quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Carta de frei Orlando, direto do "front", na Itália

Por Francisco José dos Santos Braga






I.  INTRODUÇÃO






Folheando a revista O Santuário de S. Antônio, dirigida por Frei Osório da Silva Santos o.f.m. e publicada em Divinópolis-MG, Ano 18, nº 6, ano de 1945, p. 86-91, deparei-me com três matérias a respeito de frei Orlando, uma de seu próprio punho e as outras, de pessoas que o admiravam.
Primeiro, com o título Cartas da Itália, subtítulo Natal no "front", uma carta de frei Orlando descrevendo seu último Natal neste mundo, em fins de 1944. Essa carta se reveste de suma importância, já que no dia 20 de fevereiro de 1945 entregaria sua vida nas mãos do Salvador, portanto escrita quase "in extremis". ¹
Imediatamente após essa transcrição da carta do "front", escrita por frei Orlando logo depois do Natal de 1944, pode-se ler um texto intitulado "Frei Orlando", da autoria do então Sargento Gentil Palhares, com a seguinte anotação após o título: (Copiado d' "O Cruzeiro do Sul", publicação do Serviço Especial da F.E.B. — Itália,  8 de abril de 1945).
Por fim, transcrevo um texto da autoria de Clementina Anchieta do Prado, da cidade de (São João) Nepomuceno, com curiosas referências a uma carta escrita por frei Orlando quando estava ainda na Vila Militar, datada de 19/09/1944.

Portanto, neste último mês do ano de 2013, em que celebramos o Centenário de Nascimento do Capitão Capelão Frei Orlando, tenho o prazer de brindar os leitores do Blog de São João del-Rei com esses textos raros, que localizei e que são reproduzidos neste espaço, respeitando a sua ortografia.

Lembro que o Blog de São João del-Rei, anteriormente, no intuito de prestar homenagem ao Centenário de Nascimento de Frei Orlando, contribuiu para a divulgação dos feitos, da vida e da obra desse herói religioso mineiro, através da reprodução de um longo artigo intitulado Centenário de Nascimento do Capitão Capelão Frei Orlando (1913-2013), com base em estudos realizados pelo Historiador Militar Cláudio Skora Rosty publicados na Revista Verde-Oliva, Ano XL, nº 219, abril de 2013, p. 6-21.

Para situar o leitor que ainda não conhece a biografia de frei Orlando, em rápidas pinceladas vou apresentar os principais fatos de sua vida, a saber: frei Orlando nasceu em Morada Nova de Minas em 13 de fevereiro de 1913 (seu nome de batismo era Antônio Álvares da Silva); fez o curso primário em Abaeté; em 5 de janeiro de 1925 ingressou no Colégio Seráfico de Divinópolis (Seminário Menor), tendo terminado seus estudos na Holanda (1931-1935); regressou ao Brasil para ser ordenado sacerdote franciscano no Santuário de Santo Antônio de Divinópolis em 24 de outubro de 1937; em dezembro de 1938 foi nomeado professor de Português e História Geral no Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei; alistou-se voluntariamente e foi nomeado Capelão Militar do 11º Regimento de Infantaria (Regimento Tiradentes) através do Decreto nº 6.535, de 26 de maio de 1944 e Portaria nº 6.785, de 13 de julho de 1944; juntou-se na manhã de 20 de julho de 1944 ao 11º R.I. que se achava acantonado nos barracões do Morro Capistrano, na Vila Militar do Rio de Janeiro; com os "pracinhas", em 22 de setembro de 1944, a bordo do navio General Meigs seguiu para a Itália, onde viveu menos de cinco meses, por ter sido vítima de um disparo acidental do fuzil de um sargento da resistência italiana em 20 de fevereiro de 1945, nas proximidades da cidade de Bombiana, na véspera da conquista de Monte Castelo.

Esta Introdução, Agradecimentos e Notas ao texto são de minha autoria.



II.  CARTAS DA ITÁLIA (NATAL NO "FRONT")


O futuro costuma trazer-nos sempre novas surpresas. Assim nunca pensei passar um dia de Natal nas circunstâncias em que o passei no ano findo. Em outros anos quantas festas, quantas alegrias vinham unir-se ao júbilo do coração cristão, neste dia tão precioso para tôda a humanidade!
Neste ano restou-me apenas a grande consolação de me encontrar no meio dos soldados brasileiros combatentes na primeira linha, servindo de intermediário das graças divinas que os devem ter fortalecido no meio de tantas lutas e sacrifícios.
Foi assim que ali pelas 6 horas da tarde — já escuro e frio — que deixei o meu ponto de partida para ir a uma das companhias do meu batalhão. Escolhi aquela que mais perto se encontrava do inimigo.
Era véspera de Natal. As montanhas e as planícies cobriam-se de um vasto lençol de branquíssima neve. Não resta dúvida que os panoramas visto à luz do dia, são belíssimos. A neve forma caprichosamente as mais diferentes figuras nos galhos e nas copas das árvores, sôbre os tetos das casas e nas encostas das montanhas. Entretanto, para quem sobe pelas veredas abrigadas das vistas do inimigo, especialmente naquela hora em que empreendi a subida, tudo perde a poesia do inverno europeu, e, oh, quanto se deseja aquêle calor amigo, e aquela lua clara do Brasil...
O caminho era difícil. Subida íngreme, por uma vereda coberta de mais de 20 cm de neve. Na frente ia o guia, atrás dêle o capelão, com o bornal carregado de todos os objetos necessários para a celebração da missa. Íamos silenciosos, ouvindo apenas o barulho da neve sob os nossos pés: Tchap... tchap... tchap...
Em outros lugares onde o vento depositara mais neve, tornava-se dificílima a ascensão da serra. Em outros, por onde o trânsito fora maior, formaram-se verdadeiros escorregadouros. Foi num dêsses que vi o meu guia espichar-se de comprido no solo... Em um outro, mais acima, fui eu, o capelão, que lhe seguiu o exemplo... Estávamos 1 x 1 !
Paramos por três vêzes na subida da serra. O suor corria-me pelas costas. O coração palpitava forte. Parecíamos duas máquinas de guerra, cujo motor trabalha forçadamente...
Depois de uma hora e meia, chegamos finalmente ao comando da companhia. O capitão esperava-me.
— Bem, capelão — vamos descansar um pouco, enquanto mando reunir os homens "disponíveis". O senhor compreende que não podem vir todos. O tedesco é perigoso, mesmo na véspera do Natal...
Assentei-me junto à lareira da casa. Ali vi uns poucos soldados, e o pessoal que ainda restava na casa. Uma velha, uma senhora mãe de duas crianças, e uma outra que se refugiou naquela casa. Ali por perto havia ainda outras pessoas, que não quiseram ou não puderam abandonar suas moradias.
Ali pelas oito e meia comecei a atender as confissões. E enquanto passavam os minutos, iam passando pelos meus dedos as contas do têrço, marcando as confissões: 15, 20, 30, 50... 65, e mais algumas de civis que havia muito tempo não assistiam à missa, 82 confissões.
Às 11,30 fui preparar o altar, em companhia de um cabo e um tenente.
Onde celebrar a missa? O único lugar onde cabia aquela turma tôda era o depósito de feno!
E assim colocamos o altar bem no alto, em cima do feno, amarrado em fardos quadrados.
Ao lado do monte do feno, estava a estrebaria. Umas dez vacas dormiam ali sossegadamente!
Em cima do feno, ao redor do altar, se colocaram os soldados, e os civis vizinhos, que estavam radiantes de poder assistir à missa de Natal.
Impressionou-me profundamente tudo aquilo. A luz só podia ser as duas velas da missa. Os homens entravam em pequenos grupos de três a cinco, ràpidamente, como alguém que pretende fazer uma ação maldosa.
E no meio do silêncio, ouvia-se apenas as vacas, que, talvez aproveitando a claridade tênue das velas resolveram a comer um pouco...
À meia noite comecei a missa. "Introibo ad altare Dei..." Ouvi o barulho da assistência que se ajoelhava sôbre o feno.
Estava iniciado o meu Natal no "front". Ali na nossa frente, bem pertinho, talvez menos de 300 metros, estavam os terríveis alemães. Não sei se êles também têm seu capelão que naquela hora devia começar também sua missa do galo. Sei apenas que os nossos soldados brasileiros rezavam com devoção e fervor "Gloria in excelsis Deo et in terra pax hominibus..."
Que contraste! Na terra paz aos homens... Só via ao redor de mim homens de farda, e no meio do feno caixotes de granada...
Na hora da prática ² falei aos soldados sôbre aquêle contraste. Li para êles o Evangelho da missa. E mostrei-lhes que o anjo não dissera só paz aos homens, mas acrescentou: de boa vontade!
Sim, houvessem os homens boa vontade, não estaríamos ali, naquele frio, sob aquêles tetos nevados!
Boa vontade, é oposto de ambição. Pois ambição política, territorial, racial, social, enfim a ambição sob seus múltiplos aspetos, é a causa desta guerra!
E os soldados ouviam-me atentos.
Terminei falando naquêles outros dias de Natal felizes, que passávamos juntos dos nossos na Pátria distante! Que diferença!
E aquêles homens que não temem a morte, e que se não curvam diante do perigo, muitos dêles, eu vi baixar a cabeça e limpar lágrimas indiscretas de saudade e de emoção...
Terminada a solenidade, novamente aos grupos, êles desapareceram na escuridão.
Estava terminada a minha noite de Natal. Um Natal sem presépio; um Natal sem cânticos; um Natal sem árvore de Natal e sem presentes.
Era o Natal cheio de saudades, do soldado brasileiro na primeira linha de frente...
frei Orlando Álvares
Capelão da F.E.B.
(† 20 de fev. de 1945)
Itália, 2-1-45 


III.  FREI ORLANDO
(Copiado d' "O Cruzeiro do Sul",  publicação do Serviço Especial da F.E.B. - Itália, 8 de abril de 1945).

Justamente no dia em que rejubilávamos com o sucesso das nossas armas sôbre o Monte Castelo, ecoava, dolorosamente, a notícia do trágico desenlace do nosso Capelão Frei Orlando (Antônio Álvares da Silva). A esta hora muitos dos que se dão ao manejo da pena e do vernáculo, estarão, sem dúvida, cantando bem alto os méritos daquele que em vida, soube ser o amigo de todos, o bom conselheiro, que animava e encorajava sempre.
Há, em o nosso querido Brasil, uma cidadezinha, engastada nas montanhas de Minas, que tem — não se sabe por que artes — o condão de atrair a seu regaço aqueles que, por quaisquer circunstâncias, batem às suas portas. É uma bela e histórica cidade, onde a religião faz parte de sua vida e os templos de pedra dizem da Fé de seu povo: os sinos têm a magia que encanta o forasteiro e falam e choram e gemem e soluçam! Foi a essa cidade, que acode pelo nome de São João del-Rei que, em 1937, aportou o jovem Frei Orlando, afim de integrar a comunidade dos franciscanos, ali sediada. Espírito esmoler, comunicativo, figura impressionante e simpática, o jovem franciscano não tardou se fizesse amigo de todos, angariando a estima de que era merecedor.
São João del-Rei viu no novo franciscano um enviado de Deus que, chamando ao Seu Reino em 1925 a Frei Cândido, legava à cidade, na falta dêste último, o coração boníssimo de Frei Orlando. E, desde então, o seu peregrinar pela histórica cidade foi um rosário de bênçãos, de sacrifícios e de luta em prol dos necessitados e, não raro, era vê-lo, de porta em porta, pedindo donativos com que socorresse os pobres. Auxiliado por diversas pessoas amigas, onde se destacam as famílias Nascimento, Teixeira e Viegas, fundou, em boa hora, a "Sopa dos pobres", que, na Praça do Rosário ³, acolhia, diàriamente a centenas de velhos e crianças, afim de lhes matar a fome. Qualquer caso angustioso que traziam ao seu conhecimento, não media sacrifícios e se empenhava, logo, para saná-lo, moral ou materialmente. Era o Pai dos Pobres e o bem que lhes fazia, era muitas vêzes anônimo, sem alarde ou ostentação. Contam, a seu respeito que, certa vez, necessitando de um saco de arroz para a sua obra benemérita da Praça do Rosário e, como não sabia a que porta bater, procurou um amigo, na rua da Prata, afim de consultá-lo sôbre como adquirir o gênero em questão. Na residência dêsse amigo, que era médico, achava-se, a negócio, o representante dos comprimidos "Melhoral". Frei Orlando entrou no assunto e o médico dando certa importância citou outros nomes capazes de auxiliá-lo. Porém, o Pai dos Pobres não se deu por satisfeito e, dando uma daquelas gargalhadas que o caracterizavam, bateu no ombro do representante dos comprimidos e disse-lhe: "Que tal se eu fizer uma propagandazinha do seu produto, amanhã, à hora da missa, em trôco do saco de arroz?" e riu gostosamente! O viajante ficou perplexo! Não acreditava naquilo, não era possível que êle, Frei Orlando, tivesse coragem para tanto, mas aceitava o trato e compareceria à igreja. No dia seguinte, num domingo cheio de sol, o templo estava repleto de fiéis. À hora da prática costumeira, Frei Orlando subiu ao púlpito, persignou-se, limpou os óculos e sorriu brandamente. Em meio ao assunto do dia, não se sabe como, ante a admiração dos que o ouviam, saiu com a história do Melhoral, numa referência suave, atraente, salpicada de humorismo. O povo, que bem o conhecia, percebeu que qualquer coisa se passava e, se entreolhando, abafava a bôca para não rir. Mas Frei Orlando não os deixou interrogando o caso. Terminada a prática, disse: "Com o Evangelho de hoje a Sopa dos Pobres ganhou um saco de arroz." Frei Orlando era assim...
Frei Orlando e a sua Sopa dos Pobres em São João del-Rei


Como ministro de Deus, São João del-Rei vai chorá-lo pelos anos em fora. À notícia de sua morte os sinos do templo franciscano, que êle tanto amava, dobrarão a finados; o Ginásio, de que êle foi lente emérito, hasteará a nossa bandeira; o povo chorá-lo-á sem consôlo; os pobres erguerão, sem dúvida, os olhos ao Criador como que perguntando-lhe aflitos: "Ó Deus, por que nos roubaste o nosso Pai na terra?"
E a dor será imensa, o pesar incalculável!
Êstes serão os clamores de que conheceu Frei Orlando como sacerdote.
Como soldado, foi outro apóstolo incansável e a nossa história futura irá dizer bem alto do seu valor, intrepidez, desprendimento, estoicismo e abnegação!
Reverenciemos a sua memória!
Sargento Gentil Palhares



IV.  À saudosa memória de Frei Orlando

"E os soldados, de pé, rezavam...
Ave Maria... rogai por nós, pecadores..."

Mais um herói que tomba no teatro da guerra! Mais um inocente que, por amor à Pátria e seus irmãos soldados, sacrificou sua vida nos campos da luta.
Choro a perda de frei Orlando como amigo e protetor de meu filho, como amigo e protetor dos soldados do 11 R. I. Choro com seus irmãos, com os sanjoanenses e com o clero brasileiro que perde uma jóia de inestimável valor! Minhas rudes palavras não podem, nem de leve, dar uma vaga reminiscência da vida dêsse ilustre Sacerdote, que foi um sábio, um justo, um herói e o verdadeiro Brasileiro. Êle, seguindo os ensinamentos do Divino Mestre, deixou tudo para servir a Deus e à Pátria. Tenho uma carta de Frei Orlando, datada de 19-9-944 da Vila Militar, em resposta a que lhe havia escrito. Entre os trechos belíssimos que ela contém vou citar alguns que me calam no fundo d'alma: 
"A graça de Deus proteja tanto o João como a sua família.
Quem dá no momento um filho à Pátria, o dá também a Deus.
Minha boa senhora, a guerra está agonizando! Talvez nem entremos em combate."
Sim, Frei Orlando, e na agonia, a guerra ceifou a sua vida tão preciosa! Roubou dos nossos queridos soldados brasileiros do 11 R.I. o pai carinhoso, abnegado, que certamente muito os consolaria longe da Pátria e do lar.
Num outro trecho disse êle: "Recomenda-me em suas orações e da minha parte prometo-lhe primeiro cuidar especialmente do João e também lembrar-me da senhora em minhas orações."
Quanta abnegação! Quanto confôrto nestas frases para um coração de mãe, ferido pela separação do filho que vai para a guerra! Isto é sublime e admirável... porque nós, as mães dos expedicionários, raramente encontramos corações generosos que assim se nos dirijam. Nas noites de insônia, na agonia da saudade, relendo essa carta confortadora, sentia-me aliviada porque sabia que junto ao Gingim estava Frei Orlando. Agora que tudo ressoa um hino de saudade, e que os soldados perderam o maior amigo que perdeu a vida no fragor da luta... com os lábios trêmulos e o coração comovido, faço uma prece para a alma de Frei Orlando e suplico-lhe que continue em espírito, ao lado dos soldados que tanto êle amou. Releio ainda um outro trecho de sua carta: 
"Alegremo-nos com os sofrimentos na esperança de uma Pátria mais abençoada de Deus."
Lá no céu, na Pátria celeste, peça a Deus que se compadeça de nossos corações de mães — dando a paz ao mundo e o regresso de nossos filhos aos nossos lares. Frei Orlando, as suas cartas no "Santuário de S. Antônio" são belíssimas, e nelas refletem a grandeza de sua alma! As suas fotografias trazem sempre o sorriso da bondade e da ternura.
Entre as muitas cartas que escreveu, vou citar aquêle trecho em que disse:
"Onde estão os patriotas que apedrejaram as casas, caluniaram os padres como partidários nazistas?" A culpa dêsses imprudentes, pagou com o seu sangue inocente nos campos de batalhas.
Ao terminar minhas referências do saudoso Frei Orlando, que faço com alma genuflexa de gratidão, volto o meu pensamento à frase que serve de epígrafe a estas linhas, copiada de uma carta sua de 3l-8-44: "E os soldados de pé rezavam... Ave Maria... rogai por nós, pecadores...".
Isto, porém, foi no primeiro acampamento de Frei Orlando, com os soldados do 11 R.I.; tendo como igreja a praia banhada pelas águas do mar, a cúpula — o firmamento cheio de estrêlas.
Mães brasileiras! Na hora solene da Ave Maria, de joelhos, com fervor, rezemos uma Ave Maria pelas almas dos soldados expedicionários mortos em campo de batalha, pela vida dos prisioneiros nas garras dos nazistas e pela alma de Frei Orlando, e pedindo-lhe: Rogai por nós pecadores...
Nepomuceno, 19 de março de 1945.
Clementina Anchieta do Prado ⁴



V.  AGRADECIMENTOS


Gostaria de registrar meu agradecimento sincero ao pesquisador Prof. Evandro de Almeida Coelho por haver preservado em seu acervo a referida Revista Santuário de Santo Antônio, e principalmente por cedê-la a este autor, para que milhares de leitores pudessem também partilhar dessa memória nacional e coletiva. O Brasil é que ganha com esse gesto generoso do nobre pesquisador são-joanense.
Ao historiador Silvério Parada agradeço o envio da fotografia da Sopa dos Pobres.
Ao pesquisador, escritor e músico Aluízio José Viegas, meu reconhecimento pela valiosa contribuição esclarecendo sobre a exata localização da Sopa dos Pobres.


VI.  Notas de Francisco José dos Santos Braga


¹  A locução latina "in extremis" significa "em caso extremo, nos últimos momentos da vida".

²  Homilia.

³  Como não fui contemporâneo de Frei Orlando, indaguei do pesquisador, escritor e músico Aluízio José Viegas a respeito da exata localização da "Sopa dos Pobres", referida no texto de Gentil Palhares, como estando na Praça ou Largo do Rosário (atual Praça Embaixador Gastão da Cunha). Recebi um e-mail com o seguinte comentário do pesquisador Viegas em 3 de dezembro de 2013, ricamente emoldurado por muitas informações complementares, que transcrevo para júbilo meu e dos meus leitores: 
"No Largo do Rosário, a Sopa dos Pobres organizada pelo Frei Orlando, funcionou onde hoje é a casa residencial do Fábio Pereira de Andrade e Flora Aechmea.

Eu me lembro perfeitamente.

A foto que está estampada no seu trabalho "Centenário de Nascimento do Capitão Capelão Frei Orlando (1913-2013)" é a primeira construção feita nos fundos do início da Rua da Prata, fundos da casa do Dr. Thales Nascimento.

No mesmo lugar, depois, foi construída uma sala maior e uma das responsáveis e que muito ajudava era a Carmelita Jorge Abdala, irmã do Padre José Jorge Abdala, isto já na década de 1950 e tantos, pois houve continuidade do movimento, nos mesmos moldes que Frei Orlando iniciara a obra. 

Foi tão intenso o movimento que se construiu um prédio próximo à ponte do Athletic Club, antes de entrar propriamente no bairro de Matosinhos. Na parte superior desse prédio morou longos anos o Benito Mussolini Grassi de Lellis , que pagava um aluguel irrisório ao Movimento da já então chamada "Sopa dos Pobres Frei Orlando".

Ainda me lembro de carroça indo buscar periodicamente os ossos que se usava para fazer o caldo da sopa, aproveitando-se o tutano. O ossos eram levados para se fazer farinha de osso utilizada como adubo fertilizante, vendida na 11ª Circunscrição Agropecuária, onde meu pai trabalhava. O fabricante da farinha era o Mário Rodrigues Silva, que tinha fábrica para tal no final de Matosinhos.
"
Portanto, segundo a abalizada informação de Aluízio Viegas, a Sopa funcionou inicialmente na primeira casa no topo direito do Beco da Romeira (hoje Rua João Pequeno), onde na minha infância funcionava a Alfaiataria do Lelé, e na casa contígua.

O nome de D. Clementina Anchieta do Prado foi citado quando o site "Nepomuceno" estampou um elogio à personalidade do Prefeito Alberto Corrêa Lima, o "Zinho". Segundo o referido site, D. Clementina era professora na Escola Estadual "Cel. Joaquim Ribeiro" em Nepomuceno, quando aquele frequentou seu curso primário.
Fonte: http://www.nepomuceno.com.br/home.php?way=personalidades&pagina=include.php&pagina2=personalidades/Alberto_Corr%EAa_Lima,_Zinho_(1916)

* Francisco José dos Santos Braga, cidadão são-joanense, tem Bacharelado em Letras (Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, atual UFSJ) e Composição Musical (UnB), bem como Mestrado em Administração (EAESP-FGV). Além de escrever artigos para revistas e jornais, é autor de dois livros e traduziu vários livros na área de Administração Financeira. Participa ativamente de instituições no País e no exterior, como Membro, cabendo destacar as seguintes: Académie Internationale de Lutèce (Paris), Familia Sancti Hieronymi (Clearwater, Flórida), SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro), CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro), Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-MG, Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ, Academia Divinopolitana de Letras, Instituto Histórico e Geográfico do DF, Academia Taguatinguense de Letras e Academia Barbacenense de Letras. Possui o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com), um locus de abordagem de temas musicais, literários, literomusicais, históricos e genealógicos, dedicado, entre outras coisas, ao resgate da memória e à defesa do nosso patrimônio histórico.Mais...

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Elegia (em prosa) proferida pelo escritor e historiador GENTIL PALHARES em homenagem a ROQUE DA FONSECA BRAGA



Por Francisco José dos Santos Braga




Homenagem a meu pai Roque da Fonseca Braga (1918-1984), in memoriam.


I.  INTRODUÇÃO

Sic transit gloria mundi... Em 26 de setembro de 1984, Roque da Fonseca Braga nos deixava desamparados de sua presença confortante. 

No aniversário de vinte e nove anos de sua viagem à Eterna Morada, meu querido pai Roque será lembrado neste post. Naquele fatídico dia, deixava este mundo entregue à sua própria sorte, depois de quatro anos de intenso sofrimento devido ao uso do tabaco por cerca de cinquenta anos, tendo igualmente, em seu currículo, mais de cinquenta anos de serviços efetivos prestados a muitas instituições são-joanenses. À memória vêm-me os nomes de pelo menos as seguintes instituições, órgão público e irmandades: Banco de Crédito Real de Minas Gerais S.A., Minas Futebol Clube, Prefeitura Municipal de São João del-Rei, Companhia de Estanho São João del-Rei, Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP) - Conferência do Tijuco e Arquiconfraria de Nossa Senhora das Mercês. Deixava também seus inúmeros familiares e amigos privados de sua agradável companhia.

Roque nasceu em 15 de abril de 1918 no distrito são-joanense de São Sebastião da Vitória, terceiro filho de José da Silva Braga, "Nhonhô", e Josefina da Fonseca Braga, "Zefina". Aprendeu o ofício de sapateiro com Bernardo, que tinha uma oficina de reforma de sapatos na Praça Severiano de Rezende ("Largo Tamandaré"). Fez seus estudos secundários no Ginásio Santo Antônio, como aluno externo, na época em que o curso ginasial compreendia cinco anos (correspondendo aos quatro anos de curso ginasial e três anos de curso científico), exigindo a frequência dos alunos pelas manhãs e à tarde. Roque formou-se em 1935, na mesma turma de Júlio Teixeira, Dr. Milton de Resende Viegas, Dr. Antônio Pimenta e Pedro Farnese. Teve o incentivo de Júlio Teixeira — funcionário do Banco Crédito Real de Minas Gerais e, mais tarde, seu cunhado — para tentar o concurso no mesmo banco, tendo conseguido sua aprovação. Casou-se em 15 de fevereiro de 1947 com Celina dos Santos Braga. Dessa união nasceram oito filhos, dos quais sou o segundo, cronologicamente.

Foi tesoureiro na competente administração do presidente João Hallak à frente do Minas Futebol Clube, tendo Roque servido o Clube de sua predileção pelo período de cerca de 10 anos. Exerceu seu cargo com honradez e grandeza, dedicando-lhe parte preciosa de sua existência, no único interesse de engrandecê-lo, — o "Leão da Biquinha", —  que, nessa época, alcançou "os píncaros da glória". 

Do Banco de Crédito Real, Roque se aposentou em 1º de setembro de 1969. Tendo exercido dentro do banco todos os cargos até o de tesoureiro, em que se aposentou, foi imediatamente aproveitado pela Administração Municipal do Prefeito Dr. Milton Viegas durante curto período, em virtude de sua longa experiência bancária. Logo depois, foi contratado para dirigir o escritório da Companhia de Estanho São João del-Rei, inicialmente na cidade de Nazareno por cerca de 7 anos e depois em São João del-Rei durante cerca de 3 anos.

Sobre outros dados biográficos do meu saudoso homenageado, o leitor poderá colher informações preciosas e fidedignas do elogio fúnebre feito por seu amigo e, como ele, torcedor fanático do Minas Futebol Clube, Tenente Gentil Palhares ¹, o amigo certo das horas incertas.


II.  ELOGIO FÚNEBRE DE GENTIL PALHARES EM HOMENAGEM A ROQUE DA FONSECA BRAGA


NOSSO QUERIDO ROQUE,

Aqui nos achamos, neste momento, para lhe darmos o nosso último abraço nesta sua despedida para o PLANO ESPIRITUAL. Em nome do nosso Minas Futebol Clube, do qual foi você um de seus membros diretores, e também em nome de todos seus demais amigos, expresso a minha palavra nesta hora tão triste para todos nós, pois que à beira do seu túmulo.

Você, prezado Roque, passou pela Vida deixando traços profundos e marcantes da sua compostura, da sua honestidade, do seu vigor todo inclinado para o trabalho, jamais se mostrando impassível diante de suas atividades e de seus compromissos que foram verdadeiramente extensos pelo seio da comunidade sanjoanense, que soube admirá-lo e estimá-lo de coração aberto. Jamais poderemos olvidar a grandeza dos seus gestos, do seu exemplar desempenho como destacado funcionário do Banco de Crédito Real, onde você era largamente estimado pelos seus Chefes, companheiros e subordinados. Toda a nossa São João del-Rei o admirava e prezava, sem distinção de classe, pois a todos você sabia prender e encantar pela sua bondade, sua ternura, seu gesto sempre bondoso, terno e verdadeiramente humano. Jamais conhecendo a inatividade, incapaz de ficar parado, sempre se movimentando e agindo, agora você, Roque, está sendo tragado pela garganta da Terra.

Ao deixar o Banco de Crédito Real, por força de sua aposentadoria, passou a desempenhar elevadas funções no seio da nossa Prefeitura Municipal, mais uma vez causando a admiração, carinho e respeito de todos os seus colegas de trabalho.

No Minas Futebol Clube, você, prezado Roque, empregando os seus elevados conhecimentos técnicos de escrita e de contabilidade, fôra um dos mais destacados tesoureiros do Alvi-Celeste, o qual, numa despedida das mais tristes, ornamentou o seu caixão mortuário com a Bandeira Azul e Branca, as cores vivas do Clube ao qual você, querido Roque, dera tanto da sua capacidade e ternura ².

Passando pela Vida sem conhecer a ociosidade, você, querido Roque, mais uma vez aceitara o honroso encargo de Chefe de Escritório da Companhia de Estanho São João del-Rei  ³.

Mas, eis que uma grave enfermidade, de forma inesperada, começou a atingi-lo, e agora, aqui à beira deste túmulo, nos encontramos para a nossa despedida. As suas nobres virtudes e belas ações não só constituem um exemplo para a família sanjoanense aqui representada, mas engrandecem a própria família mineira. Sabemos que a casa do Pai tem várias moradas e que você partiu para uma delas.

Adeus, querido Roque!...

São João del-Rei, 27 de setembro de 1984 



III.  COMENTÁRIOS DE FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS BRAGA



¹  "(...) Gentil Palhares era natural de Formiga-MG, onde nasceu em 9 de março de 1909, filho de Olivério de Fontes Palhares e de Maria Clara de Melo, respectivamente contador e partidor no Fórum local e professora. Transferiu-se para São João del-Rei aos cinco anos, onde residia seu avô materno, Antônio Rodrigues de Melo, homem de vasta cultura, professor e latinista.
Estudou no Grupo Escolar João dos Santos e, posteriormente, no Ginásio Santo Antônio e no Seminário do Caraça, para onde seguiu em 1923. 
Voltou à sua terra natal, Formiga, para trabalhar na casa comercial de seu primo José Maria Palhares, naqueles tempos a maior casa de varejo do Oeste de Minas.
Em 1930 seguiu para Araxá, onde trabalhou na Singer como viajante comercial até 1932, quando retornou a São João del-Rei para ingressar no Exército como soldado. Fez carreira. Tomou parte na Segunda Guerra mundial como sargento, seguindo para os campos da Itália em 22 de setembro de 1944. No seio do Exército recebeu as seguintes condecorações: Medalha de Campanha, Medalha de Esforço de Guerra, Medalha do Pacificador, Medalha do 1º Congresso Nacional dos Veteranos de Guerra e Medalha dos 30 anos do Término da Guerra. Regressando da Itália, continuou no Exército, no 11º Regimento de Infantaria, até 1957, quando passou para a reserva como Primeiro Tenente.
Já na reserva, foi nomeado Chefe do Serviço de Recrutamento na cidade de Passos, onde permaneceu até 1959, quando regressou definitivamente a São João del-Rei, de quem recebeu, muito merecidamente, o título de cidadão honorário. 
Em 1937, quando servia como cabo na Escola de Aviação Militar do Rio de Janeiro, casou-se com a carioca Elvira Coelho dos Santos, com quem teve oito filhos.
Foi Assessor de Imprensa da Prefeitura de São João del-Rei, de forma graciosa, na gestão do Prefeito Dr. Milton de Resende Viegas, colaborando também, ininterruptamente, com a imprensa local, levando seu saber aos leitores através dos mais variados artigos e crônicas. (...) Seus textos versavam sobre os mais variados temas. 
Publicou também os seguintes títulos: De São João del-Rei ao Vale do Pó; A morte de Frei Orlando - crônicas; Roteiro Turístico de São João del-Rei; Histórico do Minas Futebol Clube; Frei Orlando, o Capelão que não voltou; São João del-Rei na Crônica; e De Tomé Portes a Tancredo Neves. Desses destacam-se dois que enaltecem Frei Orlando, Capelão do 11º R.I. na Itália e que lá tombou a serviço de Deus e da Pátria — o que demonstra mais uma faceta generosa da personalidade de Gentil Palhares, pelo fato de que, sendo espírita praticante, não deixava de respeitar e reconhecer os valores pessoais daqueles que seguiam os mais diferentes credos religiosos. O saudoso bispo Dom Delfim Ribeiro Guedes costumava referir-se a ele sempre como seu Grande Amigo Espírita. E o fato de sua esposa ser católica praticante nunca foi óbice para que tivessem vivido, por toda a vida, em perfeita harmonia e comunhão. (...)
Pessoa de espírito ativo, irrequieto, pertenceu às mais diversas instituições culturais, tais como: Academia Municipalista de Minas Gerais, Academia de Letras de São João del-Rei, Academia de Letras de Ipatinga, Academia de Letras de Barbacena, Instituto Brasileiro de Estudos Sociais de São Paulo, Instituto Histórico de Juiz de Fora e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei.
Foi presidente da Associação dos Ex-Combatentes por duas gestões. (...)  Erigiu o busto de Frei Orlando, na Av. Andrade Reis, em São João del-Rei. Foi também presidente da Associação dos Subtenentes e Sargentos, membro do Conselho Fiscal do Minas Futebol Clube, secretário da Academia de Letras de São João del-Rei e presidente do Centro Espírita Amor e Caridade. (...)
Faleceu em 11 de junho de 1994, aos 85 anos. (...)" (Breves notas biográficas extraídas do Discurso de Defesa do Patrono, pronunciado pelo Confrade José Carlos Hernández Prieto em 1º de julho de 2012 na sede do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, conforme Ata nº 471.)

Por outro lado, é atribuído aos historiadores Tenente Gentil Palhares e Dr. Paulo Christofaro o achado do primeiro Estatuto do Minas Futebol Clube (MFC), que não se achava registrado em um livro próprio e bastante corroído pela ação do tempo, junto a José Galo, outro torcedor do MFC.
(Cf  http://mineirosdomfc.blogspot.com.br/2009/07/historico-do-minas-f-clube.html)

²  Roque da Fonseca Braga é o 45º nome da relação de membros BENEMÉRITOS DO MINAS FUTEBOL CLUBE. 
(Cf  http://mineirosdomfc.blogspot.com.br/2009/07/1-isnard-barreto-2-mozart-novaes-3.html)

³  Antes da transferência do Escritório para São João del-Rei, Roque da Fonseca Braga trabalhou durante muitos anos em Nazareno durante os dias úteis e retornando ao convívio da família nos finais de semana. 
Essa "companhia de estanho", conforme ficou conhecida, era dirigida por romenos [presidente Dr. Roger Maurice Martin e diretor Pierre Cartianu (✞1989)] e seu funcionamento no distrito de Nazareno foi autorizado pelo Decreto 42169, de 28 de agosto de 1957, o qual "autorizava a Companhia de Estanho São João del-Rei a pesquisar cassiterita, TANTALITA e associados no Município de Nazareno, Estado de Minas Gerais". (grifo meu)

  Gostaria de registrar meu agradecimento sincero a meu irmão Carlos Fernando dos Santos Braga por haver preservado em seu acervo este elogio fúnebre, de autoria do Tenente Gentil Palhares, e que tenha decidido torná-lo público, para nossa alegria.



* Francisco José dos Santos Braga, cidadão são-joanense, tem Bacharelado em Letras (Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, atual UFSJ) e Composição Musical (UnB), bem como Mestrado em Administração (EAESP-FGV). Além de escrever artigos para revistas e jornais, é autor de dois livros e traduziu vários livros na área de Administração Financeira. Participa ativamente de instituições no País e no exterior, como Membro, cabendo destacar as seguintes: Académie Internationale de Lutèce (Paris), Familia Sancti Hieronymi (Clearwater, Flórida), SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro), CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro), Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-MG, Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ, Academia Divinopolitana de Letras, Instituto Histórico e Geográfico do DF e Academia Taguatinguense de Letras. Possui o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com), um locus de abordagem de temas musicais, literários, literomusicais, históricos e genealógicos, dedicado, entre outras coisas, ao resgate da memória e à defesa do nosso patrimônio histórico.Mais...

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Centenário de Nascimento do Capitão Capelão FREI ORLANDO (1913-2013)



Por Francisco José dos Santos Braga





I.  INTRODUÇÃO

Abaixo serão reproduzidos os artigos referentes a Frei Orlando, na ordem em que apareceram na Revista Verde-Oliva, Ano XL, nº 219, abril de 2013, p. 6-21, a saber: Centenário de Nascimento do Capitão Capelão Frei Orlando (1913-2013); Antônio Alvares da Silva: Infância e Vida Religiosa em São João del-Rei; Frei Orlando: A Serviço de Deus e da Pátria; A Morte do Capelão Militar Frei Orlando; O patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército; e Comemorações do Centenário de Nascimento do Frei Orlando.

Diferentemente de outras matérias publicadas neste Blog, aqui eu apenas contribuirei para a divulgação de artigos do Historiador Militar Claudio Skora Rosty, o qual colocou à disposição da Revista Verde-Oliva (uma publicação do Centro de Comunicação Social do Exército Brasileiro ¹) esse material reverenciando a memória do mártir Frei Orlando. Ceder esse espaço para divulgar o heroísmo de Frei Orlando, sob a ótica do referido Historiador Militar, foi a forma que encontrei para homenagear também o Centenário de Nascimento do Capitão Capelão Frei Orlando, o qual trabalhou em São João del-Rei durante cinco anos. Seus grandes feitos em prol dessa cidade serão lembrados nos artigos abaixo.

Esta Introdução e os Comentários ao texto são da minha autoria.



II. Centenário de Nascimento do Capitão Capelão Frei Orlando (1913-2013)


Os artigos que se seguem, referentes ao Centenário de Nascimento do Capitão Capelão Frei Orlando, têm por objetivo apresentar os feitos, a vida e a morte de um herói religioso mineiro, que se notabilizou, não só por confortar almas guerreiras, mas também as de civis, por exercer a caridade em todos os momentos e por salvar vidas, levando sempre sua palavra amiga aos companheiros, trazendo a paz de Deus e esperança em momentos difíceis na campanha da Itália, durante a II Guerra Mundial.

Esses artigos foram extraídos do trabalho desenvolvido pelo Historiador Militar Claudio Skora Rosty, oficial do Exército Brasileiro (coronel da reserva remunerada) e Chefe da Seção de Pesquisa Histórica do Centro de Estudos e Pesquisas de História Militar do Exército. O referido trabalho é fruto de pesquisas em fontes primárias, arquivos e bibliotecas, bem como baseado em relatos pessoais de seus companheiros seminaristas de Divinópolis, conhecidos das cidades de Abaeté e São João del-Rei, de amigos "febianos" do Regimento Tiradentes (11º Regimento de Infantaria) e, também, em pesquisa documental realizada no dossiê de Frei Orlando na sede provincial dos frades Franciscanos, em Carlos Prates, no Museu da Força Expedicionária Brasileira de Belo Horizonte e no Seminário Seráfico de Santos Dumont, onde estão os uniformes, medalhas e os terços do Frei Orlando.




Antônio Alvares da Silva
Infância e vida religiosa em São João del-Rei
"Eu nunca tinha visto um frade: chegaram então, em minha terra natal, três franciscanos de hábito marrom, com um capuz que achei muito engraçado, uma corda amarrada à cintura e sandálias nos pés." Frei Orlando ("História dos Franciscanos"/Riolando Azzi)
Infância e despertar para a fé

Antônio Alvares da Silva nasceu na cidade de Morada Nova de Minas, no Estado de Minas Gerais, em 13 de fevereiro de 1913, filho do negociante Itagyba Alvares da Silva (Juiz de Paz) e de Dona Jovita Aurélia da Silva.
Em homenagem recebeu o nome de seu avô por parte de pai e, no dia 18 de março, tornou-se cristão pelo batismo realizado pelo padre João Bernardino Barone, na Igreja Nossa Senhora de Loreto.
Com seus oito irmãos mais velhos, aos três anos de idade, ficou órfão de mãe e pai. Passou a ser criado e educado por seus vizinhos Sebastião de Almeida Pinho (farmacêutico) e Dona Emirena Teixeira Pinho (Dona Ninita), velhos amigos de seus pais legítimos.
De temperamento herdado do pai, ainda muito criança, demonstrava espírito brincalhão jocoso e gostava de fazer os outros rirem.
O pequeno Alvares era um filho muito estimado pelos pais adotivos. Os laços de um profundo e puro afeto os ligavam, confundindo-o dentro do lar com os filhos legítimos, os quais souberam acolher muito bem o inesperado irmãozinho, que era peralta e bem-humorado. Recebeu da nova família formação moral, sentimento de fé, piedade e obediência às leis e aos mais velhos. Tinha horror à mentira e ao desânimo, tendo, inclusive, mais tarde, adotado o lema "Gente desanimada é gente vencida".
Em 1919, fez a Primeira Comunhão, juntamente com a sua prima "Agda" na mesma igreja em que foi batizado. Aos sete anos, foi matriculado no Grupo Escolar Professor Rafael Barroso — hoje, Escola Estadual da cidade de Abaeté —, a 87 km ao sul  de Morada Nova.
Tornou-se assíduo frequentador do catecismo, repicava os sinos da matriz Nossa Senhora do Patrocínio de Abaeté e acompanhava as procissões com turíbulo incensando a todos, na intenção de bem servir à Igreja e ao vigário (Padre Mário).
Em 1922, tornou-se coroinha, primeiro grito de chamamento para as lides eclesiásticas. Sua vocação sacerdotal surgiu mesmo aos dez anos de idade quando conheceu três padres franciscanos holandeses, oportunidade que foi convidado para ir ao Seminário, em Divinópolis.
Na manhã do dia seguinte, pediu à professora (D. Maria Mourão) para sair mais cedo da aula, para pegar os cavalos, pois queria continuar os estudos em Divinópolis (172 km de Abaeté) para ser padre. Ela não acreditou. Decorridos treze anos, já como padre, voltou, procurou a professora e disse: "Peguei ou não os cavalos para ser padre."

Servo de Deus

No seminário, logo recebeu vários apelidos, por seu comportamento irrequieto e dedicado: "Antônio Merreu" e "Antônio Capela", encarando-os com espírito esportivo e zombador.
Em 5 de janeiro de 1925, aos 12 anos de idade, ingressou no Colégio Seráfico de Divinópolis (Casarão), hoje Museu Histórico de Divinópolis, para fazer o Seminário Menor (ginásio e ensino fundamental), onde recebeu formação diversificada, esportiva e recreativa.
Aos 16 anos, recebeu missiva de sua mãe adotiva informando que seu pai de adoção havia sofrido um derrame. Pela primeira vez, chorou amargamente e, em 13 de julho de 1929, o seu segundo pai veio a falecer.
Para terminar seus estudos, seguiu para a Holanda no dia 17 de fevereiro de 1931, onde ingressou na Ordem Franciscana. Fez o sexto ano do Seminário Menor no Colégio Seráfico de Sittard e, em 7 de setembro de 1931, recebeu, no noviciado em Hoogcrutz, aquele bonito hábito marrom, com o grande cordão de três nós, representante da profissão perpétua de "obediência, pobreza e castidade." Estudou, depois, em Venray, dois anos de filosofia e, no convento de Alverna, um ano de teologia, onde passou a adotar o nome religioso de "Orlando". Em Wijchem, recebeu o certificado médico autorizando seu regresso ao Brasil.
Regressou da Holanda a bordo do navio "Highland Monarch" no final de setembro de 1935. Na primeira quinzena de novembro, os sinos de Morada Nova entoaram sons fortes e repicados, anunciando o retorno de Antônio Alvares da Silva, agora como Frei Franciscano Orlando — "primeiro frei Franciscano Mineiro".
Atuante, impetuoso, ávido por aventuras e proativo para fazer caridade, ia ao encontro dos necessitados, não esperava que lhe batessem à porta.
Antônio Alvares da Silva, como clérigo, estudante de teologia do Seminário Maior Franciscano, era brincalhão, vivia sempre sorridente e gostava de pitar um cachimbo "quilométrico". Em 25 de outubro de 1936, foi ordenado Diácono no Seminário Seráfico de Santo Antônio de Divinópolis, com Dom Inocêncio Engelke.
Em 24 de outubro de 1937, dois anos após seu regresso e com 24 anos, com a presença de todos os seus irmãos, foi ordenado sacerdote franciscano no Santuário de Santo Antônio de Divinópolis, pelas mãos de Dom Antônio dos Santos Cabral, arcebispo de Belo Horizonte. Sua cela (quarto) foi ornamentada com cinco margaridas, presenteadas por suas irmãs. Cada flor representava uma delas.
No dia 1º de novembro, na Igreja São Francisco das Chagas, em Carlos Prates, Belo Horizonte, Frei Orlando celebrou a sua primeira missa, no subsolo da edificação ainda inconclusa.
Em dezembro de 1938, foi nomeado padre espiritual do Colégio Santo Antônio, da cidade de São João del-Rei, onde deu seus primeiros passos na vida sacerdotal e marcou sua vocação à caridade e aos misteres da igreja (campus Santo Antônio da UFSJ-Universidade Federal de São João del-Rei).


A vida religiosa em São João del-Rei

Ginásio Santo Antônio em São João del-Rei, MG
A cidade de São João del-Rei passou a ser para Frei Orlando como um livro aberto de arte, de história e de religiosidade.
Procurou inteirar-se de tudo. Frequentemente, era visto com sua bicicleta subindo ladeiras íngremes, ruas sinuosas, becos sombrios, ávido de melhor observar, sempre arguto, auscultando, indagando. Ia fazendo amigos, envolvendo uns, cativando outros, com seu bom humor.
Como diretor na Ordem Terceira, fez parte do Corpo Docente do Colégio Santo Antônio, onde passou a lecionar Português, Geografia e História Geral. Tornou-se um autêntico missionário da caridade, arregimentando pessoas para sua causa. Foi o criador da "Sopa dos Pobres".









Primeira construção feita nos fundos da casa
de Dr. Thales Nascimento sita na Rua da Prata.





































Havia muitas bocas e poucos eram os pratos. Por esse motivo, Frei Orlando foi ao 11º Regimento de Infantaria (11º RI) ², hoje 11º Batalhão de Infantaria de Montanha (11º BI Mth), ali instalado havia mais de quarenta anos. No mesmo dia, o Boletim da Unidade publicava a relação dos militares voluntários que passaram a contribuir para socorrer a prestimosa obra assistencial.
Fundou e orientou a Congregação Mariana, formada pelos alunos do Colégio Santo Antônio, ainda em São João del-Rei.




























Por falta de vigário, em 1941, a bordo do vapor "Benévolo", Frei Orlando foi designado para pregar missões na Bahia e nas cidades mineiras de Caravelas, Alcobaça e Nova Viçosa, realizando aproximadamente cem primeiras comunhões.

 Frei Orlando a Serviço de Deus e da Pátria
Ele merece o nosso eterno agradecimento e admiração, por ter ingressado voluntariamente no Destacamento da Força Expedicionária Brasileira (FEB), afastando-se da vida religiosa que tinha em São João del-Rei. Lutou com a cruz e com a espada. Levou a fé, a caridade e o conforto espiritual aos nossos "pracinhas" e aos italianos. Honrou o hábito dos franciscanos e a farda do Exército Brasileiro.

Incorporação

No dia 25 de março de 1944, o 11º Regimento de Infantaria (11º RI) ocupou os barracões do Morro Capistrano, na Vila Militar do Rio de Janeiro, de onde saiu somente em 22 de setembro, com destino ao Velho Mundo.
Frei Orlando apresentou-se voluntariamente e foi nomeado Capelão Militar pela Portaria nº 6.785, de 13 de julho de 1944, de acordo com o Decreto nº 6.535, de 26 de maio de 1944. Abandonou sua vida pacífica do claustro, a solidão das celas franciscanas e a paz dos templos pela vida agitada e incerta das atividades militares, a fim de atender sua vontade de bem servir à causa do Brasil e ao santo mistério de Deus, na guerra. Declarou a um amigo que era uma missão que recebeu de Nossa Senhora e sabia que não iria voltar.
Na manhã de 20 de julho, surge, no acantonamento, risonho e feliz, aquele que, como Tenente da Companhia de Comando Regimental, levaria conforto e apoio espiritual aos guerreiros da FEB, empunhando apenas duas armas: um cachimbo e uma gaita, com a qual anunciava a hora de rezar o terço. Além da missão de defender a Pátria, levar aos combatentes a palavra de Deus, dava ânimo e motivação aos que se viam em desespero e até revoltados, ante o quadro de caos produzido pelo próprio homem.
Na investidura de suas funções junto à tropa, celebrou sua primeira missa para o Regimento Tiradentes, em 21 de julho, em um altar tosco de madeira construído no acantonamento do Morro Capistrano.
Quando vestiu o uniforme de capelão militar no posto de tenente, sentiu a diferença. Seu garbo e sua postura impunham respeito e só era identificado como padre pelo distintivo da cruz na gola da túnica. Ao voltar fardado a São João del-Rei, procurou cumprimentar a todos pelas ruas da cidade, com tanta alegria, que parecia despedir-se de tudo e de todos. Na missa de despedida, no Templo de São Francisco de Assis, subiu ao púlpito, falou da situação da guerra e ressaltou a sua satisfação de servir a Deus e à Pátria. "Hoje é o dia mais feliz de minha vida, completei o meu ideal: sou agora soldado de Deus e da Pátria."

A FEB na Itália

Às 11 horas do dia 22 de setembro de 1944, o navio norte-americano "General Meighs" zarpou com os "pracinhas" para a Itália. Durante o deslocamento, ficaram sabendo das primeiras vitórias do destacamento da FEB no vale do rio Serchio e o destino da viagem marítima.
Apesar de pouca convivência com todos os integrantes do "Onze", Frei Orlando já se apresentava perfeitamente entrosado com oficiais e praças. Celebrava missas e rezava o terço no tombadilho do navio. Para o Capelão, não havia obstáculos que o impedissem de realizar suas tarefas religiosas.
Certa vez, celebrou uma missão em um dos compartimentos do navio, improvisando um altar em cima dos sacos de bagagem e utilizando sua maleta de extrema-unção, que continha todo o material necessário para o culto.
No dia 6 de outubro de 1944, os "pracinhas" atracaram no porto de Nápoles. No dia 10 do mesmo mês, embarcaram para a Ternuta de San Rossore, a oeste da cidade de Pisa, lugar com espaço suficiente para abrigar até três divisões (doze mil homens), conforme era esperado pelos norte-americanos.
Depois de completamente instalada a capelania, os capelães celebraram a primeira missa em solo italiano, na capelinha construída pelos brasileiros. Terminadas as orações, — grande surpresa! —, estavam rodeados de jovens em busca de alimentos. Eram italianos famintos. Era a miséria da guerra. Frei Orlando logo se pôs a ajudar os necessitados, com mantimentos recolhidos dos "pracinhas". Deu conforto e esperança, dizendo que a guerra logo iria acabar.
Frei Orlando não perdeu tempo e, assim que pôde, com o auxílio de uma freira, organizou um asilo improvisado na cidade de Pisa. Não dispunha de outros recursos para mantê-lo, senão o de valer-se da caridade dos soldados. No asilo, eram lavadas as roupas dos soldados em troca de alimentos.
Em 22 de outubro, na cidade de Pisa, Frei Orlando rezou sua primeira missa oficial na Itália, a qual foi acompanhada por mais ou menos quatro mil soldados. Estes, em coro, encerraram a cerimônia cantando o Hino Nacional, sob o som longínquo de estrondo de canhões inimigos.
Dias depois, apareceu outro "inimigo" dos "pracinhas". Veio de surpresa, silenciosa e deslumbrante, nunca vista por muitos brasileiros. Embranquecendo as casas, as árvores, as barracas e os morros. Era a neve, que caía brandamente, transformando a paisagem panorâmica em um lindo e grande tapete branco. Também vieram com ela o frio e o "pé-de-trincheira".
Nos últimos dias de novembro, após o insucesso do primeiro e do segundo ataques da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária a Monte Castelo, o Regimento Tiradentes foi retirado apressadamente da situação de treinamento e enviado para a frente de combate, em substituição ao I Batalhão de Infantaria/1º Regimento de Infantaria.
O II Batalhão, onde se encontrava Frei Orlando, foi o segundo a se deslocar para as montanhas dos Apeninos, chegando à localidade de Silla, onde a capelania ocupou uma velha casa no sopé da colina.
Iniciava-se o período da "Defensiva do Inverno".



A Morte do Capelão Militar Frei Orlando
"Onde não pode entrar este hábito, também não pode e não deve entrar a farda do nosso Exército."
Frei Orlando fazia questão de estar nas primeiras linhas de combate. Não se acomodava com as incertezas da retaguarda, numa posição meramente passiva. Dizia ele que nossos companheiros não podiam tombar sem assistência espiritual. Com galochões contra a neve, encapotado e com capacete de aço e fibra enterrado na cabeça, progredia deitando-se aqui e ali para ocultar-se das vistas inimigas. Fazia questão de ver de perto as nossas posições avançadas e o estado moral dos soldados. Animava-os com seu idealismo inabalável. Dupla incumbência tomara para si nos campos sangrentos da Itália: cuidar da alma dos soldados brasileiros e socorrer as famílias famintas italianas.
Em uma noite escura e ao som da macabros obuseiros inimigos, nasceu um "bambino", que foi batizado pelo capelão e passou a se chamar "Orlando Rafael". Orlando, nome do capelão, e Rafael, do comandante da Companhia de Comando Regimental. Foi o último batismo do Frei Orlando.
Frei Orlando e o Capitão Rafael Rodarte receberam cinco dias de folga para passar em Roma, ficando hospedados no hotel Excelsior, dos norte-americanos. Foram visitar o Papa Pio XII, que fez concessão especial ao Frei Orlando, autorizando-o a celebrar missa na Catedral de São Pedro.
Ao sair da Basílica de São Pedro, à porta do templo, disse ao seu comandante de companhia e amigo: "Meu caro Rodarte, penso que não voltarei ao Brasil, e se tal acontecer, quero pedir-lhe para que seja enterrado com o hábito de Franciscano e com o capuz na cabeça. Desejo, ainda, que meu altar portátil, a coleção de vida dos Papas, o meu cachimbo e a minha gaita sejam entregues aos Franciscanos de São João del-Rei."
Frei Orlando prestou, heroicamente, toda a assistência religiosa aos nossos companheiros, vítimas da guerra, no cumprimento do dever. Não se punha à retaguarda nem se conformava em ser mero expectador de um duelo. "Não posso", dizia ele completamente transtornado, "não posso permanecer distante dos que caem varados pelas balas, gritando pelos nomes de seus pais queridos!"
Frei Orlando continuava nas suas andanças pelos morros, atingindo as posições, querendo ver de perto o que se passava. Arriscou a vida por diversas vezes nessas imprudências. A fim de ser protegido dos perigos da guerra, foi deslocado para o Posto de Saúde Avançado, com o intuito de atender aos feridos que chegavam do campo de batalha. Vivia bem disposto, alegre e sempre animado e animando a todos. Dormia e acordava sorrindo, seu bom humor era contagiante.
Certa vez, nas imediações de Pisa, os oficiais o convidaram para uma "farra", e ele, dando uma baforada de seu cachimbo, para espanto de todos, aceitou. Foram se arrumar. Todos vieram fardados e, para surpresa deles, o capelão apareceu de hábito franciscano. Todos retrucaram, e ele respondeu: "Saibam os senhores, meus patrícios, que, onde não pode entrar este hábito, também não pode e não deve entrar a farda do nosso Exército."

O incidente que levou à morte Frei Orlando

Na manhã de 20 de fevereiro de 1945, véspera da conquista de Monte Castelo, Frei Orlando, depois de estar com a 4ª Companhia (4ª Cia), em Falfare, dirigiu-se ao observatório de Monte dell' Oro. Lá, manifestou ao Comandante do Batalhão o desejo de ir de Falfare até Bombiana, para visitar a 6ª Companhia (a mais bombardeada). Optou por um caminho mais curto, porém perigoso, mas o Comandante do Batalhão impôs-lhe o mais longo e seguro. Seguiu sozinho, a pé, marchou ao encontro da morte. A meio quilômetro de Bombiana, durante o percurso, encontrou-se com o Capitão Francisco Ruas Santos, que o convidou para prosseguir no seu jipe, dirigido pelo Cabo Gilberto Torres Ruas, que, juntamente com o Sargento Partigiani (membro da Resistência italiana, atuando como guia), seguiam na mesma direção. Frei Orlando, muito folgazão, ainda contou uma passagem alegre da ocupação holandesa no Brasil, dando uma de suas costumeiras gargalhadas.

"Passei pela vida sorrindo, embora tivesse motivos para chorar!"

O jipe seguia lentamente pelos caminhos esburacados para o ponto cotado 789, quando, de repente, se deteve sobre uma pedra. Todos desembarcaram e procuraram retirá-la, engastada no eixo dianteiro. O sargento italiano, no intuito de ajudar o capitão, que trabalhava na retirada com uma manivela, o fez desferindo forte pancada com a coronha de sua arma. Isto ocasionou um disparo acidental, que atingiu mortalmente o Frei Orlando. Este soltou um grito; ao mesmo tempo, levou a mão ao peito. Dando alguns passos à frente, tirou seu terço do bolso do casaco, balbuciando a Ave-Maria. O Capitão Ruas largou tudo e saiu às pressas à procura do médico do batalhão, mas já era tarde. O italiano chorava e lamentava em prantos, agarrado ao corpo do capelão.
Às 14 horas do dia 20 de fevereiro, ao som de granadas e metralhas, o corpo de Frei Orlando, vestido com o hábito franciscano e o capuz, em atenção a seu último pedido em vida, foi velado por praças e alguns oficiais na Capela de Santo Antônio de Bombiana.
Às 19 horas, durante a missa de corpo presente, seu corpo foi colocado em cima de uma padiola, no chão frio da capelinha. O Capelão Frei Orlando parecia dormir, ninguém acreditava no que aconteceu. Todos choravam a perda inesperada do frei que sonhava um dia ser missionário na China. Perdia-se assim, abruptamente, um incansável missionário, um pregador de méritos, um escritor de talento, um dedicado professor, um catequista emérito, um extraordinário confrade e um militar de escol.
Na manhã do dia seguinte, foi celebrada outra missa, com a assistência dos oficiais e praças do II/11º Regimento de Infantaria ³. Enquanto Monte Castelo era consolidado e era feita a limpeza, o corpo de Frei Orlando era transportado para o cemitério de Pistoia, onde se alinhou junto aos demais brasileiros mortos nos campos da Itália.
Foi hasteada a Bandeira Nacional no cemitério votivo de Pistoia, no dia em que Frei Orlando baixou à sepultura, aos sons de repetidos disparos da guarda fúnebre. Ao som do repicar dos sinos das igrejas de Pistoia e do triste toque de silêncio, foi-se aquele que passou pela vida distribuindo gargalhadas e conforto espiritual.
Sua missa de sétimo dia foi rezada pelo Padre Pheeney (capelão-chefe), que deu absolvição final à estola do sacerdote e ao capacete do militar, na Igreja Matriz, em Porreta Terme, a qual estava repleta de oficiais, praças e fiéis italianos.
No dia 5 de outubro de 1960, na cidade de Pistoia, na terra adotiva dos nossos guerreiros, teve início a exumação de todos os nossos soldados, cujos despojos foram transladados para o Rio de Janeiro. No dia 22 de dezembro, 451 soldados do Brasil se encerravam para sempre nos subterrâneos do Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial (Pantheon dos Heróis da Pátria). Frei Orlando voltou ao seu país natal.

O Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército

"O insigne Antônio Alvares da Silva, Frei Orlando, que morreu pela Pátria e por Deus no campo de batalha italiano durante a II Grande Guerra, nasceu para a eternidade e teve seu nome imortalizado como Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército (SAREx)."
 Quando da constituição da Força Expedicionária Brasileira (FEB), Frei Orlando foi um dos primeiros a apresentar-se como voluntário, sendo nomeado Capitão Capelão do II Batalhão do 11º Regimento de Infantaria, sediado em São João del-Rei, na data de 13 de setembro de 1944. Sete dias depois, embarcou com a Força Expedicionária Brasileira para participar da II Guerra Mundial na Itália. Partiu satisfeito, pois o seu sonho era ser missionário de Cristo e do Brasil. Foi expedicionário de sua igreja e de sua pátria.
Considerou-se justo que nossos combatentes, em plagas italianas, fossem fortalecidos espiritual e moralmente pelos capelães militares. Foram assim integrados à FEB, em seus diversos escalões, trinta padres católicos e dois pastores protestantes.
Frei Orlando granjeou o respeito e a admiração de todos os integrantes de sua Unidade por seu destemor e abnegação, além da sua luta em levar o conforto e uma palavra de encorajamento aos "febianos", onde quer que estivessem. Sua presença era constantemente notada na primeira linha, como se lê em um trecho de carta que escreveu a seus familiares: "Desde que vim para a linha de frente, estou sempre no Posto de Saúde Avançado a fim de atender os feridos que chegam do campo de luta. De fato, vivo 'zanzando' por toda parte, hoje aqui, amanhã ali, dormindo ora neste, ora naquele lugar, sempre na primeira linha. Até hoje, nada sofria. Ao contrário, estou bem disposto, alegre e sempre animando a turma."
Estas palavras bem revelam a coragem e a alegria com que ele cumpria sua missão. Aliás, alegria era a sua marca registrada, cunhada por ele na célebre frase: "Passei pela vida sorrindo, embora tivesse motivos para chorar!", que bem reflete sua atitude perante as dificuldades e os obstáculos com que se deparou durante a existência.
O Tenente Gentil Palhares, companheiro de Frei Orlando no "front" italiano, testemunha fidedigna por ter convivido pessoalmente com o grande sacerdote, no livro "Frei Orlando: o Capelão que não voltou", relata mais de uma ocasião em que transparece claramente o espírito ecumênico do Patrono do SAREx. Possuir espírito ecumênico, aliás, é um dos requisitos básicos para aqueles, padres católicos romanos e pastores evangélicos, que pretendam ingressar no Quadro de Capelães Militares do Exército.
Naquela fria tarde de 20 de fevereiro de 1945, os soldados brasileiros preparavam-se para outra violenta arremetida a Monte Castelo. Os combatentes anteriores mostraram aos pracinhas da FEB o valor do soldado alemão e permitiram que se conscientizassem de seu próprio valor. Todos esperavam o dia seguinte, conservando em suas mentes a lembrança dos companheiros mortos e feridos.
No frenesi destes trabalhos, encontramos Frei Orlando, armado de seu ritual e dos santos óleos, levando conforto e coragem aos nossos combatentes.
As companhias do II Batalhão estavam ao pé do Monte Castelo, prontas para atacá-lo. Frei Orlando visitara todas, menos uma. A todo custo, queria visitá-la, queria levar o conforto de suas palavras a todo o seu rebanho, pois o dia seguinte seria o dia do ataque ao forte bastião. Foi na tentativa de alcançar a companhia que não visitara, que o Frei Orlando foi mortalmente ferido, entregando sua alma ao Criador.
Morre esse abnegado soldado-sacerdote, tornando-se um exemplo para aqueles que dedicam sua vida a levar uma palavra de ânimo aos irmãos de farda. Contava com 32 anos de idade. O boletim nº 52, do 11º Regimento de Infantaria (11º RI), de 22 de fevereiro de 1945, impresso em Docce, na Itália, registrou o passamento do capelão: "Foi recebida, com dolorosa surpresa, a notícia do falecimento do Capelão Capitão Antônio Alvares da Silva (Frei Orlando), quando se dirigia de Docce para Bombiana, a fim de levar assistência espiritual aos homens em posição, no dia 20, quando do ataque ao Monte Castelo.
O sacerdote, que desapareceu da face da terra após ter servido com pureza de sentimento à religião e à Pátria, deixa imensa saudade no seio da organização católica a que pertencia. No 11º RI, como Chefe da Capelania, conquistou a todos pelas qualidades apostólicas. No teatro de operações, nos dias de maiores atividades bélicas, jamais deixou de levar o seu conforto espiritual ou o santo sacrifício da missa em qualquer circunstância, mostrando-se, além de religioso, um forte, um bravo, um verdadeiro soldado da Cruz de Cristo."
Seu túmulo permaneceu no Monumento Nacional aos Mortos da II Guerra Mundial, Rio de Janeiro, até o ano de 2009, quando os restos mortais foram levados para São João del-Rei, por ocasião do encerramento da fase diocesana de seu processo de beatificação.
Como justa homenagem a Frei Orlando, capelão que viveu e morreu cumprindo sua missão com tanto ânimo, fé e destemor, foi-lhe outorgado, com o Decreto nº 20.680, de 28 de fevereiro de 1946, o título de Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército, e a data de seu nascimento, 13 de fevereiro, consagrada como o Dia do SAREx.
Por ocasião do centenário do seu nascimento, e em reconhecimento aos seus grandes préstimos, o Exército Brasileiro o homenageia fazendo constar a frase "FREI ORLANDO — SOLDADO DA FÉ" em todas as correspondências e ofícios durante o ano de 2013, o que vem ao encontro da iniciativa da Igreja Católica de proclamar este como o Ano da Fé, para levar seus fiéis a refletir sobre como a dimensão espiritual influencia a vida de cada um.
Ao reverenciarmos a figura ínclita do Patrono do SAREx, este sacerdote-soldado que enobrece tanto a religião quanto a Força Terrestre, queremos homenagear também todos os capelães, padres católicos e pastores evangélicos, que integram atualmente o SAREx.
Em Frei Orlando, os atuais pastores de alma da Força Terrestre têm o exemplo lídimo no qual se espelhar para realizarem com êxito a assistência espiritual, moral e psicológica que prestam aos militares e a suas famílias.


Comemorações do Centenário de Nascimento de Frei Orlando


O dia 13 de fevereiro de 2013 é especial para o Serviço de Assistência Religiosa do Exército (SAREx), pois marca o centenário de nascimento de seu patrono, Frei Orlando, o Capelão Militar que foi à II Guerra Mundial com o objetivo de levar assistência espiritual àqueles que estavam no "front" de batalha.
As ações, os feitos e a vida deste herói militar religioso o distinguem na Força Terrestre, servindo de modelo e inspiração a todo aquele que se dispõe a desempenhar a missão de dar assistência religiosa, espiritual e pastoral aos militares.
Como forma de reverenciar o Frei Orlando, falecido no cumprimento do dever militar e religioso, o Exército Brasileiro protagonizou diversos eventos, realizados no Brasil e no exterior.

Comando Militar do Leste

No dia 19 de fevereiro, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército realizou, no Museu Militar Conde de Linhares, Seminário Comemorativo ao Centenário de Nascimento do Frei Orlando.
O seminário transcorreu com uma programação repleta de atividades, incluindo palestras e exposição de acervos individuais do homenageado, proporcionando aos participantes um intercâmbio cultural pela história e um aprofundamento na obra do Patrono do SAREx.
Coroando o Seminário, foi apresentado documentário contendo diversos relatos sobre a vida e os feitos do homenageado; lançado pela Biblioteca do Exército, o Prêmio Cultural Franklin Dória, que terá como tema o Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército; e o lançamento, pelo Arquivo Histórico do Exército, do Edital do Salão de Artes Plásticas sobre o "Frei Orlando - Soldado da Fé".
O evento contou com a presença de autoridades militares, de representantes do SAREx, de historiadores e estudiosos da Força Expedicionária Brasileira, bem como de participação especial de familiares do Frei Orlando.
No dia 20 de fevereiro, o Mausoléu do Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, também no Rio de Janeiro, sediou missa de ação de graças com a presença de familiares do Frei Orlando.
No dia seguinte, 21 de fevereiro, a 1ª Divisão de Exército realizou uma formatura, na capital fluminense, em comemoração ao centenário do patrono do SAREx e ao 68º aniversário da tomada de Monte Castelo — um dos maiores feitos do Exército Brasileiro durante a II Guerra Mundial.
Em 27 de fevereiro, o Arcebispo Militar do Brasil, Dom Osvino Both, celebrou uma missa campal em São João del-Rei (MG), nas instalações do 11º Batalhão de Infantaria de Montanha (11º BI Mth) e reativou a Capelania Militar Nossa Senhora de Fátima no interior do aquartelamento, nomeada agora Capelania Histórica "Frei Orlando". Estiveram presentes, o Comandante da 4ª Brigada de Infantaria Motorizada e demais autoridades civis e militares, além de parentes do Frei Orlando.
À noite, no Teatro Municipal de São João del-Rei, o Coronel Cláudio Skora Rosty proferiu palestra sobre a trajetória de vida e os inúmeros feitos do Frei Orlando, que sempre agiu imbuído de inquebrantável fé e de destemida coragem.

3ª Divisão de Exército (3ª DE)

As comemorações do centenário de nascimento de Frei Orlando foram iniciadas com celebrações religiosas na tarde do dia 19 de fevereiro: missa no Santuário Basílica Nossa Senhora Medianeira; reunião espírita no Comando da 6ª Brigada de Infantaria Blindada; e culto evangélico no Regimento Mallet.
No dia 28 de fevereiro, quinta-feira, às 16 horas, no 3º Grupo de Artilharia Autopropulsado (Regimento Mallet), foi realizada solenidade militar da Guarnição Federal de Santa Maria.

Em Países Amigos

Na Aditância de Defesa, Naval, do Exército e Aeronáutica do Brasil no México, as comemorações foram realizadas no dia 22 de fevereiro de 2013, oportunidade em que foi lido um resumo da vida do Frei Orlando e realizada uma missa no pátio da embaixada. Compareceram às cerimônias autoridades civis e militares, funcionários e familiares.
No dia 20 de fevereiro de 2013, na Aditância de Defesa e do Exército do Brasil no Peru, foram prestadas homenagens ao Patrono do SAREx. A atividade contou com a presença de autoridades civis e militares, do Brasil e do Peru, com respectivas famílias.
A Aditância de Defesa, Naval, do Exército e Aeronáutica em Moçambique promoveu, no dia 13 de fevereiro de 2013, com o apoio da Embaixada do Brasil, "Celebração Inter-religiosa" nas dependências do Centro Cultural Brasil-Moçambique, em comemoração ao "Centenário de Nascimento do Frei Orlando". Estiveram presentes à solenidade, representantes de diversas crenças, autoridades civis e militares e familiares.
Em Assunção (Paraguai), no dia 14 de fevereiro, foi celebrada Missa Comemorativa no auditório da Embaixada do Brasil no Paraguai, da qual participaram o Cônsul Geral do Brasil, o Adido de Defesa e do Exército, integrantes da Cooperação Militar Brasileira no Paraguai, bem como autoridades civis e militares brasileiras.

FonteRevista Verde-Oliva, Ano XL, nº 219, abril de 2013, p. 6-21.



Imagens: 8 fotografias retratando a passagem de Frei Orlando por São João del-Rei.  [Fonte: 6 banners produzidos pelo Serviço de Assistência Religiosa do Exército (SAREX)]


III.  NOTAS DE FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS BRAGA


¹ Quero aqui deixar registrado meu agradecimento sincero, primeiro ao Centro de Comunicação Social do Exército por ter permitido a reprodução total desses artigos, bem como pela distribuição de seis banners a instituições selecionadas pelo Exército Brasileiro, tornando possível o meu acesso às imagens postadas, referentes ao período de Frei Orlando em São João del-Rei ; depois, a Luiz Antônio Ferreira, funcionário da UFSJ, por ter-me presenteado com um exemplar da Revista Verde-Oliva que traz os artigos acima reproduzidos; além disso, sou grato a Frei Joel Postma o.f.m., responsável pelo Museu Frei Orlando no Seminário Seráfico de Santos Dumont-MG, pelas imagens que foram reproduzidas no texto; e, finalmente, também devo a Silvano João Paulo de Freitas a transposição de imagem para arquivo de texto, possibilitando a sua reprodução no Blog do Braga, como pode ser vista acima.

² Também conhecido como "Regimento Tiradentes" ou "Onze", assim considerado pela gente hospitaleira de São João del-Rei, cidade que o abriga desde 1897. Atualmente, é a Unidade Pioneira do Montanhismo Militar do Exército Brasileiro, única a desenvolver as técnicas e as táticas do combate em terreno montanhoso.

³  II Batalhão de Infantaria do 11º Regimento de Infantaria.



IV.  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 

PALHARES, G.: Frei Orlando: o Capelão que não voltou, Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, publicação 522 (da Coleção General Benício volume 203), 1982, 214 p.

ROSTY, C.S.: Centenário de Nascimento do Capitão Capelão Frei Orlando (1913-2013), Brasília: Revista Verde-Oliva, Ano XL, nº 219, abril de 2013, p. 6-21

* Francisco José dos Santos Braga, cidadão são-joanense, tem Bacharelado em Letras (Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, atual UFSJ) e Composição Musical (UnB), bem como Mestrado em Administração (EAESP-FGV). Além de escrever artigos para revistas e jornais, é autor de dois livros e traduziu vários livros na área de Administração Financeira. Participa ativamente de instituições no País e no exterior, como Membro, cabendo destacar as seguintes: Académie Internationale de Lutèce (Paris), Familia Sancti Hieronymi (Clearwater, Flórida), SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro), CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro), Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-MG, Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ, Academia Divinopolitana de Letras, Instituto Histórico e Geográfico do DF e Academia Taguatinguense de Letras. Possui o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com), um locus de abordagem de temas musicais, literários, literomusicais, históricos e genealógicos, dedicado, entre outras coisas, ao resgate da memória e à defesa do nosso patrimônio histórico.Mais...

sábado, 27 de julho de 2013

Dor de dente? Cera Dr. Lustosa ou Os 90 anos de um dentista popular

Por Francisco José dos Santos Braga



I.  INTRODUÇÃO


Com idêntico título que utlizei para este post, um artigo da autoria de Gutemberg da Mota e Silva ¹ sobre a Cera Dr. Lustosa, invento do famoso odontólogo Dr. Paulo de Almeida Lustosa, foi publicado na página 4 do Jornal do Brasil, na edição de 24 de outubro de 1977. Na ocasião contava com 90 anos bem vividos o inventor e fabricante da Cera, cuja existência tinha sido profícua e benemérita em benefício especialmente dos brasileiros pobres e desvalidos. Já acamado na época da publicação do artigo sobre seu memorável invento, veio a falecer em 1986 aos 99 anos de idade.

Tenho o prazer de brindar os leitores do Blog do Braga com esse célebre artigo de 1977 sobre a Cera Dr. Lustosa, que é reproduzido aqui nesse espaço, respeitando a sua ortografia. Os comentários são de minha autoria.



II.  Dor de dente? Cera Dr. Lustosa.
Os 90 anos de um dentista popular

Por Gutemberg da Mota e Silva ²


Desde hontem que não dorme
D. Zulmira, coitada
E numa tristeza enorme
tem a cara toda inchada
Vou dar-lhe um remédio ao dente
Que a põe boa incontinenti
Da mais completa eficácia
De eficácia luminosa
Vou comprar-lhe na Pharmacia
A Cera Dr. Lustosa


SÃO JOÃO DEL-REI, MG — Estes versos, escritos ao lado do desenho de um rosto inflamado de mulher, são um dos inumeráveis reclames que, ao longo de mais de meio século, tornaram conhecida em todo o país a Cera Dr. Lustosa, medicamento popular para dor de dentes inventado pelo dentista sanjoanense Paulo de Almeida Lustosa, que no último 12, acamado, festejou 90 anos de idade.  

Aprovada pela Saúde Pública no dia 21 de janeiro de 1922, a Cera Dr. Lustosa completou 50 anos em 1972, quando seu criador recebeu, entre outras homenagens, uma carta de reconhecimento do então Ministro da Saúde, Francisco Rocha Lagoa.

Na carta, o Ministro o cumprimenta "em nome dos milhões de brasileiros que, um dia, encontraram alívio no medicamento de sua fórmula e fabricação." E observa que "dos remédios populares, não se sabe de outro que haja alcançado tanta receptividade, vendi que foi até no Japão."

Acrescenta ainda que "inúmeros produtos, com igual indicação haveriam de ser postos no mercado. Alguns deles tiveram pequena duração. Outros se mostraram mais resistentes. Não houve um só, entretanto, que, durante 50 anos, se mantivesse na preferência das classes pobres tal como a Cera Dr. Lustosa. Grandes, portanto, foram os serviços que o senhor prestou à nossa gente, pelo que há de merecer a admiração e o respeito de todos nós."

O que levou o Dr. Paulo Lustosa a pensar num medicamento barato a que tivesse acesso as pessoas pobres foram as observações que fez em São João del-Rei e arredores no exercício de sua profissão de dentista.

Em suas andanças a cavalo por vilas e povoados, ele ia pensando num remédio mágico que aliviasse a dor de dente das pessoas pobres até que elas resolvessem procurar um dentista para o tratamento. Depois de muita pesquisa, chegou a um medicamento pastoso à base de lidocaína, cera virgem de abelha, óleo de cravo e outras substâncias.

Dessa mistura é feita a Cera Dr. Lustosa, que, como apregoava um dos seus antigos e pitorescos anúncios, tem as seguintes qualidades: não queima a boca; é muito fácil de aplicar; não é líquida e não dissolve na saliva; é muito tolerada pelas crianças e passa a dor em cinco minutos. Seus anúncios não tocam no assunto, a não ser como sugestão, mas os fabricantes revelam que ela também serve para eliminar calos. Se a dor de dente for oriunda de uma infecção, a cera não faz efeito: só serve para os casos de cárie.

Até hoje a cera conserva um dos principais fatores que a tornaram conhecida em todo o país, além da eficiência: o preço baixo. Cada tubinho da cera, de menos de cinco centímetros, custa Cr$ 2,00, ou seja, menos da metade do preço dos seus concorrentes. ³

Com representantes em todos os Estados, o laboratório do Dr. Lustosa vende anualmente uma média de 2 milhões de unidades da cera, apesar de ter um processo ainda bastante artesanal de fabricação: a pouca maquinaria existente foi concebida pelo próprio Dr. Lustosa.

A cera já foi vendida no Uruguai, mas o Dr. Lustosa vem recusando sistematicamente muitas propostas para exportá-la principalmente por causa de problemas alfandegários. Também não aceita as frequentes propostas para a compra da fórmula ou para modernizar o equipamento rudimentar com que é fabricada.

Seu negócio continua sendo feito em bases familiares, embora 15 pessoas, além de quatro filhos, trabalhem no laboratório, que ocupa quase todo o andar de baixo da imensa casa do Largo do Rosário. A presença do laboratório, que inunda todo o ambiente, com o inconfundível cheiro da cera, em nada prejudica a vida da família Lustosa, que mora no andar superior da casa, dotada de 34 cômodos.

O laboratório é dirigido do Rio de Janeiro por um filho do Dr. Lustosa, o Sr. Paulo Rodrigues Lustosa , sucessor da Casa Hermanny, primeiro distribuidor da cera e que ganhava um desconto — como ainda hoje ganham os distribuidores espelhados pelo país — para fazer a sua propaganda. Era ela feita principalmente em cartazes e folhetos distribuídos às pharmacias do país.


Os reclames do Dr. Lustosa marcaram época e serviram de escola aos comunicadores de hoje


Os reclames eram veiculados às vezes pelos jornais e almanaques, mas o Padre Francisco Lustosa, um dos filhos que auxiliam o Dr. Lustosa no laboratório, esclarece que o forte da propaganda sempre foram os cartazes nas farmácias.

Esses anúncios revelam, a despeito da primariedade dos desenhos — ou talvez por causa disso — uma grande criatividade, que certamente ajudou a cera a conquistar o mercado do país. Atualmente, ela é consumida em maior escala na capital de São Paulo.

Um dos reclames mostra um menino apontando um revólver para uma assustada empregada e ordenando que ela vá imediatamente à farmácia comprar a Cera Dr. Lustosa sob pena de "arrebentar-lhe os miolos".

Outro, sob o título "Dois Absurdos", assegura que a metade de 12 é sete e a de 11 é seis. Para demonstrá-lo, o autor corta ao meio, horizontalmente, os algarismo romanos XII e XI e obtém, com a eliminação da metade inferior, um VII e um VI. Rematando, observa que o outro absurdo é acreditar-se que há outros remédios para dor de dentes equivalentes à Cera Dr. Lustosa.

O padre Francisco acredita que este anúncio seja de autoria do seu tio Antônio Lustosa, que foi Arcebispo de Fortaleza e gostava muito de desenhar. Mas outros anúncios que constam do incompleto álbum das propagandas da cera são, comprovadamente, de Dom Antônio, já falecido.

Depois que patenteou o invento, o Dr. Lustosa foi abandonando aos poucos a clientela para se dedicar à sua fabricação, até que, em 1930, fechou definitivamente o consultório do andar térreo de sua casa.

No dia 1º de agosto passado, sofreu um ataque cardíaco, seguido por uma infecção, e foi aconselhado pelos médicos a afastar-se das atividades. O afastamento, porém, em nada prejudicou o laboratório, pois suas filhas Evangelina e Maria Carmem, auxiliadas pelo Padre Francisco e outra irmã, a professora Hilda, há muito trabalham na fabricação da cera, sob o comando de Paulo Rodrigues Lustosa, que todo mês vem a São João del-Rei.

Seis dos 10 filhos do Dr. Lustosa seguiram a carreira religiosa: o Padre Francisco é vigário de uma paróquia nas proximidades de São João del-Rei, um seu irmão, o Cônego Osvaldo, já morreu, e quatro mulheres são freiras.

Frequentemente, o Padre Francisco celebra missa na capela situada no segundo pavimento do casarão dos Lustosa. A capela, que tem o Santíssimo no sacrário, entronizado com autorização do Vaticano, atesta o espírito de religiosidade da família, já comprovada por tantas vocações entre os irmãos.

A casa, que tem 50 metros de fachada e já integra o patrimônio histórico de São João del-Rei, foi comprada em 1812 por Sabino de Almeida Lustosa, avô do Dr. Lustosa. O pai deste, João Batista, ampliou-a, construindo o que é hoje a sua parte do meio, e o Dr. Lustosa completou-a, fazendo a parte de trás.

Sabino Lustosa plantou no seu quintal oito palmeiras imperiais com mudas da palmeira mater que D. João VI trouxe para o país em 1809. Cinco delas adoeceram de modo irreversível e foram cortadas no ano passado. Bombeiros vindos de Belo Horizonte gastaram mais de um mês na tarefa de cortar as palmeiras, que tinham de 30 a 45 metros de altura.

Como as três palmeiras sobreviventes do quintal, que também fazem parte do patrimônio da cidade, tudo é antigo no casarão do Largo do Rosário: a cera, os livros, quadros, os objetos e a empregada Trindade, uma negra que há 55 anos serve aos Lustosa.



III. NOTAS DO AUTOR


¹  Gutemberg da Mota e Silva, natural da cidade de Marcelino Vieira, no Rio Grande do Norte, é formado em Direito pela UFMG, em 1967, tendo obtido, na mesma escola em 1986, o grau de Mestre em Direito Administrativo, com a dissertação Regiões Metropolitanas: Institucionalização.

Exerceu o cargo de primeiro juiz cível de Direito Cooperador Cível do Juizado Especial Cível de Belo Horizonte de 1996 a 1999. Foi juiz titular da 2ª Vara Cível da comarca de Belo Horizonte a partir de 03/11/1999. Também atuou no TRE mineiro como juiz substituto e juiz auxiliar da Corte em 2006 e foi membro e depois presidente da 1ª Turma Recursal Cível, aí atuando desde abril de 2002, como suplente, e a partir de março de 2003 como titular, até dezembro de 2007. Foi Juiz titular da Corte do TRE mineiro, de fins de 2007 a abril de 2009. Desde 16/4/2009 ocupa o cargo de Desembargador do TRJ mineiro.

Trabalhou como jornalista de 1963 a 1980 e foi repórter da Tribuna do Norte, em Natal (RN), e correspondente, em Belo Horizonte, dos jornais O Globo, Jornal do Brasil e Folha de São Paulo.

²  Quero deixar aqui consignado meu agradecimento ao escritor e pesquisador Prof. Evandro de Almeida Coelho por ter-me ofertado uma cópia do artigo da autoria do jornalista Gutemberg da Mota e Silva, constante de seu arquivo.

³  Na sua tese de doutorado, intitulada Uma Fábula no Compasso da História - Estudo para Inferno Provisório em seis atos, Francismar Ramírez Barreto propõe-se a identificar os elementos que fazem do  Inferno Provisório, do mineiro Luiz Ruffato, um romance, abordando em cinco capítulos os cinco volumes que constituem a obra em questão. No terceiro capítulo, que a acadêmica chama de Ferrolhos no Teto (terceiro ato), há uma descrição curiosa nas pp. 219-220 sobre a Cera Dr. Lustosa no seguinte trecho:
"(...) "e agora desprendeu-se a cera-lustosa que tampava a panela-do-dente e já a dor pernilonga os ouvidos ambicionando achegar novamente, ferroa, entojada, arrodeando, infla em fogo a bochecha (...)". E continua um pouco mais embaixo: "Utilizada para interromper o incômodo produzido pelas cáries, a "cera lustosa" foi um anestésico dentário muito utilizado. Abranda temporariamente o mal (quando colocada sobre o ponto exposto da dor), mas não cura o problema. De acordo com o site dos fabricantes, a cera deve seu nome ao trabalho do Dr. Paulo de Almeida Lustosa. O público alvo era a população de baixa renda. Conhecido pelos slogans "alívio seguro na dor de dente" e "acabe com a dor em cinco minutos", o "tubinho vermelho" vendia-se ao longo do território nacional e foi tão bem aceito que passou a formar parte de um seleto grupo de produtos de saúde ("queridinhos" da indústria publicitária) como a Emulsão Dr. Scott, o Biotônico Fontoura, o Elixir Paregórico (tintura de ópio) e as Pílulas de Vida do Dr. Ross. Era a solução para quem a visita ao dentista resultava dispendiosa. Qual o objetivo do leitor abordar o significado de "cera-lustosa"? Dois pelo menos: entender a situação de vida do sargento Narciso — protagonista do trecho — e imaginar uma época.
Ainda que a cena do crime seja recriada, o que importa é a situação social, econômica e profissional desse trabalhador. Por exemplo: utilizar "cera-lustosa" significa que esse homem não dispõe dos recursos para ir ao dentista. O que cai do dente é a "cera" e o que o delegado recomenda mais adiante é tirar o dente ou comprar "uma latinha" do anestésico. A cárie (e o aperto econômico) tem tempo, então. Nas primeiras linhas, o desconforto é comparado com um inseto alado e provido de aguilhão (himenópteros): "a dor pernilonga (...), ferroa (...), infla em fogo a bochecha". (Cf. no endereço eletrônico http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/12509/1/2012_FrancismarRamirezBarreto.pdf)

⁴  Hoje o engenheiro Sr. Roberto Fontes Lustosa, filho de Paulo Rodrigues Lustosa, é a terceira geração à frente da Cera Dr. Lustosa, procurando novos rumos para o medicamento inventado por seu avô. No dia 5 de maio de 2013, ele proferiu uma palestra intitulada "A Cera Dr. Lustosa" aos membros do IHG de São João del-Rei. Na ocasião, tomamos conhecimento de que uma professora da UFMG, Ana Luíza Cerqueira Freitas, da área de industrialização, tinha escrito um livro chamado "Cera Dr. Lustosa: A Trajetória de um Produto" (agosto/2006), a qual veio a São João del-Rei, conheceu a história da Cera e identificou a sua invenção e produção com a história da da industrialização do País. Segundo ele, nesse livro, a autora tinha falado sobre a criatividade de seu avô, sobre a sua capacidade como homem de publicidade, sobre o homem responsável pelas áreas da produção, comercial e financeira, ou seja, alguém que exercia simultaneamente todos os cargos gerenciais existentes dentro de uma empresa. Lamentou que a autora tenha tentado publicar esse livro durante anos, tendo a família Lustosa procurado ajudá-la, mas sem sucesso. Além disso, o neto de Dr. Lustosa nos informou que, diante da proibição de fabricação da Cera pela ANVISA em fevereiro de 2009 sob a alegação de que a concentração de fenol presente na composição da Cera era prejudicial à saúde, — embora seja desconhecido um único caso de malefício da Cera nos 90 anos em que operou no mercado nacional, — felizmente está prosperando o processo de tombamento voluntário e genérico do produto e de todo o acervo do Laboratório Cera Dr. Lustosa, conforme recomendara o relator Sr. José Antônio de Ávila Sacramento aos outros membros do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de São João del-Rei, que o aprovaram. Cabe ressaltar que desse processo de tombamento da Cera Dr. Lustosa consta o aval, em forma de declaração, dado pelo IHG local, assinado por seu presidente Artur Cláudio da Costa Moreira. Ainda segundo o relator José Antônio, resta ainda a aprovação de dois novos processos: um, visando ao registro e inventário das práticas e domínios do modo de fazer da Cera Dr. Lustosa, registrando-as como patrimônio imaterial do Município de São João del-Rei, e outro, com o propósito de tombamento das obras constantes da biblioteca do Laboratório Dr. Lustosa, visando inventariá-las e protegê-las, já que algumas delas são raras e abarcam muitos ramos do conhecimento humano no começo do século XX, abrangendo as seguintes ciências: medicina, ortodontia, farmácia, história natural e outras. Na referida palestra, o neto de Dr. Lustosa agradeceu também ao confrade do IHG José de Carvalho Teixeira por ter-lhe sugerido que o processo de tombamento da Cera fosse feito nos mesmos moldes do procedimento que tinha sido adotado para o tombamento do queijo da Serra da Canastra e encaminhado o assunto aos outros membros do IHG. Segundo o palestrante, Teixeira entendia que, com o tombamento, a Cera passaria a ser um patrimônio da cidade, cuja preservação ficaria a cargo de um ente público; além disso, achava que, mesmo que não se conseguisse retornar com a fabricação e comercialização da Cera, pelo menos o fato de ficar registrado o trabalho do seu avô nos anais da História justificava o esforço de tombamento, já que a Cera tinha divulgado, nas suas embalagens durante 90 anos, a cidade de São João del-Rei e o Estado de Minas Gerais. Na mesma memorável reunião, o relator do processo de tombamento, José Antônio, que também é confrade do IHG, manifestou-se dizendo que "a Cera já tinha extrapolado os laços familiares e já era  ou devia ser se nós vivêssemos numa sociedade séria  patrimônio de São João del-Rei, de Minas Gerais e da história da Odontologia no Brasil".



IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BARRETO, F.R.: Uma Fábula no Compasso da História - Estudo para Inferno Provisório em seis atos (tese apresentada na UnB para obtenção do grau de Doutora). No seguinte endereço eletrônico: http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/12509/1/2012_FrancismarRamirezBarreto.pdf, pp. 219-220

SACRAMENTO, J.A.A.: Tombamento do Laboratório da Cera Dr. Lustosa, no seguinte endereço eletrônico:
http://www.patriamineira.com.br/imagens/img_noticias/150918100413_Cera_dr._Lustosa.pdf

SILVA, G.M.: Dor de dente? Cera Dr. Lustosa. Os 90 anos de um dentista popular,  Jornal do Brasil, edição de 24 de outubro de 1977, p. 4. 


* Francisco José dos Santos Braga, cidadão são-joanense, tem Bacharelado em Letras (Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras, atual UFSJ) e Composição Musical (UnB), bem como Mestrado em Administração (EAESP-FGV). Além de escrever artigos para revistas e jornais, é autor de dois livros e traduziu vários livros na área de Administração Financeira. Participa ativamente de instituições no País e no exterior, como Membro, cabendo destacar as seguintes: Académie Internationale de Lutèce (Paris), Familia Sancti Hieronymi (Clearwater, Flórida), SBME-Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (2º Tesoureiro), CBG-Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro), Academia de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-MG, Instituto Histórico e Geográfico de Campanha-MG, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ, Academia Divinopolitana de Letras, Instituto Histórico e Geográfico do DF e Academia Taguatinguense de Letras. Possui o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com), um locus de abordagem de temas musicais, literários, literomusicais, históricos e genealógicos, dedicado, entre outras coisas, ao resgate da memória e à defesa do nosso patrimônio histórico.Mais...