domingo, 14 de agosto de 2016

MEMÓRIA DA COPA DE 1950 NO BRASIL


Por Evandro de Almeida Coelho *

Este artigo saiu originalmente no jornal Tribuna Sanjoanense, publicado em São João del-Rei, MG, Ano XLVIII, edição nº 1411, 26/07 a 09/08/2016, p. 3. 
Café Rio de Janeiro à direita da foto, na esquina; mais tarde, Casa Sade e, atualmente, loja de calçados Opção



Havia diferenças na cidade, muitas diferenças entre o nosso tempo antigo e o tempo mais recente, com seus computadores e celulares. A força elétrica vinha apenas da usina do Rio Carandaí, afluente do Rio das Mortes. Para o tamanho da cidade no tempo da construção, os geradores de energia davam conta da demanda. A cidade cresceu. A usina ficou. Resultado em 1950: eletricidade quase apenas em horário noturno. Às 16 horas uma ligação geral de 5 a 10 minutos, para "experiência". Pagamento mensal pela quantidade de lâmpadas "pendentes" nas casas. Quem precisasse de energia elétrica durante o dia instalava um "relógio medidor" e podia ter geladeira e ferro elétrico. 

Nos dias da Copa do Mundo de Futebol não houve força nem para as "casas com relógio". O Café Rio de Janeiro, na esquina da Ponte da Cadeia, tinha rádio que "pegava" as rádios Nacional e Mayrink Veiga, graças a uma antena espiral com 4 ou 5 metros, transmitindo futebol do Rio de Janeiro. Havia um pequeno alto-falante pendurado na segunda porta. Os curiosos apareciam para ouvir Oduvaldo Cozzi, Gagliano Neto ou Alziro Zarur. No dia16 de julho nós nos juntamos perto do Café, esperando alguma transmissão. E não houve. Apareceu a raridade da época: um carro com rádio!

Silenciosamente ouvimos a transmissão do Brasil e Uruguai, decisão da Copa. Éramos alguns mais que os 199.854 presentes no Maracanã. Brasil favoritíssimo depois dos 7x1 contra a Suécia e dos 6x1 contra a Espanha. E o discurso do Mendes de Morais, prefeito do Rio de Janeiro, cumprimentando antecipadamente os vencedores brasileiros. E o carnaval nas ruas encorajando o timaço. Só depois ficamos sabendo que Obdúlio Varela, capitão uruguaio, avisou aos companheiros que "torcida não joga". Os locutores comentaram a dificuldade brasileira nos ataques do primeiro tempo. Aos 2 minutos do segundo tempo, Friaça marcou para o Brasil. Foi um delírio! Aos 20 minutos, um passe infeliz do lateral Bigode proporcionou o empate, com Schiaffino. O resultado ainda era nosso. Mas... aos 34 minutos Gighia marcou o segundo gol uruguaio. A torcida quase morreu, mas aguardava o milagre de outro empate. O milagre não aconteceu para nossa tristeza. Rasgamos os pules de palpites com resultados de "Brasil Campeão".

No meio dessa desolação, o grito de alegria: "Oba! Ganhei sozinho o palpite!" Era o Buquicha, torcedor infeliz. Alguns exaltados partiram para surrá-lo, mas ele correu até perto do "sobradinho do telefone" e da casa dos Ratton, onde morava e se escondeu. Os exaltados esperaram lá perto que ele aparecesse, mas enfim desistiram.

Cultivamos nossa tristeza e guardamos isto na memória.

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* O Blog de São João del-Rei, com este post, homenageia neste Dia dos Pais o colaborador Prof. Evandro de Almeida Coelho, esposo de Maria do Carmo Moura Coelho e pai de Dr. André, Dr. Bernardo, Cynthia, Érica e Fabiana. Na pessoa de Prof. Evandro, ex-Presidente da Academia de Letras e atual membro do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, que muito tem contribuído para as letras são-joanenses, este Blog igualmente estende essa homenagem a todos os Pais que, apesar de todas as dificuldades do tempo presente, permanecem firmes no propósito de bem educar seus filhos, vocação que raramente tem sua importância reconhecida ou valorizada.