quarta-feira, 26 de abril de 2023

O RETRATO DE JESUS


Por Bento Ernesto Júnior (✰ Itapecerica, 1866 ✞ São João del-Rei, 1943) 
 
Foto meramente ilustrativa - Crédito: www.radioriodejaneiro.digital




 
Quando Jesus, deixando, um dia, o remansoso retiro de Nazaré, do teto humilde do casal paterno partiu à pregação de suas ideias, numa feição de lavrador diligente que vai, através dos campos, desraizando as ervas más e nas covas esparzindo as sementes benditas, para logo, o fulgor, que as maravilhas brotadas de sua mão dadivosa lhe fizeram rebrilhar em torno, entrou a irradiar por todos os ângulos da terra de Abraão, fazendo sentir-se nos modestos albergues das aldeias serranas, nas praças movimentadas de comércio à beira do mar, nas estalagens das estradas e até mesmo no recesso sossegado das grutas dos pastores, no mais cerrado dos bosques. 

Num ápice, o nome do missionário admirável vivia, em todas as bocas, orlado de elogios largos e de bênçãos fervorosas. 

E Ele, o manso rabino, na simplicidade majestosa dos grandes enviados, ia por toda a parte, empenhado na prática do bem. De um gesto brando de sua mão patrícia caía o alívio às torturas do corpo: na sua palavra suave, falando somente de paz e de amor às multidões, vinha a alegria apetecida ao espírito doente. 

E todos acorriam pressurosos a ouvi-lo, semelhando redis arquejantes de corças indo, sedentas, às horas quentes dos meios dias, em procura da fonte consoladora, a fluir, límpida e mansa, sob ramas em flor. 

Pairava-lhe em torno da suavíssima figura uma como atmosfera salutar, qual a que circunda um roseiral florido: de seu todo celestial evolava-se uma brisa dulçurosa, acariciando os corpos, oxigenando as almas. 

Dia a dia, uma nova voz de beneficiado algum triste cego a que Jesus fizera ver a luz doirada de sol, paralíticos aos quais um simples aceno seu dera a livre locomoção, mortos que, ao toque da fímbria de seu manto, voltaram das longes plagas do Além vinha se unir ao coro grandioso de bênçãos que, alvejando a personalidade cativante do filho de José, subia, glorificador, das choupanas pobres da serra, dos átrios doirados dos palácios, das eiras dos casais, da borda das fontes da Galileia, de sob a basta folhagem verde-negra das figueiras dos hortos. 

A apoteose crescia. 

E, em breve, o nome amado de Jesus de Nazaré entrou, triunfalmente, as arcadas dos pretórios e o seio augusto dos paços imperiais, fazendo a calma desertar do espírito de juízes e governadores assombrados. 

Governava, então, Públio Lêntulo a província romana da Judeia. 

Causou funda impressão no preposto de César a glorificação que se fazia àquele homem simples, de vestes descuidadas e humildes, longa cabeleira flava a emoldurar um doce rosto tranquilo, chegado sempre aos deserdados da sorte, falando de coisas novas, semeando benefícios, arrastando as multidões em pós de seus passos. 

Soubera, cheio de espanto, que Jesus retinha, presos à música inefável de suas falas, velhos vergados ao peso dos anos, mulheres levando ao colo os filhinhos amados, homens de idade crescida, crianças mal saídas de berços, o povo todo, enfim. E, quando os despedia, mandando o lavrador ao amanho de suas terras, os do mar a cuidar dos barcos e redes e zagais ao pastoreio dos rebanhos nas serras, cegos de ontem partiam vendo, entrevados faziam, lépidos, a jornada do regresso à casa e, de muito lar, em funerária tristeza, o luto se desapegou pela volta do morto amado à vida, de que ele, um dia, se apartara, em meio ao pranto aflito dos seus. 

Pressentiu o delegado romano naquela deificação ao Nazareno uma ameaça ao poder de seu senhor: entendeu obrigação sua dar conta à Roma do estranho caso e, numa mensagem dirigida ao senado do Império, o relatou por completo. 

Nessa interessante peça cujo original se diz pairar em uma das bibliotecas reais da Europa procurou Públio Lêntulo tracejar o retrato de Jesus de Nazaré: 

“Existe, escrevia o delegado romano, presentemente na Judeia um homem de singular virtude, que se chama Jesus. Os judeus acreditam que é um profeta, mas os seus sectários o adoram como descendente dos deuses imortais. Ele ressuscita os mortos e cura toda a sorte de enfermidades pela palavra e pelo toque.
Sua estatura é alta e bem proporcionada; seu aspecto, doce e venerando; os cabelos são de uma cor que não se pode bem precisar ou comparar; caem em anéis até abaixo das orelhas, derramando-se sobre os ombros com muita graça, e são repartidos no alto da cabeça, à moda dos Nazarenos. Tem a fronte unida e larga e as faces levemente rosadas; o nariz e a boca, formados com admirável simetria. A barba é espessa e de cor semelhante à dos cabelos; desce uma polegada abaixo do mento, e, dividindo-se ao meio, apresenta pouco mais ou menos a figura de um forçado.
Seus olhos são brilhantes, claros e serenos. Ele censura com majestade, exorta com doçura. Seja que fale ou se mova, tudo faz com elegância e gravidade.
Nunca o viram rir, mas já o têm visto muitas vezes chorar. É muito moderado, muito modesto e muito sábio. Enfim, é um homem que, por sua excelente beleza e divinas perfeições, excede os filhos dos homens.

Esses trechos da mensagem, o poeta mineiro Ernesto Correa vasou-os em alguns tercetos, que publico, em seguida, para que o leitor aprecie a fidelidade da transplantação. 

RETRATO DE JESUS 

A Paulo Diniz 

(Mensagem de Públio Lêntulo) 

Existe na Judeia, atualmente, 
Um homem virtuoso, e toda a gente 
Dá-lhe, suave, o nome de Jesus. 
 
Os bárbaros propheta o consideram, 
E todos os seus sectários o veneram 
Filho de Deuses, precursor da Luz; 
 
Pois que elle os mortos ressuscita, e cura 
Os enfermos somente com doçura 
Da palavra e, tocando, os reanima. 
 
Admira-se-lhe o plácido semblante,
O porte majestoso e deslumbrante, 
Que “entre todos no meio se sublima ¹
 
E no alto da cabeça, à nazarena, 
Separa-se a lindíssima melena, 
Sem que se possa definir-lhe a cor. 
 
Rolam, caindo, os fúlgidos cabelos, 
Com graça, pelos ombros, em novelos, 
Dando ao seu todo um mágico esplendor. 
 
Tem lisa e larga a fronte, mas as faces 
Apenas se colorem de fugazes 
Tons, que um rubor amável lhes imprime. 
 
Boca e nariz têm tanta simetria 
Que comunica-lhe à fisionomia 
Um todo de genial e de sublime. 
 
A barba é densa; a cor, correspondente 
À dos cabelos; fica-lhe pendente 
Do queixo apenas uma polegada. 
 
Dividindo-se ao meio, graciosa 
Dá-lhe a expressão, a nota curiosa 
De um forçado, a figura iluminada. 
 
Os seus olhos translúcidos, pequenos, 
São brilhantes, são claros, e serenos, 
Como as estrelas pela imensidão. 
 
Tem majestade na censura; e quando 
Exorta, fala; é meigamente brando 
E se mostra com toda a correção. 
 
Jamais o viram, creio, que sorrindo, 
Mas vezes muitas já viram fluindo 
De seus olhos a lágrima inefável. 
 
Contam, é certo, que ele é muito sóbrio, 
O vivo emblema da modéstia; cobre-o 
Da castidade a clâmide notável. 
 
Pela excelsa beleza e divindade, 
De suas perfeições transparescentes, 
É um homem que excede aos vários entes 
De toda a geração da Humanidade. 
ERNESTO CORREA
Passos, MG
 
Os numerosíssimos exemplares da efígie de Jesus, espalhados, em pintura e escultura, por todas as partes do mundo, fazem-nos crentes de que os artistas que os produziram, para consegui-los, foram beber inspiração nas palavras de Públio Lêntulo. 
 
Um ou outro, eivado do espírito revolucionário, tem apresentado na tela ou nas formas frias do mármore a figura de Jesus sob um outro aspecto, divergindo dos traços com que foi delineada pelo governador da Judeia. Há, porém, prevalecido a tradição, trazida pelas linhas da mensagem. 
BENTO ERNESTO JÚNIOR
 
 
NOTA EXPLICATIVA
 
 
¹  CAMÕES: Os Lusíadas, canto III, CVIII


BIBLIOGRAFIA 

 

JÚNIOR, Bento Ernesto: O Retrato de Jesus (Mensagem de Públio Lêntulo), revista O Archivo Illustrado, São Paulo, 1903, Ano V, nº XXXIX, p. 308-9 

Link: http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=719102&pagfis=274&url=http://memoria.bn.br/docreader# (pp. 308-9)

segunda-feira, 24 de abril de 2023

A MATRIZ DE MINHA TERRA


Por Bento Ernesto Júnior (✰ Itapecerica, 1866 ✞ São João del-Rei, 1943)
 

 
I. INTRODUÇÃO por Francisco José dos Santos Braga 

Brevíssima história da cidade de Itapecerica 

Segundo [FONSECA, 2022, 27 e ss.], o povoamento da região que em breve ficaria conhecida como arraial de São Bento do Tamanduá, remonta ao ano de 1739 quando dois desbravadores paulistas, o guarda-mor Feliciano Cardoso de Camargos e seu primo Estanislau de Toledo Pisa, abandonaram suas lavras em Goiás, para fugir de dívidas e fiscalização. De volta à região das Minas Gerais, encontram ouro em um córrego, ao qual deram o nome de Ribeirão do Tamanduá. 
A paragem logo atraiu outros aventureiros e, no ano de 1744, a câmara da Vila de São José del-Rei (atual cidade de Tiradentes) tomou posse do descoberto [BARBOSA, 1995, p. 163]. A câmara de São José estava mais preocupada em garantir sua jurisdição sobre a área de Tamanduá e evitar que as câmaras de Pitangui e Sabará tomassem conta das promissoras minas auríferas. No auto de posse do arraial, vê-se que, em cinco anos, os primeiros moradores já haviam denominado e escolhido um santo padroeiro para o lugarejo, que seria o "descobrimento do Tamanduá e seu arraial de São Bento". 
O arraial de São Bento do Tamanduá foi fundado em uma localidade estratégica, sendo resultado da expansão do povoamento da Capitania de Minas para a região oeste. O Campo Grande, como era chamada a região localizada entre as nascentes do Rio São Francisco, Rio Grande e Paranaíba, constituiria o caminho mais habitual, então, para as minas de Goiás e Mato Grosso. Tamanduá localizava-se, justamente, no principal entroncamento da "picada de Goiás", ponto onde desembocavam caminhos que vinham de Vila Rica a leste, de São José e São João del-Rei a sudeste e de Pitangui e Sabará ao norte. 
 
TOPONÍMIA ANTERIOR DE ITAPECERICA 
 
??: Freguesia de São Bento
Em 1739: Arraial de São Bento do Tamanduá
Em 20/11/1789: Vila de São Bento do Tamanduá
Em 1862: de vila foi elevada a Cidade de Tamanduá, contando com os seguintes distritos: Candeias, Campo Belo, Cristais, Espírito Santo do Itapecerica (atual Divinópolis), Desterro (atual Marilândia) e São Sebastião do Curral (atual São Sebastião do Oeste). [BARBOSA, 1995, p. 163]
Em 19/10/1882: aconteceu a troca do nome, passando a chamar-se ITAPECERICA – nome originário do tupi-guarani Itapé-Cyryca, que quer dizer “corredeira que forma um lençol de água sobre uma laje de pedra lisa”. 
 
ESCLARECIMENTO 
 
O texto do artigo de Bento Ernesto Júnior de 1915 (✰ Itapecerica, 25/08/1866 ✞ São João del-Rei, 09/01/1943) que será reproduzido aqui, – com a autorização de Gustavo Oliveira Fonseca, doutor em História, – foi publicado por [FONSECA, op. cit., 449-455]. Tendo-o localizado, teve acesso a ele no acervo de Célia Lamounier, na ocasião em que levantava elementos para a sua tese em História. Em suas próprias palavras, [FONSECA, idem, 8] o considera um "documento valiosíssimo para a escrita de sua tese de doutorado".
O texto saudosista, intitulado A Matriz em Minha Terra, é um poema em prosa, cheio de lirismo. A Matriz de São Bento, em Itapecerica, passou por profunda reforma em 1912 e Bento Ernesto Júnior escreve esse texto memorial três anos depois da reforma, relembrando o antigo templo que conheceu em sua meninice. Face à "atualização da tradição",  seu eu poético encontra a oportunidade de manifestar-se e transmitir sentimentos, impressões e emoções.  
O autor do artigo, itapecericano de nascimento e filho adotivo de São João del-Rei – cidade que escolheu para residir –, ficou especialmente famoso por seus poemas, sendo autor de muitos hinos (por exemplo, no Hino a São João del-Rei ele é autor da letra). Além de talentoso poeta, tocava harmônio nos templos de São João del-Rei. Publicava seus poemas na revista O Archivo Illustrado de São Paulo, em O Natal de Passos e em jornais de São João del-Rei, Ubá e de outras cidades. 
 
Imagem: BENTO ERNESTO JÚNIOR. Fonte: BRAGA, Tancredo: Álbum da cidade de São João del-Rei, em comemoração à data de 8 de dezembro de 1913. Crédito: historiador Silvério Parada.

 
O poeta é mais lembrado como autor do soneto Lágrimas, do poema Virgem Morta, do Hino à Nossa Senhora Aparecida (Eia povo), do Hino a São João del-Rei (letra), do Hino ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos. O poeta participa de "Os mais belos sonetos que o amor inspirou" (parte 12) de J. G. de Araújo Jorge com o seu poema "Soneto". 
A terra natal do poeta homenageia seu filho ilustre com o Museu Bento Ernesto Júnior. São João del-Rei homenageia seu filho adotivo, inscrevendo o seu nome na galeria de patronos da Academia de Letras, detentor da Cadeira nº 36. Também é patrono da Cadeira nº 83 da AMULMIG-Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Finalmente, Bento Ernesto Júnior é membro fundador da Academia Mineira de Letras.
 
 
 
II. TEXTO de Bento Ernesto Júnior: A MATRIZ DE MINHA TERRA
 
REFERÊNCIA DOCUMENTAL: Acervo particular de Célia Lamounier. Jornal O Natal (Passos), 1915. 
 
Ao compadre Hilarino Moraes 
 
 
Atual Igreja Matriz de São Bento, em Itapecerica-MG - Crédito: destaknewsbrasil.com.br

 
A Matriz da nossa terra! 
A igreja, a que está ligada nossa vida por tantos e tantos laços, figurando, como figura sempre, em os atos mais relevantes de nossa história íntima!... 
A luta pela vida põe-nos absorvido o espírito por mil e uma preocupações, qual mais torturante, qual mais exaustiva. 
Crescem com os janeiros as necessidades e ei-nos, a breve trecho, a braços com um enredado de estorvos a nos tolher os passos, a nos alhear o espírito de muita cousa, que, de antes nos era dulçuroso enlevo. 
O struggle for life [sic] mata em nós a perfumosa flor do sentimento: mergulhamo-nos no torvelinho de outras paixões, bem diversas daquelas que, suaves entretenimentos, nos acalentavam na meninice e que vínhamos trazendo, mocidade afora, com o mais carinhoso dos cuidados. 
Mas, por muito que o nosso ser fique açoitado e varrido dos vendavais do ceticismo, por muito que nos entreguemos às cogitações utilitaristas, em nosso coração há de, sempre, doce e encantadora, brotar, entre névoas de saudade, a lembrança da igrejinha da paróquia natal, onde está a pia de água abençoada, que lhe serviu na ablução batismal e sob cujo teto tanta cousa notável se passou no departamento do nosso coração, cenas de alegria, atos de tristeza, o esplendor álacre de consórcios e novenário festivos e a majestade desolada de funerais e exéquias. 
Digo-o por mim. A igreja da minha terra, a Matriz da velha Tamanduá, como eu a conheci, outrora, inacabada e inestética tem lembrança perene na minha alma. 
Rujam tempestades morais sobre o meu ser; engolfe-se a alma no pélago de pensamentos complexos e torturantes, a que me levam os azares do viver, sempre, sempre, no meio de tudo, exsurge, nítida, encantadora, saudosíssima, a imagem do querido templo pátrio, aquele enorme barracão, tendo unido às belezas já terminadas de uma coberta provisória, posta ali atamancadamente, para ir servindo a igreja ao culto, até que a bondade infinita de Deus mandasse aos tamanduenses tempos propícios à terminação da importante obra d'arte iniciada. 
A Matriz de minha terra colocaram-na num lugar esplêndido. O terreno, sobre que se assenta a cidade, vai subindo paulatinamente, num declive suave, das margens do Rio Vermelho, que atravessa, de nascente a oeste, a povoação até o Muro de Pedra, onde, tantas vezes, em menino, eu e o João Ernesto, meu irmão, fomos buscar lenha ou colher cambaúbas para o fabrico de gaiolas, mister em que o João era insigne. 
A meio dessa encosta cavaram um plano e aí levantaram a igreja que, desse ponto, domina a cidade inteira, exceção somente do bairro do Arranca-Toco, que, como uma linguiça enorme, vai do fim da nossa, como todas, tortíssima Rua-Direita ao princípio da Estrada Nova da Formiga, nas fraldas do Candonga. 
De qualquer ponto da velha terra a gente lhe vê o vulto venerando, cercado pelo casario irregular e antiquado, à feição de mãe adorada tendo em torno o rancho dos filhinhos maltrapilhos. 
O atual Vigário da Freguesia de S. Bento do Tamanduá, o Revmº Monsenhor José dos Santos Cerqueira, num opúsculo (do qual ingratamente não quis mandar um exemplar a um dos seus ardorosos admiradores, e extremosíssimo amigo de tudo que diz respeito a nossa velha pátria) o Monsenhor Cerqueira que tem outra dignidade maior, que é ser perpetuamente o Padre Juca refere, no seu estilo discreto e impecável, as vicissitudes numerosas por que passou a edificação da Matriz. 
Os episódios, narrados no livrinho, nós todos os ouvíramos já, repetidos que eram sempre pelos nossos antepassados em serões e palestras. 
A Matriz de minha terra tem, todavia, uma outra história para os tamanduenses da minha geração. É que a igreja nós vimos encontrá-la inacabada e nessa parte esperando conclusão paredes negras pelo perpassar dos tempos já, algum tanto, desmanteladas nós, os meninos do meu tempo, tínhamos feito o quartel general das nossas tropelias. 
Era aquela certeza: depois do jantar, a maior parte dos meninos da cidade ali se congregava. 
E era um verdadeiro pandemônio. Parte subia pelas paredes da sacristia umas paredes de dois metros de largura: uns, os timoratos, deixavam-se ficar ali, a quem daquela primeira porta lateral, que a gente transpunha, passando, de gatinhas, sobre um arco de pedra, a que o povo erradamente chama soleira; outros, os mais ousados o Chico Afonso, o José Monteiro (o alferes José Monteiro, como dizia o Mestre Juca Tavares, na hora tremenda de, na escola de ao pé da ponte, nos chamar as contas que acabara de ordinário em muito bolo pelas falcatruas feitas), o Rodolfo Cerqueira, o Zé Pinto, o Cassiano da Adelaide, esses passavam, lépidos, a tal soleira e lá iam, aos saltos, ou marinhar pelos esteios de uma espécie de grosseiro guindaste de levantar pedras, que havia lá, encostado à parede ou ir até o fim do largo patamar a chuchar com um bambu a caixa de arapuás que existia em um dos buracos da igreja ou mexer em o ninho que umas corujas fizeram no buraco imediato àquele em que zumbiam as tais abelhas, que torciam o cabelo da gente. 
Outra parte espalhava-se pelo recinto da sacristia, que vivia invadido por um matagal luxuriante de jurubebas, assa-peixes e juás bravos e se entretinham em exercícios ginásticos nos restos de andaimes que dos últimos trabalhos ficaram. Alguns da tal turba de vagabundos entregavam-se aos saltos de uma para outra das numerosas pedras, muitas já aparelhadas e que juncavam o chão em torno do templo. 
O Vigário do tempo era o boníssimo, mas também nervosíssimo Cônego Cesário, da mais saudosa memória. Viviam ele e os pais de família tamanduenses doidos com as traquinadas dos meninos da Matriz. 
Bem que o Juca Tavares derrubava bolos a valer nos delinquentes: bem que em casa cada um de nós entrava profundamente na vara de marmelo. 
Nada valia!... As nossas brilhaturas na igreja Matriz acabaram-se quando se acabou a meninice dos tais rabudos, na expressão pitoresca de minha santa Mãe. 
Um dia os tais demoninhos o Bentinho do Major Honório, o José Luiz, das Ricardas, o Hilarino, o Pedro Barulho, o Frederico do Padre Cesário, o José Monteiro, o Candinho da Collecta [sic], o Hilário do Luiz Cerqueira, o Sô Tinha (José Ferreira de Carvalho, ex-deputado), o Carlinhos do Nicolau (hoje o Sr. Cônego, em Campinas), fizeram, chefiados pelo abaixo-assinado, (que tinha uma patente elevada no esquadrão dos traquinas) a excelsa proeza de se guindarem à mais alta janela do edifício, ali estabelecendo (a parede era larga a valer, já disse) o seu quartel general, a que dava acesso o velho andaime, ficando ali,  quando se fizeram alguns consertos no telhado do templo. 
Lembra-me bem de que, na dita janela, perdurou um tal Bentuca, "que naquele tempo havia", uma espécie de lustre [sic] feito de taquara, com quatro braços, suspenso por uma corda à soleira e esse lustre um de nós o acendia, todas as noites e o deixávamos aceso, com risco de atear fogo ao edifício!! 
E nós achávamos tudo aquilo o mais glorioso dos feitos!! 
Como o vento faz com um punhado de folhas secas, o destino espalhou por esse mundo a fora um tão luzido pugilo de heróis, raros, raríssimos, sendo os que ficaram a viver sob a guarda vigilante da árvore do Calado. 
O meu bom compadre Hilarino, hoje circunspecto tabelião de notas e brilhante soldado, outrora, daquela gloriosa milícia de vagabundos tamanduenses, ao fazer, hoje, a chamada da tropa, há de, com os olhos em lágrimas, verificar quanta gente dos nossos não acode ao apelo e isso por que já tem a boca selada pelo beijo friíssimo da Morte! 
Voltando à Matriz... 
A parte da igreja, já terminada, era a capela-mor. A outra parte dissemo-la já consistia em uma coberta provisória, com fachada modesta. 
Os portões foram pintados de cor de chumbo: as bandeiras de portas e janelas de verde-claro. 
Nunca mais exilado que tenho andado quase toda a vida do torrão natal me esqueci desse aspecto da velha igreja. 
A sacristia terminada era a da parte oriental. Servia à igreja somente para a guarda de utensílios andores, cyriaes [sic], tochas, etc. Paramentavam-se os padres na saleta, logo à entrada. Ali estava a cômoda das alfaias, dominada por um grande retábulo de Cristo Crucificado. 
Eu não gostava de tal quadro, pela minha ignorância suprema em cousas de Arte, ajudada pela impressão de pavor que causava no meu espírito timorato de criança a expressão dolorosíssima do Nazareno supliciado. Mas, ao João Ernesto, (em cuja sabedoria eu acreditava de olhos fechados) ouvira eu, certo dia, que o quadro era um trabalho sublime. Mais tarde, quando pude melhor discernir as cousas, vi que o meu mano tinha toda a razão. 
Todas as figuras daquele pelotão de vagabundos tamanduenses de há quarenta anos, quer oficiais, quer simples praças de pret, todas tinham, no meio das travessuras, uma preocupação boa, como um lírio casto brotando no meio da imundície de um pantanal ajudar o Benedito Sacristão nos serviços da igreja. 
Éramos nós os acendedores de velas do trono e dos nichos e banquetas, os tocadores dos sinos, os buscadores de brasas para o turíbulo na casa do Antônio Caetano, a mais próxima. 
Que prazer o nosso quando éramos escalados para os tais serviços!... Que alegrão não tive quando, pela primeira vez, consegui dobrar o sino grande, na torre ali, ao lado! 
Essa torre fazia parte do provisório da igreja. Possuía ela um sino, o tal Grande, de que falo, um esplêndido exemplar de sino bom. Como tantas outras cousas boas do nosso passado, esse sino já não existe. 
Logo atrás da torre, ao lado da igreja corriam umas dependências da igreja, denominadas casinhas de S. Bento (S. Bento é o padroeiro da freguezia), destinadas à guarda de materiais. Uma dessas casinhas, aquela em que se recolheram os carros-de-bois do Santo e que tinham servido na construção, era aberta.
Tomamos conta dela. Dela ora fazíamos casinha para os nossos guisados, ora o picadeiro do nosso circo de cavalinhos. 
Pendurávamos trapézios nos caibros e nas vigas e era um saracotear, o dia inteiro, em cabriolas e descaídas, a que acompanhavam não raros tombos. 
Quando algum fugia da escola (era raro) podia a gente jurar que o trânsfuga estava na casinha de São Bento. 
No lugar da querida igreja do nosso tempo, a tenacidade de Monsenhor Cerqueira conseguiu erguer um dos mais belos templos da terra mineira, templo que o pincel do Pagnacco decorou de um modo brilhantíssimo, templo que lá está garboso, levantando triunfalmente para o azul as flechas agudas de seus altíssimos campanários e dominando o casario da nossa velha cidade, tão querida, templo grandioso, pregão altissonante dos sentimentos religiosos dos meus patrícios, mas, cuja vista imponente não destrói em minha alma a lembrança, que nela existe, nítida, encantadora e saudosa, da velha igreja inacabada do meu tempo! 
São um reflexo pálido dessa torturante saudade as linhas que aí deixo. 
 
Bento Ernesto Júnior 
Ubá, 22 de novembro de 1915. 
 
 
III. BIBLIOGRAFIA 
 
 
BARBOSA, Waldemar de Almeida: Dicionário histórico-geográfico de Minas Gerais, Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1995, 390 p.  
 
BRAGA, Francisco José dos Santos: FESTA DE SÃO SEBASTIÃO em S. João d'El-Rey em 1919, postado em 30/06/2017 no Blog de São João del-Rei  
 
FONSECA, Gustavo Oliveira: A ATUALIZAÇÃO DA TRADIÇÃO: arquitetura e arte religiosa em Itapecerica, MG (1757-1927), tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História da UFMG para obtenção do título de Doutor em História em 2018, e publicada em formato de livro em Divinópolis: Boutique do Livro, 2022, 455 p. 
 
MOREIRA, Vivaldi: Esboço histórico da Academia Mineira de Letras, postado em 09/03/2023 no Blog de São João del-Rei 
 
SOUZA, Melina Teixeira: O Reinado de Itapecerica no século XX: distintos sentidos de tradição, Anais do Encontro da ANPUH-MG de 26-29/07/2016 na UFTM-Uberaba/MG, 9 p.

segunda-feira, 3 de abril de 2023

PROFESSOR DE FELICIDADE


Por LUIZ CÉSAR SARAIVA FEIJÓ * 

Um Fantasma em Crônicas, Prox do Brasil, Blumenau, 2021

 

Vou falar na primeira pessoa, porque a mentira nunca vem em primeiro lugar em qualquer narrativa. Ela vem, muitas vezes dissimulada, lá no fim da história. Às vezes, no meio. O que vou narrar são fragmentos de uma vida dedicada ao ensino, verdadeiramente. Atividades dentro de salas de aula, durante muitos anos... 
 
Há mais de 60 anos eu inovava em sala de aula, tentando ser diferente, pois percebi, logo que iniciei minhas atividades docentes, que os alunos não mais se interessavam pelo blá, blá, blá de uma escola que não atendia às ansiedades deles. A Escola envelheceu rapidamente. Ou não acompanhou a modernidade que chegava rapidamente. 
 
Minhas novidades pedagógicas surgiram muito antes da Lei 5.697, de 1972. Aboli, definitivamente, as notas, substituindo-as por conceitos. Quem foi meu aluno, nesse tempo, deve ainda lembrar daqueles desenhos em forma de notas. Figurinhas motivacionais servindo de conceitos, que se encaixavam na faixa etária das primeiras séries do então Curso Ginasial. Ficaram famosos, entre a gurizada, ei-los: Porquinho Rindo; Porquinho Sério; Porquinho Triste e Porquinho Desesperado. Não havia correspondência entre estes termos linguísticos e os números. Era só isso, mesmo. Os alunos pareciam que gostavam da minha avaliação e percebiam que com um bom desempenho na avaliação, todos ficavam felizes, e como sorriam... mas ao receberem um desenho de porquinhos aflitos, agitados, percebiam, também, que o tal Porquinho Desesperado não era lá mesmo uma boa coisa. Evidentemente, aquilo era o resultado de algo nada interessante para a sua vida escolar. E ficavam tristes. Mas a tristeza passava rápido, porque, olhando para a figura dos porquinhos desesperados, ingenuamente riam e a ludicidade daquele ícone não agredia como os numerais 1, 2 e ZERO. De fato, ninguém queria ter uma coleção desses suínos... mas que eles eram bonitinhos, eram, sim! Em sua ingenuidade, chegavam a interpretar aquilo como uma brincadeira. Aquelas crianças aceitavam essa nova forma de materializar um desempenho escolar estou certo disso porque a nota em forma de desenho, uma quase brincadeira mesmo, representava, no fundo, no fundo, o seu desempenho nas provas e a sua dedicação aos estudos. De fato, havia embutido nos conceitos, um valor, ao mesmo tempo subjetivo e objetivo. Um troféu gostoso, lúdico, para o desempenho de cada um. Nada de destruir a participação do aluno, muitas vezes criativa, nas tarefas propostas, com palavras incompreensíveis, sem censura, sem rabiscos alusivos aos erros ou equívocos. Eu não rabiscava a prova de meu aluno. Nada disso. Evidentemente, não valorizávamos, também, o erro. 
 
Abolimos, em seguida, o uso do terno e gravata como uniforme do professor em sala de aula, substituindo-o pelo jaleco branco. Fiquei até parecido com médico. Foi uma atitude unilateral, passível de repreensão, eu sei, mas o calor de 40° da Cidade Maravilhosa, em seus verões de arrepiar, falou mais alto... Abolimos, logo depois, o uso do livro didático em sala de aula e sofremos a fúria das editoras especializadas. Passamos a usar qualquer jornal do dia, sem exigir nenhum, em especial. Tentávamos fazer com que o aluno adquirisse o hábito de comprar e ler jornal, mesmo em dia de recesso, feriados, fins de semana e férias... Pouca coisa? Creio que não. Eles participaram, pela primeira vez, de uma relação comercial e aprenderam a gostar de ler, além de exercitar as contas aritméticas, praticando o troco e aprendendo a economizar num produto mais barato (havia jornais de vários preços naqueles tempos). Todos gostavam de ler, nos jornais, a seção das Histórias em Quadrinhos, um “entre lugar”, dividido com a literatura e o cinema. Nunca eles haviam comprado alguma coisa sadia, para consumo próprio. Estavam comprando e consumindo informações e notícias, as mais variadas possíveis, a primeira parcela de uma enorme conta de somar, na contabilidade da vida, formando, cada um, o seu repertório cultural. Eles, os alunos, aprimoravam, com o jornaleiro da esquina da escola, a sua matemática e desenvolviam a prática de se expressar em público, pedindo claramente o que desejavam. Pouca coisa? Mais uma vez, não! O próximo passo foi abolir o tradicional quadro-negro. Bem, nem todo. Deixei uma parte para fixar algo importante. Só a usávamos, basicamente, para a fixação da aprendizagem. Creio que pela primeira vez se utilizou, em colégio público, nas aulas de Língua Portuguesa, material tão, aparentemente, incompatível com fonemas, sílabas, classes de palavra, conjugações, vozes verbais, figuras de sintaxe, polifonia, metafonia. Apresentávamos essas coisas de nomes esquisitos, através de situações, retiradas dos textos dos jornais e de histórias contadas. É claro que isso não era tudo de improviso. Dava um trabalhão... 
 
Tudo era misturado a muita alegria e satisfação. Passamos também a usar cola plástica, tesoura, barbante, papel de mimeógrafo, recortando as notícias do dia, interpretando-as e com elas partindo para a leitura e para as análises de todos os tipos programáticos, montando até um novo jornal, deixando a sala imunda para o professor seguinte de outra matéria, que me substituiria. Como os serventes trabalhavam! Depois de algum tempo e muitas reclamações, as aulas de Língua Portuguesa passaram a ter mais alguns minutos de duração e foram colocadas nos últimos seguimentos do horário do dia, fechando o turno da manhã, para faxina geral. Ocorreu, então, mais uma aceleração pedagógica, inovadora, com reflexos futuros, pois as aulas de Curso Ginasial passaram a ter 100 minutos de duração. O primeiro colégio do Rio de Janeiro a adotar essa nova minutagem foi o Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira da Universidade do Rio de Janeiro (UERJ). 
 
Estas foram algumas atitudes pedagógicas tomadas há mais de 60 anos, em escolas públicas oficiais, sob a responsabilidade da Secretaria de Educação do Estado da Guanabara, hoje, Estado do Rio de Janeiro. Sabem em que colégio tudo isso começou? Nada mais, nada menos que no maior colégio do Rio de Janeiro, na época: o Instituto de Educação, aquele mesmo! Aquele prédio lindíssimo, em estilo barroco mexicano, na Rua Mariz e Barros, 273, entre a Praça da Bandeira e a Tijuca, que formava as nossas professorinhas primárias, com diminutivo afetivo e tudo. Pelo que fizemos, quase apanhamos das mães dos pequeninos alunos que não entenderam imediatamente o que estava acontecendo. A Direção queria me expulsar do magistério. Lutei bravamente, numa época difícil de regime político de exceção, mas consegui não ser penalizado e, de certa forma foi reconhecido, saindo até vitoriosa a minha teoria revolucionária de motivação na aprendizagem. Se fomos seguidos? Não importa. O que importa é que fomos reconhecidos, não imediatamente, pois a educação é um processo, lento e contínuo. Não existem frutos para serem colhidos imediatamente. A safra custa amadurecer... 
 
Depois do Instituto de Educação fomos trabalhar no Colégio Estadual Gomes Freire de Andrade, no subúrbio da Leopoldina, na Penha. Lá também inovamos. Criamos a primeira radioescola do Brasil, em colégio público de Nível Médio, graças à compreensão de seu diretor, um professor fabuloso, um homem de bem, de fina sensibilidade, filólogo e poeta. O Professor Jairo Dias de Carvalho, que já não está entre nós, tornou-se meu grande amigo, desde os bancos escolares da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Jairo Dias de Carvalho dirigiu o Colégio Estadual Gomes Freire de Andrade com saber, dignidade, patriotismo e democracia plena, em tempos muito difíceis, de estado de exceção conflagrado institucionalmente. Recebeu com todo respeito e atenção meu projeto inovador de Comunicação Pedagógica, implantando no colégio que dirigia, a Radioescola Gomes Freire de Andrade. O empreendimento foi reconhecido pelo Secretário de Estado de Educação, na época, Celso Octávio do Prado Kelly, pai do João Roberto Kelly, o músico carnavalesco de marchinhas irreverentes, estão lembrados? 
 
De lá saí para o Colégio Estadual Barão do Rio Branco, na última estação do trem da Central do Brasil, bem depois de Campo Grande. Ficava no Matadouro de Santa Cruz. Lá, introduzimos a semente dos festivais de música e poemas escolares, numa “mistureba” cultural de shows e poesia. Além disso, construímos, com recursos próprios, uma sala especial de Latim. Isso mesmo, Latim. Parecia uma sala de museu. Gastei meus parcos recursos. Suados cruzeiros, cruzados e muitas novas moedas das quais não mais lembro seus nomes, nem delas tenho saudade. Mas tudo em educação, se não tiver muito amor, comprometimento, conscientização e continuidade, se esvai como água entre os dedos e a sede do saber não satisfaz o desejo de se crescer intelectualmente. Lutei muito. Coloquei em livretos todas essas experiências, que o editor, Lúcio de Abreu, da Editora Gernasa, publicou para orgulho meu. Lúcio de Abreu foi um arauto da boa e inovadora educação; um grande amigo, que também já se foi e a quem muito devo, por acreditar nas “maluquices" de um jovem e inquieto e iniciante professor. Nunca acreditei que somente o cuspe e giz pudessem servir para muita coisa dentro de uma sala de aula. 
 
Pois é, existe ainda no Brasil uma grande defasagem entre o que o aluno espera da escola e aquilo que ela lhe oferece. É verdade. Desenvolvi esse tema também em um livreto da Editora do Lúcio de Abreu. Do meu bom amigo Lúcio... 
 
Se estes fragmentos memoriais vão servir para alguma coisa, não sei dizer. Sei que enquanto me lembrar do que fiz de bom, de útil e correto vou registrando, antes que as nuvens negras da tempestade cerebral descarreguem seus raios fúlgidos, mas trágicos, em minha cansada memória e apague tudo. Nessa época atual, em que a figura do professor está tão desprestigiada, sirva essa voz tosca de um mestre-escola, para mostrar que ensinar é ainda a mais nobre de todas as profissões. Assim, entendo e sempre entendi que o professor tem de ser mestre do absurdo, porque só os grandes impactos constroem, enquanto as pequeninas coisas, sempre repetidas, decoradas, corroem, enjoam e estragam a nossa vida, a vida de todos nós, a vida do homem comum, a vida de nossos alunos. Todos nós precisamos e, o aluno, em particular, precisa de felicidade para viver, desenvolvendo-se confiante. É dever do professor abastecer essa demanda. O professor, antes de tudo deve ser professor de felicidade.
 
Fonte: Um Fantasma em Crônicas, por Luiz César Saraiva Feijó (p. 73 a 78).
 
* Professor Adjunto aposentado da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Membro da Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), ocupante da cadeira nº 28.

Colaborador: LUIZ CÉSAR SARAIVA FEIJÓ

Sou Luiz César Saraiva Feijó, nascido na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, no Bairro da Lapa,  em 03 de março de 1937, filho de Cypriano Corrêa Feijó e Neide Dias Saraiva Feijó. 

Meus avós paternos, Joaquim Pinto Feijó e Emília Corrêa Feijó eram portugueses, de Oliveira de Azeméis, portanto estou a pedir dupla nacionalidade às autoridades da Conservatória de Lisboa, com Processo em curso, iniciado em novembro de 2019, estando em fase de apreciação. 

Meus avós maternos eram brasileiros, porém com raízes profundas em Portugal. 

Sou casado com Maria da Glória Costa Feijó e temos 4 filhos e 9 netos.

Sou professor universitário, aposentado de duas Universidades do Estado do Rio de Janeiro. Uma Federal (Universidade Federal Fluminense – UFF ) e outra Estadual (Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ ). Sou membro da Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL), ocupante da cadeira nº 28. Minha área de conhecimento: Letras Clássicas, Linguística, Literaturas Brasileira, Literatura Portuguesa e Jornalismo. Sou Mestre em Sistemas da Significação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.  Sou articulista, há 28 anos, do jornal O PROGRESSO DA FOZ, Porto, Portugal.  

Fonte: Recanto das Letras