domingo, 19 de abril de 2009

300 anos da Guerra dos Emboabas e do "Capão da Traição"


Por José Antônio de Ávila Sacramento *

Houve em Minas Gerais, no início dos anos setecentos, sérios desentendimentos entre os descobridores do ouro e os forasteiros que desejavam usufruir o minério. Descobertas as minas de ouro nesta região, uma forte corrente humana que aqui se aportou, com gente de todas as classes, etnias e de todas as origens geográficas. No livro Cultura e Opulência do Brasil, do padre João Antônio Andreoni (Antonil), encontramos a seguinte referência do afluxo de pessoas a Minas Gerais: "a sede do ouro estimulou tantos a deixarem suas terras e a meterem-se por caminhos tão ásperos como são os das minas, que dificultosamente se poderá dar conta do número de pessoas que atualmente lá estão...".

Aquele afluxo de forasteiros desagradou aos paulistas. Por terem descoberto as minas e por elas se encontrarem em sua capitania, os paulistas reivindicaram direito exclusivo de explorá-las. Assim, entre 1708 e 1709, ocorreram vários conflitos armados na zona aurífera. Os paulistas referiam-se aos recém-chegados com os apelidos pejorativos de Emboabas. Os emboabas aclamaram o riquíssimo português Manuel Nunes Viana como Governador das Minas. Nunes Viana, que enriquecera com o contrabando de gado para a zona mineira, foi hostilizado por Manuel de Borba Gato, um dos mais respeitados paulistas da região. Nos conflitos que se seguiram, os paulistas sofreram várias derrotas e foram obrigados a abandonar boa parte das suas minas.

Com a derrota e a conseqüente expulsão, vários paulistas pararam na região situada entre os Arraiais da Ponta do Morro (atual Tiradentes) e Novo de Nossa Senhora do Pilar (atual São João del-Rei), provavelmente na região da Fazenda do Córrego. Sabedores que lhes vinha em perseguição uma coluna de cerca de 200 homens comandada por Bento do Amaral Coutinho, dali fugiram rumo a São Paulo, embrenhando-se no mato, sendo sitiados e exterminados cruelmente, após se renderem. Coutinho prometera aos paulistas que lhes pouparia a vida, caso se rendessem. Entretanto, quando eles entregaram suas armas, foram impiedosamente massacrados num local que passou para a história com o nome de "Capão da Traição".

A questão de um episódio como este - recheado de traição e sangue - mexe com o imaginário popular. Já chegaram até a erigir um marco em granito e com placa de bronze, sugerindo que o dito Capão ficaria nas imediações de onde hoje está o Bairro de Matosinhos. Há outros dois lugares que são apontados como o possível local onde ficava o Capão da Traição. Basílio de Magalhães também indicava o Bairro de Matosinhos, enquanto Eduardo Canabrava Barreiro indicou a localidade de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno, rumo a São Paulo.

No entanto, há um relato importantíssimo do sargento-mor português Joseph Álvares de Oliveira, contemporâneo do acontecimento, posto que fora comandante de uma das companhias que defenderam as fortificações do Arraial Novo. Creio ser este o relato mais confiável a respeito da localização do Capão da Traição. Ele afirma que o local estava a "coisa de légua e meia ao rumo do Norte, em um Capão". Assim, seguindo as orientações do sargento-mor, é possível localizar o local em questão nas imediações da margem direita do Rio das Mortes, nas proximidades da Fazenda do Pombal, Município de Coronel Xavier Chaves, entre os Rios Santo Antônio e Carandaí. É importante ressaltar que Joseph Álvares de Oliveira encontrava-se no Arraial Novo (atual São João del-Rei) e, então, a distância de cerca de aproximadamente 10 km (cerca de uma légua e meia) deve ser calculada a partir de onde ele estava posicionado.

Não existe a pretensão e nem seria possível com este simples artigo determinar a localização exata do Capão da Traição. O que há, isto sim, é a simples e necessária intenção de se provocar ações que possam culminar nessa exata localização, pensando nos 300 anos do final da Guerra dos Emboabas. Na verdade estas provocações já surgiram no Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, e, também, de maneira formidável, através de um relato do produtor rural e empresário Cipriano Chaves de Resende sobre a existência de vestígios de um antigo e quase que desconhecido cemitério no município de Coronel Xavier Chaves. O dito cemitério está localizado no "Pasto da Lagoa", parte integrante da atual Fazenda Ouro Fino (já denominada Fazenda do Areão, Fazenda do Rio das Mortes e Fazenda Venda Nova). Aquelas covas poderão nos mostrar códigos históricos que as justifiquem como depósitos das vítimas do massacre ocorrido no Capão da Traição.

Este escriba sempre achou que seria interessante e necessário estabelecer parcerias entre as prefeituras e as entidades histórico-culturais-educacionais de São João del-Rei e de Coronel Xavier Chaves (o atual prefeito desta última cidade, Helder Sávio, está bastante interessado no assunto). Tudo isto poderia ser realizado com o apoio do Instituto Estrada Real, para solicitar à 13ª Superintendência Regional do IPHAN-MG e ao IEPHA-MG auxílio no sentido de efetuar prospecções arqueológicas no local, investigar a origem daquele cemitério e a datação de restos mortais porventura ali encontrados, bem como de promover estudos que fundamentem a exata localização do Capão da Traição, palco de um dos mais tristes e sangrentos episódios da Guerra dos Emboabas. Na verdade, estas provocações foram enviadas formalmente, pelo IHG de São João del-Rei, ao IEPHA e ao IPHAN, desde o ano de 2007, estando a questão sem atendimento até o momento.

A hipótese de se efetuar pesquisas arqueológicas no sítio do antigo campo santo chamou a atenção do jornalista Gustavo Werneck. Ele veio até São João del-Rei, foi até o local do suposto cemitério e publicou boa matéria no jornal Estado de Minas, o que não surtiu os efeitos e nem despertou as atenções esperadas. Em outubro de 2008, a Revista de História, editada pela Biblioteca Nacional, voltou a tocar no assunto sob o título A Guerra da Memória - Na região dos Emboabas, poucos marcos remetem hoje ao episódio histórico ocorrido há 300 anos. No imaginário popular, persistem as lendas, em matéria assinada por Lorenzo Aldé, que finalizou escrevendo: "A Guerra (dos Emboabas) pode estar meio esquecida. Mas ainda não acabou".

Os órgãos que seriam os responsáveis pelas pesquisas solicitadas não responderam aos clamores do IHG de São João del-Rei. Pensou-se até em tirar a dúvida por conta própria, escavando o local. Mas, para não serem acusados de profanar um possível patrimônio arqueológico, de fundamental importância para Minas Gerais e para o Brasil, os interessados na questão preferiram não se arriscarem, até porque também não possuem recursos técnicos e financeiros para realizar as escavações de forma apropriada e proceder a datação do material que porventura for encontrado.

Mas, a despeito de já ser um pouco tarde, se ainda houver interesse, há tempo para agirmos com boa vontade e firmeza históricas neste sentido. Creio que se estas ações forem agilizadas e colocadas em prática, terminaremos este ano do tricentenário do final da Guerra dos Emboabas e do massacre do Capão da Traição em plenas condições de dissipar algumas dúvidas e, conseqüentemente, de apresentar belíssimas e reais contribuições para a nossa História!

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* José Antônio de Ávila Sacramento nasceu em São João del-Rei/MG (distrito de São Miguel do Cajuru). É sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, membro efetivo da Academia de Letras de São João del-Rei, conselheiro titular do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural. Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (Belo Horizonte/MG). Sócio Correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (João Pessoa/PB). Sócio Correspondente da Academia Bauruense de Letras (Bauru/SP). Sócio Correspondente da Academia Mageense de Letras (Magé/RJ). Mais...

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O Projeto da Liberdade na Fazenda Berço da Pátria


Por Wainer Ávila *


"E sendo perguntado como se chamava, de quem era filho, donde era natural, se tinha algumas ordens, se era casado ou solteiro e que ocupação tinha. Respondeu que se chamava Joaquim José da Silva Xavier, filho de Domingos da Silva Santos e de sua mulher Antônia da Encarnação Xavier, natural do Pombal, termo da Vila de São João d'el Rey, Capitania de Minas Geraes; que tinha quarenta e hum annos de edade e que era solteiro; que não tinha ordens algumas e, com efeito, vendo-lhe eu o alto da cabeça, vi que não tinha tonsura alguma e que era Alferes da Cavalaria Paga de Minas Gerais" - 1º interrogatório, 22/05/1789, na Fortaleza de Ilha das Cobras, Rio de Janeiro.

"...Porquanto estava próximo a fazer-se nestas minas um levante para se erigirem em república, e que havia de haver nela sete parlamentos, sendo a capital em São João d'El Rey". Depoimento de José de Resende Costa, filho de outro do mesmo nome-autos da devassa da Inconfidência Mineira.

"O primeiro compromisso de Minas é com a Liberdade" - Tancredo Neves, discurso de posse, palácio da liberdade, 25/03/1983. Belo Horizonte/MG.

A tragédia (do grego tragoldia, pelo latim tragoedia) era, na Grécia antiga, acontecimento que despertava lástima ou horror, piedade e terror, ensina mestre Aurélio, ainda sucesso funesto e trágico. Pois Minas, que peleja e faz, de Guimarães Rosa, viu abater-se sobre suas montanhas auríferas e diamantíferas, todas as tragédias, desde que seu útero foi profanado pelo conquistador ibérico faminto de riquezas fáceis. O Alferes de Cavalaria foi supliciado mais que todos os que a história noticia, a ponto de sua cabeça ter sido arrancada do corpo, simbolizando a decapitação de uma idéia e de uma vontade política. Espetada foi, à guisa de empalação, na aguçada ponta de estaca fincada em nosso sagrado chão.

Não tivesse lugar tal suplício e não haveria o forte símbolo sobre o qual queremos erigir, aqui e agora, o monumento e memorial à Liberdade, fato que até hoje não mereceu a atenção de nossos homens públicos que ignoram os poetas e trovadores das Gerais, o que nos envergonha frente a nações que não se pejam em homenagear em mármore cinzelado seus filhos ilustres. Não obstante esse esquecimento, que brada aos céus e exige reparação, esses acontecimentos tão trágicos nos ensinam muito, pois é sobre símbolos que se constroem Pátrias, a exemplo de uma cruz, uma forca, um pelotão de fuzilamento, no dizer de Keneth Clark. Sejam quais forem, portanto, as analogias que venham a se estabelecer, em Tiradentes podemos falar em "Paixão e Morte", visto ser muito forte morrer por uma idéia, conferindo a si a grandeza que só a morte pode dar.

Foi isso que ele soube fazer e o fez com a grandeza que somente os heróis e os santos podem fazer. Grandeza que o Brasil nunca reconheceu, que Minas ainda não proclamou e que nossa cidade continua ignorando com obstinação e teimosia. São João del-Rei era cogitada, mesmo decidido estava, para ser capital da nova república americana. O Resende Costa, filho, que revelou o segredo da escolha da capital republicana (outra vez, em 1893, Várzea do Marçal, apêndice de São João, seria a capital de Minas, elegida por Aarão Reis. Não o foi, perdeu para Curral d'El-Rey, por traição política e, outra vez, ficamos de boca tampada), foi desterrado para Cabo Verde, onde ficou dez anos. Regressou ao Brasil e participou das constituintes portuguesa (1821) e brasileira (1823). Como eram valorosos nossos sublevados de 1789!

Outro luzeiro da Liberdade, Tancredo Neves, imolou-se em seu nome e deu, não a vida, mas a morte pelo único direito inato que é a Liberdade, cujo amplo conceito interpreta-se como sinal premonitório, o signum prognosticum do progresso moral da humanidade.

Para justificar e explicar a necessidade de nos redimirmos transcrevo, constrangido, pois é difícil crer, o que aconteceu - está escrito pelo historiador Sebastião de Oliveira Cintra - a respeito da condenação de Tiradentes: "em 08 de junho de 1792 realiza-se em São João del-Rei, terra natal do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, festividades em Ação de Graças a Deus Nosso Senhor por se haver descoberto e destruído a conjuração que maus homens e indignos portugueses temerariamente assumiram sublevar os povos desta Capitania contra a legítima soberana Rainha Nossa Senhora. Todos os moradores da vila iluminaram suas casas três noites sucessivas (dias 6, 7 e 8). No último dia oficiou-se na Matriz do Pilar Te Deum Laudamus por dois coros, um de música, outro de cantochão. À porta da igreja o destacamento de infantaria paga e os terços auxiliares deram as descargas usuais autoridades convidadas, 'para ficar o ato mais plausível'. Compareceram o Doutor Ouvidor Geral, Manoel Caetano Monteiro Guedes; Doutor Intendente Francisco de Morais Castro; Cap. do Destacamento Francisco Xavier Inácio, Cel. Francisco Araujo Magalhaes; Sargento Mor Manoel dos Reis; Vigário Colado Dr. Antônio Caetano Almeida Vilas Boas e Vigário da Vara Dr. José Pereira de Castro".

No dia 26 de março de 2009 uma comissão formada por Auro Aparecido Maia Andrade, Juiz de Direito, José de Carvalho Teixeira em nome do Instituto Histórico e Geográfico, arquiteto Celso Leão e Wainer Ávila, presidente da Academia de Letras de São João del-Rei, foi recebida por Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho, catedral da arquitetura universal, em seu escritório - santuário, na Av. Atlântica, no Rio de Janeiro. Não obstante a pouca estatura física, aferiu-se para nós um gigante, um Colosso mesmo, Poseidon e Netuno no "trom e o silvo da procela", transcendendo em gentilezas e palavras de afago fraternal. Era a sobrevivência perene da esperança na própria essência do ideal mais alto de nossa ambição em construir memorial em pedra e aço em nome da Liberdade, na Fazenda do Pombal, sítio sagrado de nascimento do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, em 12 de novembro de 1746, até este momento em total descaso por parte dos poderes públicos constituídos, que existem porque Tiradentes existiu.

Naquele momento quase solene, em que mestre Oscar nos deixava inteiramente à vontade, nos emocionamos e compreendemos que aquele pequeno grande homem é maior que os desafios que o acompanharam em sua brilhante trajetória pelo mundo da arte em concreto, ferro, ideal e fé em sua obra. Sentimos que nele cabe todo o esplendor da cultura greco-romana de muitos séculos, com a transição para a Idade Média, desta para o Renascimento, daí para a Moderna e para a contemporaneidade, com ou sem as rupturas atuais, prolongando-se até o futuro.

Niemeyer, com desprendimento e humildade, vendo nosso pleito e certamente deduzindo que ali não estavam homens ricos em busca de projetos para luxo e satisfação de uns poucos privilegiados deste país, disse mansamente, como é de seu estilo: "vocês que aqui vieram conseguirão o que desejam e não terão que pagar nada...". Ele acabava de dizer que sua obra, procurada pelos quatro cantos do planeta, não nos custaria um real, que não ia receber honorários pelo valioso projeto, projeto da Fazenda do Pombal, projeto de Minas e sobretudo projeto de Brasil, o Projeto da Liberdade na Fazenda Berço da Pátria, do abastado e honrado pai do menino José, o futuro Tiradentes. Niemeyer estava tão grande quanto Tiradentes. Era o Brasil correto e escorreito, pobre e miserável, rico e poderoso que ali estava e que nos marcou para a eternidade, se ela existe. Não estou sendo fiel em reproduzir suas palavras pois um homem comum não pode reproduzir o que fala Oscar Niemeyer, do alto de sua imensa sabedoria e franciscana modéstia, exemplo para este país que precisa "criar juízo" em seus Três Poderes, em sua majestosa saga imperial e republicana, mirando-se no homem que avançou no tempo, que tornou-se contemporâneo do futuro.

Agora, brasileiro, agora mineiro, agora conterrâneo dos campos das vertentes, não tenha acanhamento em ofertar seu apoio, sem tergiversações e com objetividade, apoio que não se mede em moedas mas em ideais, não em barras de ouro mas em atitudes construtivas, pois o ouro decapitou nosso irmão e o ideal é que nos levará a revivê-lo em monumento que deveria ter sido feito há muito tempo. Memorial símbolo da Liberdade, Panteão da Pátria, na Fazenda do Pombal, berço de Tiradentes, cidadão sem outra qualificação, apenas cidadão brasileiro.

Empreitada que só logrará êxito se tiver o espírito de uma nova Conjuração, outra Inconfidência, com apoio dos governos de Portugal e França, onde esteve o Alferes, de codinome Vendek, com os estudantes universitários de mineralogia e medicina, José da Maia e Álvares Maciel, avistando-se com o embaixador Thomas Jefferson, da libertada colônia britânica, a república do norte de 1776.

É possível ser igual a Tiradentes, basta apenas despir-se de interesses pessoais e carregar o mesmo ânimo dos rebeldes do "Quinto de Ouro" de 1789.


* Wainer Ávila, graduado em direito pela Universidade Católica de Minas Gerais, é o atual Presidente da Academia de Letras de São João del-Rei, ocupante da cadeira Embaixador Gastão da Cunha. É Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, ocupante da cadeira Alferes Tiradentes. Membro Definidor da Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Diocese de São João del-Rei. Sócio Benemérito e Conselheiro do Athetic Clube de São João del-Rei. Sócio Honorário do Rotary Club. Sócio Correspondente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto. Sócio Correspondente da Academia Valenciana de Letras. Conselheiro do Centro Cultural Feminino de São João del-Rei. Membro do Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico de São João del-Rei. Mais...

- Veja mais fotos das ruínas da Fazenda do Pombal aqui.

Colaborador: Wainer Ávila

Wainer Ávila, graduado em direito pela Universidade Católica de Minas Gerais, é o atual Presidente da Academia de Letras de São João del-Rei, ocupante da cadeira Embaixador Gastão da Cunha. É Sócio Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, ocupante da cadeira Alferes Tiradentes. Membro Definidor da Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis da Diocese de São João del-Rei. Sócio Benemérito e Conselheiro do Athetic Clube de São João del-Rei. Sócio Honorário do Rotary Club. Sócio Correspondente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto. Sócio Correspondente da Academia Valenciana de Letras. Conselheiro do Centro Cultural Feminino de São João del-Rei. Membro do Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico de São João del-Rei. Sócio Correspondente da Academia Divinopolitana de Letras. Sócio Correspondente da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete. Sócio Correspondente da Academia de Letras de Caxias do Sul (RS). Sócio Correspondente do Instituto Histórico de Prados. Curador da Fundação Oscar Araripe.

Foi Vereador em São João del-Rei, de 1º de janeiro de 1970 a 1º de janeiro de 1973. Presidente da 37ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de Minas Gerais, por dois mandatos: de 1973-1975 e 1975-1977. Deputado Estadual eleito em 1982. Suplente de Deputado Federal na Legislatura 1991-1995. Diretor Jurídico do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais de 1986 a 1992. Chefe da Procuradoria Jurídica do Município de São João del-Rei de 1977 a julho de 1978. Vice-presidente do Social Futebol Clube.

É Cidadão Honorário dos Municípios de:

- Conceição da Barra de Minas
- Nazareno
- Coronel Xavier Chaves
- Tiradentes
- Dores de Campos
- Prados

Foi agraciado com as Medalhas:

- Inconfidência
- Mérito Legislativo de Minas Gerais
- Poder Legislativo de Rio Casca
- Comenda Santos Dumont
- Medalha Honorífica Antônio Carlos Fernandes Leão concedida pela loja Maçônica Charitas II
- Comenda Resistência Democrática

Textos de Wainer Ávila neste Blog:

- O Projeto da Liberdade na Fazenda Berço da Pátria

sexta-feira, 3 de abril de 2009

O Cântico de Zacarias no Ofício de Trevas

Por Abgar Antônio Campos Tirado *

As Horas Litúrgicas ou Horas Canônicas primitivamente dividiam o dia em oito partes, assim constituídas: 1) Matinas: da meia-noite às 3h da madrugada; 2)Laudes: das 3h às 6h da manhã; 3) Prima: das 6h às 9h; 4)Tertia: das 9h ao meio-dia; 5) Sexta: do meio-dia às 3h da tarde; 6)Nona: das 3h às 6h; 7)Vésperas: das 6h às 9h da noite; 8) Completas: das 9h à meia-noite.

As Matinas, Laudes, Vésperas e Completas são chamadas horas maiores, e as demais, horas menores.

Na Semana Santa, correspondendo à Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado Santo, realizavam-se em toda a Igreja e ainda se realizam em São João del-Rei, na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, integralmente, os denominados Ofícios de Trevas, que se constituem dos ofícios de Matinas e Laudes. O nome Ofício de Trevas advém da referência às trevas da morte e do sepulcro de Cristo, sendo que, no final do ofício, o próprio templo se reveste de escuridão, com o apagar das luzes.

As Matinas se dividem em 3 noturnos, com um total de 9 salmos, com suas antífonas, 3 versículos, 9 leituras e 9 responsórios. As Laudes são formadas de 5 salmos, 1 versículo e 1 hino, com suas respectivas antífonas. Nessa segunda parte do Ofício de Trevas, antes das orações finais, entoa-se o Cântico de Zacarias. O texto desse piedoso cântico encontra-se em Lc 1, 68-79. Zacarias, pai de João Batista, era sacerdote; enquanto oferecia incenso no templo, o anjo Gabriel anunciou a ele e à esposa, Isabel, o nascimento de um filho. Como Zacarias duvidasse da comunicação, ficou mudo, como sinal de promessa, até o nascimento do menino. Quando deram o nome ao filho, Zacarias recuperou a fala. O cântico a ele atribuído é o "Benedictus", o qual, como foi dito, é cantado no final das Laudes em cada um dos três Ofícios de Trevas, diferenciando-se as antífonas. Em São João del-Rei, esse cântico se faz alternado entre o coro gregoriano dos coroinhas da Catedral e o coro e orquestra Ribeiro Bastos, com música do compositor são-joanense, Padre José Maria Xavier. Assim, o coro gregoriano introduz: "Benedictus Dominus Deus Israel", prosseguindo o coro e orquestra: "Quia visitavit et fecit redemptionem plebis tuae" – e continua a alternância até o final do piedoso cântico, que constitui um dos mais emocionantes momentos do medieval ofício.


Vídeo: Cântico de Zacarias



Gravado durante o Ofício de Trevas do Sábado da Semana Santa de 2007, na Catedral Basílica Nossa Senhora do Pilar (Arquivo Cris Carezzato).



* Abgar Antônio Campos Tirado é natural de São João del-Rei, MG. Com formação na área das Letras e da Música, é professor, palestrante, comentarista cultural, escritor, pianista e compositor, com obras já executadas no exterior. Foi diretor por vários anos do Conservatório Estadual de Música “Padre José Maria Xavier” de São João del-Rei, onde se aposentou. É sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei e membro efetivo da Academia de Letras da mesma cidade, bem como da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais. Mais...