quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

RECEITA DE MÁRCIO VICENTE PARA LEITURA DE EMIL LUDWIG


Por Márcio Vicente Silveira Santos *


Mar Mediterrâneo

14/07/2017

Prezado Amigo Professor Braga:

Folheando antigo exemplar de "O Mediterrâneo" (ontem, leitura de um jovem que pouco ou nada sabia da Grécia heróica; e, hoje, releitura de um ainda ignorante da esplêndida Cultura grega...) lembrei-me do amigo — helenista de Corinto a Mileto e de Citera ao Helesponto; marinheiro de Ulisses, ouvinte de Platão, ghostwriter de Péricles, cinzelador de Fídias e certamente frequentador dos saraus de Aspásia — e resolvi xerocar parte de um dos mais belos capítulos do livro. Naturalmente, você conhece a obra tanto quanto sabe da Grécia: sua histórica, sua gente, sua Cultura... Mesmo assim, resolvi enviá-lo.
Um grande abraço
Márcio Vicente

 * Historiador, escritor, jornalista, poeta e promotor de arte e cultura em Sete Lagoas, nascido em 23/03/1942 em Traíras, distrito de Cordisburgo e falecido em Sete Lagoas em 29/07/2019; membro de diversas Academias: Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais (sócio efetivo, desde 1969), Academia Sete-Lagoana de Letras (sócio fundador, desde 1985), Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal (sócio correspondente, desde 1995), Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa (sócio efetivo, desde 2008) e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei (sócio correspondente, desde 2017).

Obs. do Gerente do Blog: Anexo à correspondência remeteu-me na verdade dois capítulos do livro O Mediterrâneo, contidos no Livro Primeiro chamado pelo autor "O Descobrimento do Oceano" (nas páginas 99 a 106) e com os grifos do missivista, a saber:

Capítulo XIX 

Quem, em 440 a.C., subisse até a Acrópole e, em alguma afortunada hora da manhã, em meio dos martelos e gritos de milhares de operários, se sentasse num dos degraus do terminado Partenon, poderia facilmente ver meia dúzia de homens, que, naqueles dias, simbolizavam a glória de Atenas e hoje simbolizam a glória do mundo. Tal coincidência, num grupo de homens, é única na história: em regra, o gênio ora passa desconhecido do seu tempo, ora é esquecido pela posteridade. Os Atenienses conheceram-no, vingaram-se dele, depois, deixando-o cair; mais tarde, porém, veio a história e, sorrindo, de novo o levantou.

Três homens sobem lentamente os altos degraus do Propileu. Um deles, o rosto coberto pela barba e aparentando cerca de 50 anos, mostra ao mais moço o que já está terminado e o que ainda resta por terminar. Péricles caminha no meio: sua figura é, em todos os sentidos, a de um chefe, tanto mais quanto ele se esforça por não parecê-lo. Lembra mais um rei do que um deus, porém  seu olhar, assim como a cadência dos seus passos, exprimem uma tranquilidade olímpica. Bem sabe ele porquê dá tanta atenção ao forasteiro que caminha à sua esquerda e que, em suas grandes viagens, constantemente visitava Atenas. Este não só sabe muito bem observar o que se passa em seu derredor, como, além disso, sabe rapidamente combiná-lo com o que está distante. É Heródoto (...) 

Calado segue o terceiro, ao lado dos outros dois. Tem um semblante de herói e, mais do que Péricles, pareceria um general, se as fundas rugas da fronte não denunciassem o pensador. É Sófocles (...)  

A imagem da glória enche-lhes o pensamento e, talvez, naquela manhã, o poeta (Sófocles) esteja compondo a ode que mais tarde escreveu sobre Heródoto.

Em cima, saindo da ruidosa multidão e acompanhado da mulher mais interessante de Atenas, vem Fídias ao encontro dos três. Acabou de mostrar a Aspásia os debuxos, de acordo com os quais serão esculpidas as Cariátides. Péricles assim conta Plutarco — beijava-a na fronte, toda vez que a encontrava. Sem nome e sem origem, conhecida apenas como Aspásia, a amada, — essa mulher encontrara o homem de sua estatura. Como na sociedade ateniense só as hetairas tinham algum valor, foi fácil a Péricles, por causa dela, abandonar a esposa. Nascido para exercer o poder supremo, evidentemente o grande homem só podia suportar ao seu lado outra criatura genial. (...)

Heródoto apresenta-se a Aspásia como perfeito cavalheiro; mas, como psicólogo, ele observa cada expressão do rosto de Péricles, e todos sabem que o encontro destes quatro homens e da mais inteligente das mulheres será crítica (...) Pois nenhum outro povo, à exceção dos Parisienses, jamais pensou com tanta vivacidade e ceticismo como os Atenienses. (...)

Um pouco distante, do outro lado, ele (Heródoto) já avistou o homem com cabeça de músico, que está conversando com um desconhecido mancebo e que todos em Atenas chamam "o novo astro" do teatro de Dionísio. É Eurípedes que, há pouco ganhara o prêmio, quando, pela primeira vez, ousou por uma mulher no palco. (...) 

Ao seu lado, o jovem contempla, com expressão não menos interessada o hóspede grego, Heródoto, porquanto ele próprio ambiciona tornar-se um grande historiador (...) Este jovem é Tucídides. (...)

Distante deles, no lado norte, está sentado um homem de 30 anos, próximo aos operários. (...) Este último é Sócrates, que simultaneamente perturba e diverte toda a gente com suas perguntas populares e diabolicamente inteligentes. (...) 

Talvez que ele (Sócrates), apesar de sua inteligência, não tivesse reparado no jovem estudante, que se metera entre os operários para observá-lo mais de perto. (...) É apenas o grande caricaturista, sem o qual Atenas não seria Atenas: o jovem Aristófanes, que em breve os apresentará a todos no palco da comédia, imortalizando-os mais que os poetas e historiadores contemporâneos. (...)

De repente, vem pulando pela praça um grupo de meninos (...). À frente deles, vem um que salta doidamente (...). Três palestras se interrompem de repente na Acrópole. Por momentos, o menino atrai a atenção dos dois poetas, dos dois historiadores, de Aspásia, de Fídias e mesmo de Péricles. (...) Esse menino de 10 anos é Alcibíades.

Capítulo XX

Por essa época, assim como durante os dois gloriosos séculos de Atenas, Esparta não produziu nenhum espírito notável, nenhuma ideia, nenhuma obra escultural, quase nenhum general. Enquanto que de Atenas partiam, para todas as colônias do Mediterrâneo, médicos e filósofos, rapsodos e oradores; e uma parte dos grandes nomes surgiu das costas gregas da Ásia Menor e da Sicília; enquanto se tornava Atenas centro do comércio de livros e Platão fundava a Academia —, a noite envolvia Esparta. No tempo em que Péricles se deixava introduzir por Anaxágoras nas ciências naturais e discutia com Protágoras sobre ética, Esparta fechava as suas fronteiras à sabedoria, ao drama e à música. Tão perto do centro da cultura mundial, castigavam os Espartanos quem quer que ousasse filosofar, em vez de cuidar da ginástica e do tiro. Entrementes, os jovens atenienses aprendiam a atirar, remar e combater, como os seus heróicos antepassados.

Talvez tivesse Péricles evitado para sempre a guerra com Esparta, se a impaciência dos Atenienses, ansiosos por acabar com uma dominação de 30 anos, sedentos de renovações e tocados de ciúme, não se tivessem deixado arrastar a revoltas e processos, nos quais experimentavam livrar-se de seu caduco dirigente. Já então, como em nossos dias, uniam-se os partidos para derrubar um homem partidário em excesso. Radicais e nobres abriam processos contra o filósofo, depois contra o arquiteto, em seguida contra a amante de Péricles, expulsando o primeiro, deixando morrer na prisão o segundo e quase prendendo também Aspásia, se o chefe do Estado não a tivesse salvo com sobre-humano esforço e, até, como se diz, com lágrimas nos olhos. Parece que Péricles, igualmente ameaçado, buscou finalmente refúgio numa guerra  como o fizeram, depois dele, até os nossos dias, muitos ditadores ameaçados.

Confiante na supremacia de Atenas no mar e na inexpugnabilidade das suas muralhas, pensou, entretanto, que podia evitar a batalha. Mas se viu bloqueado pelos Espartanos, que, sob vários pretextos, marcharam contra Atenas. Teve que entregar partes da Ática às hostes que invadiram o território, como bárbaros; mas já se julgava salvo, após a retirada do agressor, quando a peste se apoderou de um quarto da população refugiada em Atenas. Veio a confusão, e, com esta, a denúncia do chefe do Estado por desvio de dinheiros públicos, enquanto que ele, na verdade, poupara o maior tesouro público da história antiga  pouco mais ou menos 10 milhões de dólares. Destituição do cargo, mágoas, tristeza, melancolia. Nova chamada, quando se deu a segunda invasão do inimigo; e, depois, a morte pela peste. Essa guerra do Peloponeso, continuando durante 27 anos, com alternativa de vitórias, elevou ao poder, por pouco tempo, Alcibíades  então já homem de 20 anos. Isto se verificou 14 anos depois da morte de Péricles.

Com Alcibíades, cujo caráter não poderemos analisar aqui, por falta de espaço, pôs outra vez a história diante dos olhos do mundo mediterrâneo um gênio, que se imortalizou como os seus grandes antecessores. Pela sua beleza e elegância, seu cinismo e desmedido gosto, amado e, ao mesmo tempo, odiado — lembra ele, quanto ao caráter e ao talento, um Lord Byron ou um D'Annunzio da nossa época. Precisando de uma vitória para reanimar os Atenienses fatigados das guerras, preparou uma campanha contra a Sicília, isto é, uma nova guerra grega fratricida, com a espantosa quantidade de 134 navios. Chamado de volta pelos magistrados de Atenas, mais intrigantes do que justos, tendo sempre preparada uma denúncia puritana, semelhante àquela com que os ingleses arruinaram Byron e Oscar Wilde — ele foge para junto dos inimigos, em Esparta. Repete-se a loucura de uma guerra colonial longínqua, enquanto Esparta continua ameaçando por terra.

Atenas é vencida e reposto Alcibíades com entusiasmo — sendo novamente destituído após a sua primeira derrota. Foge então para o norte, inicia uma intriga com os Persas e é assassinado lá mesmo.

Se Péricles ficou célebre pelas suas obras arquitetônicas, em cujas colunatas ressoa o seu nome, deve Alcibíades sua fama também à arte, pois Platão o introduziu nos seus diálogos. Não obstante, giram ambos qual grupo sideral em volta do astro central da época: Sócrates que, dizem,  salvara a vida do jovem Alcibíades numa batalha. Sócrates amava o seu discípulo de 20 anos de idade, embora este zombasse das virtudes pregadas pelo mestre e amigo. Nada nos faz tão impressionante revelação de como era paradoxal o mundo ateniense e de como havia ali, misturadas às boas qualidades, fraquezas que breve conduziam à ruína — como essa amizade, que acabou com a morte violenta dos dois amigos, mas em tão diferentes condições. Com Alcibíades termina a longa guerra. Dominados pela disciplina de ferro, que constituía o seu único ideal político, em nada se distinguem os Espartanos dos bárbaros; e em nada sobrepujaram os outros gregos, a não ser no violento exercício militar e na cega obediência. Agora, penetravam eles no Piréu, acampavam na Acrópole, destruíam as extensas muralhas, capturavam a frota dos vencidos, exigiam a entrega de todas as colônias, obrigavam os outros a formar uma união de Estados sob a liderança de Esparta e derrubavam a democaracia ateniense, nomeando alguns poucos homens para governar.

Assim como outrora se atirava o bárbaro sobre o vencido, sem lhe trazer qualquer ideia nova, assim os motivos da decadência do povo cansado se assemelhavam aos motivos novamente assinalados em nossos dias. A democracia, que reinara 50 anos em Atenas, tinha apodrecido internamente, desde muito tempo. Os proletários, isto é, a maioria, haviam recebido concessões de Péricles, e as magistraturas eram facultadas aos pobres, que, naquele tempo, constituíam uma maioria sem instrução. Enquanto isso, retraíam-se os ricos. Os Sicofantas ¹, ou alcaguetes, se arvoravam em representantes do povo. Efetivamente, Atenas não foi levada à glória pela sua democracia, mas a despeito desta última. E a democracia provocou a queda de Atenas, porque, na verdade, divertia-se o Estado à custa do povo, que julgava governá-lo. Para a forma democrática de governo, tanto o século V a.C., como o século V d.C. ainda eram prematuros. Pois como se podia desenvolver uma verdadeira democracia, num Estado antigo, que possuía três classes de habitantes  cidadãos, estrangeiros e escravos,  com direitos completamente diversos? Como Atenas não era uma democracia verdadeira, ficou sendo vítima da autocracia espartana.

O único que assistiu a toda a guerra, até o fim, foi Sócrates, amigo do povo, mas inimigo da democracia. Em sua morte reside o único motivo de haver ele alcançado, acima de Alexandre, a maior fama entre os homens da Antiguidade. De todos os homens do Mediterrâneo ², que filosofaram tanto sobre a vida e a morte, dando nisto à humanidade um grande exemplo, foi Sócrates o único que morreu voluntariamente pela verdade. Pode-se dizer também que morreu como um gentleman

Os suicídios de Brutus, Antônio e outros foram os de jogadores que haviam perdido e que temiam agora a escravidão. Também Sêneca quis fugir à ruína da sua felicidade e Empédocles, o filósofo, que, como dizem, se atirou dentro do Etna, saldou a sua conta de pessimista. César tombou lutanto contra covardes assassinos. Jesus implorou a Deus, na última noite, para que Este o salvasse. Dentre todos, pois, somente Sócrates renunciou à salvação e contrariou o seu instinto vital de conservação. Verdade é que ele tinha o dobro da idade de Jesus. Os juízes o aconselhavam a fugir, como outros já tinham feito. Ele não padecia de qualquer doença dolorosa, nem precisava dos Atenienses, pois qualquer indivíduo humano lhe servia como objeto de análises, as quais ele poderia prosseguir em qualquer lugar da  terra. Antecipou, assim, os fundamentos morais da doutrina de Jesus; mas viveu-a até o fim da sua existência.

Mesmo que a história grega não nos tivesse deixado nenhum outro documento de beleza e sabedoria, senão a Apologia de Sócrates, o Ateniense, feita por Platão, isto só bastaria para elevar Atenas acima de todas as culturas subsequentes do Mediterrâneo. Ao mesmo tempo, contudo, a morte de Sócrates simboliza a malícia e amargura dos Atenienses. Pois, como acabaram todos esses homens?

Nenhum deles tombou na luta, nenhum morreu jovem; todos ficaram mais velhos do que era de supor-se, dada a sua debilidade física e a sua grande atividade. Dentre os poetas: Ésquilo morreu com 71 anos, Eurípides com 74, Aristófanes com cerca de 80. Dentre os filósofos: Sócrates com 71. Anaxágoras com 72, Heródoto com 75, Pitágoras com cerca de 76, Platão com 80, Isócrates com 99. Também não é certo que os Gregos achassem belo morrer na juventude. Desde Homero, manifestaram eles sempre o desejo de alcançar uma tranquila morte na velhice.

Se, dentre os maiores gregos que, no espaço de 150 anos, representaram a fina flor de Atenas, quisermos escolher aqueles cujos dons se desenvolveram em paz e tranquilidade, restar-nos-á um único, entre dezessete: Sófocles. O destino dos outros dezesseis revela a hostilidade social contra o gênio. Esses gregos morreram entre 456 e 322 a.C., perseguidos sempre entre as idade de 55 e 75 anos. 

Ésquilo morreu no desterro; Aristides, já velho, foi expulso por cinco anos, de depois perdoado; Temístocles, expulso também, morreu em terra inimiga; Péricles foi denunciado e destituído; Fídias morreu na prisão; Ictinos fugiu e faleceu junto ao inimigo; Anaxágoras, expulso, condenado à morte, morreu também no desterro; Pitágoras, expulso, provavelmente morreu de fome; Heródoto pereceu no exílio; Eurípides, moralmente banido, morreu no estrangeiro; Tucídides foi expulso e assassinado; Alcibíades, como única exceção, foi expulso na mocidade, e depois assassinado; Sócrates foi condenado à morte; Platão foi vendido como escravo, e só mais tarde libertado; Aristóteles, acusado, fugiu e morreu longe da pátria; Demóstenes, perseguido, envenenou-se. Excetuando os dois últimos, que foram expulsos mais pelas circunstâncias do que pelos concidadãos, os demais nos mostram toda a malícia, impaciência, ciúme e ingratidão dos Gregos, dentro daquela democracia que a todos eles envolveu. E acabamos dando razão a Aristófanes ³.

É como se Fausto e Mefistófeles tivessem feito um pacto, para persuadir um povo de pensadores e artistas a destruir o que ele próprio havia criado. E foi uma felicidade para o mundo que o senso de beleza desse povo não o deixasse destruir também, juntamente com os mestres, as obras destes.


 
 
II. NOTAS EXPLICATIVAS pelo Gerente do Blog
 
¹  Consta que, na Grécia antiga, havia pessoas que eram nomeadas para cuidar que os figos (SYKON) não fossem colhidos indevidamente, pois em certos pontos eles seriam propriedade do Estado. A elas cabia delatar os transgressores às autoridades, o que era feito “iluminando, dando a conhecer, trazendo a luz sobre um fato”, ou PHAÍNEIN. Daí a aplicação atual para sicofanta para “mentiroso, delator, caluniador”.
 
² O Mar Mediterrâneo (do latim, Mediterraneus, que significa “entre as terras”) é um mar interior que está localizado no Oceano Atlântico Oriental entre a Europa (ao sul), Ásia (a oeste) e África (ao norte). Suas águas são mais quentes, uma vez que recebe o calor do deserto africano.
Ocupa uma área total de aproximadamente 2.5 milhões de Km2, sendo considerado o maior mar interior do mundo em extensão e volume de água.
Cerca de 70 rios desaguam no Mar Mediterrâneo dos quais se destacam: Nilo, Pó, Ebro, Ródano, dentre outros.

Mapa do Mar Mediterrâneo

Possui vasta biodiversidade abrigando cerca de 5% das espécies do planeta, dentre vegetais e animais.
Faz ligações com o Mar Negro (pelo estreito de Bósforo e de Dardelos) e o Mar Vermelho (pelo Canal de Suez) agrupando diversas ilhas sendo as maiores as de Sardenha e da Sicília, ambas na Itália.
Além delas, outras ilhas fazem parte do Mediterrâneo, a saber: Chipre, Córsega, Creta, Maiorca, Minorca, Ibiza, Lesbos, Rodes, Miconos, Malta, dentre outras.
O Mar Mediterrâneo banha também quatro penínsulas:
    Península Ibérica
    Península Itálica
    Península da Anatólia
    Península Balcânica
 
História

A história do mar mediterrâneo remonta tempos muito antigos, de forma que diversas civilizações da Antiguidade se desenvolveram próximas ao Mediterrâneo, tal qual fenícios, macedônios, cartagineses, egípcios, gregos e romanos.
O Mediterrâneo foi muito importante para a navegação, relações comerciais e contato entre os povos (trocas comerciais, culturais, etc), uma vez ele possui uma posição estratégica.
Os romanos o chamavam de “Mare Nostrum” (Nosso mar) e árabes o chamavam de “Al-Bahr al-al-Abyad Mutawassiṭ” (Mar Branco do Meio). Foi também muito importante para a rota marítima comercial dos séculos XV e XVI, com o transporte de especiarias pelos genoveses e venezianos.
Link: https://www.todamateria.com.br/mar-mediterraneo/
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³  Aristófanes serviu-se da comédia para manifestar seu menosprezo a certas autoridades públicas, aos políticos, às instituições, às “celebridades” e aspirantes que, pateticamente, exteriorizavam a decadência moral da sociedade grega. Corrupção, abuso de autoridade, vaidade e mesquinhez foram alvo de suas críticas veladas sob a forma de sátira. Apesar de ter escrito mais de quarenta peças teatrais, apenas onze são conhecidas. Por exemplo, “As Nuvens”, uma das que sobreviveu, constitui uma crítica contundente ao Poder Judiciário ateniense. A ironia de Aristófanes já começa no próprio título da peça: “As Nuvens”.

 
III. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
 
BRAGA, Francisco José dos Santos et alii: Colaborador: MÁRCIO VICENTE SILVEIRA SANTOS, relatório da Comissão do IHG que aprovou a admissão do historiador sete-lagoano no IHG de São João del-Rei. 
JORNAL TRIBUNA DE SETE LAGOAS: TIRADENTES NA HISTÓRIA DE SETE LAGOAS editorial de 21/04/2012, publicado no Blog de São João del-Rei em 29/03/2023.
 
LUDWIG, Emil: O MEDITERRÂNEO: Destino de um oceano, Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, traduzido do alemão por Almir de Andrade, 1935, 557 p.
 
SILVEIRA SANTOS, Márcio Vicente: Tiradentes em Sete Lagoas, escrito em 21/04/2010 e publicado no Blog de São João del-Rei em 22/08/2017.
 
___________________________: São João, escrito em 02/12/2017 e publicado no Blog de São João del-Rei em 26/01/2018.
 
___________________________: Tiradentes no comando, publicado na revista Memória Cult,  Ouro Preto, Ano I, nº 3, abril de 2011, pp. 34 e 35.
 
___________________________: Tiradentes em Sete Lagoas - Um mergulho na História que inscreve a Cidade no cenário da Inconfidência Mineira, Sete Lagoas: Tip. Kosmos, 2010, 245 p.   
 
___________________________: Sete Lagoas, Século XVIII - O Registro e as Estradas Reais: Centralidade e Convergências na Capitania de Minas, Sete Lagoas: Edições Instante, 2019,  235 p.

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Outros Céus, outras Terras


Por ANTÓNIO VALDEMAR *
 
“A imaginação mergulhou no passado e procurou avançar para o futuro: «Vejo raiar na grande noite a Estrela que anuncia eternamente o nascimento do Menino; vejo o estábulo sem conforto onde a vaca rumina e o burro sonha; e vejo os Pais que se debruçam com ternura sobre o filho que vai remir a Humanidade. A criação do Homem e a sua redenção sobre o Amor continuam».”(artigo publicado originalmente no Diário dos Açores, na edição de 24/12/2023)
Estes dias tão íntimos acordam fantasmas reais ou estrelas imaginárias. Um rosto de inquietação ou de esperança, aproxima-nos dos laços mais profundos que nos prendem às raízes familiares.

Tempo repleto de memórias e que faz evocar na intimidade do lar e em redor da mesa da família os nomes de todos os que já passaram pelas nossas vidas, os amigos de longe e os amigos de perto. Os amigos das horas difíceis e os amigos das horas alegres. 

Jaime Cortesão voltara do exílio, no Brasil, em 1957 e faleceu em 1960. O regresso a Portugal e com residência em Lisboa, permitiu-lhe completar investigações em arquivos nacionais e percorrer o País de norte a sul, detendo-se em tudo quanto lhe interessava. Entretanto, teve horas de tribulação política ao ser preso, com mais de 70 anos, em Caxias, (juntamente com António Sérgio, Vieira de Almeida e Mário de Azevedo Gomes) por estarem a organizar uma conferência sobre Democracia, a proferir por um deputado trabalhista britânico. 

Mesmo assim, Jaime Cortesão manteve a atividade intelectual até quase aos últimos dias e fez, no seu último Natal (1959), uma divagação entre o humano e o simbólico. Estávamos numa época já assinalada pelas aventuras espaciais, cujos primórdios Jaime Cortesão acompanhou com interesse. O lançamento do primeiro Sputnik ocorreu a 4 de Outubro de 1957 e, pouco depois, a 31 de Janeiro de 1958, surgiu o primeiro satélite, o Explorer. O mundo inteiro, apesar da desconfiança e o ceticismo de muitos perante estas e outras audaciosas inovações, viria a assistir à chegada à lua. Foi a 21 de Julho de 1969, com a nave Apollo 11. Neil Armstrong protagonizou este acontecimento que ficou na história universal. 

O Natal de Jaime Cortesão convocou os valores e ensinamentos tradicionais. Aprofundou as raízes de Ançã, terra onde nasceu e da qual nunca se desligou. Ele próprio confessa a emoção que sentia das suas origens, de «uma terra de dunas e lagunas, de bairrada e de pinhais, gândaras e pedreiras e de tão pródigas entranhas que a sua pedra, o calcário macio de Ançã de Outil e de Portunhos, serviu para construir retábulos, púlpitos e imagens distribuídas através de meio Portugal». 

Nascemos todos – escreveu – no mesmo estábulo. O melhor tesouro de cada um será o riso das crianças, as lágrimas de ternura, a alegria sem palavras, a bondade que brota, espontânea e gratuita como as flores na primavera». 

A imaginação mergulhou no passado e procurou avançar para o futuro: “Vejo raiar na grande noite a Estrela que anuncia eternamente o nascimento do Menino; vejo o estábulo sem conforto onde a vaca rumina e o burro sonha; e vejo os Pais que se debruçam com ternura sobre o filho que vai remir a Humanidade. A criação do Homem e a sua redenção sobre o Amor continuam». 

Mas Jaime Cortesão distinguiu-se de todos os seus contemporâneos, da Águia e da Renascença Portuguesa de Pascoaes a Afonso Duarte e da Seara Nova, de Aquilino a Raúl Brandão, sem esquecer Santiago Prezado, do Auto dos Pastores Brutos, em poesias e prosas com a marca que singulariza cada um. Cortesão associou a era espacial aos momentos alegóricos da comemoração do Natal: «O ser terrestre conhecerá em breve outros seres. Outros Céus. Outras Terras. Outras manhãs e ocasos múltiplos de sóis. Quando sobre nós raiarem todos os sóis dos Céus, então os homens – ao mesmo tempo vermes da Terra e águias do Universo – terão forças para realizar todas as promessas do Natal e ouvidos para escutar o coro dos Anjos e a música das estrelas”. As prodigiosas aventuras que se realizavam para além do planeta levaram o homem – interrogava ainda – a sentir-se «desterrado do seu próprio mundo onde viveu milénios». 

A chegada à Lua constituiu uma etapa de uma exploração espacial que tem prosseguido, nos últimos 70 anos, que não se sabe quando virá a ser concluída, que abre ampla reflexão acerca da cultura humanista e a cultura científica, entre as dimensões culturais, políticas e mediáticas. Confronta-nos com dinâmicas de conflito que caracterizam a contemporaneidade. 

Todas as situações da natureza humana, neste tempo de Natal, vêm à superfície nos dias tão íntimos, em que fantasmas reais ou imaginários andam dentro de nós e caminham dentro de nós. Ganham um rosto de inquietação ou de esperança, que aproxima ou separa os laços que nos prendem à terra. 

 

* Jornalista, carteira profissional número UM; sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa.  

 

II. AGRADECIMENTO

 
O gerente do Blog de São João del-Rei agradece à sua amada esposa Rute Pardini Braga a formatação e edição da foto utilizada nesta crônica.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

INAUGURAÇÃO DO MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO JOÃO DEL-REI


Por ALVINO COSTA FILHO *
 

Este é um texto transcrito do vídeo-memória UM MUSEU PARA EL REY: SOUZA CRUZ SOBRE DIA DE INAUGURAÇÃO DO MAS-MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO JOÃO DEL-REI com registro histórico sobre a aquisição predial, doação para a Fundação Museu de Arte Sacra de São João del-Rei, reforma, montagem e inauguração do MAS em 06/07/1984 .
Autorizei que as informações e  disponibilização do vídeo, fotos e informações relativas à inauguração do MAS fossem entregues ao Blog de São João del-Rei para sua edição no YouTube por intermédio de Edson Assis Coelho, responsável pelas Obras Civis e Instalações Elétricas do MAS.
Dedico o presente trabalho a dois grandes colaboradores: Edson Assis Coelho e Gil Amaral Campos (in memoriam), que, durante todo o tempo de duração da obra, graciosamente levava as correspondências e mensagens entre os dirigentes da obra de construção civil do MAS e a sede da Cia. Souza Cruz no Rio de Janeiro, na Rua da Candelária, nº 66/8º andar, no centro do Rio de Janeiro-RJ. Contei com a colaboração de Bruno Braga Campos, filho do colaborador Gil Amaral Campos, para a divulgação do vídeo no formato do YouTube.

 

 

Inauguração do Museu de Arte Sacra de São João del-Rei:  06/07/1984  -  Crédito pela foto: Antônio F. Giarola


O pintor José de Aquino que há muitos anos se dedica a retratar o belo casario de sua cidade, São João del-Rei, resolveu naquela sexta-feira pintar algo novo: assentou seu cavalete em lugar estratégico e pôs-se a trabalhar pacientemente. Seu objetivo: transferir para a tela o Museu de Arte Sacra de São João del-Rei, cuja inauguração estava marcada para aquela noite.  
E São João del-Rei amanhecera com uma novidade no ar: desde cedo, o movimento inusitado de automóveis, visitantes, fotógrafos e cinegrafistas tirava o são-joanense de sua calma habitual. 
Naquele dia (06/07/1984), muita gente importante iria chegar, e, entre os convidados, um filho ilustre da terra, o próprio governador do Estado de Minas Gerais, Tancredo de Almeida Neves. 
Entre os grandes tesouros artísticos de Minas Gerais, hoje representados por cidades como Ouro Preto, Mariana, Tiradentes, Congonhas e outras, São João del-Rei ocupa um papel de grande importância. 
Nas igrejas estão guardadas obras quase desconhecidas e de imenso valor histórico. Por muitos e muitos anos, através dos séculos, as igrejas sempre foram o lugar mais seguro para se guardarem essas riquezas, que nasciam da fé e se multiplicavam nas mãos de um sem-número de artistas locais. E percebe-se em cada são-joanense o orgulho de se sentir dono de um dos mais raros patrimônios históricos do Brasil. Muitos desses cidadãos fazem parte das irmandades religiosas locais, outros são simplesmente estudiosos da sua herança e de sua tradição. A verdade é que em São João del-Rei respiram-se tradição e história. 
Aqui foi um dos palcos da famosa Guerra dos Emboabas, quando então o lugar chamava-se Arraial Novo do Rio das Mortes. O ouro e outras riquezas minerais foram responsáveis pela erguimento da Vila que, em homenagem ao então rei de Portugal, D. João V, ficaria conhecida como São João d'El Rey. 
O Museu de Arte Sacra começou a ser construído oito meses antes de sua inauguração e foi fruto de um antigo encontro de diretores da Souza Cruz com o então Senador Tancredo Neves. Não era apenas um museu necessário que reunisse as obras guardadas até então nas igrejas ou em poder das irmandades religiosas do lugar. Era um sonho de toda a cidade. 
O local escolhido foi o antigo Largo do Rosário (hoje, Praça Embaixador Gastão da Cunha). O prédio, durante 113 anos, até 1853, abrigou a velha cadeia pública da cidade. Durante as obras, muitas partes do que fora a prisão ficaram à mostra, revelando nichos e porões quase soterrados; velhas paredes internas foram demolidas, cedendo lugar a um projeto racional e seguro que se destinasse a abrigar um verdadeiro museu. 
Eis o que o responsável pelas Obras Civis e Instalações Elétricas, Sr. Edson Assis Coelho, disse sobre as dificuldades que encontrou no desempenho de sua função:
É uma obra bastante curiosa, visto termos encontrado toda a alvenaria em paus a pique, o que mantinha as características do século passado, mas que não oferecia a devida segurança para o objetivo de ser o Museu de Arte Sacra de São João del-Rei. Então tivemos que refazer a alvenaria em tijolos, uma construção mais moderna, para assim darmos toda a segurança à obra, alcançando o objetivo. Esperamos estarmos aqui na inauguração brevemente com essa maravilha com a qual São João é premiada.

Mesmo antes de sua construção, era perceptível a preocupação dos que guardavam o disperso, mas rico acervo de obras sacras locais. Tendo sido entrevistado, assim se expressou sobre o empreendimento o Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva, pároco da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar:

De fato, é de suma importância a conservação desses objetos de arte na nossa cidade, sobretudo de arte sacra, porque posso dizer que todos os turistas que aqui vêm não conseguem apreciar toda esta riqueza que nós possuímos, porque estão fechados. Mas agora com essa criação e montagem do museu, essas peças com segurança vão ser vistas por todos.

Mas finalmente chegava o dia de entregar a obra à população, aos estudiosos e aos pesquisadores, donde quer que viessem. O Brasil ganhava mais um museu. Eis as palavras do Presidente da Souza Cruz, Sr. Kenneth Sumner, durante a cerimônia da inauguração do museu:

Novamente Dr. Tancredo, a Souza Cruz marca a sua presença em Minas Gerais. É a vez desse magnífico santuário cultural e artístico, desse legítimo patrimônio histórico e universal que se chama São João del-Rei colaborar com os objetivos culturais do seu governo, proporcionar a esta cidade a guarda e a preservação do seu incalculável acervo religioso e artístico; e com isso, reavivar a memória desta região e deste país, esta é uma missão que a Souza Cruz cumpre com prazer.

Dada a palavra ao Governador Tancredo Neves, ele só teve palavras de gratidão a todos os que se esmeraram em presentear São João del-Rei com o projeto do Museu de Arte Sacra, em especial à outorgante Cia. Souza Cruz:

Esse museu atravessará os anos - peço aos céus que atravesse os séculos - enriquecido, opulentado e admirado por todos e quanto mais ele atravessar os tempos e o séculos, haveremos de lembrar que a Cia. Souza Cruz não é apenas um empreendimento industrial, não é apenas uma empresa com a preocupação de lucros, mas é sobretudo e principalmente uma atividade que sabe prezar, valorizar e destacar os valores permanentes, eternos e insubstituíveis da nossa cultura.
Mais de 100 peças totalizam o acervo do museu, em sua maioria obras do século XVIII. Aqui vai ser apreciado o Cristo na Coluna de Aleijadinho, uma de suas peças de maior importância; Nossa Senhora da Piedade, a Pietà, finalmente saiu da Irmandade onde estava e, a partir de agora, poderá ser admirada por todos; a obra é portuguesa e, segundo os estudiosos, trata-se da maior atração do Museu de Arte Sacra. 
Mas o museu não é feito só de imagens. Uma de suas salas é dedicada à prataria e às peças em ouro feitas com matéria prima extraída do próprio lugar. O assessor de Museografia e Restauração do Prédio, museólogo Fernando Menezes de Moura, informa sobre a Sala de Prataria do museu:
Nesta sala reunimos o acervo, todo ele de prata e ouro. Temos aqui o melhor material recolhido nas igrejas de São João del-Rei.
Inúmeras outras preciosidades puderam abandonar o silencioso abrigo das igrejas, irmandades e mãos de zelosos guardiães da população. Pouco a pouco, elas iam chegando para serem catalogadas, restauradas e expostas. O tesouro são-joanense, enfim, começava a vir à luz e o velho sonho virava realidade. 
No dia seguinte, São João del-Rei voltava à calma de sempre. Nem parecia que na véspera tivesse tido tanto movimento por ali. Mas, mesmo com sua tranquilidade habitual, era possível notar alguma coisa muito importante no ar: a cidade estava mais feliz.
 
 
* Arquiteto e coordenador geral do Projeto: Restauração do Prédio do Museu de Arte Sacra de São João del-Rei pela Cia. Souza Cruz

Museu de Arte Sacra de São João del-Rei: inaugurado em 6 de julho de 1984 pelo Excelentíssimo Senhor Governador do Estado de Minas Gerais DOUTOR TANCREDO DE ALMEIDA NEVES na presença das autoridades: Dr. Gerardo Cid de Castro Valério-Prefeito Municipal de São João del-Rei; Deputado José Aparecido de Oliveira-Secretário da Cultura do Estado de Minas Gerais; Dom Antônio Carlos Mesquita-Bispo da Diocese de São João del-Rei e Representantes das Irmandades Religiosas, da Fundação Museu de Arte Sacra de São João del-Rei e da Subsecretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional de Minas Gerais. A Companhia Souza Cruz Ind. e Com., através de seu Presidente, sr. Kenneth Murray Sumner, faz doação deste prédio e de suas instalações à Fundação do Museu de Arte Sacra de São João del-Rei para contribuir na preservação do patrimônio artístico e histórico com que Minas Gerais engrandece a cultura do País. São João del-Rei, 6 de julho de 1984.




Em 29 de setembro de 1989, o arquiteto Alvino Costa e o diretor da Souza Cruz, sr. Kenneth L. Light, receberam na Câmara de Vereadores da cidade, o título de CIDADÃO SÃO-JOANENSE pela obra de criação e restauração do Museu de Arte Sacra. A solenidade foi pretigiada pela sra. Risoleta Neves, pelo Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva e pelas famílias dos homenageados.

Arquiteto Alvino Costa Filho e família, recebendo o prêmio do IAB-Instituto dos Arquitetos do Brasil pela obra de criação, restauração do MAS-Museu de Arte Sacra de São João del-Rei (dezembro de 1984)

Professor e museólogo Fernando Moura, autor da Museografia e lay-out do Museu de Arte Sacra de São João del-Rei (dezembro de 1984)

Dom Lucas Moreira Neves, arcebispo primaz do Brasil, recebendo a visita do arquiteto Alvino Costa, autor do projeto de criação e restauração do Museu de Arte Sacra de São João del-Rei, cidade natal do primeiro. (1984-1985)



 

Correspondência expedida pela Fundação Museu de Arte Sacra de São João del-Rei em seu papel timbrado: 

OF. Nº 056/84 
 
São João del-Rei, 27 de dezembro de 1984. 
 
Ao 
Exmo. Sr. 
KENNETH MURRAY SUMNER 
Presidente da Cia. Souza Cruz Ind. e Com. 
Rua Candelária, 66-Centro 
CEP: 20.092 
 
Prezado Senhor, 
 
Respeitosas Saudações. 
Foi com enomrme satisfação que recebemos a notícia da Premiação obtida no Instituto dos Arquitetos do Brasil com a apresentação do Projeto de implantação e organização do Museu de Arte Sacra de São João del-Rei. 
Acredite que este é motivo de muito orgulho e vaidade para todos os que pertencem à Fundação Museu de Arte Sacra de São João del-Rei e também para toda a comunidade sanjoanense. 
O feliz acontecimento já se encontra comunicado a todos os meios de comunicação (jornais e rádios locais) para em breve ser noticiado em nossa cidade de São João del-Rei.
Despedimo-nos parabenizando toda a Equipe da Cia. Souza Cruz Ind. e Com., e em especial ao arquiteto ALVINO COSTA FILHO pelo excelente trabalho realizado. 
Com nossos protestos de alta estima e apreço. 
 
Atenciosamente,
 
Assinam pela Fundação Museu de Arte Sacra de São João del-Rei os seguintes membros do seu Conselho: 
Dom Antônio Carlos de Mesquita 
Dr. Gerardo Cid de Castro Valério 
Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva 
Dr. Euclides Garcia de Lima 
Prof. Fábio Nelson Guimarães 
Sr. Júlio Teixeira 
Sr. Luís de Melo Alvarenga

 

II. AGRADECIMENTO

 
O gerente do Blog de São João del-Rei agradece à sua amada esposa Rute Pardini Braga a formatação e edição das fotos pertencentes ao acervo particular do arquiteto Alvino Costa Filho, cedidas por sr. Edson Assis Coelho, utilizadas neste trabalho.
 
 
III. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
 
BARRETO, Reinaldo Paes: Ah! doutor Tancredo: que saudade!, in JORNAL DO BRASIL, edição de 4/3/2010, na coluna Sociedade Aberta, postado no Blog de São João del-Rei em 27/09/2023.
 
IRMANDADES, CONFRARIAS, ARQUICONFRARIAS E ORDENS TERCEIRAS: documentário sobre o MAS-Museu de Arte Sacra de São João del-Rei (a partir de 39:17 do vídeo)
 
UM MUSEU PARA EL REY: vídeo-memória, propriedade de Alvino Costa Filho, transcrito no presente post pelo gerente do Blog de São João del-Rei.
Link do vídeo-memória: https://youtu.be/WR0npsnHySw 👈

domingo, 24 de dezembro de 2023

CORDEL DO NATAL


Por Francisco GUSTAVO de Castro DOURADO

O menino-Deus na manjedoura

Que significa o Natal?!: 
Solstício:Inverno/Verão 
É uma festa litúrgica 
Crística celebração 
Luzes da cosmogonia 
Na cidade e no sertão 
 
O Natal é festa antiga 
Tanto quanto o Carnaval 
Na velha Mesopotâmia 
Celebração cultural 
Nos idos da Babilônia 
Foi Zagmuk festival 
 
Confraternizar a paz 
Prazer e gastronomia 
Baco-Dioniso, festa 
Cristaluzes da alquimia 
Pão e vinho consagrados 
À divina eucaristia 
 
Em família, paz e amor 
Na cultura ocidental 
É Zeus a lutar com Cronos 
Vasto Olimpo sideral 
Em Roma a Saturnália 
Nas raízes do Natal 
 
Jantares, festas nas ruas 
Com velas e ornamento 
Sol invictus brilhante 
Dá-se o grande nascimento 
Com alegria e presentes 
Grandioso movimento 
 
Tinha jejum, comunhão 
Um bom lanche era servido 
Com o tempo evoluiu 
Novo rito definido 
Frutas, bolo, panetone 
Bem assado, bom cozido 
 
São Francisco fez presépio 
Lutero a árvore enfeitou 
Atos de ecumenismo 
O costume prosperou 
As meias e sapatinhos 
Na chaminé nos chegou 
 
Em 1881 
Publicidade total 
A Coca-Cola inventou 
Papai Noel atual 
E São Nicolau tornou-se 
Um mito comercial 
 
Jesus foi incorporado 
Pelo Império Romano 
Fizeram adaptação 
Foi de Cristo, sol arcano 
Alfa e Ômega que brilha 
Multiverso soberano 
 
Só depois veio o peru 
Um hábito americano 
Bacalhau e rabanada 
Um costume lusitano 
Biscoitos deliciosos 
Desde o tempo romano 
 
Uvas, vinhos e champanhe 
Pinheiro, Árvore de Natal 
Enfeites e ornamentos 
Rito tradicional 
Menino Jesus em cena 
Missa do Galo ao final 
 
Pra miséria sublimar 
Consumálias e fartura 
Ultrapassemos a cri$e 
Divida-se a rapadura 
Endurecer se preciso 
Mas sem perder a ternura 
 
Pra você tudo de bom 
Saúde… Fraternidade 
Um Natal de equilíbrio 
Luz… Solidariedade 
Paz… Amor e Alegria 
Sucesso e Felicidade 
 
Um Natal de paz e amor 
Sua estrela vai brilhar 
Que tudo se concretize 
Possa a vitória alcançar 
Realize os seus desejos 
E conjugue o verbo amar

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

OS FRANCISCANOS HOLANDESES EM SÃO JOÃO DEL-REI (de 1904 a 1924)

Por Frei Sabino Staphorst, o.f.m. 
Texto extraído do capítulo VI do livro Vinte e Cinco Anos no Brasil (1899-1924): comemoração do jubileu de prata da presença dos franciscanos holandeses no Brasil, da autoria de Frei Sabino Staphorst, o.f.m., nascido na Holanda em 1878. O autor veio para o Brasil em 1905. Foi missionário, pioneiro, pregador popular, professor universal, jornalista destemido e brilhante escritor. Em 1924 editou este livro intitulado (em holandês) "25 jaar in Brazilië", narrando a seus patrícios as muitas peripécias suas e de seus confrades, de 1899 a 1924, para chamar ao Reino de Deus tantas almas abandonadas em Manaus, Niterói e em diversas regiões de Minas Gerais. Também para nós este livro deve ser interessante por seus dados biográficos, históricos, eclesiásticos, franciscanos e pitorescos, cuja leitura atenciosa nos transportará da gratidão pelo passado à nossa responsabilidade pelo tempo atual, em busca de um futuro mais feliz.
Minha homenagem póstuma a Frei Sabino, meu grande professor de Teologia em Divinópolis (1932-1934); minha gratidão aos meus colegas Frei Celso Márcio Teixeira, Frei Metódio de Haas e seus estudantes de teologia por sua indispensável cooperação.
Ass. O tradutor do holandês para o português, Frei Helano van Koppen, o.f.m.
 
Frei Sabino Staphorst, o. f.m. (✰ 18/08/1878, Heemstede, Holanda ✞ 04/08/1957, Rio de Janeiro)

São João del-Rei, geralmente chamada entre nós "São João", foi fundada no fim do século XVII, quando foram descobertas no Estado de Minas Gerais as primeiras minas de ouro; chegou depressa a grande riqueza e influência. Nos primeiros anos foi cena de lutas sangrentas que ali se travavam entre os exploradores de ouro de Portugal que penetraram nesses distritos de ouro pelo leste e os de São Paulo pelo sul. Essas contendas são chamadas a "Guerra dos Emboabas". 
Belas igrejas, entre as quais a Matriz de N. Sra. do Pilar, a igreja da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco de Assis e a da Ordem Terceira do Carmo com seus móveis belíssimos, figuras douradas trabalhadas e muita prataria nos altares, tudo isso atesta tanto a riqueza como o espírito dos moradores daquela época das minas de ouro. Hoje em dia não se faz absolutamente mineração de ouro em São João. 
Durante os 200 anos de sua existência, São João sempre foi uma das mais importantes cidades de Minas e tem sido o berço e a residência de muitos homens célebres. Mormente como centro intelectual e artístico tem tido um grande nome. Quando, pouco tempo depois da Proclamação da República, se resolveu transferir a capital de Minas, São João era uma das cinco cidades que foram apontadas como sede do Governo. Finalmente foi eleita Belo Horizonte com 50 votos contra 48 votos para São João. 
A cidade com seus arredores forma apenas uma paróquia, com aproximadamente 23.000 habitantes, dos quais só 18.000 moram na cidade. Todo o município conta com 45.000 habitantes. Na cidade ainda há, além das três igrejas mencionadas, que são as mais belas e ricas, dez outras igrejas e capelas. 
A cidade possui alguma indústria, entre outras, as oficinas da Estrada de Ferro Oeste de Minas e duas fábricas de tecelagem de algodão. Nos arredores praticam-se a lavoura e agricultura, mas principalmente a pecuária. Gado, leite e laticínios são os principais produtos de exportação. Planta-se também café, mas não em grande escala. 
São João tem sido aplicada no ensino. Além das escolas públicas, existem muitas escolas e escolinhas particulares, uma Escola Normal para formação de professoras, sob a direção das Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo, nosso Ginásio Santo Antônio e mais uma escola de ensino médio. A cidade tem criado bons músicos e até o dia de hoje é fácil organizar-se um concerto. Bel-canto, piano, violino, instrumento de sopro, tudo tem seus praticantes entusiastas. 
São João tem um quartel de mais de mil homens, o que financeiramente é um lucro, mas moralmente um grande dano. 
Há três ramais ferroviários, todos eles da mesma empresa: um para Barbacena, onde se comunica com a Central que faz ligação com o Rio de Janeiro; outro para o interior, e um pequeno ramal para Águas Santas, uma pequena estância de águas minerais. 
 
NOSSA FUNDAÇÃO 
 
Quando em 1904 nos estabelecemos em São João, os franciscanos já eram velhos conhecidos na cidade. Em 1713, já fora fundada ali, como já dissemos, uma residência para missionários franciscanos. Pelo ano de 1740, fundou-se aí uma casa de hospedagem da Terra Santa que só em 1890 foi vendida. A Ordem Terceira ainda existia, mas não era mais autêntica. Em todo caso, a lembrança dos velhos Frades Menores ainda estava viva e nos serviu bem. 
 
Monsenhor Gustavo Ernesto Coelho (1853-1924), vigário da Matriz de N. Sra. do Pilar por 22 anos, de 1902 a 1924
 
O vigário daquele tempo era o Padre Gustavo Ernesto Coelho, um senhor de seus 50 anos, irrepreensível de conduta, devoto, bem preparado nas ciências teológicas e profanas, porém fraco de saúde e não era tão trabalhador assim. Além do vigário, havia ainda diversos outros sacerdotes que tinham a capelania de uma ou outra Irmandade e não tinham muita disposição de ajudar o vigário como coadjutores. O vigário pois, compreendendo que as circunstâncias modernas exigiam trabalho mais intensivo, recorreu aos nossos padres. Primeiro, tinha-se dirigido aos Frades Menores alemães do Rio de Janeiro, cujo Provincial, Frei Herculano Limpinsel, lhe comunicou que os franciscanos holandeses já estavam trabalhando em Minas e que, por conseguinte, seria melhor dirigir-se a eles. Pouco tempo depois, o irmão Frei Gabriel do Comissariado da Terra Santa, chegou, em seu giro peditório, a São João del-Rei e deu ao vigário as informações desejadas sobre o nosso Comissariado. Daí aconteceu que o nosso Padre Comissário, em março de 1904, recebeu uma carta de Padre Gustavo, através da qual começaram os entendimentos a respeito da fundação de um convento dos Frades Menores. 
Um dos padres residentes em Ouro Preto foi mandado para cá para pregar a novena em preparação para a festa do Sagrado Coração, durante a qual ele teria a ocasião de fazer uma minuciosa investigação. O resultado dessa sindicância foi favorável. O frei ainda achou em muita gente de São João fé, amor e respeito pelo sacerdote em geral e em particular pelos filhos de São Francisco. 
A consequência desse relato favorável foi que, no dia 28 de julho de 1904, Frei Patrício foi mandado de Ouro Preto para São João, onde provisoriamente foi morar com o vigário. Quando, no fim de outubro, Frei Cândido veio juntar-se a ele, alugou-se uma casa próxima à casa paroquial. E finalmente em janeiro de 1905 foi comprada uma casa bem maior à Rua da Prata nº 34. Essa casa era de duas irmãs professoras que já tiveram um pensionato, mas agora, já idosas, não precisavam mais desse prédio grande. À casa pertencia um terreno muito grande, de mais de 4 hectares, o qual mais tarde nos serviu bem para a construção do nosso ginásio. A casa com o terreno, que valia bem uns quarenta contos de réis, nos foi cedida pelas senhoras por 13 contos. Daí bem merecem elas que seus nomes fiquem eternamente em grata memória. São elas Augusta (Eliza) e Maria Porcina da Costa (Moreira)
 
Gymnasio Santo Antonio em 1914 / Crédito: Luiz Antônio Ferreira ("in memoriam")
 
Desde então aumentava consideravelmente o número dos nossos Religiosos em São João, não só porque o nosso trabalho sempre aumentava, mas também porque esta cidade, por seu clima fresco e sadio, era ao lado de Ouro Preto eminentemente apropriada à aclimatação dos recém-chegados confrades da Holanda. 
Desde o dia de nossa chegada a São João até o dia de hoje, temos vivido e trabalhado sempre no melhor relacionamento com o vigário, sem que houvesse qualquer esfriamento em nossas relações de amizade. Éramos úteis e indispensáveis ao vigário, pois sem a nossa assistência ele não poderia dirigir à altura a sua populosa paróquia, e do seu lado o vigário, com sua autoridade e influência, nos tem protegido mais de uma vez em circunstâncias difíceis. Ele faleceu em agosto deste mesmo ano de 1924. Descanse em paz! 
 
CATECISMO 
 
Um dos primeiros trabalhos dos nossos padres foi o catecismo, convictos que estavam de que a ignorância religiosa é uma das principais causas de tanta falta de religião no Brasil. Bem depressa estavam matriculadas para o catecismo da matriz umas 300 crianças. A animação dos pequenos, porém, durou pouco e bem depressa teríamos de perder a esperança de dar frutuosamente o ensino religioso, se não inventássemos novos métodos. Graças aa Deus, esse método achamos no Apostolado da Oração. Essa irmandade religiosa em honra do Sagrado Coração de Jesus já existia aqui desde 1884, mas nos últimos anos enfraquecera muito. Em 1905, porém, o vigário nos deu a incumbência de fazer florescer o Apostolado. Os velhos zeladores foram convocados, novos foram nomeados no lugar de alguns que tinham morrido ou mudado. Desde então aumentou o número dos associados e das comunhões mensais. O vigário e um dos nossos padres revezavam-se na pregação da primeira sexta-feira; e a festa do Sagrado Coração, precedida por uma novena de pregações, é todos os anos uma esplêndida manifestação de fé e amor. 
Esse apostolado reformado nos trouxe também a solução da grande questão: como conseguiremos atrair as crianças à Igreja para assistirem ao catecismo? Pois os zeladores se encarregaram de convocar as crianças em seu próprio bairro e levá-las à Igreja. No dia 29 de junho de 1906, pudemos organizar pela primeira vez uma festa de comunhão, na qual mais de 100 crianças fizeram sua primeira comunhão. Na verdade, durou pouco tempo esse sistema de os zeladores e zeladoras conduzirem as crianças ao catecismo, mas foi porque não era mais necessário. Abriu-se o caminho. Nas escolas particulares, e mais tarde também no grande grupo e em diversas igrejas se dava catecismo a inúmeras crianças. Assim, por exemplo, em 1915 o número de crianças matriculadas no catecismo da matriz foi de 257, e nesse mesto tempo no Albergue de Santo Antônio, 338 crianças; ao passo que naquele mesmo ano, 85 crianças fizeram a sua primeira comunhão na matriz e 154 no albergue. Contudo, é muito difícil atingir todas as crianças, porque os pais não cooperam muito e as crianças têm de ir ao catecismo por própria vontade. Hoje em dia, damos catecismo na matriz (cada dia), na capela do Albergue Santo Antônio e em algumas escolas particulares. 
 
A ORDEM TERCEIRA DE SÃO FRANCISCO 
 
Quem lê esse título pensa talvez que se lhe oferece a leitura da história de uma Ordem Terceira florescente, fundada e dirigida por nós. Mas não é assim. Aqui segue o relato das dificuldades que nossos freis tiveram de suportar da parte da Venerável Ordem Terceira de São Francisco. É uma história triste, mas por demais característica para ser omitida, pois ajuda a compreensão de certas situações. As Ordens Terceiras e as Irmandades em geral no Brasil eram no começo animadas por um bom espírito: mais tarde, porém, quando ficaram ricas e possuíam igrejas, tornaram-se uma cruz para os bispos e vigários. Sentiam-se independentes de qualquer autoridade, apelavam contra as decisões dos bispos para os Tribunais Reais, depois Imperiais, o que naquele tempo do cesaropapismo era muito fácil. E quando, em 1889, o Imperador foi expulso e proclamada a República, elas se julgavam independentes tanto do poder civil quanto do eclesiástico. Chegou até ao ponto de um bispo do Rio de Janeiro dizer: "Os inimigos da alma são estes quatro: o demônio, o mundo, a carne... e as Irmandades", inclusive, evidentemente, as Ordens Terceiras. 
Pois bem, com uma tal Ordem Terceira, tivemos de lidar e brigar em São João. Em 1905, compramos uma casa, mas com isso não tínhamos uma igreja própria. A matriz sim, estava à nossa disposição, mas estava muito distante, e porque a igreja da Ordem Terceira, uma bela e ampla igreja, estava encostadinha à nossa casa, desejávamos evidentemente poder fazer nossos exercícios religiosos nessa igreja. Também a Ordem Terceira o desejava, e no dia 29 de janeiro (de 1905) um dos nossos padres foi nomeado Comissário da Ordem Terceira de São Francisco. Durante muito tempo correu tudo muito bem. Mas, antes do fim do ano, acabou o bom relacionamento entre a Ordem Primeira e a Terceira. Em novembro daquele ano, a Ordem Terceira cedeu, sem pedir autorização ao bispo, um pedaço de terreno à Prefeitura para ali fazer um jardim público. O vigário e o Padre Comissário da Ordem Terceira protestaram, pois nenhuma Irmandade pode alienar propriedades sem licença do bispo. Como terminou esse conflito, é de pouca importância para os nossos leitores; certo é, porém, que, daí em diante, a Ordem Terceira começou a chatear os nossos padres. Evidentemente não interessa relatar aqui todos os pormenores. Basta dar somente umas provas para ilustrar. Certo dia, o secretário da Ordem Terceira se queixou de que os nossos padres faziam casamento de pessoas que não pertenciam à Ordem Terceira no altar-mor e exigiu que daí em diante tais casamentos fossem feitos num altar lateral. Uma outra vez, o mesmo potentado protestou contra o toque do sino para pessoas falecidas que não fossem da Ordem Terceira. E assim por diante. Pelo bem da paz e porque ainda não tínhamos igreja própria, suportávamos todas essas chateações até que finalmente, em janeiro de 1908, a Ordem Terceira nomeou ilegalmente um padre secular como seu comissário. Anos mais tarde, quando o número dos padres seculares tinha diminuído muito e a Ordem Terceira não conseguia achar nenhum Comissário, nos ofereceram de novo esse cargo. Mas então já tínhamos a nossa própria capela e, tendo aprendido pela experiência, nos limitamos a celebrar em certos dias uma santa missa com pregação na igreja da Ordem Terceira. Era o único jeito para prevenir novas complicações. 
 
O PATRONATO 
 
Querer provar a utilidade de um patronato é carregar água para o mar. Assim, pode-se compreender porque um dos nossos padres, em 1906, fundou um patronato, i.é, para conservarmos por mais alguns anos sob a nossa influência os meninos que já tinham saído do catecismo. Chamava-se "Juventude". O que pudemos alcançar era distrair agradavelmente os meninos algumas horas por semana e, além disso, fazê-los também rezar um pouco e continuar o ensino religioso. Pertenciam ao patronato uns 50 a 60 meninos. Quando, em 1909, os nossos padres foram tomar conta do Asilo São Francisco,, mudou-se para lá o patronato. Quando, em 1911, nos foi tirada a administração do Asilo, a "Juventude" infelizmente deixou de existir. 
Existe em São João mais uma associação de jovens, chamada "São José". Essa já é de data mais antiga, mas está um pouco levedada pelo fermento das irmandades. Não que os rapazes não sejam bons, pelo contrário, mas gostam de certa independência. Durante algum tempo ficaram sob a direção de um dos nossos padres e nesse mesmo tempo editavam um bom jornalzinho: "O Zuavo". Isso, porém, durou pouco tempo. Os jovens de São José prefeririam ser livres. 
 
O ASILO DE SÃO FRANCISCO 
 
Já desde a nossa chegada a São João, fala-se na possibilidade de entregar a nossos padres a administração do supra-mencionado asilo. Esse era uma fundação de um sacerdote, o Padre João do Sacramento, um homem piedoso e inteligente que, com próprios meios e com esmolas de gente boa, reformara um prédio com grande quintal para a educação de órfãos de pai ou mãe, de crianças abandonadas. Fundara igualmente um ginásio, chamado São Francisco, cujos rendimentos ajudavam na manutenção do asilo. Antes de morrer, destinara tudo à Ordem Terceira. Quando nós chegamos a São João, o fundador já tinha falecido havia algum tempo e a Ordem Terceira não conseguira achar a pessoa certa para fazer florescer as duas instituições. 
Era evidente, por conseguinte, que a Ordem Terceira logo se lembrasse dos nossos padres. No começo não podíamos pensar numa coisa dessas, por falta de pessoal, e quando já dispúnhamos de elementos para isso, nossas relações com a Ordem Terceira tinham muita animosidade. Finalmente, em 1909, foi feito um contrato e, no dia 1º de julho, Frei José de Haas, com mais um padre e dois irmãos leigos estabeleceram-se no asilo. Indescritível era o caos que lá encontramos. Seis meninos, seis empregados, seis cavalos e seis cachorros, uma casa mal conservada, o grande quintal deploravelmente descuidado, tudo em estado de sujeira, assim achamos o asilo. Em curto prazo, porém, ficou tudo melhor. 
Dentro de dois anos, tinha aumentado para 40 o número de meninos, a casa foi reformada, o grande quintal produzia de tudo, os meninos iam aos domingos à igreja tão direitinhos em seu terninhos que dava gosto. Os menores frequentavam a escola e os maiores aprendiam um ofício. Quatro oficinas funcionavam a todo o vapor: uma funilaria, uma encadernação, uma sapataria e uma carpintaria... 
 
                                Nossa carpintaria e marcenaria em São João del-Rei
 
Uma fábrica de sabão já estava quase pronta. No pasto criavam-se umas vacas. Numa palavra, o futuro era promissor, o asilo seria em breve uma bênção para a cidade e para toda a redondeza. Mas... pura ilusão. De repente o Padre Comissário recebeu uma carta da direção da Ordem Terceira, comunicando que o asilo seria mudado para o ginásio e o ginásio para o asilo. E quando se sabe que o prédio do asilo não tinha quintal nem espaço para as oficinas, numa palavra, era totalmente imprestável; então se compreende que tal mudança para nós era inaceitável. Depois de mais umas conversações infrutíferas, abandonamos o asilo com muito sentimento no coração, pensando o que seria dos meninos daí em diante. Nada sobrou. De novo, seis meninos abandonados, que nem sequer aprendem um ofício, são o pobre resto da fundação do Padre João do Sacramento. 
 
ENSINO 
 
Como já foi dito no capitulozinho sobre o asilo, o Padre João do Sacramento fundara também um ginásio que, após sua morte, tinha passado para a Ordem Terceira. Em São João, havia bons elementos para o magistério, mas, porque naquele tempo o curso ginasial tinha de dar também grego, alemão e inglês e não se achavam facilmente professores para essas matérias, solicitaram já, no início de 1905, um dos nossos padres para se encarregar dessas matérias, o que então não era possível aceitar. Em 1906, a pedidos insistentes, um Frei aceitou essa incumbência, mas já depois de um ano viu-se obrigado a deixar de novo, por causa de um discurso ofensivo do diretor do ginásio. Mas como eles, para essas matérias, não pudessem dispensar os nossos padres, temo-nos encarregado, depois diversas vezes, desse magistério. Evidentemente não era a nossa finalidade ensinar exclusivamente essas línguas, mas sim ter alguma influência na orientação do ensino. Assim pusemos a condição de que tivéssemos a liberdade de dar catecismo aos estudantes. No professorado achava-se gente de todo jeito. Ao lado de uns bons católicos havia indiferentes, maçons, ateus e positivistas. 
 
Gymnasio de São Francisco, propriedade da Ordem Terceira / Crédito: Luiz Antônio Ferreira ("in memoriam")
 
Os sucessivos diretores do ginásio não eram exatamente os melhores entre os professores. Assim, compreende-se que para o ensino religioso não recebíamos muita cooperação. Tínhamos também outras formas de atividades no magistério. Em 1907, começamos uma escola para pobres, e já, em 1908, tínhamos duas escolas primárias para crianças pobres, uma em casa e outra num subúrbio, com um total de 100 alunos. Em 1912, esse número cresceu para 200. Aos melhores alunos ensinávamos também um pouco de francês e de outras matérias de ensino médio. Nesse ano o superior de São João propôs ao Padre Comissário começar um ginásio. Bastava desenvolver mais uma pouco a escola existente. A razão era evidentemente que no ginásio São Francisco, propriedade da Ordem Terceira, o ensino religioso era muito insuficiente. O Padre Comissário deu seu consentimento e, aos poucos, mudou-se a escola primária para pobres em ginásio, por enquanto, externato. A escola dos pobres foi transferida para outro ponto da cidade, o bairro das fábricas onde ainda correspondia mais à sua finalidade. 
 
Nosso ginásio em construção

 
Última classe do nosso ginásio com os professores Frei Brás Berten e Frei Lourenço van Veen

Em 1914, foi aberto o internato, porque só o externato não satisfazia. Pois muitos pais de outras cidades exigiam para seus filhos um internato, e na falta de um bom colégio católico, os estudantes eram internados em toda espécie de colégios pouco católicos ou suspeitos e até num colégio declaradamente protestante dos metodistas norte-americanos de Lavras. Com grandes gastos, pois, construíamos os pavilhões necessários para refeitório e dormitório, e isso ainda no tempo da Primeira Guerra Mundial, com a grande alta de preços de material. Mas tivemos assim uma certa satisfação de ver crescendo o número de alunos nossos e diminuindo o número de estudantes de Lavras e de outros colégios menos dignos. O mobiliário do Ginásio São Francisco são usados atualmente em nossas salas. De todos os cantos de Minas, até de Estados mais distantes, vinham estudantes para o nosso colégio. Alguns tinham de viajar 6 semanas. O colégio protestante, que tivera mais de 300 alunos, viu esse número minguar até abaixo de 100, e sem a escola agrícola, que lhe anexaram, certamente teria morrido. 
O número dos estudantes não é, evidentemente, constante, depende de fatores vários, mas é sempre significativo. O número maior foi de 410, dos quais 260 internos e 150 externos. Em 1923, tínhamos 310 alunos, dos quais 100 externos. 
 
Pavilhão com refeitório e dormitório do Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei / Crédito pela foto: Luiz Antônio Ferreira ("in memoriam")
 
Nosso ginásio, denominado Ginásio Santo Antônio, pode, quanto às matérias ¹, bem ser comparado com o curso H.B.S. da Holanda, de duração de 5 anos. Ele prepara para os cursos superiores, quer dizer, para faculdades de Medicina, de Direito, Escola Politécnica, Colégio Militar, Escola de Farmácia e de Odontologia. Os professores são os nossos padres e alguns leigos de boa formação católica ². Todos os anos, temos a regalia de as bancas oficiais de examinadores virem aqui presidir os exames, o que é permitido exclusivamente aos colégios mais afamados. Em todas as escolas superiores, o nosso colégio tem uma boa fama. O nosso gabinete de Física e Química é, conforme foi publicamente reconhecido num relatório oficial, um dos melhores gabinetes particulares, em todo o Brasil. Em 1923, foram aprovados 91% dos nossos alunos que se apresentaram aos exames e o fiscal dos exames ficou entusiasmado com o nosso colégio. 
 
Fachada construída / Crédito pela foto: Luiz Antônio Ferreira ("in memoriam")

 
 
Existe também, em nosso colégio, o exame de tiro de guerra, dado por um tenente do exército; assim os estudantes conseguem, depois de passar pelo exame, a sua cadeira de reservista que os dispensa do serviço miliar, o que é muito apreciado pelos rapazes e mais ainda por seus pais. 
 
Frei Leopoldo van Winkel com um grupo de estudantes
Inalculável é a utilidade que desta maneira o nosso ginásio presta, a saber, ele afasta os meninos de más escolas, aumenta a consideração pelo clero, pois uma boa escola é a melhor resposta aos que picham os sacerdotes como ignorantes, e dá aos meninos um ponto de apoio. Existe entre os estudantes a "Guarda de Honra do Sagrado Coração de Jesus" e uma associação, "Pró Honra e Virtude". Falta ainda só uma coisa para tornar duradouros os frutos dessa educação católica, i.é, a nomeação de um padre que possa encarregar-se exclusivamente da direção espiritual dos estudantes e conservar com eles, depois de deixarem nossa escola, um certo contato por correspondência e pela fundação de uma associação de ex-alunos, como alguns outros colégios já têm feito com muito fruto. 
O nome de Frei Florentino Brölmann, o primeiro diretor do internato, que o dirigiu de 1914 a 1918 com grande talento e zelo, continuará sempre ligado inseparavelmente ao Ginásio Santo Antônio. 
Igualmente os demais padres, que como professores ou diretores estiveram ou ainda estão ligados ao ginásio, têm aplicado seus melhores esforços para conservar o alto nível do nosso ensino. 
É editado um jornalzinho estudantil com o qual têm colaborado professores e alunos. Primeiramente era intitulado "O Mosquito", atualmente chama-se "O Porvir". Frei Estêvão compôs um livro muito bom de exercícios de latim; Frei Zacarias começou, em 1922, a edição de uma "Sinopse Analítica da História Natural" que foi por professores de outros colégios comentado muito favoravelmente. Frei Zacarias é também um dos fundadores da Associação Brasileira da Entomologia. 
No dia 8 de julho de 1922, foi celebrado com muita pompa o jubileu de prata de sacerdócio do então diretor Padre Frei Leopoldo van Winkel. No panegírico feito para os estudantes de manhã, durante a missa solene, o Revmo. pároco, Monsenhor Gustavo Ernesto Coelho, apontou a seus jovens patrícios a sublimidade do sacerdócio que exigia, porém, tantos sacrifícios, deplorando que exatamente o medo de sacrifícios impedia os jovens brasileiros de eles mesmos exercerem em número suficiente esse sublime ministério entre os seus patrícios. E ele elogiava os homens que, além dos sacrifícios que deles se exigiam, sua sua vocação religiosa e seu sacerdócio, ainda faziam esse outro grande sacrifícios de deixar sua pátria e tudo que lhes era caro para aqui ocupar os lugares que, de modo natural, deviam estar preenchidos por brasileiros. Também o festejado, em sua alocução na solene e festiva reunião, feita em sua homenagem, ainda tocou no assunto. Não como se pudesse colher logo dessas palavras os frutos em vocações sacerdotais entre os estudantes, mas queria aproveitar a ocasião  aliás toda essa grandiosa festa se destinava a isso  para suscitar entre os estudantes maior estima e apreciação pelo sacerdócio e pelo sacerdote. 
 
Meninas fantasiadas de índias em São João del-Rei
 
Como particularidade, queremos ainda mencionar que o jornalzinho "O Porvir", saiu em número especial festivo com artigos em português, latim, francês, inglês e alemão de professores e alunos. 
 
AS IRMÃS DE CARIDADE 
 
As Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo dirigem em São João um grande hospital, um orfanato de meninas, uma Escola Normal e uma escola primária para meninas. Toda a assistência espiritual tem sido dada a elas desde o começo em grande parte por nossos padres, como sejam: a administração dos santos sacramentos aos doentes, o ensino religioso às escolares e normalistas, a direção da Pia União das Filhas de Maria, à qual pertencem não apenas as alunas da Escola Normal, mas também muitas moças da cidade, e ainda a confissão das irmãs. 
 
Colégio Nossa Senhora das Dores para normalistas / Crédito: Luiz Antônio Ferreira ("in memoriam")
 
 
TRABALHO FORA DA CIDADE 
 
À paróquia de São João pertencem algumas capelas, nas quais, desde o começo, os nossos padres em certos dias iam celebrar a santa missa, para assim dar aos fiéis a ocasião de cumprir suas obrigações religiosas. Essas capelas são a de São Gonçalo e a de Rio das Mortes, a duas léguas de distância, e ainda a colônia italiana José Teodoro, a légua e meia. Até hoje essas capelas têm sido visitadas mensalmente e tem-se dado catecismo também. Numerosas são ali todo o mês as santas comunhões. Na colônia José Teodoro, tem-se esforçado muito meritoriamente o Frei José de Haas, contruindo até uma capela, uma escola e um cemitério. Além desses lugares ainda existe, a légua e meia de distância, mais uma colônia chamada "Marçal", habitada igualmente por italianos e pertencente à vizinha paróquia de Tiradentes e onde os nossos padres, em uma capelinha ali existente, celebram mensalmente a santa missa. Temos também uma capela no lugarejo de Águas Santas, um pequeno balneário a algumas léguas de distância de São João. Essa capelinha fora construída por um senhor rico do Rio que ali fora procurar o restabelecimento de sua saúde. Após sua morte em 1921, a família nos doou a capela e a casa, com a obrigação de celebrarmos um certo número de missas pelo falecido. Mensalmente essa capela é por nós visitada. 
Menção especial merece a capela de Matosinhos, de cuja assistência espiritual os nossos padres desde o começo se têm encarregado. Essa capela, a três km de distância do centro da cidade, num subúrbio, é, por sua localização favorável, eminentemente condicionada a puxar muitos fiéis, também de fora, que do contrário, pela grande distância faltariam facilmente à missa. Em todos os domingos e festas de guarda, são celebradas lá duas missas; nos dois grupos, é dado regularmente catecismo; nas primeiras sextas-feiras, há sempre uma missa com comunhão geral do Apostolado; numa palavra, é uma paróquia em miniatura. Pelos bons cuidados de Frei Zacarias, a igreja foi, por dentro e por fora, totalmente reformada e provida de todos os paramentos necessários. 
A isso tudo, porém, não se limita o nosso trabalho fora da cidade. Em muitas das paróquias circunvizinhas temos prestado, muitas vezes, auxílio em ocasiões especiais a pedido dos vigários. Assim, por exemplo, em Entre Rios, a 12 léguas de distância, durante mais ou menos um ano, um frei deu assistência a um vigário idoso; em Lavras os nossos padres, durante meses, tomaram conta da paróquia. Durante muito tempo fomos encarregados das paróquias de Piedade, Madre de Deus e Onça, quando estavam sem vigário. E ainda em inúmeras outras paróquias, demais para enumerá-las; até à grande distância temos dado assistência aos vigários. 
 
NOSSA PRÓPRIA IGREJA 
 
 
Desde 1906, temos arrumado uma das salas da nossa casa para capela, acessível também aos fiéis e onde era guardado o Santíssimo. Mas ela era pequena demais, principalmente porque não dispúnhamos mais do templo de São Francisco. Por isso, resolvemos construir uma igreja própria encostadinha ao nosso convento. No dia 4 de outubro de 1911, foi lançada solenemente a primeira pedra dessa capela, dedicada à N. Sra. de Lourdes. A planta da capela foi projetada por um irmão da Província do Rio de Janeiro, Frei Feliciano. Já no dia 4 de outubro de 1912, foi celebrada uma santa missa solene no terreno da igreja, mesmo que as paredes só estivessem a quatro metros de altura. Em outubro de 1913, a igreja já estava na fase final de conclusão. Até a sacristia já podia ser usada para a celebração da santa missa. Nessa ocasião, foi bento solenemente o sepulcro que o Padre Comissário mandou abrir para os confrades falecidos no Brasil. Os ossos de Frei Crisógono, dos irmãos Frei Benevenuto e Frei Boaventura, que tinham sido sepultados no cemitério comum de Niterói, foram ali depositados.
 
Capela de Nossa Sra. de Lourdes

 
Finalmente no dia 6 de fevereiro de 1916, foi inaugurada a nova igreja, festejando-se nessa ocasião o jubileu dos 25 anos de vida franciscana do Padre Comissário Frei Júlio Berten, que tinha adiado essa solene celebração por alguns meses, para que pudesse ser realizada na nova igreja. O pároco, Monsenhor Gustavo, fez a pregação festiva durante a missa. 
Quatro anos e meio durou a construção, não porque a igreja fosse tão grande, isso não, pois as dimensões são bastante modestas; é uma igrejinha simples, porém, bem bonitinha, na qual, quando muito, cabem umas 500 pessoas. Mas o atraso da construção deveu-se a diversas dificuldades de terreno e material e de falta de dinheiro. 
 
JOÃO BATISTA E HERODÍADES 
 
Os nossos padres granjearam, por seu zeloso trabalho, o amor e respeito do povo. Isso patenteia-se, não só pelos pequenos porém significativos acontecimentos do dia-a-dia, mas também pelas amostras mais solenes e públicas que o povo nos tem dado em certas ocasiões. Assim, por exemplo, a festiva recepção que foi dada a Frei Cândido, em 1913, quando de sua volta da Holanda, como conta a Crônica da casa, a cidade em peso foi à estação para dar boas vindas ao padre querido. Assim também a pomposa recepção, com banda de música e discurso do Prefeito, quando o Padre Comissário em 1916, depois de sua viagem à Holanda, regressou a São João. Contudo continuamos sendo sempre estrangeiros, e assim não é nada difícil para certos maus elementos, que se encontram aqui como alhures, suscitar arruaças contra nós, de maneira que nestes momentos a nossa situação parece intolerável e que não nos resta outra coisa senão sacudir o pó das nossas sandálias, e procurar outra terra para ali, como diz a Regra Franciscana, fazer penitência com a bênção de Deus. 
Tal caso ocorreu em São João em 1909: Uma atriz escandalosa de nome Nina Sanzi, nascida em Minas, de pais italianos, fazia nessa época uma 'tournée' por Minas. Todo mundo sabe como é a critica de teatro nos tais jornais neutros. Nina Sanzi, mesmo não sendo uma estrela de primeira grandeza, e apesar da sua falta de moralidade, era exaltada como "melhor artista nacional". Quando ela chegou a São João, o teatro ficou superlotado. Um dos nossos padres viu-se obrigado a chamar a atenção dos fiéis na missa dominical contra essas apresentações inconvenientes. O Sermão pegou, o assunto foi comentado. Os entusiasmados fãs da artista alteraram as expressões do pregador. 
Todos esses tais jornais neutros, não só de São João, mas também de Minas e do Rio de Janeiro, escreveram que era uma vergonha. Foram impressos e espalhados folhetos volantes, nos quais se comentava que o padre vituperara como escandalosas, não a atriz, mas as senhoras e moças que foram ao teatro; convocava-se o povo para uma reunião de protesto no teatro. Após alguns discursos inflamados, "o povo", um bando de arruaceiros, foi para a rua, dirigindo-se ao convento para exigir o afastamento do "culpado" para fora da cidade. Nossos verdadeiros amigos ficaram atemorizados, mas nesse momento ninguém se arriscava a declarar-se a nosso favor. O Padre Comissário, vendo-se abandonado por todos, julgava mais prudente concordar e prometeu que o referido padre deixaria a cidade no dia seguinte. Nisso, "o povo" se afastou. No dia seguinte, o padre deixou mesmo a cidade e dirigiu-se a Tiradentes, a duas léguas de distância. 
Então o verdadeiro "povo" começou a se envergonhar de que eles se tinham apavorado por um bando de amotinadores. Na casa do pároco, reuniram-se os mais notáveis da cidade, um contra-protesto foi impresso e espalhado e o padre foi convidado para voltar. Então foi a vez de os gritadores se esconderem e o padre, durante muitos dias, recebeu visitas das melhores famílias. 
Um dos agitadores faleceu, pouco depois num desastre de trem. A artista sumiu para outros cantos, onde se apresentava para teatros vazios, de maneira que sua "troupe" se desmembrou. 
 
MOTINS DE GUERRA 
 
No dia 26 de outubro de 1917, o Brasil declarava guerra à Alemanha. Era uma boa ocasião para os nossos inimigos de São João nos fazerem passar por alemães ou germanófilos e atiçar o povo contra nós. Esses inimigos eram, em primeiro lugar, os maçons que viviam contrariados com as nossas associações católicas; também alguns amigos do extinto Ginásio São Francisco, o qual exatamente no começo daquele ano de 1917  por falta de forças  desfalecera; eles não suportavam que o nosso Ginásio Santo Antônio estivesse tão florescente. A pedido do nosso Padre Comissário, que previa motins, o Cônsul holandês do Rio de Janeiro, o Senhor H. Palm, insistiu perante o delegado de polícia de São Paulo que nos protegesse, ao que o delegado, no dia 22 de novembro, respondeu que ele tomaria debaixo de sua proteção as pessoas e os bens dos Frades Menores holandeses. Foram avisados também o Prefeito e o Comandante do quartel e prometeram-nos toda proteção. Soldados com fuzis carregados ficaram umas noites de prontidão diante de nossa casa. Diversos amigos, até umas senhoras, andavam armados nas proximidades da nossa casa. 
Ainda assim os amotinadores tentaram atacar-nos. Fizeram umas reuniões ao ar livre, gritando contra os alemães e os amigos dos alemães. Nas casas de alguns alemães, estabelecidos na cidade, houve quebra-quebra. Mas ao nosso colégio não ousavam chegar. Uma só vez chegaram gritando perto de nossa casa. Mas o comandante da patrulha, em redor da nossa casa, reuniu seus homens que avançavam de baioneta erguida na direção deles. Aí os turbulentos, medrosos correram. 
Os que mais deploravam que não se chegasse à briga eram os nossos estudantes, que ardiam de vontade de nos defender de arma em punho. Graças a Deus não foi preciso. 
Pouco tempo depois, o nosso Padre Comissário ofereceu ao Ministro da Guerra nossos padres como capelães militares, caso o exército brasileiro chegasse a tomar parte ativa na guerra. Felizmente, porém não chegou a isso. O Brasil limitou-se a patrulhar seus mares e ao auxílio econômico aos aliados. 
 
AÇÃO SOCIAL 
 
A gente na Holanda vive nestes tempos modernos e por isso esquece também logo. Mas mesmo assim acho que nas redondezas de Megen ainda se encontram pessoas que se lembram de Frei Cândido Vroomans e dos artigos que publicava mais de 20 anos atrás no jornal "Maas en Waalsche Courant" sobre os interesses dos lavradores. 
 
Frei Cândido Vroomans, vigário interino da Matriz de N. Sra. do Pilar em 1924-1925.

 
Frei Cândido residiu no Brasil mais de 20 anos e quase todo esse tempo em São João; além de ser um zeloso auxiliar do pároco, é também o que foi em Megen, um incansável assistente social. Por isso seja dedicado um artigo especial a Frei Cândido e a seu trabalho para mostrar do que é capaz o zelo e força de vontade de uma pessoa, mesmo num ambiente ingrato. Sim, não é fácil por aqui no Brasil a tal de assistência social. O brasileiro não sente nada para agremiações de caráter social. Uma das razões disso é uma muito feliz: é que naquele tempo não existia por aqui a questão social em sua forma aguda. O clima quente, a fertilidade da terra, a pouca densidade populacional e sua índole hospitaleira são as causas de que os homens têm poucas necessidades, às quais podem satisfazer com certa facilidade. 
A outra razão baseia-se no caráter do povo. As personalidades fortes entre os brasileiros preferem fazer fortuna do modo norte-americano e nisso não são muito delicados na escolha dos meios. E o resto do povo aguarda tudo do governo: "a união faz a força" é um ditado muito falado, mas pouco praticado. 
Contudo o trabalho social é necessário. Muito tem de ser feito para a elevação de nível intelectual, moral, religioso e técnico do operariado. Muitos deles não conhecem seus direitos e tampouco seus deveres. Além disso, a alta indústria está crescendo e muitos estrangeiros trazem suas ideias socialistas e anarquistas. Daí tem-se dedicado Frei Cândido desde o começo de sua estada em São João ao trabalho social. 
Seu primeiro trabalho foi um patronato, "Juventude", de que já falamos. Mais ou menos no mesmo tempo, ele fundou uma associação de soldados, com a finalidade de melhorar um pouco a triste situação moral entre os militares. Naquele tempo, o exército era só de voluntários, de maneira que, quanto à moral, não tinham nada de sobra. Desde que se introduziu o sorteio, subiu o nível da moralidade. 
Em 1907, foi fundada a Liga Católica Operária, constituída principalmente por ferroviários da Ferrovia Oeste. A essa liga foi anexada, em 1908, uma biblioteca. Desde 1909, tem-se pregado anualmente um tríduo para os operários, ao qual têm sido convidados os demais homens católicos, em preparação à comunhão geral na festa de São José, padroeiro da Liga. Dessa comunhão participavam sempre muitos homens; assim, por exemplo em 1915, mais de 150. Faça-se uma comparação com a situação quando chegamos aqui, quando nem uma dúzia de homens fazia sua páscoa. Dessa Liga Operária originou-se, no fim de 1918, o "Clube Dramático" que se destinava a melhorar a moralidade do teatro. Em fevereiro de 1909, aprontou-se em nosso convento uma sala para as reuniões das diversas associações católicas. Assistiram a essa solenidade o Arcebispo de Mariana e o nosso Padre Comissário que nessa oportunidade proferiu uma conferência sobre São Francisco e o trabalho. 
Em 1910, foi fundada uma cooperativa de consumo que, no entanto, sobreviveu por pouco tempo. Em 1912, a Liga Operária criou uma caixa beneficente; no ano seguinte, uma caixa econômica. Mais tarde, a Liga Operária fundou quatro sindicatos profissionais. 
Frei Cândido, o assistente espiritual, zelava sempre mais pelo florescimento de sua Liga e fez diversas conferências nas reuniões para a instrução dos seus associados. Mas florescimento mesmo nunca conheceu, pelas razões indicadas. Em 1920, ela tinha 75 associados, distribuídos pelos quatro sindicatos profissionais. 
Nos anos de 1908 a 1912, vieram à tona no Brasil sinais alarmantes de Anticlericalismo. Isso acordou os católicos e na capital do país criou-se a União Popular Católica, idêntica ao "Volksverein" da Alemanha e à K.S.A. (Ação Social Católica, da Holanda), pois ela seria o centro da Ação Católica em todos os setores. A alma do movimento era Frei Inocêncio, franciscano da Província alemã, e o nosso Pai São Francisco foi escolhido como padroeiro. Os bispos de Minas desejavam que aqui também fosse fundada a U.P.C. Frei Cândido logo obedeceu a essa orientação e, no dia 20 de dezembro de 1908, após um discurso de Frei Cândido, foi instalada solenemente a U.P.C. e logo lhe aderiram todas as associações católicas de São João, menos algumas Irmandades e Ordens Terceiras. No último dia, daquele ano, Frei Cândido foi honrado com a carta pessoal do Arcebispo de Mariana, na qual Sua Excelência lhe agradecia pelos grandes benefícios prestados à boa causa da arquidiocese. 
A U.P.C. de São João foi filiada ao Centro da U.P.C. de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais; em 1910, Frei Cândido foi nomeado pelo arcebispo assistente eclesiástico daquele Centro, função que exerceu durante seis anos com grande zelo e muita dedicação. Pela grande distância de São João e Belo Horizonte, porém, era um cargo penoso e, como em Belo Horizonte houvesse diversos sacerdotes que pudessem e quisessem aceitar essa função, Frei Cândido pediu sua demissão, continuando, porém, como simples assistente da repartição local de São João. Como assistente do Centro foi substituído por um dos Redentoristas holandeses de Belo Horizonte. A U.P.C. de São João tem feito muita coisa boa. 
Em 1909, foi apresentada na Câmara dos Deputados  já não era pela primeira vez  um projeto de lei para introduzir o divórcio. Como os chefes católicos considerassem desta vez excessivamente grande o perigo da decretação da lei, foi organizado um movimento de protesto geral pela imprensa católica e pela U.P.C. Igualmente em São João, foi organizada uma reunião, na qual Frei Cândido e outros católicos de peso usaram da palavra. Ainda durante a reunião foi assinado o protesto por 110 pessoas, cujas assinaturas foram reconhecidas pelo tabelião; mais tarde foram conseguidas mais 1.084 assinaturas. Assim se fez em São João, e assim foi feito em toda parte, principalmente em Minas Gerais, com o resultado de que muitos deputados, antes inclinados a dar seu voto a favor, agora o deram contra; e o projeto caiu. 
Quando, no mesmo ano, ocorreu o incidente "Nina Sanzi", a U.P.C. organizou na cidade e em diversos lugares da redondeza, onde havia suas repartições, reuniões de protesto contra os insultos feitos ao padre. Os manifestos de protesto recebiam em toda parte muitas assinaturas. 
Em 1910, Frei Cândido tomou parte no 1º Congresso Católico de Minas, que se realizou em Juiz de Fora, na grande Academia de Comércio dos padres do Verbo Divino. 
No mesmo ano foi organizada, em São João, uma Assembleia Geral da U.P.C. da cidade e dos diversos lugarejos da vizinhança. A essa assembleia estava anexa uma exposição de material agrícola e Frei Cândido e outros dirigentes do movimento católico proferiram conferências. Nessa assembleia, foi lançada a base para a fundação da Caixa Raiffeisen, que no ano seguinte se tornou realidade com um discurso do Dr. Lúcio dos Santos, um dos melhores oradores católicos da época. 
Em 1911, a U.P.C. teve de novo boa ocasião de mostrar a sua força. Dois padres jesuítas, expulsos de Portugal pela revolução de 1910, embarcaram para o Brasil. Aqui era Presidente o Dr. Nilo Peçanha, um dos grãos-mestres da maçonaria. Contra todo o direito e contra o texto claro da Constituição ele proibiu o desembarque dos padres. Mas levantou-se no Brasil uma tempestade de protestos. O episcopado católico, a imprensa católica, os católicos da Câmara dos Deputados e do Senado, as mulheres católicas do Rio de Janeiro, todo mundo protestou. A U.P.C. organizou novamente o movimento pelo país inteiro e mandou para todo canto manifestos impressos de protesto que todo mundo assinava. O Presidente Nilo "sumiu", não tinha esperado tanta resistência. Na calada da noite mandou buscar os padres no navio. O caso foi quase motivo de complicações internacionais, pois não só o Governador do Rio Grande do Sul, embora ele próprio fosse um positivista, afrontou o Presidente com seu telegrama aos jornais do Rio de Janeiro  "Que os padres venham para cá; aqui no Rio Grande gozarão da plena liberdade" , mas até o Presidente dos Estados Unidos da América do Norte deu ao seu colega do Brasil uma boa lição, mandando publicar que a América do Norte sentir-se-ia honrada em receber os dois jesuítas. 
 
Festa da Primeira Comunhão em São João del-Rei
 
Em agosto daquele ano, realizou-se em Belo Horizonte o 2º Congresso Católico de Minas. Frei Cândido ali fez um discurso. 
Em 1912, a U.P.C. comprou um prédio com grande quintal no bairro industrial da cidade e criou ali o Albergue de Santo Antônio. A finalidade dessa fundação era combater a mendicância pública. Desempregados pobres achavam ali abrigo e alguma ocupação útil. Os mendigos que podiam trabalhar, mas não queriam, eram levados para lá pela polícia, sob ameaça de cadeia, se voltassem a pedir esmolas. Gente pobre de fora achava ali abrigo gratuito para uma noite. Algum tempo depois foi reservada uma sala para o ensino do catecismo para as crianças dos operários do bairro das fábricas. Dessas crianças, 70 fizeram sua primeira comunhão em 1914 e 85 em 1915. Nesse mesmo ano de 1915, foram matriculadas no catecismo 338 crianças. 
Em 1919, foi comprado próximo ao albergue mais um grande prédio e aparelhado para Escola Profissional. A média de matrículas nessa escola é de 20 alunos. Existe mais uma escola de mais ou menos 100 crianças e uma escola noturna para adultos com mais de 150 alunos. Há também uma igrejinha, na qual os operários têm todos os domingos sua missa com pregação. Desde a fundação até o dia de hoje há constantemente 16 a 24 pobres no albergue e tem dado um auxilio financeiro semanal a uns 150 a 250 pobres. 
No dia 7 de março de 1915, saiu o 1º número de um semanário católico "Ação Social", editado pela U.P.C. O pároco da cidade, com sua autoridade e com seu nome de redator-chefe, garante o conteúdo do jornal e a redação é feita pelo pároco e por nossos padres. A tipografia está montada em uma das salas do convento. A "Ação Católica" faz muita propaganda para a leitura católica e tem uma livraria anexa. 
Em agosto de 1915, a U.P.C. criou uma bela obra, a saber, a Adoração Noturna do Santíssimo Sacramento, exclusivamente para homens. Uma vez por mês o Santíssimo fica exposto na matriz das 6 horas da tarde às 6 da manhã e os irmãos dessa devoção vêm fazer sua adoração, cada qual na sua hora. Em fevereiro de 1916, foi fundada a Adoração Diurna, para mulheres. Como existem ambas as devoções em muitos lugares, efetua-se assim uma adoração perpétua do Santíssimo Sacramento. 
Na noite de 16 e 17 de janeiro de 1917, a cidade foi abalada por uma enchente que destruiu muitas casas e deu um prejuízo de 1.000 contos de réis (600.000 florins). A U.P.C. fez todo o possível para ajudar os desabrigados e pôs à disposição das vítimas seu albergue, mantimentos, camas e roupas. 
Em 1918, realizou-se em Belo Horizonte, o 4º Congresso Católico de Minas. Frei Cândido pronunciou ali uma conferência sobre a organização dos católicos; o que agradou muito. 
No dia 1º de novembro de 1918, alastrou-se em São João uma epidemia geral: a gripe espanhola. De acordo com o pároco, o Prefeito e outros senhores, Frei Cândido organizou toda a assistência aos doentes. Os vicentinos, as Damas de Caridade (vicentinas) e as Irmãs do Sagrado Coração, como os sócios de outras organizações católicas coligadas à U.P.C., foram mobilizados; foram recolhidas esmolas em dinheiro e em natura; os doentes foram visitados para que não lhes faltasse nada nem quanto ao corpo nem quanto à alma. 
Para realçar a importância da U.P.C., sirva de exemplo o seguinte: num só ano, em 1920, suas receitas importavam em mais de 22 contos de réis e as despesas em mais de 21 contos, excluindo as receitas e despesas da tipografia e do jornal e os auxílios em mantimentos, roupas, remédios, etc., que a U.P.C. distribuiu. Em 1922, as despesas foram aproximadamente de 26 contos. ³
 

 

 
II. NOTAS EXPLICATIVAS

¹  Não é dada aula de grego, e de latim, muito pouco. Das línguas modernas, além do português, o francês é obrigatório. Pode-se escolher entre o inglês e o alemão. Na prática estuda-se somente o inglês. As outras matérias são as mesmas do curso H.B.S. de 5 anos da Holanda. 
 
²  Até agora não foi obrigatório concluir inteiramente o programa do ginásio para todos os que desejavam fazer cursos superiores, mas, por exemplo, quem desejava estudar Farmacologia, podia concluir o ginásio com bem menos preparo. No momento, o Governo planeja um projeto de reforma dos estudos ginasiais e universitários: o que a gente espera é um curso ginasial obrigatório para todos como preparação para todos os estudos superiores. O latim seria assim mais valorizado. 
 
³ N. do Trad.: Desde a saída de Frei Cândido, em 1925, os franciscanos se concentraram mais no seu célebre Colégio Santo Antônio, o qual, em 1968, passou para o Estado de Minas Gerais e desde 1969 é uma Faculdade Municipal. Em 1967 os freis pediram e ganharam uma paróquia urbana, a paróquia de São Francisco de Assis. A comunidade atual (1985) é de 6 franciscanos, com atividades na pastoral e no ensino. Em 1985, criou-se uma nova comunidade, uma casa de formação para os Postulantes da Província de Santa Cruz.

III. AGRADECIMENTO

 
O gerente do Blog de São João del-Rei agradece à sua amada esposa Rute Pardini Braga a formatação e edição das fotos utilizadas neste texto.

 
IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
 
AZZI, Riolando: História dos franciscanos da Província Santa Cruz: da chegada dos primeiros missionários holandeses em 1899 até 1948
 
 _____________: História dos franciscanos da Província Santa Cruz: da criação da Província em 1949 até o seu centenário em 1999
 
BAIONETA, Lúcio Flávio: Tempos felizes no GINÁSIO SANTO ANTÔNIO de São João del-Rei, post publicado no Blog de São João del-Rei em 16/05/2015
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2015/05/tempos-felizes-no-ginasio-santo-antonio.html  👈
 
BRAGA, Francisco José dos Santos Braga: 105 Anos da Presença Franciscana em São João del-Rei e o centenário Ginásio Santo Antônio > > > Parte 1, post publicado no Blog do Braga em 18/12/2009
Link: https://bragamusician.blogspot.com/2009/12/105-anos-da-presenca-franciscana-em-sao.html  👈

______________________________: Idem > > > Parte 2, post publicado no Blog do Braga em 18/12/2009
Link: https://bragamusician.blogspot.com/2009/12/105-anos-da-presenca-franciscana-em-sao_18.html 👈

______________________________: Idem > > > Parte 3, post publicado no Blog do Braga em 18/12/2009
Link: https://bragamusician.blogspot.com/2009/12/105-anos-da-presenca-franciscana-em-sao_2258.html  👈

______________________________: Idem > > > Parte 4, post publicado em 18/12/2009
Link: https://bragamusician.blogspot.com/2009/12/105-anos-da-presenca-franciscana-em-sao_9760.html  👈

______________________________: Associação dos Ex-alunos do Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei, post publicado no Blog do Braga em 06/01/2010 
Link: https://bragamusician.blogspot.com/2010/01/associacao-dos-ex-alunos-do-ginasio.html  👈
 
______________________________: 1ª edição do jornal "MOSQUITO", órgão oficial do Clube Literário "Pe. João Gualberto" do Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei, post publicado pelo Blog de São João del-Rei em 12/07/2015
 
______________________________: Frei Orlando em "O PORVIR", jornal dos alunos do Ginásio Santo Antônio, post publicado pelo Blog de São João del-Rei em 13/02/2017
 
FILIPPO, Francisco de: O Curso Clássico do Colégio Santo Antônio de São João del-Rei em 1944-1946, post publicado no Blog de São João del-Rei em 18/03/2014
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2014/03/o-curso-classico-do-colegio-santo.html  👈
 
SATLER, Fabiano Aguilar: Fr. Sabino Staphorst, OFM (Franciscus Jacobus Staphorst). Rede Internacional de Estudos Franciscanos no Brasil. Disponível em: https://riefbr.net.br/pt-br/content/fr-sabino-staphorst-ofm-franciscus-jacobus-staphorst. Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1957, pp. 107-111. Acessado em: 19/12/2023. 
 
STAPHORST, Frei Sabino: Vinte e Cinco Anos no Brasil (1899-1924): comemoração do jubileu de prata da presença dos franciscanos holandeses no Brasil, traduzido do holandês para o português por Frei Helano van Koppen, o.f.m. e editado com o "Imprimatur por Frei Patrício Moura Fonseca-Ministro Provincial", datado de 08/12/1985, 203 p.