segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

DISCURSO EM SAUDAÇÃO A FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS BRAGA


Por Ruy Franca *


Sr. Presidente da Academia Divinopolitana de Letras João Carlos Ramos,
Revmo. frei Joel Postma o.f.m., "manso e humilde de coração" e digno representante da liturgia católica em Divinópolis, em cujo nome cumprimento as demais autoridades civis e militares que compõem a Mesa,
Senhores e Senhoras,

Por determinação da Academia Divinopolitana de Letras coube-me saudar um são-joanense que toma posse nesse Sodalício, sucedendo ao Imortal Guilherme Sanches, na Cadeira nº 11, que tem como patrono Padre António Vieira.

Esta designação traz em seu bojo conotações que tocam em nossa memória e nossa alma.

Em São João del-Rei, meu avô, Antônio de Oliveira, deixou sua assinatura nas instalações da Estação Ferroviária, com as letras A e O, sobrepostas, em treliças por ele forjadas em ferro.

Em São João nasceu meu pai, José Cândido Franca de Oliveira, jogou futebol no Athletic, estudou no Colégio Santo Antônio, de onde se desligou por ser rebelde aos castigos violentos impostos pelos Franciscanos.

Pela generosidade dos são-joanenses, eu e minha esposa, Annita, fomos agraciados com a Comenda de Cidadão Honorário de São João del-Rei.

Saudar a Francisco José dos Santos Braga, um dos mais ilustres expoentes da cultura da terra de Tiradentes é mais um forte ponto que se acrescenta às nossas emoções, além da honra que significa.

Esta homenagem é fruto da admiração e o reconhecimento dos valores do nosso novo confrade. Mas também promove o fortalecimento de uma amizade entre nossa Academia e a de São João del-Rei.

Não é difícil imaginar o músico, escritor, jornalista, quando temos em mão seu currículo. Currículo que nos reporta a um discurso intitulado "MEU PROGRAMA ESTÁ NA MINHA VIDA", do notável brasileiro, Rui Barbosa.

Temos em mãos o perfil de quem sempre teve como ideal realizar, evoluir e promover a cultura em seu torrão natal, seja de moto próprio ou em parceria com importantes agentes políticos de nossa terra.

Mas o que nos vem à mente, também, são as lembranças que contam nossa história sobre São João del-Rei. Suas magníssimas Igrejas; o Córrego do Lenheiro com suas margens ajardinadas e suas pontes em admirável arquitetura; a lanchonete do Claudionor, ponto de reunião para nossos "bate-papos"; a Casa da Pedra; a arquitetura do Colégio Santo Antônio, hoje universidade, onde recebemos graduação, eu, minha esposa e minha filha.

É de um poeta e músico são-joanense uma referência histórica de quanto São João del-Rei é importante para nossa cultura.

Em seu livro "ECOS NA ETERNIDADE", Jorge C. Sade, Imortal da Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, em uma estrofe do poema MEU GRUPO QUERIDO (dedicado ao Grupo João dos Santos com amor e saudade, pp. 57-61), gravou: 

Se hoje,
nos meus cantos,
cantando eu te recordo
é revivendo a meninice
que a mocidade ardente
me roubou sem paixão.
E no fim da juventude,
quando a velhice me colher
sê tu, para mim,
o pálio dourado,
abrigo estrelado
de todos os ideais que me deste
com carinho e ardor... ¹

Não bastasse o rico currículo de jornalista e escritor, o Acadêmico que ora integra nossa Academia robustece laços de amizade que ligam a Academia de Letras de São João del-Rei à nossa Divinopolitana, com forte liame, por sua esposa Rute, cantora lírica e divinopolitana, da família Pardini.

E novamente nos valemos do talento do poeta e músico são-joanense, para mostrar um pouco do ambiente iluminado pela música que flui daquele Sodalício. É em Jorge C. Sade que buscamos o soneto A MÚSICA (p. 98):

Música é vida, ardor de uma paixão dourada,
a lágrima sutil de amarga solidão...
É o passado transposto ao presente, onde o nada
imola a dor na estéril voz de uma canção.

É divina arte no êxtase sem dimensão...
Adorável pulsar de uma alma torturada
que soluça, sorri e chora amargurada
de saudade sem fim no fim de uma ilusão!...

Música é o suave "som" em forma de poesia,
a ternura que chora em cadenciada fala,
eternizando em pauta a maga fantasia.

Música é um sonho feito "agora" de um porvir...
"O instante" transformado em infinita escala,
num sorriso da terra ao ver o céu sorrir!... ²

Toda Academia busca gerar ambiente para que seus integrantes encontrem condições de aproximarem-se da perfeição e da genialidade, em suas áreas de atuação. Em nossas Academias de Letras não é diferente. Quanto mais expressivos se mostrarem os acadêmicos, colocando a lume seus trabalhos e suas obras, mais rico se torna o ambiente.

Nosso novo Acadêmico isto faz com maestria. Seu currículo, além de Recitais onde se apresentou e se apresenta como pianista, é bastante intenso e longo, o que nos leva a destacar:
•  Licenciado em Letras na Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del-Rei;
•  Mestre em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo;
•  Bacharel em Música pela UnB-Universidade de Brasília;
•  Consultor Legislativo do Senado Federal;
•  Auditor Fiscal de Tributos Federais e Chefe de Treinamento na Assessoria Especial de Modernização da Secretaria da Receita Federal, Ministério da Fazenda;
•  Autor e tradutor de vários livros publicados na área de Administração de Empresas;
•  Colaboração com artigos para o Jornal de Brasília e o Correio Braziliense e várias entidades da mídia nacional;
•  Gerente do Blog do Braga e Blog de São João del-Rei;
•  Participa, como membro, de várias instituições no exterior e nas Academias de Letras de São João del-Rei, Barbacena, Formiga, Lavras, Valença-RJ e Taguatinga-DF;
•  Secretário da Comenda da Liberdade e Cidadania em 2011. Por ocasião da comemoração do "Dia Nacional da Liberdade" foi agraciado com a referida Comenda em sua 1ª edição, nas ruínas da Fazenda do Pombal;
•  Agraciado com a Medalha do Mérito Cívico "Tomaz Antônio Gonzaga", concedida pela OCIM-Ordem dos Cavaleiros da Inconfidência Mineira, na Casa dos Contos, em Ouro Preto;
• Agraciado com a Medalha comemorativa dos "30 Anos da Academia de Letras de Brasília";
•  Agraciado com a Medalha "Frei Orlando - Patrono do SAREx (1913-2013)", concedida pelo CMO-Comando Militar do Oeste;
•  Diploma de Honra ao Mérito, concedido pela Câmara Municipal de São João del-Rei. 

Barack Obama, em seu discurso de posse, estabeleceu que ninguém deve falar mais que vinte minutos.

Creio que devo terminar.

Antes, porém, tentando justificar atitudes de todo aquele que busca a arte e o bem comum, é de José Ingenieros, filósofo portenho, quando se refere ao clima do gênio (p. 243), a assertiva de que: 
"Nenhum filósofo, estadista, sábio ou poeta, alcança genialidade, enquanto, em seu meio, sentir-se exótico ou inoportuno; necessita de condições favoráveis de tempo e de lugar, para que a sua aptidão se converta em função e marque uma época na história." ³

Caro confrade Francisco Braga,

A Academia Divinopolitana de Letras abre seus braços e coração para recebê-lo.

Que venha juntar-se a nós com seu talento e ideais para fortalecer a realização dos nossos.

Termino, citando novamente José Ingenieros, quando se refere à emoção do ideal (p. 13): 

"Quando orientas a proa visionária em direção a uma estrela, e desdobras as asas para atingir tal excelsitude inacessível, ansioso de perfeição rebelde à mediocridade, levas em ti o impulso misterioso de um ideal. É áscua sagrada, capaz de te preparar para grandes ações. Cuida-a bem; se a deixas apagar, jamais ela se reacenderá. Se ela morrer em ti, ficarás inerte: fria bazófia humana."

♧               ♧               ♧  

 
*  Discurso proferido pelo Acadêmico Ruy Franca, na solenidade de posse do músico e escritor Francisco José dos Santos Braga, na cadeira nº 11 da Academia Divinopolitana de Letras, patroneada pelo Pe. António Vieira. Pronunciado no dia 14 de dezembro de 2016 no plenário da Câmara Municipal de Divinópolis.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DAS CITAÇÕES



¹  SADE, Jorge C.: Ecos na EternidadeJuiz de Fora: Esdeva Empresa Gráfica Ltda, 1980, 119 p.

²  Idem: Imagens e Reflexos, Juiz de Fora: Esdeva Empresa Gráfica Ltda, 1973, 130 p.

³  INGENIEROS, José: O Homem Medíocre. Nova edição autorizada. Rio de Janeiro: Edições Spiker,  sem data, 276 p.

  Idem: O Homem Medíocre. Nova edição autorizada. Rio de Janeiro: Edições Spiker,  sem data, 276 p. 

Colaborador: RUY FRANCA



RUY FRANCA
   Nascimento: Divinópolis, na Vila Operária, 18/02/1932.
   Filho de José Cândido Franca de Oliveira e Maria Senni Franca.
   Esposa: Annita de Lima Franca (1956).
   Filhos: Dínia; Dênio; Denise; e Dênisson.

Escolaridade
   Iniciou o curso primário na Escola Engenheiro Pedro de Magalhães, da Rede Mineira de Viação. Terminou-o no Grupo Escolar “Padre Matias Lobato” em Divinópolis.
   Ginasial, no Ginásio “São Geraldo” onde iniciou o curso de Técnico de Comércio e Contabilidade, transferindo-se para a Escola Técnica de Comércio “Graça Aranha”, na cidade de São Paulo, onde, em 1953, foi diplomado Contador.
   Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de Goiânia em 1959.
   Bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade de Ciências Econômicas e Administração de Empresas de São João Del-Rei em 1977.
   Participou da XIIª Semana de Estudos Jurídicos, realizada em Curitiba (PR), em 1956, representando o Diretório Acadêmico da Faculdade De Direito de Goiânia, representação conquistada em concurso de tese: “Guerra, Conceito e Humanização”.

Profissional.
   Em 1947 foi contratado como “menor aprendiz” pelo Banco de Minas Gerais, S/A em Divinópolis.
   Em 1952 ingressou por concurso público no quadro de funcionários do Banco do Brasil, tendo exercido a função de Subgerente em Jequitinhonha (MG), e Gerente nas cidades de Mantena (MG), Viçosa (MG), Montes Claros (MG), Rio Verde (GO) e São João Del Rei (MG).
    Aposentado do Banco, foi diretor de empresa têxtil em Juiz de Fora, Minas Gerais, 1981/1982.
   Transferindo-se para Belo Horizonte, exerceu a advocacia, tendo assumido a Chefia de Gabinete do Presidente do Banco De Crédito Real de Minas Gerais, de 1983 até fins de 1985.
  Voltando para Divinópolis coordenou quatro cursos “Ciclo de Estudos de Política e Estratégia- Método de Ação Política” - em 1990, 1991, 1994 e 1999 -, projeto para civis na área de administração pública, da Escola Superior de Guerra (ESG), supervisionado pela Associação dos Diplomados da ESG.
   Paralelamente a essas atividades, foi contador da Faculdade de Economia e Administração de Empresas em Goiânia de 1956 a 1958 e, em Divinópolis, de 1959 a 1963, concomitantemente com a advocacia prestando serviços a três sindicatos (parte empregados).
   Em Divinópolis, ainda, foi proprietário de empresa de publicidade (Publicine, Ltda – publicidade volante e cine grátis) de 1961 a 1963.
   Editou o jornal “Tribuna do Oeste”, em Divinópolis, hebdomadário, no período de 1961 a 1962.

Literárias
    Teve publicados 105 (cento e cinco) artigos no jornal A Gazeta – Divinópolis - sobre assuntos ligados à política no período de 1995 a 1998.
    Livros:
 “Vamos Jogar Bilosca – Uma homenagem à Vila Operária”, em 2011.
          “Jequitinhonha – Um Paraíso Inesquecível”, em 2013.

domingo, 4 de dezembro de 2016

INAUGURAÇÃO DO JARDIM DA PAZ EM HOMENAGEM A PROF. TIAGO ADÃO LARA


Por Francisco José dos Santos Braga



A última reunião ordinária do Instituto Histórico de São João del-Rei do ano de 2016, nesta data de 4 de dezembro, contou com a presença ilustre do Prof. Tiago Adão Lara, o "último sobrevivente" fundador do nosso Sodalício, em 1º de março de 1970. Ele foi convidado para inaugurar o Jardim da Paz que leva o seu nome, num pequeno pátio interno do Instituto, sendo instalado em sua homenagem nesta data. 

Inicialmente o presidente José Cláudio Henriques convidou o homenageado Prof. Tiago Adão Lara e o confrade Paulo Roberto de Souza Lima (que fez jus a seu diploma de sócio efetivo e ao bóton do Instituto, após ter feito a defesa de seu patrono José Mattol) para comporem a mesa dos trabalhos. Em continuidade, ele bem que tentou dar à reunião um caráter sério, através da leitura da ata da última reunião (de novembro) e de fazer alguns comunicados. Mas logo percebeu que seria impossível dar seguimento a esse seu desejo, eis que todos os confrades queriam fazer desse encontro um congraçamento. Motivos não faltavam. Além da presença do Prof. Tiago em nossa Casa, está aniversariando hoje o major Murilo Geraldo de Souza Cabral que tem um papel determinante na inauguração do Jardim da Paz, como se verá adiante. Dentro desta presente semana ainda aniversariam o tesoureiro José Carlos Hernández Prieto e Maria Lúcia Guimarães, esposa do vice-presidente Prof. José Alberto Ferreira e que nos brindou com salgados, petiscos e canapés em despedida do ano que se encerra. Motivos para o congraçamento não faltavam, portanto.

Antes de nos dirigirmos ao tão aguardado Jardim da Paz "Prof. Tiago Adão Lara", houve uma sessão de música ao violão, tocado pelo confrade José do Carmo dos Santos, o qual é o atual presidente da Sociedade de Concertos Sinfônicos, acompanhando-nos como  cantores, na canção de Roberto Carlos: "Como é grande o meu amor por você".

A seguir, José Antônio de Ávila Sacramento pediu a palavra para cumprimentar Prof. Tiago Lara, que se constituía num esteio para o nosso Instituto. Falou ainda acerca da importância de o Instituto relembrar  o 8 de dezembro, por ser data em que devemos comemorar a elevação de Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar a Vila de São João del-Rei. ¹ E, por fim, fez uma homenagem ao autor desta matéria por estar assumindo no próximo dia 14 de dezembro a condição de sócio efetivo da Academia Divinopolitana de Letras, na cadeira nº 11 cujo patrono é Pe. António Vieira.

Eu fiz também uma intervenção para cumprimentar o homenageado Prof. Tiago, lembrando especialmente seu domínio da História da Filosofia e sua competência nos temas relativos à filosofia patrística, abordados pelo seu maior expoente, Santo Agostinho. Dei o testemunho de que fiz muitas vezes o percurso de minha casa até à Faculdade Dom Bosco, a pé, em manhãs frias, apenas para ouvi-lo falar de tais assuntos, juntando-me aos seminaristas que eram os seus discípulos obrigatórios, sendo eu um mero aluno especial (ouvinte, como se costumava dizer), que, no entanto, tinha a autorização do mestre para acompanhar as suas preleções, naquelas disciplinas.

Para agradecer a essas manifestações carinhosas, Prof. Tiago tomou da palavra para inicialmente citar Guimarães Rosa e, em seguida, falar da sede do IHG (a casa mais antiga de São João del-Rei), onde nos encontrávamos reunidos: 

"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem. (...)
(...) porque a vida é mutirão de todos,
por todos remexida e temperada. (...)"
                Guimarães Rosa
"Estou apreciando hoje esta reunião remexida e temperada. Nós remexemos e temperamos uma reunião gostosa, de vivência. Então eu gostaria de acrescentar a essa remexida umas lembranças minhas. Eu não sei se foi em 1939 ou 1940. Morava no andar superior daqui o meu tio-avô que chamávamos "Chadinho" (apelido do nome Sr. Machado). E aqui em baixo, onde nos encontramos, na minha fantasia de criança, morava uma família misteriosa, talvez meio herege, meio estranha para nós lá de cima. Minha avó sobretudo referia-se a eles como pessoal meio estranho. E nós éramos o Expedito, que era filho do Sr. Machado, as duas filhas dele, a Santa e a Zizita que ainda vive, meu tio-avô e minha tia-avó, a Zezé, eu, minha mãe, meu irmão e minha irmã mais velha (os mais velhos de casa). Eu sei que nós crianças arranjamos um pião e começamos a jogar o pião lá em cima. Daqui a um bocado, cá de baixo começou um fuzuê de bater com o cabo da vassoura no teto por causa do barulho. Então, essa é uma lembrança que está ligada a esta casa, que está ligada à vida são-joanense de muitas décadas atrás. E me recordo também da grande impressão que eu tinha sobretudo do cheirinho de pão, de manhã. Deveria ser mês de inverno, porque havia muita neblina. Eu levantava de manhã e aquele cheirinho... do pão. Era uma delícia! Então essa é a primeira imagem que eu tenho desta casa. Depois a lembrança da fundação do Instituto Histórico eu também tenho muito presente. Na realidade quando eu fui convidado eu disse: Gente, eu tenho muitas atividades e dificilmente eu vou poder participar de todas as reuniões, de todas as atividades. Mas me disseram: Não. De qualquer maneira, já estou ali no quadro de fundadores do Instituto (apontando para o quadro de fundadores). De cabelo preto e não branco, como me disse alguém hoje, o segundo ali naquela fila. Eu estava com meus 40 anos de idade. Bem então tenho nome, participei de muitas reuniões, mas poucos meses depois eu fui chamado pela Congregação para um trabalho na Europa em 1971. A fundação do IHG foi em 1970, se não me engano... março de 1970. No dia 10 de dezembro de 1970 eu viajei para a Europa e fiquei um ano e meio praticamente fora. Então eu não acompanhei os inícios, mas retornei várias vezes para aqui. Depois me mudei para Belo Horizonte, depois Uberlândia e fiquei distanciado muito tempo. Mas retornando para Juiz de Fora, na nossa região, então reatei a minha presença aqui e agora me vejo um símbolo de antiguidade. Bem conservado, que merece um jardim. Então, (voltando-se para Maria Lúcia Guimarães), ô Lucinha, se você quiser que o jardim tenha também o meu cheiro, deve plantar alecrim." 
A seguir, Prof. Tiago ainda lembrou que todo Instituto Histórico tem a obrigação de resgatar fatos passados, mas que tinha também a obrigação de fazer história, modificando por sua vez as condições que encontrasse na direção de uma cidade melhor, um Estado, um país e um mundo melhor. 

Neste momento, o violonista e os cantores se prepararam para mais um "round" de canto. Foi a vez do "Alecrim Dourado".

Quando a música terminou, o presidente convidou todos a encaminharem-se para o pátio interno. Lá chegando, o presidente convidou o Prof. Tiago a descerrar a placa de inauguração do Jardim da Paz "Prof. Tiago Adão Lara", enquanto o violonista e os cantores entoavam mais uma música: "Bem-te-vi", de Paulinho Pedra Azul.
Prof. Tiago descerrando a placa do Jardim, auxiliado por sua esposa Maria Helena Falcão Vasconcellos.

O presidente José Cláudio informou que fazia parte desse jardim outra placa, de bronze, sobre um pedestal de metal, com 12 anos de existência, placa esta que foi resgatada do abandono e desleixo total, arrancada da base da ponte do Rio das Mortes e jogada por terra às margens do rio, com os seguintes dizeres:

 
Aos 8 dias do mês de dezembro de 2004, 281 anos de elevação a Vila, chegou neste local que outrora foi o Porto Real da Passagem o Comandante Major Murilo Cabral, que fez a pé, simbolicamente, o mesmo percurso (Taubaté-São João del-Rei) do fundador do 1º Núcleo Habitacional da Cidade de São João del-Rei "TOMÉ PORTES DEL REI".
ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL DE SÃO JOÃO DEL-REI, INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO JOÃO DEL-REI E ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DO GRANDE MATOSINHOS 
Placa de bronze comemorativa dos 281 anos de elevação a Vila e da peregrinação cívica de Murilo Cabral, de Taubaté-SP a São João del-Rei.

Da esq. p/ dir.:  Presidente José Cláudio Henriques, Murilo Cabral e Wangui.

No fundo do Jardim, da esq. p/ dir.: Murilo Cabral, Wangui, José Carlos Hernández Prieto, Gina Muffato, Paulo Roberto Souza Lima, o autor e Wainer Ávila.

À frente, Rute Pardini; no fundo, da esq. p/ dir.: Agostinho, Maria Helena e Prof. Tiago Lara.
Da esq. p/ dir.: Nêudon Bosco, José Antônio de Ávila Sacramento e Paulo Chaves; à frente, Betânia e Maria Lúcia Guimarães.

Após encerramento da reunião, houve uma reunião de congraçamento, para festejar os aniversários e a inauguração do Jardim.
O autor e Maria Lúcia Guimarães.
Paulo Roberto de Souza Lima é empossado sócio efetivo.

Da esq. p/ dir.: Prof. Tiago Adão Lara, sua esposa Maria Helena e o autor. No fundo, Betânia, Nêudon Bosco, Agostinho e Paulo Roberto.
Da esq. p/ dir.: O autor e o 2º Secretário do Instituto, José Domingos de Souza


Da esq. p/ dir.: Soraia e bibliotecária Roberta
Confraternização




I.  NOTA EXPLICATIVA



¹  Por oportuno, entendo que cabe aqui transcrever o Auto de Levantamento da Villa de São João d'El Rey, para dar crédito à placa de bronze cuja imagem é mostrada acima: 
No “Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil sete centos e treze annos, aos oito dias do mez de dezembro do dito anno neste Arraial do Rio das Mortes, onde veiu por ordem de Sua Majestade, que Deus Guarde, Dom Braz Balthazar da Silveira, Mestre de Campo General dos seus exércitos, Governador e Capitão Geral da Cidade de São Paulo, e Minas, para effeito de levantar Villa o dito Arraial; e logo em virtude da dita Ordem, que ao pé deste Auto vai registrada, o criou em Villa com todas as solenidades necessárias, levantando o Pelourinho no lugar, que escolheu para a dita Villa a contento, e com aprovação dos moradores della, a saber na xapada do morro que fica da outra parte do córrego para a parte da Nascente do dito Arraial, por ser o citio mais capaz e conveniente para se continuar a dita Villa, a qual elle dito Mestre de Campo General, e Governador e Capitão General appelidou com o nome São João dEl Rey, e mandou , que com este título fosse de todo nomiado em memória de El Rey Nosso Senhor por ser a primeira Villa que nestas Minas elle dito Governador e Capitão General levanta assistindo a esta nova erécção o Dezembargador Gonçalo de Freitas Baracho, como Menistro do dito Senhor que se acha Ouvidor Geral desta dita Villa, como tão bem assistido toda a nobreza, e Povo della, e se levantou com effeito o dito Pelourinho, e ouve elle dito Governador e Capitão General por erecta a dita Villa, creando nela os Officiaes necessários, assim os Milicias, como de Justiça conducentes ao bom regimen della, e mandou se procedesse a elleição dos pelouros para os Officiaes da Camara na forma da Ley, e de tudo mandou fazer este Auto que assignou com o dito Dezembargador, Ouvidor Geral, e eu Miguel Machado de Avelar Escrivão da Ouvidoria Geral que o escrevy – Dom Braz Balthazar da Silveira – Gonçalo de Freitas Baracho. 
Aqui se acha transcrito o Auto de Levantamento da Vila de São João del-Rei, cujo original infelizmente se encontra extraviado. 


AGRADECIMENTOS



O Jardim da Paz é um projeto  do Instituto, para o qual Murilo Cabral contribuiu com a cobertura de todas as despesas para a sua construção; ficaram diretamente responsáveis pela administração Maria Lúcia Guimarães e Paulo Roberto de Souza Lima.
Crédito por todas as imagens: Rute Pardini. 

 

sábado, 19 de novembro de 2016

DIA NACIONAL DA LIBERDADE COMEMORADO EM SÃO JOÃO DEL-REI EM 12/11/2016


Por Francisco José dos Santos Braga




Oficialmente comemorada por todos os brasileiros, a data de 21 de abril é conhecida como "dia de Tiradentes", em referência à data da morte do Alferes Tiradentes, da sua decapitação e  do esquartejamento do seu corpo. Em 1965, foi sancionada a Lei nº 4.897, de 9 de dezembro, instituindo o dia da morte do Tiradentes como feriado nacional. Quando surgiu essa lei de âmbito nacional, em Minas Gerais no dia 21 de abril Ouro Preto passou a tornar-se capital simbólica do Estado, onde o governador fazia a entrega da Medalha da Inconfidência, criada em 1952 e considerada a maior comenda concedida a personalidades e entidades que contribuíram ou contribuem para o desenvolvimento de Minas Gerais ou do Brasil.

Um grupo de brasileiros, entre os quais me incluo, achavam e acham que é preciso valorizar a vinda ao mundo do Alferes Tiradentes, e não só a sua morte. Para a consecução desse objetivo, houve a organização de um movimento visando ao reconhecimento do dia 12 de novembro como "Dia Nacional da Liberdade".

Numa retrospectiva histórica, pioneiramente, o Governo do Estado do Rio de Janeiro teve a primazia de promover a criação do Dia da Liberdade no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, por meio da Lei Estadual nº 5.625, de 22 de dezembro de 2009, por instâncias do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto e Academia Valenciana de Letras, ambas instituições de Valença-RJ.
 
Em seguida, por instância da Academia de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei junto ao Poder Público das cidades de São João del-Rei (terra natal do Tiradentes), Ritápolis e Tiradentes, foi criado o Dia da Liberdade nesses Municípios, conhecidos como "Triângulo da Liberdade" em Minas Gerais. Em São João del-Rei, sua criação se deu por meio da Lei Municipal 4.418, de 24 de março de 2010. Em Ritápolis, o Dia da Liberdade foi criado pela Lei Municipal 1.178, de 2 de setembro de 2010 e, em Tiradentes, pela Lei Municipal 2.559, de 19 de agosto de 2010. Em 2011, os prefeitos dessas três cidades assinaram o Decreto Conjunto nº 001/2011, aprovando em solenidade conjunta o regulamento da medalha "Comenda da Liberdade e Cidadania", destinada a condecorar cidadãos mineiros, brasileiros e estrangeiros, que se destacam ou destacaram em prol do incentivo, apoio e divulgação das atividades relacionadas à liberdade, à cidadania, à responsabilidade social, à cultura, à preservação ecológica e ambiental, à história, ao civismo e ao desenvolvimento sócio-econômico, turístico e cultural da região do Rio das Mortes em Minas Gerais, engrandecendo e dignificando os três Municípios, Minas Gerais e o Brasil (art. 1º do Decreto Conjunto nº 001/2011). No art. 3º lê-se que "a cada ano, a coordenação caberá a uma das três municipalidades ora signatárias que ainda se responsabilizará pela realização de eventos cívico-culturais na Semana da Liberdade, cujo tema precípuo será o 12 de novembro." O parágrafo único do art. 3º ainda estabelece que "a sequência das cidades que sediarão os eventos, a partir do primeiro evento a ocorrer em 2011, será São João del-Rei, Tiradentes e Ritápolis, e assim por diante; facultando-se que, de forma unânime, ocorra ajuste no sentido de alterar essa sequência." ¹

A seguir, no âmbito do Estado de Minas Gerais, foi instituído o Dia da Liberdade a ser comemorado, anualmente no  dia 12 de novembro, através da Lei nº 19.439, de 11 de janeiro de 2011.

Coroando os esforços pioneiros dos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, bem como dos Municípios do "Triângulo da Liberdade", a Lei Federal 13.117, de 7 de maio de 2015, instituiu a data de 12 de novembro o "Dia Nacional da Liberdade" a ser comemorado em todo o território nacional. ²

Nos anos de 2011 a 2015, as prefeituras de São João del-Rei, Tiradentes e Ritápolis se revezaram como anfitriãs e sede das comemorações dedicadas ao nascimento do Tiradentes, promovendo a entrega das medalhas "Comenda da Liberdade e Cidadania", porém em 2016 fomos surpreendidos com um informe datado de 04/10/2016, no site da referida Comenda, esclarecendo que nenhum dos três atuais prefeitos aderiu à realização do evento da Comenda e dando conta de que não haveria mais o evento neste ano, devido à alegação da anfitriã Ritápolis de que se acha impossibilitada de sediar as referidas comemorações por "falta de recursos financeiros para tanto" ³, conforme reproduzido abaixo:



De certa forma, a desistência da participação culpando a crise econômica não é uma novidade; mas para que aquela não ocorresse é que existe orçamento público. Uma vez consignadas as despesas com a Comenda no orçamento, não há que alegar impossibilidade de realizar o aporte de recursos que compete à anfitriã e às duas cidades coirmãs. Mas não deixa de causar espécie a defecção num momento em que a união dos três Municípios conduziria a mais uma edição exitosa da Comenda da Liberdade e Cidadania, de repercussão nacional. Desde o lançamento da Comenda em 2011 (em que atuei como secretário) e nas outras quatro edições consecutivas, verificou-se o cumprimento do dever do Município responsável pela realização do evento. Daí o espanto da comunidade com o desleixo para com a coisa pública e para com o resgate da memória do Alferes Tiradentes.

Diante do impasse, um grupo de são-joanenses decidiu comemorar o Dia Nacional da Liberdade à sua maneira. O organizador do evento substitutivo foi Dr. José Egídio de Carvalho, maçon e atual secretário da Comenda, o qual convocou os vários atores considerados indispensáveis para a realização da solenidade comemorativa local.

Como ocorre todo ano, o evento programado para o dia 12 de novembro deste ano, às 10 horas da manhã, em frente à estátua do Tiradentes, na Avenida Presidente Tancredo Neves, contou com a participação maciça de todos os membros da Loja maçônica Charitas 02, a começar pelo seu presidente Carlos Élcio Silveira Franco, que se responsabilizou pela pauta do evento. Também contou com a participação do comandante do 11º BI Mth, ou do 11º Batalhão de Infantaria de Montanha, carinhosamente chamado de "Regimento Tiradentes", Ten Cel Andrelucio Ricardo Couto, que se fez acompanhar de um grande corpo da tropa, da banda de música e do corneteiro. Digna de destaque foi ainda a  presença ilustre do Ten Cel Nelson Alexandre da Rocha Queiroz, comandante do 38º Batalhão da Polícia Militar. Dentre as autoridades civis que compareceram, cabe mencionar ainda o vereador Robson Paiva Zanola, o Cabo Zanola, provável presidente da Câmara Municipal são-joanense. O evento contou ainda com a presença dos presidentes do Instituto Histórico e Geográfico e da Academia de Letras de São João del-Rei, respectivamente José Cláudio Henriques e João Bosco de Castro Teixeira. Também participaram os "caminheiros" major Murilo Geraldo de Souza Cabral (que seguiu como caminhante solitário até a Fazenda do Pombal) e Ana Maria de Oliveira Cintra, representando simbolicamente os bandeirantes que no final do século XVII fundaram o Arraial Novo do Rio das Mortes, atual São João del-Rei.

O presidente da Loja maçônica organizadora do evento deu início à cerimônia,  convidando todos os presentes a ouvirem o toque da alvorada entoado pelo corneteiro e, a seguir, o Hino Nacional pela banda do "Regimento Tiradentes", regida pelo Tenente Santos. A seguir, convidou o comandante do 11º BI Mth a fazer seu discurso no púlpito como orador oficial daquele evento. O discurso do comandante focalizou principalmente o histórico da comemoração do 12 de novembro e a vida e os atos heróicos do Patrono Cívico da Nação Brasileira e Patrono das Polícias Civis e Militares do Brasil, merecendo vivos aplausos de todos os presentes.

Em seguida, o presidente da Loja maçônica anunciou duas participações especiais. Inicialmente, foi anunciada a declamação, por mim (historiador e Acadêmico Francisco José dos Santos Braga), do poema "Ruínas do Pombal", da autoria do escritor João Bosco da Silva. O referido declamador, antes de iniciar a declamação, pediu a quebra do protocolo para permitir a presença do autor do poema junto ao púlpito, a seu lado. 

Em segundo lugar, após a declamação, para abrilhantar a parte musical da solenidade, o presidente da Loja maçônica anunciou a presença da soprano lírica Rute Pardini, convidando-a a interpretar a "Canção do Herói", considerada "hino" da Comenda da Liberdade e Cidadania, com música de Marcus Viana e letra de Ivanise Junqueira Ferraz. Ao final, foi muito ovacionada por sua brilhante interpretação da "Canção do Herói" . A solista cantou o "hino" sobreposto a um áudio da música instrumental (gravação da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais em 2011 para a primeira edição da Comenda), amplificado pela mesa de som de Antenor Noé de Souza (ex-regente da Banda do "Regimento Tiradentes", hoje na reserva).
Cf. in https://www.youtube.com/watch?v=VguLhMv9Znc


Crédito pela foto: José Cláudio Henriques, presidente do IHG local

Antes do encerramento da homenagem ao Alferes Tiradentes, a Loja maçônica convidou três autoridades presentes para depositarem aos pés da estátua uma coroa de flores, simbolizando o seu respeito para com a figura do Herói da Pátria.

A conclusão da cerimônia cívica foi coroada com a execução de marchas festivas pela Banda do "Regimento Tiradentes".
 
Da esq. p/ dir.: Ten Cel Queiroz, Rute Pardini e Francisco José dos Santos Braga


Finalmente, o presidente da Loja maçônica Charitas 02 convidou todos os presentes para uma recepção na sua sede, na Avenida Presidente Tancredo Neves, nº 129.


Após a recepção, seguimos Rute Pardini, Ana Maria de Oliveira Cintra e eu, Francisco José dos Santos Braga para a Fazenda do Pombal, antecedidos por Murilo Geraldo de Souza Cabral, que fez a caminhada a pé, cobrindo os 11 km que separam o centro de São João del-Rei, daquele sítio retirado. Ali, fizemos uma pequena cerimônia de congraçamento (já tradicional) em homenagem ao Herói Tiradentes, constando de algumas palavras de Murilo Cabral lembrando o porquê de nossa presença naquele solo sagrado, e da minha declamação do poema "Ruínas do Pombal".
Da esq. p/ dir.: Murilo Cabral, Francisco Braga e Ana Cintra
 

Merece destaque, nesta breve crônica, a colaboração de todas as pessoas diretamente envolvidas com a organização do evento singelo, que, graciosamente, numa demonstração patriótica e cívica, corresponderam ao convite de contribuírem para uma digna comemoração do nascimento do Herói.


 

NOTAS EXPLICATIVAS

 

sábado, 15 de outubro de 2016

UMA SAUDADE ENTRE MUITAS


Por João Baptista Lopes de Oliveira, do I.H.G.


A morte levou-me mais um amigo: Adenor Simões Coelho ¹. Ainda agora, ao iniciar estas linhas, vêm-me à lembrança as últimas vezes que com êle me encontrara.

Adenor era um homem amável, de insinuante simpatia, observador sensato e de conversa fluente.

Era um prazer palestrar com êle.

Os nossos encontros mais freqüentes ocorriam na saída das reuniões do Instituto Histórico e Geográfico, quando descíamos juntos para nossas residências.

Adenor era um devotado membro da Instituição. Referia-se a ela com entusiasmo, antevendo-lhe um futuro auspicioso no serviço das nossas tradições.

Um dia revelou-me que ocuparia, na primeira oportunidade, o plenário do sodalício. O seu tema seria uma impressionante figura humana que êle conhecera na sua mocidade e de que jamais se esqueceu.

Na verdade o seu trabalho, por sinal muito bem feito, veio a lume no seu jornal, PONTE DA CADEIA, logo após a sua morte ².

Conheci Adenor Simões desde a minha mocidade. A mais recuada lembrança que tenho dêle é como integrante de uma equipe do Minas, que se tornou famosa e da qual se fala até hoje.

Fazia parte dêsse time o "Pelé" daquela saudosa época: Manuel Dias. Morreu moço o extraordinário craque. Adenor, fiel à sua memória, referia-se a êle sempre que revíamos o passado.

Lembro-me, a propósito, que no tempo de Sílvio Magalhães, em que eu me encarregara de um programa esportivo na Rádio local, Adenor me facilitou por uma evocação ali feita ao valoroso "player".

Adenor tinha dêsses gestos amáveis, naturais do seu cavalheirismo inato.

Naquele aplauso que êle me enviara havia duplo objetivo: solidarizar-se com a homenagem ao inesquecível coparticipante de equipe e incentivar o cronista no seu mister em prol do esporte da cidade.

E, para dizer a verdade, foi Adenor um dos poucos que, durante a vida do programa, se dispuseram a tais gentilezas, inegavelmente muito úteis ao ânimo de quem escreve.

Recordo-me hoje, com imensa saudade, dêsse dileto amigo que, entre outras pessoas igualmente queridas, se me antecipou na Eternidade. 


_________________________________________




NOTAS EXPLICATIVAS, por Francisco José dos Santos Braga




¹   Adenor Simões Coelho, membro e um dos sócios-fundadores do IHG de São João del-Rei, faleceu em 12 de junho de 1970.

²  O texto em questão foi intitulado "Meu tipo inesquecível" e foi publicado originalmente no jornal "Ponte da Cadeia", em 21/6/1970, uma semana após o sepultamento do seu diretor. Esse texto foi reproduzido pelo Blog de São João del-Rei em 20/9/2016, com idêntico título, in http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2016/09/meu-tipo-inesquecivel-por-adenor-simoes.html 



AGRADECIMENTO



Devo consignar aqui minha gratidão à Sra. Maria do Carmo Lopes de Oliveira Braga pela cessão do presente artigo e de uma coletânea de outros, igualmente bem elaborados, a serem publicados proximamente neste Blog, constantes do trabalho intitulado "João Baptista Lopes de Oliveira: dados pessoais, profissionais e jornalísticos", da autoria de José Eduardo Lopes ("Zuca"), o que constitui importante colaboração para reavivamento da memória do saudoso tio daquela e pai deste.
 

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Colaborador: JOÃO BAPTISTA LOPES DE OLIVEIRA (06/09/1901-12/04/1989)


Por José Eduardo Lopes ("Zuca", ☆ 13/03/1934 ✞ 23/09/2005) *


     João Baptista Lopes de Oliveira, aos 87 anos de idade.                                             Foto datada de novembro de 1988.  

João Baptista Lopes de Oliveira nasceu no dia 06 de setembro (embora comemorasse seu aniversário no dia 06 de outubro) de 1901 em São Miguel do Cajuru, distrito de São João del-Rei, filho de Eduardo Lopes de Oliveira e de Ana Joaquina de Paiva. Era o nono filho dos doze que o casal teve, na seguinte ordem dos seus respectivos nascimentos: 
1 - Maria, falecida quando criança.
2 - Ana, casada com Carlos Alberto Alves, português, não tiveram filhos.
3 - Ricarda, casada com Pedro Ivo de Carvalho, tiveram seis filhos.
4 - Maria das Dôres, casada com Acácio Alves, português, com três filhos.
5 - Idalina, casada com Antônio Joaquim da Silva, tiveram nove filhos.
6 - Maria do Carmo, casada com José Belini dos Santos, com sete filhos.
7 - Maria da Conceição, casada com Pedro Ferreira Souza Júnior, tiveram duas filhas. 
8 - Luíza, solteira.
9 - João Baptista, casado em primeiras núpcias com Ercília Senna, tiveram um filho, falecido ao nascer; em segundas núpcias, casou-se a 25 de setembro de 1926 com Elpídia Senna, tiveram seis filhos.
10- Laura, casada com Joaquim de Araújo Alves, português, com uma filha adotiva.
11- Miguel, casado com Ana Braga, tiveram dez filhos.
12- José, casado com Irene Geraldina Rios, com dois filhos.

Ainda pequeno, João Baptista transferiu-se com os seus pais para o Arraial do Rio das Mortes, ali permanecendo por vários anos.

Já adolescente, mudou-se para São João del-Rei, acompanhando  seu pai que se estabelecera com um armazém de laticínios por atacado, no Tejuco, atualmente Rua General Osório. 

Nesta cidade, João Baptista ingressou em 1923 no comércio, como representante e viajante comercial da firma Alves Neto & Cia.

Vários anos depois, integrou o quadro de funcionários da Estrada de Ferro Oeste de Minas, na função de Agente Fiscal.

Em 1934, voltou a trabalhar na firma Alves Neto & Cia. como agente comercial, ali permanecendo até 1941.

Logo depois é admitido como gerente da Serraria e Carpintaria Oeste, pertencente à firma Alves & Abreu Ltda.

Em 1947 é admitido na Fiação e Tecelagem Matozinhos S/A, onde permanece até 1948.

Em 1949 ingressa na Construtora Interestadual de Melhoramentos de Obras S/A - CIMOSA, como chefe de escritório.

A partir de 1949, passou a ocupar a gerência da Empresa F. Cupello & Cia. Ltda (que, além de ter arrendado o Teatro Municipal de 1940 a 1961, mandou construir o CINE GLÓRIA, inaugurado em 21/08/1947) e de suas sucessoras, Cinemas Cupello S/A e Lombardi & Resende Ltda até 1962, data em que veio a aposentar-se.
Além de suas atividades profissionais e jornalísticas, João Baptista Lopes de Oliveira ainda participava das seguintes Entidades, ocupando em quase todas elas, cargos que os exerceu com elogiável e profícua atuação: Irmandade do Santíssimo Sacramento, Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte, Arquiconfraria de Nossa Senhora das Mercês; Conferência Vicentina de Santo Antônio, da qual foi um dos confrades fundadores em 23 de dezembro de 1927; membro do Conselho Deliberativo do Minas Futebol Clube em diversas gestões administrativas; Associação Comercial; Sindicato dos Empregados no Comércio e membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei.  

João Baptista Lopes de Oliveira encontra-se entre os Sanjoanenses que muito fizeram para o progresso e desenvolvimento da cidade, quer no meio industrial e comercial, através das diversas Empresas, que com dedicação e honestidade serviu, quer no meio cultural pelos notáveis artigos, crônicas e contos, trabalhos esses muito bem feitos, de agradável leitura, somados ao elevado e apurado conhecimento literário e comprovada competência jornalística.    

Destacou-se também na música. Ainda jovem ingressa em uma das Bandas de Música da cidade, se me não engano na atual Theodoro de Faria, executando o pequeno instrumento, mas de grande importância numa Corporação Musical: o flautim.                           

Alguns anos depois, passa a executar com virtuosidade a flauta e forma com a sua primeira espôsa, Ercília, que também tocava brilhantemente o bandolim, uma harmoniosa dupla musical constituída de flauta e bandolim.

Com a morte prematura da espôsa, desgostoso, abandona definitivamente esse instrumento.

No decorrer de muito tempo, já com 74 anos de idade, reacende-se nele o mesmo entusiasmo de outrora pela música e escolhe, na ocasião, o bandolim e em poucos meses passa a tocá-lo com apreciável habilidade e desenvoltura, em primorosas apresentações, predominando em seu vasto repertório as lindas e antigas valsas de compositores e intérpretes nacionais.

João Baptista faleceu em 12 de abril de 1989, nesta cidade.

Dos inúmeros trabalhos que fêz no decorrer desses anos todos, transcrevemos alguns, publicados nos citados jornais da época. Infelizmente, não possuímos todos, apenas alguns que conseguimos guardar.  ¹

A êle, tributamos a nossa justa homenagem pelos edificantes exemplos que nos deixou e que possam ser lembrados por todos aqueles que com êle tiveram a honra e o privilégio de conviver.

São João del-Rei, 06 de setembro de 2001 
(Homenagem aos cem anos do nascimento 
de João Baptista Lopes de Oliveira)  

_____________________________________________


*  José Eduardo Lopes ("Zuca") foi economista, gerente de agência da Caixa Econômica Federal, aposentado. Essa colaboração de sua autoria foi extraída do trabalho intitulado "João Baptista Lopes de Oliveira: dados pessoais, profissionais e jornalísticos", de sua autoria, como filho do homenageado.  

¹   Dentro do possível, o Blog de São João del-Rei vai publicar toda a série de artigos de João Baptista Lopes de Oliveira incluídos no trabalho supracitado. Importante lembrar que o homenageado João Baptista Lopes de Oliveira não foi apenas um membro efetivo, mas um dos 20 memoráveis sócios-fundadores do IHG de São João del-Rei.