia Mineira de Letras, meu paraninfo quando fui admitido em 30/01/2016 como Acadêmico Correspondente na Academia Lavrense de Letras: quando me dirigi à mesa de honra para cumprimentá-lo, ele me confessou ter frequentado o então Grupo Escolar "João dos Santos" no ano de 1949. Reconheço que fiquei emocionado ante aquela referência altamente propícia ao meu querido grupo escolar, dita pelo grande escritor mineiro com a maior naturalidade  no momento da minha posse, ali, naquela Casa de Letras

Após 58 anos de uso, o periódico que utilizei apresentava falhas: em algumas passagens, especialmente no fim das páginas, o texto aparecia danificado pela ação diuturna de cupins, obrigando-me a intuir o significado do que faltava através do contexto geral.

Seguem abaixo os textos, nos quais será observada a grafia de época. 






II.  TEXTOS DO DIÁRIO DO COMÉRCIO, Ano XXI, nº 5.983, edição de 26 de julho de 1958



PLACA A SER INAUGURADA NO "JOÃO DOS SANTOS"

26-7-1908   CINQUENTENÁRIO   26-7-1958
GRUPO ESCOLAR "JOÃO DOS SANTOS"
HOMENAGEM AOS DIRETORES

Antônio Gomes Horta
26-7-1908  26-8-1908
Lindolfo Gomes
27-8-1908  25-8-1910
Maria de Castro Campos da Cunha
26-8-1910  12-4-1941
Amélia Ferreira
13-4-1941  20-6-1941
Maria de Lourdes Chagas
21-6-1941  31-8-1941
Margarida Dângelo
1-9-1941  1-2-1942
Beatriz Leite de Andrade
2-2-1942

Placa comemorativa do jubileu áureo do Grupo Escolar "João dos Santos"

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FUNCIONÁRIOS DO GRUPO "JOÃO DOS SANTOS" (EM 1958)
Beatriz Leite de Andrade diretôra
Maria Nazaré de Assunção Freitas auxiliar de diretoria

PROFESSORAS:
Eneida Simões Alves Bertha Leite de Andrade  Hilda Rangel   Ruth do Nascimento Maria Luiza Carneiro Rodrigues Zilda Natalina Gonçalves Gomes Dulce Mendes Resende Beatriz Felicetti Resende Mercêdes Passarini de Resende Yvane Leite de Andrade Odete d'Ângelo Elza Vilela Galo Arlette Nelly Ávila Sylvia de Melo Alvarenga Beatriz Maria de Resende Silva Maria do Carmo Hilário Maria Luiza Bini Pereira Maria Aparecida Paiva ¹⁰ Eugenia Leite de Andrade Roscher Maria da Conceição Ferraz
Professoras substitutas em 1958
Delfina Carvalho Lígia Ventura Viegas Arlete de Sousa Oliveira Maria Aparecida Assis Teixeira Marise Eva Ventura Guimarães Beatriz Christófaro Maria das Mercês Martins
Serventes
Margarida Neves Nadir Luzia de Sousa Sebastiana Soares da Silva ¹¹ Waldomiro Silva ¹²


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BEATRIZ LEITE DE ANDRADE

Uma professôra

Diretora D. Beatriz Leite de Andrade

Em 26 de novembro de 1928, era nomeada profª do G. E. João dos Santos, D. Beatriz Leite de Andrade. Como professôra, aqui trabalhou ela durante diversos anos, muito se dedicando ao Grupo, e aos seus alunos. Em 1942, após frequentar 2 anos, em B. Horizonte, o Curso de Aperfeiçoamento, aqui voltou D. Beatriz, como diretora-técnica, tendo assumido a direção do nosso querido "João dos Santos". São muitos anos de serviços em pról de um grande e nobre ideal: o progresso de nosso Educandário.

Muitos sacrifícios tem feito D. Beatriz, muitas dificuldades tem enfrentado, espinhos mil tem encontrado em sua trajetória! Mas ela tem trabalhado muito, não medindo esforços e tudo tem vencido. Ao Grupo ela tem integrado a sua própria personalidade. A sua vida, seus carinhos, tudo tem sido, até então, pelo "João dos Santos". Dêle, ela fez o altar de suas orações, o seu lar, a sua existência. E tudo isso, muitas vêzes, envôlto no anonimato, pois que sua humildade jamais reclama a si glórias!

Quanta gente ignora os benefícios que ela tem feito ao Grupo João dos Santos! Basta sòmente olhar para o "velho" Educandário, agora em traje de gala, para se avaliar o quanto tem essa boa criatura lutado, perambulando entre Secretarias, secretários, etc., para conseguir melhoramentos mil.

As professôras e serventes que aqui labutam encontram nela, sempre, não o trato de uma diretora, a dar ordens e a exigir, mas camaradagem, compreensão e carinho de u'a amiga, de uma colega mais experiente. Por isso, conta ela com um coração reconhecido entre cada um dos membros do João dos Santos.

Para os alunos, o carinho é o de u'a mãe: enérgica, porém meiga, terna, guiando-os para o bem.

É justo, pois, que neste cinquentenário, de seus feitos nos lembremos, a ela ofertando  todos os que aqui trabalham  o melhor mimo, a mais rica jóia: nosso coração agradecido, voltado à Virgem do Carmo, pedindo-Lhe pela sua felicidade, pela sua existência por mais um cinquentenário, para que a sua velhice tranquila possa ser acariciada com a projeção do seu, do nosso João dos Santos no cenário nacional!

Parabéns, D. Beatriz!


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PERFIL DE MESTRA

Ex-aluna


A permanência do homem neste mundo só tem significação pelo que de útil puder fazer em prol de seu próprio aperfeiçoamento e em auxílio de seus semelhantes.

Não importa o ser criticado por esse ideal de aperfeiçoamento. O que importa sim é estar em paz com a consciência pela convicção de realizar uma obra verdadeiramente dignificante.

Essa a atitude do homem que se pretende espiritualizar para servir a si mesmo, à Família, à Pátria e à Humanidade.

Na data de hoje que deve despertar na alma sanjoanense, na série intérmina dos tempos, a lembrança do dia em que o Grupo Escolar "João dos Santos" começou a viver gloriosamente para a posteridade, o pensamento acima se apossou de todo meu ser porquanto fui levada a dizer algo sôbre a personalidade daquela que, mestra e dirigente, soube tão bem se realizar em benefício da coletividade  Maria de Castro Campos da Cunha, a querida e muito lembrada D. Nenem, uma das primeiras Diretoras do estabelecimento de ensino que hoje comemora seu jubileu áureo.
Placa de bronze homenageando a Diretora Maria de Castro Campos da Cunha (1910-1941), "D. Nenem"

Intérprete do pensamento dos seus ex-alunos, sinto neste instante mais do que nunca a fraqueza irremediável dos meus recursos. Confiante, porém, na autenticidade dos sentimentos que superará a fraqueza da expressão, entrego-me com prazer a esta homenagem de amizade sincera e de gratidão.

Muito comum, homenageando a figura de um mestre, lutar-se para abranger todos os aspectos de sua personalidade e talento.

Renunciando às múltiplas qualidades entre as quais brilhou espírito privilegiado de D. Nenem, quero aqui fixar-me naquelas que a todos  alunos e professôras suas  foi sempre motivo da maior admiração: o exemplo de dignidade, de energia e de distinção.
D. Nenem, na matéria do Diário do Comércio, edição de 26/07/1958 - Crédito pela formatação: Rute Pardini Braga

Quando os tempos já então induziam ao comodismo, à omissão, ao bem estar; quando as características de incompreensão, o resfriamento das atitudes cristãs já campeavam desencorajando aos demais  D. Nenem jamais capitulou, jamais faltou com o seu testemunho firme, sereno e sincero.

Num belíssimo exemplo de fidelidade aos princípios em que esplêndidamente se educou e preparada foi para iluminar e dirigir a infância sanjoanense pelos caminhos da instrução e do bem, generosamente soube conduzir todos quantos procuraram aquecer-se, orientar-se sob a sua proteção de mestra e diretora inteligente e amiga.

É a consciência dêsse exemplo e o agradecimento por êle, que nos transporta hoje até o recesso do lar de D. Nenem, na Capital da República, para onde se transferiu depois de haver realizado sua missão verdadeiramente dignificante.

Os seus ex-alunos e ex-professôras, na reverência à Mestra e Diretora amiga, queremos demonstrar a elevação do nosso pensamento e a gratidão àquela que tirou da sua inteligência e do seu sentimento os acordes que moveram a todos quantos tiveram a felicidade e o privilégio de seu convívio, na direção do bem e do saber.
Crédito: historiador Silvério Parada



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EU TINHA APENAS 8 ANOS

Antônio Ribeiro de Avelar

Eu tinha apenas 8 anos e frequentava o 3º ano da escola de Lauro Pinheiro, no andar térreo do velho sobradão da rua Vigário Amâncio.

Lauro Pinheiro era mestre rigoroso e entusiasta. A escola, porém, era desconfortável, como talvez, naqueles longes de 1908, quasi todas as escolas.

No dia 26 de julho fomos todos para o sobrado dos Guadalupes, na rua da Prata. O Sr. Lauro nos levou e o Inspetor Gomes Horta nos distribuiu.

A minha nova professora era jovem e bonita, elegante e cheia de bondades: senhorita Sílvia Braga. Ao invés de um docente para todas as séries, uma só para o nosso 3º ano.

Gomes Horta ficou 1 mês só à frente do estabelecimento, sucedendo-lhe Lindolfo Gomes, o grande Lindolfo Gomes.

Os anos se passaram. Dona Nenê, Dona Idalina, tantas outras. Nós os alunos fundadores nos desligamos. Outros vieram, muitos deles hoje ministros, parlamentares, juristas, magistrados.

Lauro Pinheiro morreu, dona Idalina, também. Dona Nenê foi grande diretora e depois nos deixou, isto é, deixou o seu grupo. A direção revezou-se entre muitas outras e o cinquentenário se comemora quando o "João dos Santos" é dirigido pelo dinamismo e a competência da senhorita Beatriz Leite de Andrade.


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É-me grato, gratíssimo, vir a São João del-Rei especialmente para comemorar o 50º aniversário do grupo onde estudei. E quero, de envolta com as minhas saudações à d. Beatriz e suas diligentes colaboradoras, prestar comovida homenagem de saudade a Lauro Pinheiro, a Sílvia Braga, a dona Nenê e a dona Idalina.

Homenagem de saudade sim, porque a saudade é a mais peregrina maravilha com que Deus Nosso Senhor ilumina o coração dos homens.

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MISCELÂNEA

Osni de Assis e Silva

Dia 26, alguém comemorará suas bodas de ouro, e êsse alguém é muito caro para mim. É o famoso GRUPO ESCOLAR JOÃO DOS SANTOS, que durante cinquenta anos vem prestando seu serviço para o bem do povo sanjoanense.

Não sou parente do falecido João dos Santos, mas sou filho do Grupo Escolar João dos Santos, pequeno no seu tamanho e grande no conteúdo. Durante quatro anos consecutivos trilhei por aquele caminho que levava à Casa da Sabedoria. Descalço, roupinha nova que brilhava ao receber a luz solar, pasta debaixo do braço, passos longos eu ía para o Grupo, chutando pedrinhas pelo caminho. Havia e ainda existe do lado esquerdo da Casinha Doirada um pequeno palanque que outrora serviu de "ponto de espera" para mim: e era nêsse lugar que admirava meus colegas entretidos com pequenas maluquices. Blem... blem... blem... era a voz do sininho, ruído saudoso que se assemelha às badaladas da Ave Maria, ambos com objetivos sinceros e justos: aquêle nos chamava para o interior das salas de aula e êste nos convida para orar. Muitos foram meus colegas, todos se caracterizam por um "quê". Havia um famoso boiadeiro o pequeno Amauri era o astro daquela classe. Diàriamente víamos um agregado entrar na sala com um vidro de leite; era o boiadeiro que não esperava o sinal de merendar. Bastava a mestra distrair-se um pouquinho, para que êle tragasse alguns goles de leite... Endiabrado! E o Helinho? Era o gangster do grupo: êle não levava merenda, tomava-as dos colegas e hoje é um grande amigo. Havia o "Mangabeira", fã das professôras... Hoje, um admirável músico. Recordo-me dos beliscões de minhas mestras como beijinhos de conselhos. A diretora, d. Beatriz Leite, quantas vêzes desejei que o "bicho papão" fizesse dela seu almôço. Inúmeras. A profª d. Beatriz era uma bruxa para mim, porque não deixou que eu fôsse o bibliotecário da classe. A profª d. Maria Luiza Bini sabia o meu nome de cor: "Osni, fique em pé." D. Maria do Carmo Hilário ("Quiquinha") nos ensinava ginástica ao som de melodias dedilhadas ao piano.

Sim, amigos, eu havia feito em minha imaginação um livro de histórias: nêsse livro eu descrevia minhas mestras amigas como "fadas malvadas", porém com o correr dos anos, com a necessidade de usar aquilo que aprendi, fui transformando essas personagens em "fadas bondosas" e hoje sinto saudades delas; sinto saudades daquele Grupo que transforma ignorantes em sábios; sinto saudades dos colegas e digo com orgulho: fui aluno do "Grupo Escolar João dos Santos". 


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SALVE! GRUPO ESCOLAR JOÃO DOS SANTOS 

João de Minas


Festa do coração, é como podemos denominar as comemorações do CINQUENTENÁRIO do Grupo Escolar "JOÃO DOS SANTOS". Sim, festa do coração, realmente porque ela traduz "ternura", "amor", "sacrifício", "renúncia", "alegrias" e "tristezas" próprias de uma casa pela qual passaram gerações e mais gerações de crianças, cada uma delas vivendo à maneira própria da idade a sua vida escolar. Por ela passaram também mestras distintas e dedicadas nêstes cinquenta anos de suas fecundas atividades e é certo que elas também tiveram as suas alegrias e as suas tristezas, sorrisos e lágrimas, bens do coração...

Hoje, porém, ao comemorar-se o jubileu áureo do querido Grupo Escolar João dos Santos, os corações de alunos e de professoras, de hoje e de ontem, transbordam alegria, inundam-se de risos que florescem à recordação feliz do bem imenso que fizeram ao Estado e ao País.

Ao percorrermos hoje as suas salas e o seu páteo de recreio, alheamo-nos da alacridade turbulenta natural de ocasiões como esta e deixamo-nos abismar no silêncio religioso de suas salas, do seu páteo de recreio, embevecidos na recordação e na saudade, felizes de sua gloriosa e útil existência ó GRUPO JOÃO DOS SANTOS! e transportados, num êxtase estranho, vimos as suas venerandas paredes se iluminarem de uma luz sobrenatural e nelas, como numa tela de cinemascópio, desfilarem figuras exponenciais da ciência, das letras, da política, das finanças, da sociedade, da indústria e do comércio, curvando-se reverentes e agradecidas ao bem que lhes fez, ó Grupo João dos Santos, dispersando as sombras da ignorância que lhes toldavam a inteligência que hoje trabalha pelo engrandecimento da Pátria que lhe é também reconhecida. 

Salve! Grupo Escolar João dos Santos, nós o saudamos, cantando um hino de louvor e de gratidão pelos incalculáveis e inestimáveis benefícios que distribuíste a centenas de milhares de crianças sanjoanenses de ontem e de hoje.



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SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO 

José Américo da Costa


O sr. prof. Abgar Renault, muito digno Secretário da Educação, traz sua honrosa presença às brilhantes solenidades com que o Grupo Escolar "João dos Santos", o decano dos seus companheiros locais, festeja condignamente o cinqüentenário de sua existência profícua. Dêsse modo, s. excia. dá mais relêvo às festas jubilares do notável educandário.

O sr. Secretário, que conhece bem o acervo de benefícios prestados pelo Grupo "João dos Santos" à causa da educação da infância e ao povo de S. João del-Rei, está-nos dando mais uma demonstração eloqüente do seu modo de ver, apreciar e valorizar as iniciativas que visam à maior significação dos atos comemorativos da instalação de escolas em nosso Estado. Isso, aliás, faz parte de sua conduta cívica, é inerente ao seu feitio cultural.

Homem sincero, de fibra moral rija e capacidade de trabalho surpreendente, o sr. prof. Abgar Renault, como Secretário da Educação, vem realizando coisas que, por tão boas, merecem gravadas com letras de fôrma nos fastos da Secretaria. As grandes oportunidades que s. excia. tem oferecido à reorganização e aperfeiçoamento do serviço escolar entre nós, assim como a disposição e o desassombro com que enfrenta problemas e injunções difíceis, têm feito dêle o guerreiro número um nos campos de luta por um ensino melhor e por mais adequada e eficiente formação das nossas crianças e dos nossos jovens estudantes, futuros mantenedores do progresso e da grandeza de Minas.

Vejamos, entre outras, algumas de suas realizações no que devia ser a mais importante das Secretarias do Estado: os cursos de aperfeiçoamento, de diversos tipos, para o magistério em geral, alguns no estrangeiro; a ampliação dos encargos técnico-administrativos dos supervisores do ensino em suas circunscrições; e a execução racional dos regulamentos e portarias, dentro de admirável senso de ordem, disciplina e moralidade. 

Professor e poeta, o dr. Abgar Renault nos traz, nestes dias de tão expressiva comemoração cívico-escolar, o confôrto de sua cultura e as fôrças do seu coração; e dá mais um dos seus acertados passos, vindo prestigiar com sua presença os festejos do cinqüentenário do Grupo "João dos Santos".

A cidade o recebe carinhosamente, com satisfação e aplausos.



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O inesquecível "João dos Santos"  

"Há mais luz nas letras do alfabeto do que em tôdas as constelações do firmamento."             Basílio de Magalhães

José G. Ávila


A vida passa célere deixando na face da gente vincos de alegria e de decepção também.

O seu caminhar sempre avante em busca do ignoto é inexorável mas, nêsse percurso entremeado de risos e lágrimas, há momentos que se nos fixam à memória e dos quais nos olvidaremos jamais.

E, um dêsses instantes felizes é, sem dúvida alguma, a meninice.

Época despreocupada e risonha e da qual nos lembramos sempre com ternura e saudade.

Justamente nêste período de folguedos e de plena irresponsabilidade surge o espantalho dos primeiros deveres jungidos às iniciais obrigações fóra de casa: a escola.

Muito embora iniciadas no recesso do lar a educação, as bôas maneiras, cabe à escola aprimorar êsses rudimentares conhecimentos não só com o desbravar das primeiras letras como no propiciamento do contato diário com os verdadeiros mestres e o convívio imperceptìvelmente forçado de sêres semelhantes em um ambiente heterogêneo de gôsto, pensamento e ação.

A escola, essa mestra humilde e sempre relegada dos poderes governamentais, é a base primordial de tudo que somos e desfrutamos na existência. Sem ela, ser-nos-ia impossível raciocinar, concatenar idéias e, no momento aprazado, difundí-las.

Sem ela, a baderna, a confusão e as trevas imperariam.

Em suma, sem ela, o caos seria o apanágio de um mundo horrendo e hostil, onde os homens se entredevorariam. 

A escola, para definir e sentí-la, as palavras sendo muitas nada exprimiriam, sòmente o silêncio a compreende e a define ao volvermos a um passado, que há muito dista. 

É sem rebuços e receios que, solenemente, afirmamos ser o Grupo Escolar João dos Santos um dos responsáveis direto pela plêiade de homens eminentes e probos, de mulheres virtuosas e heroínas espalhados por todos os recantos da Pátria.

O "João dos Santos" não são aquelas paredes cincoentenárias, aquela simetria de linhas e sim aquelas abnegadas e heróicas titãs da difusão do saber, que no desassombro de atitudes corretas e altivas e cônscias do seu mistér, olvidam conscientemente a relegação injusta e criminosa, que os homens do govêrno lhes impõem.

O "João dos Santos", êsse gigante despretensioso e incógnito, cumprirá impávido e resoluto sua nobre missão pois, desde que suas portas se abriram e de suas janelas respigam Cultura e Humanismo, forçoso nos é reconhecer a homenagem mais que meritória, lídima e oportuna a lhe ser prestada, no dia 26 do corrente.

A essa efeméride se associam também os que não tiveram a felicidade de por Ele ter passado, pois que a sua grandeza não alardeada há muito se impôs e a admiração que aos presentes contagiam passará à posteridade como símbolo de fôrça, glória e tradição.

Longe talvez, porém com o espírito presente a esta magna solenidade, aí estaremos e, na pessoa de sua culta e fidalga diretora Srta. Beatriz Leite de Andrade, expressamos comovidos de esfuziante júbilo os nossos sinceros e calorosos parabéns, convencidos de que esta insigne mestra traduzirá bem melhor às suas colegas de luta o nosso anseio e exultação por sabermos sempre grande e acatado aquele recinto de burilamento, que um dia fôra nosso, hoje, dos nossos filhos e amanhã, dos nossos netos. 

Cumprida a nossa árdua missão, não nos esquecemos das valorosas tombadas no holocausto do Conhecimento e do Dever para o Bem comum; a essas, pois, o nosso respeitoso silêncio cingido a uma préce fervorosa.



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Sacerdotes que passaram pelo "João dos Santos" 


Relação de ex-alunos que no Grupo Escolar "João dos Santos" aprenderam as primeiras letras, e que fazem parte, como sacerdotes, da Igreja Católica Apostólica Romana:
Cônego Almir de Resende Aquino ¹³
Cônego Vicente Dilascio

Padres:
Paulo Dilascio
Francisco Eduardo de Assis
Luiz G. da Fonseca Torga
Waldir de Almeida
Abdala Jorge
Sebastião Raimundo de Paiva
José Teixeira Pereira, S.D.B.
Pedro Teixeira Pereira, S.D.B.
Newton Resende Costa, S.D.B.
Domingos Oliver de Faria, C.M.
Olímpio Martins Ferreira, S.D.B.
José Torga Couto, S.D.B.
Frei Lucas Moreira Neves, O.P.
Frei Marcos Rodrigues, O.F.M.
Ivo Urbano Moreira, S.D.N.S.
Carmélio Augusto Teixeira
Flávio Carneiro Rodrigues
José d'Angelo Neto
José Justino Torga Rodrigues, S.D.B.
José Teixeira da Costa, S.D.B.
Nelson Simões Quinteiro
Aristóteles Machado, C.M.


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Homenagem do "Maria Teresa" ao "João dos Santos"

Num gesto de simpática solidariedade, o Grupo Escolar "Maria Teresa", pela sua Diretora d. Silvia Teodora de Souza e professoras, prestou, no dia 24 do corrente, no Teatro Municipal, uma homenagem à Diretora, professoras e alunos do Grupo "João dos Santos", por motivo das comemorações do jubileu áureo deste estabelecimento de ensino.

A festividade constou do seguinte programa:
Palavras de homenagem, oferecendo a festinha, pela aluna Wilma Lúcia dos Santos, transcritas ao final desta nota.
Bandinha de percussão 
a) Dançar é bom dedicada aos alunos;
b) Sinhaninha e Fui no Itororó dedicadas às professoras atuais e aposentadas; 
c) O alegre lavrador dedicada à Diretora; 
Dramatização Histórias infantis: Apresentação, bailados e recitativos, por diversos alunos;
Apoteose e, em seguida, oferta de flores à Diretora e professoras do "João dos Santos".
Hino Nacional, cantado pelos presentes.
Agradecendo em nome do Grupo "João dos Santos", falou uma de suas professoras. 

Palavras da aluna Wilma

Exmas. autoridades presentes;
Exma. Sra. D. Beatriz Leite, dd. diretora do Grupo Escolar "João dos Santos";
Prezadas professôras; 
Caros meninos;

Há anos que já se vão perdendo em nossa memória, um novo estabelecimento de ensino fundava-se em nossa cidade: era o Grupo Escolar "Maria Teresa", tão conhecido por todos.

Numa das casas de nossa velha São João, porém, já radiante de vida e de atividade, um outro centro de estudo vinha, muito antes que o Maria Teresa, educando crianças sanjoanenses: era o Grupo Escolar "João dos Santos", do qual se destacaram algumas pedras preciosas para a fundação do Maria Teresa. Dali vieram, portanto, algumas professôras e certo número de alunos, para integrarem o grupo em que hoje estudo. 

Como se vê, êsses dois grupos são ligados por laços indeléveis desde muito tempo. O João dos Santos era uma árvore frondosa da qual se cortou um galho para a fundação do Maria Teresa.

O que é hoje o João dos Santos?

Sabemos a resposta, olhando a sua dirigente, o seu professorado e seus inúmeros alunos.

Quanto à dirigente, D. Beatriz Leite de Andrade, figura impoluta e venerável, nem seria preciso nada dizer, pois todos bem a conhecem e a admiração por ela é geral.

Fitando-a, temos a impressão de ver em sua fisionomia o próprio cumprimento do dever, a dignidade de uma diretora que se imola, dia a dia, em benefício de sua profissão. 

Sempre a vejo passar de pasta sob o braço, rumo a seu posto e gosto de admirá-la, pois, apesar de criança, posso ver nela o retrato da professôra modêlo, diante da qual todos se inclinam.

D. Beatriz, não a conheço pessoalmente, mas o comentário de suas qualidades e virtudes edificantes eu bem o conheço.

Sua vida é um exemplo rico para as gerações de hoje e de amanhã. Não (é) só sob a direção de d. Beatriz mas também de outras diretoras, semeadoras de benefícios incontáveis, que se desenrola a formação de tantas almas e de tantos caracteres.

Quantos corações, D. Beatriz, hoje amadurecidos, gravaram a imagem de suas diretoras, como lembrança perene, para ser revivida no futuro, à imitação de suas virtudes.

E, quem sabe talvez do valor do exemplo de cada uma para muitos que vacilam na vida e que, lembrando-se dos ensinamentos que receberam, encontram, logo após, o rumo a tomar.

Assim é a sua vida e das suas antecessoras,  D. Beatriz, e a seguir o seu caminho, as professôras do João dos Santos caminham e laboram pelo mesmo ideal.

Como saem saudosos os alunos do João dos Santos e como sabem amar as suas professôras!

Sabem elas honrar o nome dêsse Grupo, que tanto vem fazendo pela educação das crianças desta cidade.

Vocês, colegas do João dos Santos, estão de parabens, pois estudam num grupo de renome e de valor, têm uma digna diretora e dedicadas professôras.

Alunos do João dos Santos, amem sua escola e sejam estudiosos, para que sua diretora e suas professôras se orgulhem de vocês, como vocês se orgulham delas.

Guardem em sua memória os traços de suas mestras bondosas. Elas são jóias, cujo brilho perdura, iluminando as trilhas de sua vida. São elas a imagem da dedicação, da amizade, de tudo enfim que é valioso e belo.

A essas mestras de hoje e às que já se afastaram do grupo, um cumprimento amigo do Maria Teresa.

Tenham sempre em seu coração a lembrança de tudo quanto pertence ao recanto, onde vocês estudam e, quando dali saírem, guardem consigo uma saudade de tudo.

Lá, vocês se instruíram e se educaram, conheceram o bem, o amor ao que é belo, a veneração à Pátria. E, se a saudade fôr grande, meninos, voltem, de quando em vez, àquele santuário, onde encontrarão a figura amável de sua diretora, o rosto amigo de suas professôras e o Grupo João dos Santos a sorrir para vocês e a desejar-lhes uma existência encantadora!

Peço a Deus uma benção para todos do João dos Santos a quem o Maria Teresa numa simples, porém sincera homenagem deseja, no seu jubileu áureo, um "feliz aniversário".

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Ao Grupo Escolar "João dos Santos"

Benedita de Oliveira, diretora do Grupo Escolar "Prof. Iago Pimentel"


O cinquentenário do Grupo Escolar "João dos Santos", que a cidade comemora entre vibrantes demonstrações de justificado envaidecimento, sugere esta mensagem de solidariedade e de congratulações, cujo objetivo precípuo é significar às abnegadas lidadoras daquela veneranda casa de educação a nossa palavra de aplausos à dignidade e à constância do seu apostolado.

A nossa mensagem tem um significado todo especial: é a do caçula dos grupos ao mais velho e mais carregado de triunfos; é a do bairro humilde e pobre ao do coração da cidade risonha e fidalga; é a das crianças carecedoras de tudo àquelas a quem Deus soube favorecer com todas as suas bençãos. 

Por isso mesmo, é mensagem sincera e cristã, de que nós, professoras mineiras nos ufanamos de ser portadoras, certas de que as diletas colegas do "João dos Santos" à frente sua incansável, dedicada, culta e prendada diretora, dona Beatriz Leite de Andrade verão, neste preito de reverência, de fidelidade do nosso apreço pelo tanto que o "João dos Santos" vem realizando, 50 anos a fio, em proveito da nossa terra, de Minas e do Brasil.

Daí, do quanto nos merecem as educadoras do estabelecimento aniversariante, a razão desta mensagem de enaltecimento, que desejamos seja extensiva a todos os que, desde os idos de 1908, vêm pelejando e vêm se sacrificando em benefício da infância de nossa estremecida e nunca assaz decantada São João del-Rei. 

Esta a mensagem do mais modesto de todos os estabelecimentos da gloriosa terra de Tiradentes.





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Orientação técnica


A partir de 1929 contou o G. E. "J. dos Santos" com o Serviço de Orientação Técnica, dado o interêsse e ideal educativo que sempre norteou a direção e corpo  docente do Educandário.

Mª Beatriz de Castro Albergaria ¹  foi 1ª orientadora. Na qualidade de professora da Instituição tirou o Curso de Administração Escolar, denominado então de Aperfeiçoamento, em Belo Horizonte, voltando para exercer o cargo de orientadora técnica. Afastou-se 2 anos depois, quando tomou a direção do Maria Teresa, em substituição à inesquecível Idalina Horta Galvão, que, também, iniciou sua carreira magisterial no João dos Santos em 1908.

Sucederam a estas na orientação técnica: Deborah Horta Rodrigues (atualmente dos elementos de maior projeção do Departamento de Educação da Secretaria) e Beatriz Leite de Andrade que, sendo professôra regente no estabelecimento, se matriculou no Curso de Aperfeiçoamento para retornar ao João dos Santos, como orientadora técnica em 1937.

Mª do Carmo Gaede e Mª da Conceição Guimarães colaboraram alguns anos como orientadoras técnicas, tendo a última iniciado seu tirocínio técnico no Educandário. 

O trabalho entusiasta e profícuo destas incansáveis colaboradoras veio elevar o nível da instrução e educação, porquanto promoveram a adoção das diversas reformas do ensino dentro dos mais aperfeiçoados métodos da pedagogia moderna, constituindo exemplo e estímulo para o ensino primário da comunidade.  

Beatriz Leite de Andrade conservou-se como orientadora, passando em 1942 a dirigir o Grupo. Coadjuvada pela cultura e dedicação do corpo docente, vem mantendo em ritmo crescente os tradicionais padrões de elevada educação do "João dos Santos". 


  
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Cônego Almir de Rezende Aquino

S. N. 

Dentre os ex-alunos do Grupo Escolar "João dos Santos" não poderíamos deixar de destacar, com especial menção, a figura do Revmo. Co. Almir de Rezende Aquino, zeloso Pároco de Nossa Senhora do Pilar.

Diplomando-se em 1929, na classe de 4º da Professôra Celina Viegas ("D. Ceci"), onde se destacara pela sua aplicação e aproveitamento, seguiu, anos depois, para o Seminário de Mariana, onde o chamava o Divino Mestre, sendo ordenado a 30 de novembro de 1941, na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, desta cidade.

Coadjutor em Lafaiete, Pároco em Barra do Piraí, João Monlevade, Santa Bárbara, S. José de Barbacena, veio afinal o Revmo. Co. Almir em 1948 para esta cidade, escolhido pelo Exmo. e Revmo. Sr. Arcebispo de Mariana, D. Helvécio Gomes de Oliveira, para Pároco de Nossa Senhora do Pilar.

Sanjoanense que conserva as tradições desta terra, tendo grande amor à Matriz que guarda a pia de seu batismo, profundamente devoto da Virgem do Pilar, tudo vem o Revmo. Co. Almir fazendo para o maior incremento da devoção à Virgem da Coluna, em terras sanjoanenses.

Em 1951 conseguiu do Santo Padre, o Papa Pio XII, com "placet" do Sr. Arcebispo Metropolitano, o decreto que constituiu a Santíssima Virgem do Pilar Padroeira da Cidade e de todo o Município de S. João del-Rei, tendo o privilégio da Missa e ofício próprios, como em Saragoça, para o dia 12 de outubro.

Em 1954 Sua Santidade, o Papa, expedia o decreto permitindo fosse coroada, em Seu nome e Autoridade, com corôa de ouro, a Padroeira da Cidade.

Em agosto de 1954 foi o Revmo. Pároco do Pilar nomeado Cônego honorário do Cabido de Mariana, distinção esta muito merecida por quem, na direção da principal paróquia da cidade tem sabido dirigi-la com zelo, espírito de sacrifício, operosidade, re-organizando, modelarmente, o arquivo paroquial, procurando manter em todas as nossas festividades o esplendor da liturgia e das nossas tradições, esforçando-se em difundir, sempre mais, o ensino do catecismo.

Ainda em 1954 foi o Revmo. Cônego Almir admitido "Caballero de Nuestra Señora del Pilar", congregação de Saragoça, na Espanha, em reconhecimento ao seu amor à Virgem da Coluna e pelo muito que tem feito para propagar esta devoção em terras sanjoanenses.

O que o Revmo. Co. Almir faz pelo rebanho que o Senhor lhe confiou, só mesmo o Mestre Divino o pode aquilatar, pois a discrição, o trabalho silencioso, sem alarde, sem o parecer, são os  característicos de sua ação entre as almas.

O Grupo "João dos Santos" sempre contou com a valiosa cooperação de seu ex-aluno Pároco do Pilar.

E nessas festas cinquentenárias sempre o teve a seu lado, estimulando seus trabalhos, encorajando suas professôras a trabalharem por Deus, pela Pátria, afim de continuarem a fornecer homens dignos para os altos postos do Brasil e sacerdotes zelosos, verdadeiros Ministros de Cristo, para a Vinha do Senhor!



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HINO DO GRUPO ESCOLAR "JOÃO DOS SANTOS"

Letra de José Américo da Costa
Música de João Américo da Costa

Nos domínios das veras conquistas
Desta linda cidade princesa,
Nosso Grupo se põe sob as vistas
Do mais belo ideal de grandeza.

Salve! Grupo, que és divisa
De valores que são tantos!
Tua história se eterniza!
Salve! Salve! Grupo "João dos Santos".

Na odisséia que marca os instantes
Em que a Pátria recorre a seus filhos,
"João dos Santos" percorre os seus trilhos,
Nas jornadas de fé mais vibrantes.

Nossa faina é educar a criança
Para Deus e o Brasil, e elevá-la
Às alturas reais da Esperança,
Rumo à glória dos dias de gala!


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Crônicas Sem Título (VII)

Jota Dangelo 

Ontem me deitei menino. Encolhi pernas e preocupações sob um lençol de frio e fiz sete anos de idade com velinhas, presentes, missa e comunhão. Tudo na ficção, na fantasia, pois o direito de sonhar é o único que o homem não perde. Estas recordações vieram porque me lembrei do meu Grupo e um gôsto de infância se apossou dos meus sentidos.

Não me recordo mais se detestava as minhas professoras. Provavelmente devo ter rabiscado muros adjetivando, pejorativamente, o nome daquelas que me ensinavam o exemplo sadio dos Colombos, Cabrais e Caxias, para não dizer a chatice dos "carroções matemáticos"... O meu amor ou o meu ódio pelas professoras do primário não têm mais importância. Com o  tempo os primeiros mestres viram símbolos. Gostamos dêles porque, atualmente, são apenas sêres humanos que cumprem uma tarefa com honestidade e representam pedra angular de formação, esteio educativo, viga mestra do sistema abecedário. Principalmente porque, hoje, não nos castigam mais, não nos pedem lições, não se importam com a nossa burrice matemática, nossa total ignorância histórica... Gostamos dêles porque estão certos de que aprendemos o que nos ensinaram e, para não decepcioná-los, vou fingindo que conheço as Capitanias de cór, da mesma maneira que dou a impressão de saber quando foi a Invasão Holandesa.

Na verdade, não acho nada importante a Abertura dos Portos nem creio que o mundo tenha tanto modificado com o comportamento de Tiradentes. Continuo o mesmo sujeito, com as mesmas dúvidas, com o mesmo mêdo de mim, com a mesma falta de certeza, de essência, de profundidade. Mas venero os mestres, porque nêles eu vejo a face branca e suave dos mártires que persistem na idéia de salvar a criançada rebelde do cáos tenebroso do analfabetismo.

Quando criança, Grupo Escolar era a cadeia antidemocrática, o horário escravizante, as aulas-suplício, o castigo bárbaro, tudo equilibrado com o ópio de um recreio curtíssimo, inconvincente, e com a participação da tia, cúmplice do crime, que engambelava a gente com a merenda de pão com dôce e 200 réis de bala da D. Amélia...

Sim, quando menino, fui vítima do complot... Eram vinte contra um... Pais, tias e avós, instigando-me, dando-me livros de presente, caixas de lápis de côr, borracha Pelikan, pasta de couro, estôjo de madeira, tinteiro Viegas ¹... Ninguém perguntava do meu interêsse pelas bolas de gude, pelas de borracha, pelo pião cantante, pela fieira encerada, por um bom gancho de jaboticabeira para o bodoque; nem siquer passou pela cabeça dos meus parentes que eu gostava mesmo era de jogar futebol no Largo da Câmara e que o meu sonho maior era possuir um cão policial, enorme, ensinado, ou ter um papagaio-avião, daqueles que só o Cicinho ¹ sabia fazer...

Que nada! Que importava à D. Elza se eu lhe dissesse que achava o Aranha Negra ou o Besouro Verde um homem mais importante que o Dr. Washington Luiz? Que adiantava discutir com a Dinha sôbre os heróis de Os Tambores de Fú-Manchú ¹, se ela realmente queria era que eu fizesse o dever de casa, certinho, sem nenhum êrro? O jeito era dormir cêdo, rezar as três Ave-Marias e o Meu Bom Anjo da Guarda, protegei-me; dormir com os meus desejos ocultos de realizar as mesmas proezas fantásticas do Espírito ou do Príncipe Valente...

Ah! Tempos do João dos Santos... Agora, o velho educandário festeja o seu cinquentenário. Existia antes e continuará depois de mim. No entanto, alguma coisa me diz que envelheci mais depressa do que êle. Porque alí, apesar de tudo, persiste a jovialidade, a alegria ingênua da criançada, a gritaria histriônica do pega-pega, as cantigas inocentes do rêmaré... E eu perdí, não sei onde, não sei como, não sei porquê, êsses sorrisos irresponsáveis de menino, essas calças curtas, êsse gôsto de mel, êsse desabafo inconsciente... Virei espectador. Virei saudosista. E agora, depois de tanto tempo, descubro, lamentàvelmente, que o importante não é lembrar. O importante é participar. E a participação é justamente o impossível...


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CAIXA ESCOLAR 


Aos 9 dias do mês de dezembro de 1913, foi fundada, sob a presidência do Inspetor Escolar Antônio Augusto Ribeiro Campos, a Caixa Escolar do Grupo João dos Santos.

Reunidas as pessoas importantes do Município, foi constituída a Primeira Diretoria:
Presidente: Sr. Antônio Augusto Ribeiro (Campos)
Vice-Presidente: Dr. Eloi dos Reis e Silva
Tesoureiro: Sr. Sadoc Ferreira de Souza
Procurador: Sr. Isaías José Moreira
Secretária: D. Idalina Horta Galvão

Inúmeros benefícios presta a Caixa Escolar: fornece sopa, merenda aos alunos menos favorecidos; dá-lhes agasalho, material de estudo, medicamentos, se necessário, etc.

Quando diretora, D. Amélia Ferreira, melhor se organizou o serviço de alimentação escolar, sendo construída a cantina.

Diariamente, desde então, é ministrada à criançada substanciosa merenda. A Caixa adquire sempre material escolar abundante, afim de progredirem as crianças, em seus estudos.

Tôdas as diretoras, sem exceção,  muito trabalharam pelo progresso da Caixa.

A atual Diretoria, que tudo vem fazendo pelo bom êxito das festas cinquentenárias, constituindo sua "Diretoria de honra", é a seguinte:
Presidente Sr. Júlio Mário Mourão
Conselheiros Sr. José Lombardi e Sr. João Hallak
Secretária Beatriz Leite de Andrade
Tesoureira Maria Nazareth Assunção Freitas 



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Livro de Ouro 


A Comissão dos Festejos do "Cinquentenário do G. E. João dos Santos agradece aos ex-alunos, pais de alunos, amigos ou admiradores do "João dos Santos", a valiosa contribuição que de muito irá concorrer para melhoria do patrimônio da Instituição, vale dizer para o aprimoramento da educação dos alunos.

O livro continuará na diretoria do Estabelecimento, à disposição daqueles que ainda não concorreram e que desejem colaborar em tão meritória campanha.


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Programa das Festividades Comemorativas do Cinquentenário do G. E. João dos Santos


Dia 26
8 horas Missa celebrada por dom Helvécio Gomes de Oliveira no páteo interno do Estabelecimento
benção do crucifixo e imagem de N. Senhora, oferta dos ex-alunos e dos atuais
inauguração de placa comemorativa, homenagem aos diretores.

Dia 27 

15 horas desfile do Estabelecimento e concentração no Estádio João Lombardi, onde será apresentada uma alegoria alusiva à data 20 horas jantar em homenagem ao Secretário da Educação no salão do Minas Futebol Clube.




III.  NOTAS  EXPLICATIVAS, por Francisco José dos Santos Braga




¹   Augusto Victorino A. Sacramento Blake, no seu Diccionario Bibliographico Brazileiro,  considera que o Grupo Escolar "João dos Santos" foi fundado em 1881 e já era chamado com esse nome. [BLAKE, 1895, p. 352 apud BASSI] explica que a escolha do nome, por iniciativa de João Baptista dos Santos (nascido em São João del-Rei em 14/06/1828, médico formado no Rio de Janeiro, tendo sido "medico da extincta Imperial Camara, capitão-cirurgião reformado da cavallaria da guarda nacional de medicina, socio do instituto historico e geographico brazileiro, comendador da ordem de Christo de Portugal e cavalleiro da ordem da Rosa" e político do Império, a saber: o último Presidente da Província de Minas Gerais, de 28/6 a 16/11/1989, e agraciado em 1882 com o título de Barão, e em 1889, com o de Visconde de Ibituruna) objetivava 
"honrar e perpetuar a memoria de seu pai [João dos Santos Pinto, o qual] creou, n'uma casa de propriedade deste, com maior apuro provida e alfaiada do que as aulas publicas, a escola denominada de João dos Santos."
O que se sabe sobre a figura de João dos Santos Pinto é que tinha sido um imigrante português que exercera o ofício de comerciante em São João del-Rei. A inauguração dessa escola deu-se em 20 de abril de 1881 e contou com a presença do Imperador Dom Pedro II.

Rua da Prainha nº 8, indicada como primeira instalação da escola. Fonte: Acervo da Escola Estadual "João dos Santos". Crédito: Adélia Carolina Bassi

Além disso, [BASSI, 2012, p. 53] reproduziu em seu trabalho, a acta da inauguração da Escola João dos Santos, disponibilizada pelo periódico O S. João d'El-Rey, na edição de 9 de abril de 1921, p. 2: 
"No anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1881, aos vinte dias do mez de Abril, nesta Cidade de S. João d'El-Rey, na casa n. 8 da rua da Prainha, S.M. o Senhor D. Pedro II, Imperador constitucional e defensor perpetuo do Brazil, dignou-se comparecer e inaugurar a Escola João dos Santos, fundada pelo Dr. João Baptista dos Santos (...) ministrando o ensino primário elementar e primario superior aos meninos de um e de outro sexo (...). Achavam-se presentes 17 meninos e 44 meninas para serem matriculados na referida escola."
Consta que Basílio de Magalhães, nascido em Barroso (MG), mais tarde polígrafo, historiador, folclorista e político, 
"em 1881 iniciou seus estudos na Escola João dos Santos, em São João del-Rei (MG), e foi escolhido para dizer algumas palavras na recepção da família real, que estava de passagem pela cidade para a inauguração da Estrada de Ferro Oeste de Minas. Suas palavras agradaram a dom Pedro II, que assumiu financeiramente sua educação." 
Fonte: http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/MAGALH%C3%83ES,%20Bas%C3%ADlio%20de.pdf
 
Tendo estudado profundamente a questão do nome e as origens da instituição, e considerando-a não solucionada, [BASSI, 2012, p. 54-5] conclui que 
"o que se pode afirmar é que a escola existente desde 1881 fora transformada em grupo escolar em 1908, vindo a ser o primeiro grupo escolar da cidade. Foi inaugurado precisamente no dia 26 de julho, quando ocupava o prédio nº 15 da Rua da Prata (atualmente Rua Padre José Maria Xavier). Só mais tarde, em 1918, mudou-se para o prédio especialmente construído para este fim, e que até hoje ocupa, na avenida atualmente denominada Avenida Eduardo Magalhães."
E em nota de rodapé, esclarece que 
"segundo documentos do arquivo da escola, houve uma consulta popular em 1918 para escolher o nome da instituição, tendo sido o mais votado João dos Santos. Todavia, trata-se de um documento datilografado já nos finais do século XX e que não possui indicação precisa desta informação."
Importante observar que "o prédio nº 15 da Rua da Prata", mencionado no texto "Eu tinha apenas 8 anos" como "sobrado dos Guadalupes", conhecido por Mosteiro de São José, esteve ocupado de 1962 até o corrente ano pelas freiras da Ordem das Concepcionistas Franciscanas, que se mudaram para Araguari. O referido prédio está atualmente situado na Rua Pe. José Maria Xavier, nº 118.

²   Eram quatro grandes professoras do "João dos Santos" da mesma família Leite de Andrade: Bertha, Yvane, a diretora Beatriz e  Eugênia, todas irmãs do grande advogado Belisário Leite de Andrade Neto (1911-1977), tido por Tancredo de Almeida Neves como o maior orador são-joanense de seu tempo, verbis
"Um dos melhores e mais competentes advogados que conheci ao longo de minha vida. Foi meu colega. Chamava-se Belisário Leite de Andrade Neto. Era um talento excepcional, uma capacidade de acumular conhecimentos como eu jamais vi em outra pessoa. Além de uma grande e vasta cultura geral, ele tinha uma cultura jurídica verdadeiramente professoral e era um orador primoroso. O mais completo, o mais primoroso orador que eu conheci em toda a minha existência até o dia de hoje. E foi um grande jurista, um grande advogado que dirigiu durante muitos anos o Departamento Jurídico do Ministério da Justiça e deixou lá marcas de seu excepcional talento". (depoimento no livro "Tancredo Neves: A Trajetória de um Liberal", p. 67)" 
Aproveitando o ensejo, é importante lembrar que o Grupo Escolar "João dos Santos" homenageou com uma placa de bronze uma visita que lhe fez seu ex-aluno Tancredo de Almeida Neves em 24/9/1953, quando este exercia o cargo de Ministro de Estado da Justiça e Negócios Interiores.



³  Cf. in http://acervocompositores.art.br/compositor/3 

 Cf. in http://bragamusician.blogspot.com.br/2016/01/meu-discurso-de-posse-na-academia.html 

   Em consideração aos demais diretores, apresento aqui a sua relação completa até o presente, além dos já mencionados: Terezinha Maria Pinheiro, Alcina Zanetti Assunção, Mariângela Paiva, Antônio de Souza Campos, Nelson Antunes de Carvalho e Neyde Dinis Lima.

⁶  Mais tarde, Maria Nazaré exerceu o cargo de vice-diretora do Grupo Escolar João dos Santos. Era carinhosamente chamada de d. "Bolia", mãe de outra grande professora, Maria Teresa. 

   Mercedes Passarini de Resende Ferreira (☆ 19/11/1927- ✞ 31/08/2013), carinhosamente chamada de d. "Cecê", era a pianista nas sessões de ginástica ministradas pela profª Maria do Carmo Hilário (d. "Quiquinha") e na apresentação de músicas eruditas e canto de hinos cívicos. Inesquecível sua interpretação de "Le Tambourin" de J. P. Rameau e do Estudo em mi maior ("Tristesse") de F. Chopin, no Teatro Municipal, nas formaturas.

  Irmã do 1º arcebispo da Arquidiocese de Pouso Alegre (1960-1990), são-joanense Dom José d'Angelo Neto, que também fez seu curso primário no "João dos Santos".

  Carinhosamente chamada de d. Quiquinha, foi grande soprano são-joanense, autora da letra do belo hino da Sociedade de Concertos Sinfônicos (ou "Sinfônica"), sendo a música composta por João Américo da Costa. Foi, também, membro do Conselho Artístico da "Sinfônica".

¹⁰  Maria Aparecida de Paiva Gonzaga, atualmente, é membro da Academia de Letras de São João del-Rei, ocupante da cadeira nº 13 patroneada por Manuel Inácio da Silva Alvarenga.

¹¹  Sebastiana era esposa de Sabino, pintor dos cartazes do "Clube Artur Azevedo".

¹²  Waldomiro também era trombonista na Banda de música "Teodoro de Faria".

¹³   Sobre a vida e a obra do Monsenhor Almir de Rezende Aquino pode ser lida neste mesmo blog no seguinte link (nota de rodapé nº 1: http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2015/07/tracos-biobibliograficos-de-jose.html

¹  Beatriz Albergaria, além disso, exerceu o cargo de diretora do Grupo Escolar "Maria Tereza". 
Na década de 1950, dirigiu um curso de admissão (5º ano) no salão da Casa Paroquial da Matriz do Pilar. Tive a felicidade de ser seu aluno em 1960, nesse curso preparatório para admissão no Ginásio Santo Antônio. No mesmo curso preparatório tive a honra de ter como colega Francisco Mangabeira, o grande trompetista são-joanense. 
Por fim, o blog "Mural O Papagaio" anunciava em 28/02/2010 uma festividade no dia 8/3/2010 para entrega da comenda "Maria Beatriz de Castro Albergaria" num dos hotéis da cidade.

Cf. in http://muralpapagaio.blogspot.com.br/2010/02/comenda-maria-beatriz-de-castro.html   Acesso em 1º/10/2016.

¹⁵  O "tinteiro econômico", feito de alumínio, era uma invenção engenhosa do dentista Dr. José das Chagas Viegas (1887-1979). Esse tinteiro, quando caía da carteira, não entornava ou vertia tinta sobre o uniforme dos alunos nem sujava as mãos do seu usuário, porque era dotado de certa válvula de segurança que impedia a tinta de entornar.

¹  "Cicinho", apelido de Cícero Rios, fazedor de papagaios e pipas, irmão do Pe. "Lourinho", Lourival Salvo Rios, residentes numa casa ao lado do solar da "Cera do Dr. Lustosa".

¹⁷  Seriado de 1940 produzido pela Republic Pictures em 15 capítulos. Foi dirigido por William Witney e John English e é considerado por muitos como o melhor seriado já produzido. Outro seriado lançado pela dupla em 1940 foi "O Misterioso Dr. Satã". A sinopse de "Os Tambores de Fu Manchu" pode ser resumida da seguinte forma: Fu Manchu lidera uma organização secreta, que busca conquistar o mundo, iniciando uma guerra na Ásia, e para isso tenta encontrar o cetro perdido de Genghis Khan, ajudado por sua filha Fah Lo Suee. Allan Parker, um jovem norte-americano, filho de um arqueólogo assassinado por Fu Manchu, associa-se ao inglês Sir Neyland Smith, na tentativa de derrotar a organização maléfica.
 


 

IV.   AGRADECIMENTOS


Gostaria de deixar aqui consignado meu agradecimento a três funcionários do "João dos Santos" que me acolheram bem e prestaram as informações solicitadas: o professor Décio Reis Melo, a orientadora Érika Paiva e o porteiro Luiz Fernando. A Terezinha Maria Pinheiro, ex-diretora do "João dos Santos", pela amável conversa sobre os tempos de sua direção do educandário. À minha esposa Rute Pardini Braga, louvo-lhe a tolerância e a presteza em atender minhas insistentes solicitações quanto à formatação e edição de fotografias.




V.  BIBLIOGRAFIA  CONSULTADA





BASSI, A.C.: Fragmentos do mosaico escola-cidade-nação: moralidades no Grupo Escolar "João dos Santos" (1930-1946), dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de Ciências da Educação da UFSJ, em março de 2012. Disponível in http://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/mestradoeducacao/Dissertacao__Adelia__Carolina_Bassi.pdf 
Acesso em 1º/10/2016.

BLAKE, A.V.A.S.: Diccionario Bibliographico Brazileiro, vol. III, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1899.   

DELGADO, L.A.N. & SILVA, V.A.C.: Tancredo Neves: a Trajetória de um Liberal. Petrópolis: Editora Vozes, 1985, 298 p.

FGV/CPDOC: MAGALHÃES, Basílio de.