segunda-feira, 21 de março de 2016

MAESTRO ASSIS REPUBLICANO


Por Esaú de Assis Republicano *




No dia 26 de maio de 1960 falecia no Estado da Guanabara o professor Maestro Assis Republicano. Na oportunidade do 10º aniversário de sua morte apraz a êste articulista, que o conheceu bem de perto, revelar alguns aspectos de sua vida e de sua obra, como pequena contribuição ao trabalho dos pesquisadores e estudiosos de nossos artistas.

Entre seus alunos ligados a São João del-Rei apontarei o Maestro João Cavalcante, ex-regente da Sociedade de Concertos Sinfônicos de São João del-Rei, e o Prof. Sílvio Padilha, ex-diretor do Conservatório Estadual de Müsica desta cidade.

Diz a Enciclopédia Brasileira Mérito, vol. 17, pág. 92: 
"REPUBLICANO, Antônio de Assis. Compositor brasileiro; n. em Pôrto Alegre, em 1897. Cursou o Instituto Nacional de Música ¹, do Rio de Janeiro, dedicando-se depois à composição e ao magistério. Sua música se caracteriza pela tendência nacionalista. Sua obra, numerosa, compreende: Concêrto, 1920; Ubirajara, 1921, poema sinfônico; Dança Brasileira; Improviso sôbre um Tema Brasileiro, para violoncelo e orquestra; A Cheia do Paraíba, cena lírica inspirada no Guarani, de José de Alencar; O Bandeirante, 1925, ópera; A Natividade de Jesus, 1937, com libreto de Afonso Celso, que denominou a obra de mistério, embora não se pareça com os mistérios medievais, etc." 
O pesquisador que leia tal verbete da Enciclopédia Brasileira não poderá fazer sôbre o notável compositor senão idéia muito aquém da realidade.

A revista de Vida e Cultura Musical "Weco", de janeiro de 1931, publicou: 
"Assis Republicano é gaúcho, de Pôrto Alegre, onde nasceu a 15 de novembro de 1897, coincidência que lhe valeu aquêle nome de batismo. Iniciou o estudo das primeiras letras na Escola 15 de Novembro e concomitantemente a sua instrução musical com o professor José Belisário de Santana. Cursou depois as aulas noturnas do Mosteiro de São Bento na classe gratuita. Entrando para o Instituto Nacional de Música, concluiu o curso de fagote, alcançando em 1923 a medalha de ouro. Tocou nessa ocasião o "Concêrto" que compôs em 1920. Nas aulas de composição, teve como professôres Agnello França e Francisco Braga. Prestou exame final em 1924 com "A Cheia do Paraíba", cena lírica por Escragnolle Taunay ² do romance "O Guarani", obtendo louvor unânime da mesa examinadora, o que consta da ata. Em 1927 quis concorrer ao prêmio de viagem com um oratório em quatro partes  Natividade de Jesus, letra de Afonso Celso, mas dispositivos regulamentares embargaram-lhe os passos, com sensível prejuízo, aliás, para a música brasileira. Procuraram os seus amigos obter então uma subvenção do Congresso Nacional, mas os deputados, ciosos do erário público, não souberam encontrar no Tesouro uma migalha para o músico que tinha o mau gôsto de querer ir à deliciosa Europa para estudar. Hoje, Republicano vive e trabalha em Belo Horizonte, compondo e ensinando contraponto e fuga no Conservatório Mineiro de Música." 


Luiz Heitor ³, em seu livro "150 Anos de Música no Brasil", assim se refere ao Maestro Assis Republicano: 
"Compositor de veia fácil e bom preparo técnico, notabilizou-se pela habilidade com que maneja a palheta orquestral, conseguindo em suas partituras uma plenitude de colorido que o situa entre os melhores cultores da música sinfônica." (O grifo é nosso). 
Quem diz isso, não é o filho que o homenageia no 10º aniversário de sua morte, mas um crítico musical de alto gabarito, conhecedor de seu ofício. 

Assis Republicano completou seu curso de composição em 1924, obtendo o grau máximo distinção e louvor, por unanimidade e, no mesmo ano, foi laureado com a medalha de ouro no curso de fagote, sendo o único, durante os 180 anos da Escola Nacional de Música, a obter êste prêmio. Em 1925 teve sua primeira ópera, "O Bandeirante", executada na temporada oficial do Teatro Municipal do Rio de Janeiro pela Companhia lírica do empresário Walter Mocchi ; em 1926 o grande regente italiano Gino Marinuzzi executou com grande sucesso no Teatro Lírico a 1ª Dança Brasileira. Em 1928 é convidado pelo Govêrno do Estado de Minas Gerais para reger as Cadeiras de Contraponto, Fuga e Composição do Conservatório Mineiro de Música, e, no mesmo Estado, organiza em 1931 o Corpo de Música da Fôrça Pública do Estado de Minas Gerais, que dirigiu como Major, com 160 instrumentos e 300 coristas. Em 1934 é chamado para dirigir a Cadeira de Análise Harmônica e Construção Musical da Escola Nacional de Música, então já vinculada à Universidade do Brasil, hoje Universidade da Guanabara. Presta concurso de títulos e de provas para livre docente de Análise Harmônica e Construção Musical, Harmonia Elementar e Superior. Em 1947 presta concurso para Professor Catedrático de Teoria Musical, sendo no mesmo ano transferido por voto unânime da Congregação para a Cadeira de Instrumentação e Orquestração. Era, ainda, por concurso de títulos e provas, professor de Composição, ao desaparecer em 1960. Longa é a enumeração de suas obras. Vale referir, entretanto, a orquestração do Hino Nacional Brasileiro, por êle feita e que, pelo seu elevado nível técnico, foi adotada pelo Govêrno Federal, conforme Decreto Lei nº 4.545, de 31 de julho de 1942, tendo então sido agraciado pelo Govêrno com a Comenda da Ordem do Mérito.  Pertenceu à Academia Brasileira de Música.  Entre sua numerosa e alentada bagagem musical citaremos: "O Bandeirante", ópera em 3 atos, executada na temporada oficial do Teatro Municipal do Rio de Janeiro; "O Ermitão da Glória", ópera em 3 atos (1943); "Guararapes", ópera em 3 atos (1948), premiada em concurso pelo Congresso Nacional; "Sinfonia das Multidões", para córos e orquestra (1938); "Sinfonia das Américas", para soprano, baixo, córos, orquestra, banda e fanfarra (1945); "Sinfonia em Dó Maior" (1954); "Sinfonia de São Paulo", e tantas outras. Como obras didáticas citaremos: "Tratado de Composição"; "Instrumentação e Orquestração"; "Teoria Geral da Música" (em 3 volumes). Por falta de espaço não podemos dar aqui notícia mais pormenorizada sôbre sua vida e sôbre sua obra. Desejamos, porém, afirmar, por têrmos ouvido muitas de suas composições musicais, que êste nosso músico patrício não fica muito longe de Villa-Lobos, nem de Carlos Gomes, nem mesmo dos grandes mestres da música erudita, clássica ou romântica, de todos os tempos, e isto não o dizemos como filho, mas como amante da boa música e como amigo da História.

* O autor é sócio-fundador do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei. 

Fonte: jornal PONTE DA CADEIA, São João del-Rei, Ano III, nº153, edição de 24 de maio de 1970, p. 3.
MAESTRO ASSIS REPUBLICANO (1897-1960)



Serão reproduzidos a seguir trechos novos de artigo igualmente intitulado "Maestro Assis Republicano" do mesmo autor e publicado na Revista nº 1 do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, cerca de 3 anos após o primeiro artigo acima transcrito, em que Esaú de Assis Republicano selecionou algumas obras de seu pai com apreciações de vários periódicos, para "rechear" melhor o texto já existente, inclusive ampliando o catálogo de obras musicais de seu pai.  Vejamos então o resultado dessas pesquisas feitas pelo autor, aqui reproduzido quase literalmente das páginas 56 a 59 da referida revista:

"1) "UBIRAJARA, poema sinfônico acabado em 1918, marcou a estréia do compositor. Foi levado em primeira audição pela Sociedade de Concertos Sinfônicos do Rio de Janeiro, cujo primeiro regente era o Maestro Francisco Braga, sendo segundo regente Maestro Assis Republicano, a 22 de outubro de 1921. O poema sinfônico Ubirajara é, incontestavelmente, página de valor." (O JORNAL)
"A fantasia sinfônica parece-nos trabalho de fôlego e de meditação, bem atentando o conhecimento de tempos orquestrais e a veia melódica fluentíssima do autor."
(CORREIO DA MANHÃ)
"A sua partitura é vibrante e poética; seu temperamento dramático e repassado de melancolia produziu trabalho de valor artístico moderno, equilibrado e sincero, instrumento com grandes variedades de efeitos, de molde a causar verdadeira surpresa no auditório."
(JORNAL DO COMÉRCIO)

2) Sobre "O NAVIO NEGREIRO" publicou "PELO MUNDO DAS ARTES", na palavra do crítico musical Oscar Guanabarino em 20/05/1925: "É um trabalho de fôlego, largamente traçado, com grande variedade de ritmo e de efeitos orquestrais; assim julgou o público que lhe fez prolongada e intensa manifestação."

3) No mesmo ano representou-se, sob sua regência, "O BANDEIRANTE", composta entre 1920-1924, quando ainda aluno do Instituto Nacional de Música.
A ópera foi levada à cena com poucos ensaios, confiada à habilidade da orquestra e dos cantores que se houveram da melhor forma possível. O empresário Mocchi cumpria assim a cláusula contratual de montar uma ópera brasileira, mas fazia-o com o descaso de quem se quer ver livre de uma obrigação. A obra, porém, era de quilate a resistir às investidas e o espetáculo foi um triunfo, que se repetiu dias depois em São Paulo com as mais encomiásticas apreciações da crítica.
Em 1926 regeu, no antigo Teatro Lírico da Guanabara, um concerto constituído exclusivamente de obras suas e em 1927 dirigiu a Orquestra da Sociedade Sinfônica de São Paulo, apresentando ao exigente público paulista: "Dança Brasileira", "Improviso sobre Tema Brasileiro", para celo e orquestra, e "Canção Indígena", da ópera "O BANDEIRANTE", granjeando entusiásticos elogios.
A seu respeito, assim disse o maior músico brasileiro da atualidade, Heitor Villa-Lobos: "Conheço O BANDEIRANTE e o seu autor, Assis Republicano, que em seu desfavor só tem a qualidade de ser nosso patrício, o que às vezes dificulta a proteção da Glória. Entretanto, a obscuridade em que tem passado e ainda passa o seu nome prescreverá logo, dentro de um lustro ao máximo, para que o seu talento se imponha por si mesmo. Assis Republicano   prossegue Villa-Lobos,  é compositor de fartos recursos técnicos e de um fraseado espontâneo e agradável, digno por todos os títulos de ser conhecido e admirado por quantos se interessam pela música no Brasil e principalmente em São Paulo, onde a cultura musical é um fato."
(FOLHA DA NOITE, de São Paulo, 16/10/1925)"

Além dessas apreciações de periódicos sobre obras compostas por seu pai, Esaú ainda tenta fazer uma catalogação no seu artigo publicado na Revista do IHG, embora amadorística, das obras do Maestro Assis Republicano. Inicialmente, observe-se que Esaú menciona em diversos momentos que a obra de seu pai é volumosa, maior do que ele conseguiu levantar:

"Sua obra é vasta e digna de maior atenção dos cultores da música sinfônica, gênero em que se têm notabilizado poucos brasileiros. (...) 

Longa é a enumeração de suas obras. (...) 

Outras obras poderiam ser citadas, embora seja impossível apresentar uma lista exaustiva não só devido à extraordinária capacidade de trabalho de Assis Republicano, que escreveu consecutivamente durante mais de cinqüenta anos, como também pelas obras suas que se encontram extraviadas, como as que ele escreveu graciosamente para amigos.

Todavia, podem ser citadas como obras dramáticas: O BANDEIRANTE, ópera em 3 atos, executada na temporada oficial do Teatro Municipal do então Distrito Federal, hoje Guanabara, sob a regência de Gino Marinuzzi (1925); NATIVIDADE DE JESUS, mistério em 4 atos, texto do Conde Afonso Celso, executado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1937, sob a regência do autor; O ERMITÃO DA GLÓRIA, ópera em 3 atos, libreto de Modesto de Abreu, segundo novela de José de Alencar (1943); GUARARAPES, ópera em 3 atos (1948), premiada em concurso instituído pelo Congresso Nacional; A CHEIA DO PARAÍBA, cena lírica, texto de Escragnolle Dória (sic) (1924); bailado NARCISO, em 2 atos, argumento de Teodorico de Almeida (1945). Poemas sinfônicos UBIRAJARA (1921) e O NAVIO NEGREIRO. Sinfonias: SINFONIA DAS MULTIDÕES, para coros e orquestra (1938), SINFONIA DAS AMÉRICAS, para soprano, baixo, dois coros, orquestra, banda e fanfarra (1945), SINFONIA EM DÓ MAIOR (1954), SINFONIA DE SÃO PAULO (sem data) Outras obras sinfônicas e corais: TOTA PULCHRA, para soprano, baixo, coro misto e orquestra (1924), FESTA À BANDEIRA, para solista, coros, orquestra e banda, executada nas comemorações do 50º aniversário do Hino à Bandeira. Para solistas e orquestra: IMPROVISO SOBRE UM TEMA BRASILEIRO, para violoncelo e orquestra; MAGDALA, poema para soprano e orquestra (1948) — 1ª audição por Oscar Borgerth e orquestra; CONCERTO PARA PIANO E ORQUESTRA, em lá menor — 1ª audição por Märio Neves e orquestra. Para orquestra: 1ª DANÇA BRASILEIRA (1926), 2ª DANÇA BRASILEIRA (1944) — 1ª audição, sob a regência de Alberto Wolff; 3ª DANÇA BRASILEIRA — Chula (1952) — 1ª audição sob a regência de Lamberto Baldi, 1952; 4ª DANÇA BRASILEIRA (1954); 5ª DANÇA BRASILEIRA (1955); 6ª DANÇA BRASILEIRA. CONCERTO (1924), para fagote e piano, executado pelo Autor, como solista, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Para piano: NOTURNO (1928). Para órgão: TOCATA E FUGA (1950). Para trompa e piano: CONCERTINO, para trompa em fá e piano (1955). Para contrabaixo de cordas e piano: BATUQUE MINEIRO (1956) — 1ª audição por Antônio Leopardi. Para piano e canto: CANÇÃO DE JAÍRA (1925); MAGDALA, redução para soprano e orquestra (1926). ONDE A VENTURA MORA, para meio soprano (1926). O AMOR E A MORTE (1926). AVE MARIA, para meio soprano (1929). CANÇÃO GAÚCHA (Tirana), para solo, coros e piano (1929). PANIS ANGELICUS, para meio soprano (1929); AS MÃOS DE BRANCA, poema de Beni Carvalho (1942); CANDOMBLÉ (1951); DESEJO (1955). Para violoncelo e harpa: O CREPÚSCULO, ANGÚSTIA DA NATUREZA, FANTASIA RÚSTICA, IMPRESSIONADO ESTOU, IMPROMPTU E POLONAISE, ÀS ARMAS, etc.

TESES PARA CONCURSO: "A Orquestra e a Forma", "Concerto Grosso", etc. OBRAS DIDÁTICAS: "Tratado de Composição", "Instrumentação e Orquestração", "Teoria Geral da Música" (em 3 volumes).

Assis Republicano viveu para a música, que, para ele era quase uma religião, quase uma obsessão. Em certa fase de sua vida, ainda na juventude, dormia com papel de música sob o travesseiro, pois, quando lhe chegava a inspiração, fazia questão de registrá-la imediatamente, a qualquer hora do dia ou da noite.

A música para ele foi, como que uma deusa a cujos pés sacrificava tudo: opinião pública, amizades, interesses materiais, educação dos filhos, a própria saúde, tudo, enfim.

Como artista, porém, foi um gênio criador de imortais melodias, de celestiais harmonias, sem sofismas, sem metáforas, sem figuras de retórica..." ¹

FonteREVISTA Nº 1 DO INSTITUTO HISTÓRICO DE SÃO JOÃO DEL-REI, Juiz de Fora: ESDEVA EMPRESA GRÁFICA S/A, 1973, p. 56-9.
Maestro Assis Republicano



II. COMENTÁRIOS, por Francisco José dos Santos Braga



¹   Atual Escola de Música da UFRJ.


²   Trata-se, sem dúvida, de Luís Gastão d' Escragnolle Dória (1869-1948), compositor, libretista, publicista, tradutor e escritor, e não de Alfredo d' Escragnolle Taunay, o Visconde de Taunay. D' Escragnolle Dória foi o libretista de outra ópera célebre, "Jupyra",  em um ato, obra do compositor Antônio Francisco Braga, estreada em 1900 no Teatro Lírico do Rio de Janeiro. 
D' Escragnolle Dória foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

³  Principais dados biográficos de Luiz Heitor podem ser encontrados, entre outros, in http://cifrantiga2.blogspot.com.br/2011/01/luiz-heitor.html

Entretanto, nem todos os críticos musicais são unânimes no louvor ao Maestro Assis Republicano.

[NEVES, 1981, 70-1], por exemplo, no capítulo 6 intitulado "Nacionalistas de segunda e terceira gerações", afirma que 
"A geração de Villa-Lobos contou com um grande número de compositores adeptos do nacionalismo, mas que não tiveram o renome nacional e internacional do grande mestre, por terem desenvolvido menor atividade ou por terem-se lançado no âmbito mais reduzido de seus Estados, por terem produzido obra menor e menos significativa ou por terem se mantido apegados às normas tradicionais, pouco contribuindo para a renovação da linguagem musical brasileira." 
Para exemplificar sua colocação, cita desde Barroso Neto (1881-1941), Jaime Ovale (1894-1955), Hekel Tavares (1896-1974), Brasílio Itiberê II (1896-1967), Frutuoso Viana (1896), Antonio de Assis Republicano (1897), João de Souza Lima (1898), todos nascidos no final do século XIX, comentando amplamente suas obras. 

Sobre Assis Republicano, entretanto, [NEVES, idem, 71] assim se expressa: 
"Assis Republicano não tem a mesma importância na história da música brasileira, enquanto compositor, mesmo porque sua produção foi diminuta. Seu nacionalismo é um reflexo direto do clima musical popular, restringindo-se o trabalho composicional a simples ambientação dos temas escolhidos. Dentre suas obras, merecem certo destaque as "Danças Brasileiras" para orquestra, e o "Improviso sobre um Tema Brasileiro", para violoncelo e orquestra." 
[MARIZ, 2000, 224] apenas cita o nome de Assis Republicano, incluindo-o no último parágrafo do capítulo 10, intitulado "Outros valores da segunda geração nacionalista", fazendo parte de um grupo de 10 compositores que tiveram seus nomes mencionados,  pelo menos com a seguinte observação consoladora: 
"Outros compositores da mesma geração fizeram-se notar por motivos vários. Seria injusto esquecê-los." 
Em seguida, vem a citação de seus nomes.


 Sobre as mega-turnês de Walter Mocchi (1870-1955) e de sua companhia lírica no eixo Rio-São Paulo-Buenos Aires, e às vezes Montevidéu e Caracas, recomendo a leitura de um estudo por Henrique Marques Porto no seguinte link: http://www.operasempre.com.br/2012/11/resgatando-historia-dos-corpos-estaveis.html
De acordo com [LEITE, 2011, 35; apud PASSAMAE, 2015], Walter Mocchi encenou, apenas no Municipal de São Paulo, entre 1912 e 1926, "88 óperas de 41 compositores, sendo dezessete italianos, dez franceses, oito brasileiros, quatro alemães e dois russos, compreendendo o repertório geral das temporadas nada menos de 270 espetáculos".



 Certa matéria muito elucidativa tem o título geral "Datas comemorativas" com o seguinte subtítulo "13 de abril - Hino Nacional Brasileiro tem dia especial". Essa matéria mostra como de 1831 a 1922, passando pelos primeiros governos republicanos, não se pensou em tornar oficial o Hino Nacional Brasileiro. Como se sabe, a música do "Hino 7 de Abril" no ano de 1831, da autoria de Francisco Manuel da Silva, foi inicialmente composta para banda e nesta época tornou-se popular com versos que comemoravam a data do anúncio da abdicação de Dom Pedro I. Somente à época da coroação de Dom Pedro II é que a letra anterior foi trocada e a composição, devido à sua popularidade, passou a ser considerada (mas não oficializada) como Hino Nacional Brasileiro. Apenas durante o centenário da Proclamação da Independência, em 1922, a letra escrita pelo poeta Joaquim Osório Duque Estrada em 1909 finalmente se tornou oficial através do Decreto nº 15.671, de 6 de setembro de 1922. Outra intervenção legal foi a promulgação do Decreto nº 259, de 01/10/1936, pelo presidente Getúlio Dornelles Vargas, que, além de tornar o canto do Hino Nacional obrigatório "nos estabelecimentos de ensino mantidos ou não pelos poderes públicos, e nas associações de fins educativos e outros" (caput do art. 1º), consagrou, no art. 2º, "para a execução do Hino, de Francisco Manoel da Silva, a orquestração de Leopoldo Miguez e a instrumentação, para bandas, do 2º tenente Antonio Pinto Junior, do Corpo de Bombeiros do (então) Distrito Federal, no tom original: de si bemol; e, para canto, em fá, trabalho de Alberto Nepomuceno.Posteriormente, a orquestração do Hino Nacional Brasileiro, feita por Antônio de Assis Republicano, foi oficialmente adotada pelo Govêrno Federal, conforme Decreto-Lei nº 4.545, de 31 de julho de 1942. Finalmente, o Hino Nacional do Brasil foi oficializado pela Lei dos Símbolos Nacionais nº 5.700, de 01/09/1971.

Idem, http://bragamusician.blogspot.com.br/2010/09/hino-nacional-brasileiro-em-latim.html, com a recomendação de leitura do item III, intitulado "História do Hino Nacional Brasileiro".

  Antônio de Assis Republicano é sócio-fundador da Academia Brasileira de Música, onde ocupou a cadeira nº 33, cujo patrono era Francisco Valle. Ocupa-a atualmente o Acadêmico Raul do Valle.



Por oportuno, lembro que dados genealógicos sobre o Maestro Assis Republicano podem ser encontrados in http://www.familiaridade.com.br/arvoregenealogica_familia.asp?id_pessoa=207643


  Esaú de Assis Republicano figura como um dos 20 sócios-fundadores do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, tendo exercido o cargo de 2º Secretário na primeira Diretoria empossada no mesmo dia da fundação do IHG, ou seja, 1º de março de 1970.


⁹  Embora não tenha elementos para afirmar que o Maestro Assis Republicano, com a sua "Sinfonia de São Paulo", tenha participado do concurso promovido pela Comissão do IV Centenário da Fundação de São Paulo, há uma grande possibilidade de que a sua obra tenha sido composta para o certame, concluída, portanto, até 30/06/1953, data-limite para entrega da sinfonia. Saiu-se vitorioso Camargo Guarnieri, agraciado com o "Prêmio Carlos Gomes", tendo feito jus a Cr$ 200.000,00. Vencedora do concurso do IV Centenário de São Paulo, em 1954, a "Sinfonia de São Paulo" de Camargo Guarnieri (Sinfonia nº 3, de 1952) é considerada por alguns o ponto mais alto da música orquestral do compositor já maduro artisticamente e em plena posse de todos os meios de composição e foi executada com pleno êxito pela Orquestra Sinfônica Brasileira, sob a regência do maestro Eleazar de Carvalho. O ESTADÃO de 12/10/1954, na coluna "A Sociedade", na matéria intitulada "Homenagens", noticia as providências tomadas pela comissão organizadora para homenagear o agraciado com o prêmio. A título de informação, a comissão organizadora das homenagens a Camargo Guarnieri era constituída pelas sras. Antonieta Rudge, Magdalena Tagliaferro, Dinorah de Carvalho, Esther Mesquita, Yara Bernette, Arícia Araújo Cintra, Mina Waschawehik, Nenê Medici, Lilly Wolff, Lídia Kliass, Felicia Blumental, Madalena Lebeis, Alay da Silva Martins e Odette de Freitas.

Cf. O ESTADO DE S. PAULO, Anno LXXV, nº 24.366, edição de 12 de outubro de 1954, p. 6

¹⁰ A Câmara Municipal de São João del-Rei houve por bem homenagear o Maestro Assis Republicano, aprovando denominação de "Maestro Assis Republicano" a via pública no bairro são-joanense de Matosinhos ("rua paralela à Avenida Pedro Paulo, nesta cidade"), através de lei sancionada pelo Prefeito Rômulo Antônio Viegas (Lei nº 2.587, de 21 de maio de 1990). 
Também, homenageou seu filho Esaú, da mesma forma, designando-lhe um logradouro no Solar da Serra, bairro da Colônia do Marçal.



II. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA PELO COMENTARISTA




INSTITUTO HISTÓRICO DE SÃO JOÃO DEL-REI: Revista nº 1, Juiz de Fora: ESDEVA EMPRESA GRÁFICA S/A, 1973, 105 pp.

PASSAMAE, M. A. R. V.: "Temporada Lírica de 1922: os cenários do Rio de Janeiro, Europa e América do Sul", trabalho apresentado no VI Simpósio da UFRJ-2015, disponível na Internet in http://www.slideshare.net/aparecidavaliatti/temporada-lrica-de-1922-os-cenrios-do-rio-de-janeiro-europa-e-amrica-do-sul


MARIZ, Vasco: HISTÓRIA DA MÚSICA NO BRASIL, Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 5ª edição, 2000, 550 pp.


NEVES, José Maria: MÚSICA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA, São Paulo: Ricardi Brasileira S.A.E.C., 1981, 200 pp.


AZEVEDO, Luís Heitor Correa de. 150 anos de música no Brasil (1800-1950)Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editôra, 1956, 423 p. (Coleção Documentos Brasileiros, v. 87)

terça-feira, 1 de março de 2016

FUNDAÇÃO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO JOÃO DEL-REI EM 1º DE MARÇO DE 1970


Por Francisco José dos Santos Braga


I.  INTRODUÇÃO


Neste 46º aniversário, o IHG de São João del-Rei tem a apresentar ao povo são-joanense uma extensa lista de inumeráveis serviços prestados. Inicialmente, cabe ressaltar que o IHG, por decreto do saudoso Prefeito Octávio de Almeida Neves, é o órgão consultivo da Prefeitura para vários assuntos, dentre os quais se destaca a prerrogativa de propor nomeação de ruas, praças e quaisquer logradouros. Embora nos últimos tempos não tenha exercido essa prerrogativa a contento por disfunção da Câmara Municipal, essa prerrogativa continua sendo do IHG, atuando como órgão consultivo à disposição do Prefeito. Além desse, muitos outros serviços especializados podem ser prestados pelo IHG à Municipalidade.

A fundação do IHG são-joanense parece ter sido uma motivação de alguns são-joanenses ilustres quando sentiram que a demolição da capela do Senhor Bom Jesus do Matosinhos era não só uma ameaça mas uma dura realidade, necessitando arregimentar todos quantos quisessem esboçar uma reação a esse projeto inepto. O Documento 6 abaixo dá a dimensão do clima de insatisfação dentro do IHG diante da demolição já em andamento na ocasião, vendo-se a diretoria da entidade na obrigação de dirigir-se ao Bispo Dom Delfim Ribeiro Guedes, já que tinham sido infrutíferas as gestões junto ao pároco Padre Jacinto Lovato, sendo ambos os prelados já falecidos. Afiguravam-se aos autores do documento ao Bispo como possíveis o estrago ou a perda irreparável da portada em meio à demolição em andamento, por falta de zelo do vigário, já que a demolição era, àquela altura, irreversível. Além de pedirem que se evitasse a danificação da portada, solicitavam também a mediação do Bispo para que ela não fosse alienada a terceiros, o que acabou infelizmente acontecendo. Portanto, mal tinha sido instalada a entidade, já acontecia o "batismo de sangue" do IHG no campo de lutas (resgate da portada da capela; comemoração dos 300 anos da existência do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar; caminhada de Taubaté-SP a São João del-Rei), desafios (projeto "Trem das Águas Santas", parceria na Capital Brasileira da Cultura-2007, etc.), convocação da comunidade (resgate da portada da capela) e movimentos cívicos ("Não acabem com o trem!", "Ninguém tira o trem daqui!"  e "Salvem o trajeto de São João a Tiradentes!"). As citações anteriores são apenas exemplificativas, não abrangendo a totalidade das iniciativas do IHG.

Os Documentos 1 e 2 abaixo dão notícias acerca da fundação do IHG: os assuntos que foram tratados na sessão solene e a eleição da primeira diretoria.

O Documento 5 abaixo traz trecho da ata do IHG de 3 de maio de 1970, com algumas iniciativas do presidente Fábio Nelson Guimarães, que já tinha registrado a entidade como pessoa jurídica e tinha conseguido que um Vereador apresentasse a proposição que concedia ao Instituto a condição de entidade de utilidade pública.

O Documento 2 abaixo informa que eram 20 sócios fundadores originários e que estavam presentes 16 deles. No Documento 4 somos informados de 18 nomes de sócios fundadores, dos quais apenas Tiago Adão Lara continua vivo, tendo o Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva falecido há dois anos atrás.

O Documento 3 abaixo antevê grandes dificuldades que o IHG iria vivenciar no futuro, devido ao desinteresse de muitos cidadãos capacitados a abraçar a causa do IHG ou por causa da indiferença de grande parcela da população são-joanense.

Acho que essas eram as informações gerais que poderiam elucidar eventuais dúvidas do leitor. Agora, é melhor deixar que os documentos falem por si.

Será respeitada a grafia de época dos documentos.
Sede do IHG de São João del-Rei na casa mais antiga



II.  DOCUMENTOS QUE TRATAM DA FUNDAÇÃO E DO INÍCIO DO IHG



Documento 1: FUNDAÇÃO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SÃO JOÃO DEL-REI EM 1º DE MARÇO DE 1970



Realizou-se dia 1º de março, a solene instalação do Instituto Histórico e Geográfico, no salão nobre da Prefeitura, com a presença do Prefeito Municipal, Dr. Milton de Resende Viegas, de representante do Comandante do 1º/11 R. I., representantes da Loja Maçônica local, Presidente da Associação dos Ex-Combatentes, jornalistas e outras autoridades.


O Presidente abriu a sessão, fazendo uma invocação a Deus. A seguir leu o compromisso de honra, ao qual todos os sócios fundadores do Instituto, de pé, responderam "prometo", compromisso solene, que será repetido sempre que houver admissão de novo sócio, e feito por êste, com a mesma solene formalidade.

A sessão durou pouco mais de uma hora, tendo feito uso da palavra os oradores inscritos, o Gen. Carlos Campos e o Dr. Altivo de L. Sette Câmara, ambos são-joanenses, o primeiro sendo neto de um herói da Guerra do Paraguai, que participou da batalha do Riachuelo, e o segundo é filho do republicano histórico, Prof. Sebastião Rodrigues Sette Câmara, fundador e redator de "A Pátria Mineira", que circulou em S. João, de abril de 1889 a maio de 94.

O Gen. Carlos Campos discorreu, resumidamente mas com clareza e proficiência, sobre três fatos históricos ocorridos na data de 1º de março: a fundação do Rio de Janeiro, por Estácio de Sá, o fim da Guerra do Paraguai e o fim da Revolução Farroupilha.

O Dr. Altivo de L. Sette Câmara, lembrando que transcorre este ano o centenário do primeiro manifesto republicano (1870) e o 250º da separação de Minas da então Capitania de São Paulo e Minas do Ouro (1720), em dezembro, fêz inicialmente um relato sumário da propaganda republicana na imprensa de Minas e em S. João.

Ao concluir a segunda parte da sua exposição, que versou sobre a construção do chamado "Caminho Nôvo", solicitou que constasse em ata a sua homenagem à memória do filho primogênito de Fernão Dias, o também bandeirante Garcia Rodrigues Pais, que construiu para Minas e para o Brasil, a grande estrada do Rio de Janeiro a Sabará e Ouro Prêto, que é, com algumas variantes, o mesmo caminho percorrido hoje pelas locomotivas e composições da E. F. Central do Brasil, estrada aquela feita à custa de Garcia Pais, em 5 anos, há cerca de três séculos atrás, e que concorreu decisivamente para a mudança da capital do país, da Bahia para o Rio, e para a separação de Minas, da então Capitania de São Paulo e Minas do Ouro (1720).

Pelo Instituto Histórico e Geográfico, na sessão solene inaugural, foi prestada uma única e especial homenagem, "singela mas expressiva, pela sua absoluta sinceridade", ao decano dos historiadores são-joanenses, o Dr. Augusto das Chagas Viegas, autor de "Notícia de S. João del-Rei", ao qual foi oferecido, (na pessoa do seu sobrinho, o Dr. Milton R. Viegas, por se encontrar em viagem o homenageado) um grande e belo ramo de rosas, entregue pela primeira aluna de História e Geografia, do Colégio N. Sª das Dores. Ficou assim associada a juventude estudiosa são-joanense ao Instituto Histórico, no dia da sua solene instalação, como prova do interêsse da instituição, em concorrer, desde o seu início, para a elevação do nível cultural da mocidade e sua participação ativa em festividades dêste tipo, aprimoradoras da sua educação moral e cívica.

Fêz o elogio do homenageado o Vice-Presidente do Instituto, Dr. Altivo de L. Sette Câmara, que afirmou ser o venerando historiador "autor da mais importante e completa História desta antiga Cidade, escrita até hoje, sendo ainda o homenageado o mais ilustre sócio-fundador do Instituto".

Destacou ainda "a personalidade do mineiro insigne, Augusto das Chagas Viegas, homem de bem e cidadão exemplar". Terminou com as seguintes palavras: "Senhor Presidente — requerido que esta homenagem e as palavras com que a encaminho, constem da ata desta sessão solene, ad perpetuam rei memoriam— para perpétua lembrança do fato."

Foram ainda lidas as diversas efemérides, do dia 1º de março, pelo historiador Sebastião de Oliveira Cintra, tendo também falado o Presidente do Instituto, Prof. Fábio N. Guimarães, sobre o 6 de março, elevação de S. João del-Rei à categoria de Cidade (Lei Provincial nº 93, de 6-3-1838).

Franqueada a palavra às autoridades, falou o Prefeito, Dr. Milton R. Viegas, que, em vibrante improviso, enalteceu a fundação do Instituto, agradeceu em nome do ilustre autor de "Notícia de S. João del-Rei" a homenagem que lhe fôra prestada, e confirmou sua intenção de continuar a dar o seu melhor apoio à nova instituição.

A sessão solene foi encerrada com a execução, pela Banda Municipal, do Hino Nacional, que foi cantado por todos os presentes.

Fonte: A COMUNIDADE, órgão da Prefeitura Municipal de São João del-Rei, Ano III, nº 20, edição de março de 1970, p. 7.



Documento 2: FUNDADO O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO

No dia 15 uma reunião preparatória estabeleceu a data de hoje, 1º de março, para a instalação formal do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, entidade que se destina a estimular, desenvolver e proteger de maneira organizada tôdas as atividades relacionadas com a Geografia e a História, desde a pesquisa até a literatura especializada, notadamente quanto aos assuntos desta região e do município.

Presentes 16 dos 20 sócios fundadores, foram discutidos os anteprojetos dos estatutos, elaborado e aprovado o seu texto, elegendo-se então a primeira diretoria, que tem a seguinte constituição:


Presidente — Prof. Dr. Fábio Nelson Guimarães
Vice-Presidente — Dr. Altivo de Lemos Sette Câmara
1º Secretário — Capitão Astrogildo de Assis
2º Secretário — Prof. Esaú de Assis Republicano
1º Tesoureiro — Tenente Sílvio de Araújo Padilha
2º Tesoureiro — Sr. Geraldo Guimarães
Bibliotecário — Tenente Gentil Palhares

Na manhã de hoje está sendo realizada a sessão solene de fundação, no salão nobre da Prefeitura Municipal, com a presença das autoridades municipais estaduais, federais e religiosas, esperando a nova instituição o comparecimento de grande número de interessados.

O Instituto Histórico e Geográfico é o 5º a ser fundado em Minas Gerais e se dispõe a realizar trabalho sério em benefício das suas finalidades principais, sendo certo que vai polarizar todo o movimento cultural especializado, entrando imediatamente em contato com as instituições congêneres de Minas e de outros estados.

Segundo estamos informados, trata-se de organização que tem como objetivo aglutinar todos os esforços locais ligados às duas ciências.

O povo espera que o IHG seja elemento fundamental para a criação dos cursos de Geografia e História na Faculdade de Filosofia, entre outras iniciativas que poderá sugerir em benefício do desenvolvimento da cidade.

Fonte: PONTE DA CADEIA, Ano III, nº 141, edição de 1º de março de 1970, p. 1.


Documento 3: INSTITUTO TERÁ TRABALHO

Como entidade especializada, o Instituto Histórico e Geográfico terá muito trabalho e poderá prestar serviços de importância à cidade.

A sua instalação no dia 1º de março contou com a presença de autoridades e de uma parcela mínima do povo, ausentes como sempre aqueles que deviam dar o exemplo de comparecer, isto é, os que exercem as chamadas profissões liberais, os médicos, advogados, engenheiros, professores, escritores, jornalistas, artistas, padres e outros.

Como sempre, não compareceram, com exceção do dr. Mário Monteiro, presidente do Lions, do engenheiro José Luiz Amarante, membro do Rotary, e do jornalista Adenor Filho, do PONTE DA CADEIA. Algum outro que esteve na reunião representava uma entidade de classe, uma corporação, uma autoridade.

Falaram na instalação o professor Fábio Nelson Guimarães, presidente do Instituto, o dr. Altivo de Lemos Sette Câmara, vice-presidente, o general Carlos de Oliveira Ribeiro Campos, membro do conselho e o prefeito Milton Viegas.

O prefeito ofereceu os préstimos da municipalidade, mostrou a sua compreensão a respeito da criação do Instituto e disse que êle pode prestar numerosos serviços especializados, defendendo também o patrimônio comum de riquezas artísticas e históricas, descobrindo a verdade e criticando versões que nem sempre a ela correspondem na nossa história.

O redator do PONTE DA CADEIA ofereceu ao presidente Fábio Guimarães uma coluna permanente para utilização do Instituto neste jornal, que divulgará oficiosamente tôdas as atividades da organização.

Fonte: PONTE DA CADEIA, Ano III, nº 144, edição de 22 de março de 1970, p. 4.


Documento 4: [CINTRA, 1982, 103-4] assim noticia a fundação do IHG local: 
"No Salão Nobre da Municipalidade realiza-se a solene instalação do Instituto Histórico e Geográfico de S. João del-Rei, cujos sócios-fundadores são os seguintes: Fábio Nelson Guimarães, Altivo Sette, Sebastião de Oliveira Cintra, Sebastião Raimundo Paiva, Carlos de Oliveira Ribeiro Campos, Luiz de Melo Alvarenga, Gentil Palhares, João Batista Lopes de Oliveira, Astrogildo Assis, Sílvio de Araújo Padilha, João Adalberto de Assis Viegas, Esaú de Assis Republicano, Lucila Césari, Augusto das Chagas Viegas, Djalma Tarcísio de Assis, Adenor Simões Coelho, Onésimo Guimarães e Tiago Adão Lara."



Documento 5: NOTÍCIA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO
Ata da sessão realizada dia 3 de maio

No dia 3 de maio de 1970, no salão nobre da Prefeitura Municipal, o Instituto Histórico e Geográfico de S. João del-Rei realizou sua sessão ordinária mensal, sob a presidência do Dr. Fábio Nelson Guimarães. (...) O Presidente comunicou que o "Minas Gerais" de 15 de abril, publicou o extrato do Estatuto, depois do que registrou a entidade no Cartório de Títulos e Documentos, como pessoa jurídica, sob o nº 7921, protocolo nº 7144, no Livro B 13, fls. 18/82. Mencionou que o Sr. Vereador José Demétrio Campos, em reunião de 24 de abril, apresentou na Câmara Municipal proposição que concede ao Instituto a condição de entidade de utilidade pública. (...)

Fonte: PONTE DA CADEIA, Ano III, nº 151, edição de 10 de maio de 1970, p. 3.


Documento 6:  O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO E A IGREJA DE MATOZINHOS

A diretoria do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, considerando que a Igreja do Senhor Bom Jesus de Matozinhos não está tombada, e a sua preservação dependeria exclusivamente da boa vontade dos interessados, remeteu a 7.5.70 ofícios ao vigário da paróquia, pedindo-lhe sustar a demolição e "aguardar uma decisão ulterior", providências do Instituto junto ao Ministério da Educação e Cultura. Não sendo atendida, e face ao adiantado da demolição oficiou em 20.5.70 ao Revmo. Bispo Diocesano, ofício que passamos a transcrever:

"Vimos respeitosamente à presença de V. Revma. a fim de lhe solicitar encarecidamente e com o maior empenho, a providência de reiterar ao respectivo vigário, que evite o estrago ou a perda irreparável da portada da Igreja de Matozinhos, obra de talha em pedra sabão, que possui inequívoco e evidente valor artístico e arquitetônico, e cuja retirada teve início hoje. Segundo se diz, será guardada nesta diocese, por ordem do vigário. Aproveitamos para informar ter chegado ao nosso conhecimento que a cruz de ferro trabalhado, existente no frontispício do templo, em virtude da demolição deste, permaneceu inclinada, durante dias, em equilíbrio instável, à vista de todos, como tivemos pessoalmente oportunidade de verificar, e acabou tombando da altura, juntamente com o frontão, podendo-se presumir tenha ficado inteiramente danificada.

Informamos ainda que as portas e janelas, e todo o madeiramento interno, e as paredes, estavam em perfeito estado, tendo oferecido grande resistência à demolição, sendo inclusive necessário o uso de tratores, para pô-las abaixo.

Com o devido respeito à pessoa de V. Revma., e a suas prerrogativas, ponderamos que, se as autoridades eclesiásticas têm o direito de demolir e alienar igrejas, em alguns casos, (ou pelo menos nêste), só levando em conta o aspecto utilitário da demolição, tratando-se entretanto de um templo como o de Matozinhos, entendemos que a demolição poderia ter sido feita sem maior agravo ao sentimento das pessoas moralmente sensíveis, e sem prejuízo também do patrimônio histórico e artístico de S. João del-Rei.

Como recordação   talvez única — que restará da Igreja do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, e, principalmente, por ter a portada de pedra sabão inegável valor artístico, que a torna parte do patrimônio cultural da nação brasileira, reiteramos a V. Revma. o pedido de empenhar-se no sentido de acompanhar a sua retirada, de modo a que se evite a danificação ou sua alienação a terceiros.

Certos de eficaz providência da parte de V. Revma., que o credenciará ao reconhecimento geral, em nome do povo de São João del-Rei, nesta emergência representado pelo seu Instituto Histórico e Geográfico, renovamos os protestos de respeitosa estima e elevada consideração.
(Ass.) Fábio Nelson Guimarães, Presidente
Altivo de Lemos Sette Câmara, Vice-Presidente"

Fonte: PONTE DA CADEIA, Ano III, nº 154, edição de 31 de maio de 1970, p. 3.



III.  OBRAS CONSULTADAS


A COMUNIDADE: Ano III, nº 20, edição de março de 1970.

PONTE DA CADEIA: Ano III, nº 141, edição de 1º de março de 1970; idem, nº 144, edição de 22 de março de 1970; idem, nº 151, edição de 10 de maio de 1970; idem, nº 154, edição de 31  de maio de 1970. 

CINTRA, Sebastião de Oliveira: Efemérides de São João del-Rei, Belo Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1982, 2 vol., 622 p.


IV.  AGRADECIMENTO


Gostaria de enaltecer o gesto amistoso e colaborativo da confreira Profª Betânia Maria Monteiro Guimarães, a qual se dispôs a emprestar caderno de recortes de notícias de jornais de 1970, do acervo de saudoso presidente Fábio Nelson Guimarães, para a confecção do presente trabalho.