sábado, 30 de janeiro de 2016

EM ATIVIDADE A SOCIEDADE DE CONCERTOS SINFÔNICOS


Por Francisco José dos Santos Braga


Artigo dedicado à Sra. Odete d'Ângelo, grande 
incentivadora dos pesquisadores são-joanenses



"SÃO JOÃO DEL-REI (Do correspondente) Como parte das homenagens prestadas pelo povo desta cidade a dom Sebastião Baggio, núncio apostólico, na sua visita de três dias à diocese, o grande concêrto levado a efeito pela Sociedade de Concertos Sinfônicos no Teatro Municipal foi uma das mais expressivas e carinhosas manifestações ao ilustre representante do Vaticano ¹.   
O espetáculo teve início com a apresentação do Orfeão Misto, sob a regência do maestro sargento Benigno Parreira e cujo número final, calorosamente aplaudido, foi o Aleluia, de Mozart. 
Na segunda parte, precedida de bonita "Ouverture", destacou-se a atuação do soprano Salete Maria Bini e do tenor Vicente Viegas, na interpretação de "Sempre libera", da ópera de Verdi, "La Traviata". 
Finalizando o concerto, o público ouviu a Rapsódia Húngara, de Liszt, que teve como solista a pianista sanjoanense Mercês Bini Couto. A regência estêve a cargo do maestro Pedro de Souza, presidente da Sociedade de Concertos Sinfônicos local." (meus grifos)
Fonte: ESTADO DE MINAS, 18 de julho de 1965






























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Para bem conhecer quem era o Sr. Núncio Apostólico em 1965, fui pesquisar no Arquivo Paroquial da Catedral Basílica de N. Sra. do Pilar, em pastas encadernadas do jornal "O PILAR", devidamente organizadas pelo saudoso Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva. Ali se lê:


"O Exmo. Sr. Núncio Dom Sebastião Baggio

Nasceu Sua Excia. Revma. em Rosà, Diocese de Vicenza (Itália) a 16 de maio de 1913. Foi ordenado sacerdote a 21 de dezembro de 1935. Começou sua carreira diplomática em 1940, como Secretário da Nunciatura Apostólica em El Salvador. Em 1942 foi Secretário da Nunciatura Apostólica de Venezuela. De 1946 a 1948, já Auditor, esteve a serviço da Secretaria de Estado de Sua Santidade em Roma. De 1949 a 1950 foi Auditor e Encarregado de Negócios ad interim da Nunciatura Apostólica de Colômbia. De 1951 a 1953 foi Substituto da Sagrada Congregação Consistorial. Em 30 de junho de 1953 foi eleito Arcebispo titular de Éfeso e nomeado Núncio Apostólico em Chile. Foi sagrado Arcebispo em 26 de julho de 1953 e no Chile permaneceu até 12 de março de 1958. Em 1958 foi nomeado Delegado Apostólico no Canadá. Em 25 de maio de 1964 foi nomeado Núncio Apostólico no Brasil, cargo de que tomou posse em setembro do mesmo ano.

Veio substituir o Exmo. Sr. Dom Armando Lombardi, cuja lembrança ainda permanece viva na memória do povo brasileiro.

Sua Excia. Revma., nos poucos meses que se encontra à frente da Nunciatura Apostólica, como representante do Sumo Pontífice Paulo VI, já conquistou a simpatia de muitos setores sociais e de tôda a população católica, que teve a felicidade de conhecê-lo e já gozou de contactos pessoais com êle.

A imprensa dos lugares, por onde S. Excia. passou, só tem elogios à sua fulgurante e cativante pessoa e louvores pelas bênçãos que vai espalhando por toda a parte.

Chegou a hora de também a cidade de S. João del-Rei participar desta amável presença que certamente deixará muitas gratas recordações nos corações sanjoanenses.

Como homenagem a Sua Excia. Revma. a Diocese de São João del-Rei, oferece esta singela e pequena edição de seu "órgão oficial", esperando que o bondoso e paternal coração de Sua Excia. olhe não o pequenino valor da oferta, mas sim a boa vontade de fazer cousa melhor e o esfôrço que isto representa em cidade pobre do interior.

Muito obrigado, Sr. Núncio, pela honra insigne que nos dá e pelas bênçãos que nos traz do Santo Padre Paulo VI. Nós apenas podemos retribuir com nossas orações e nossos votos de longa e feliz permanência no Brasil e entre nós.

Bem-vindo seja o Exmo. Sr. Dom Sebastião Baggio, DD. Núncio Apostólico no Brasil.

PROGRAMA
Da honrosa visita do Exmo. e Revmo. Sr. DOM SEBASTIÃO BAGGIO, DD. Núncio Apostólico no Brasil, à histórica cidade de São João del-Rei, de 10 a 13 de julho de 1965.

ATOS PRÉVIOS 
TRÍDUO PREPARATÓRIO 
Nos dias 7, 8 e 9 de julho nas quatro Paróquias da Cidade, sob a direção de seus respectivos Párocos, haverá um TRÍDUO de orações pelas intenções do S. Padre Paulo VI.

Recepção ao Exmo. e Revmo. Sr. Núncio Apostólico 
Dia 10 de julho, sábado, às 16 horas.
Local: Avenida Rui Barbosa. 
O Exmo. e Revmo. Sr. Núncio Apostólico no Brasil, Dom Sebastião Baggio, será recebido com tôdas as honras civis e militares, a que faz jús, em virtude de Suas altas funções de Embaixador da Santa Sé Apostólica e Decano do Corpo Diplomático credenciado junto ao Govêrno Brasileiro.
S. Excia. Revma. será Hóspede Oficial do Município de São João del-Rei.

Homenagens a S. Excia. Revma. 
Hino Nacional e Hino Pontifício, pela Banda do Regimento Tiradentes.
Saudação pelo Exmo. Sr. Nelson José Lombardi, Prefeito Municipal.
Hino de São João del-Rei.
Homenagem da Municipalidade de São João del-Rei.
Saudação de S. Excia. Revma. o Sr. Dom Delfim Ribeiro Guedes, Bispo Diocesano.
Côro Falado.
Hino de Nossa Senhora do Pilar. 

HORA SANTA
19,30 horas, na Catedral-Basílica, haverá solene Hora Santa, segundo as intenções do Santo Padre Paulo VI, pregada pelo Exmo. e Revmo. Sr. Núncio Apostólico.
Nos intervalos das 4 pregações, cânticos eucarísticos executados pelo Côro e Orquestra Ribeiro Bastos e pelos fiéis.
Recepção no adro da Catedral-Basílica pela Banda "Teodoro de Faria".
23,00 horas, homenagem dos Músicos Sanjoanenses a S. Excia. Revma. o Sr. Núncio Apostólico.

DIA 11 DE JULHO

8,00 horas Visita à Igreja Matriz de São José Operário.
Solenidades Litúrgicas oficiais 
 
Na Igreja de Nossa Senhora do Rosário
9,00 horas, recepção de S. Excia. Revma. o Sr. Núncio Apotólico, dos Exmos. Prelados e altas Autoridades Civis e Militares. Paramentação litúrgica. Procissão em direção à Catedral-Basílica.
Na Catedral-Basílica
Solene Pontifical, por S. Excia. Revma., em louvor de Nossa Senhora do Pilar, Padroeira da Diocese e Titular da mesma Catedral-Basílica.
Durante o Solene Pontifical, far-se-ão ouvir o Côro e Orquestra "Lira Sanjoanense"e a Schola Cantorum Salesiana.
Ao Evangelho, oração gratulatória por S. Excia. Revma. o Sr. Dom Geraldo Maria de Morais Penido, DD. Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora, ouvindo-se antes a leitura do V. Breve Pontifício "Religione Almæ" pelo Ilmo. e Revmo. Sr. Monsenhor Mário Tagliaferri, Auditor da Nunciatura Apostólica no Brasil, e bem assim a tradução do referido Documento Pontifício pelo Revmo. Sr. Cônego Sebastião Raimundo de Paiva, Chanceler do Bispado.
A solenidade acima será transmitida pela Rádio São João del-Rei - ZYI-7. Locutor: Pe. José Zamagna.
17,00 horas. Procissão em honra dos Padroeiros da Diocese, Nossa Senhora do Pilar e São João Batista.
Em seguida, solene TE DEUM de ação de graças.
Orquestra "Ribeiro Bastos".
19,00 horas, S. Missa do horário habitual, na Catedral-Basílica.
20,00 horas, Concerto Sinfônico, no Teatro Municipal. (V. programa especial).


VISITAS E ENCONTROS

DIA 11 DE JULHO
14,30 horas, Mosteiro São José.
15,00 horas, na Paróquia de São João Bosco, encontro com os Trabalhadores. Visita às Comunidades Salesianos e ao Albergue "Santo Antônio".
16,30 horas, Paróquia do Senhor Bom Jesus de Matozinhos.

DIA 12 DE JULHO
8,00 horas, visita oficial ao Regimento Tiradentes.
Em seguida, partida para a histórica cidade de Tiradentes, onde, às 9,30 horas, será oficialmente recepcionado, no adro da Igreja Matriz. Santa Missa. Visita ao Seminário Diocesano "São Tiago".
Regresso a São João del-Rei.
15,00 horas, visita à Igreja de São Francisco e encontro com os Revmos. Padres Franciscanos.
15,30 horas, no Colégio "N. S. das Dores", encontro com as Revdas. Religiosas.
16,30 horas, visita à Igreja de Nossa Senhora do Carmo e, em seguida, ao Presídio.
17,30 horas, no Palácio da Municipalidade, visita ao Exmo. Sr. Prefeito Municipal e demais exmas. Autoridades locais, Funcionários Públicos, Representantes do Comércio, Indústria, Lavoura, Ensino, Imprensa e Classes Liberais.
20,00 horas, abertura do Retiro Espiritual do Clero Diocesano, no Colégio Santo Antônio.

DIA 13 DE JULHO
7,00 horas, Santa Missa por S. Excia. Revma. para o Clero Diocesano na Capela do Colégio Santo Antônio."

Fonte: O PILAR, São João del-Rei, Ano V, edição nº 104, datada de 10 de julho de 1965, p. 3. (localizado no Livro de Tombo nº 2, caixa 25)

 
NOTAS  EXPLICATIVAS


¹  Conforme meu destaque (com grifos) à programação da visita do Núncio Apostólico Dom Sebastião Baggio a São João del-Rei, o referido Concerto Sinfônico teve lugar no dia 11 de julho de 1965, às 20 horas, e a matéria do Estado de Minas mostrada na introdução do presente post é datada de uma semana mais tarde.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

ATÉ LÁ, MÃE QUERIDA!


Por Gentil Palhares


I.  INTRODUÇÃO, por Francisco José dos Santos Braga

Certo dia, procurando matérias que tratassem da Sociedade dos Amigos de São João del-Rei, entidade que existiu em nossa cidade em 1960, deparei-me com  a seguinte nota de falecimento publicada na edição do Diário do Comércio, Ano XXIII, nº 6.518, edição do dia 21 de julho de 1960:
 

PROFESSORA MARIA CLARA DE MELO

"Faleceu no dia 19 do corrente, na cidade de Formiga, onde sempre residiu, e lecionou durante muitos anos, D. Maria Clara de Melo, viúva do snr. Olivério Palhares, ex-Contador, Partidor e Distribuidor daquela Comarca. A extinta, que era filha do saudoso professor Antônio Rodrigues de Melo profundo conhecedor da língua latina, era mãe do nosso brilhante colaborador e homem de letras, Tenente Gentil Palhares e deixa os seguintes filhos: 
Ernesto Faria, comerciante, casado com D. Carmem Faria, residentes em Formiga; D. Iris Silva, casada com o snr. Francisco Teodoro da Silva, proprietário do Iris Hotel, em Divinópolis; D. Luiza Abreu, viúva do snr. Euclides de Abreu; Demerval Faria, aposentado do I.A.P.C., e, finalmente, o Tenente Gentil Palhares, casado com D. Elvira Coelho Palhares, todos aqui residentes. 
O falecimento de D. Maria Clara de Melo, que desaparece aos oitenta e sete anos de idade causou o mais profundo pesar não só em Formiga, como também em Divinópolis e em São João del-Rei, onde a família Palhares sempre foi muito conhecida, desde longos anos, desfrutando de real estima e muito prestígio nos nossos meios sociais. D. Maria Clara de Melo, seguindo o exemplo de seu ilustre pai, o Professor Antônio Rodrigues de Melo, por mais de vinte e cinco anos prestou sua dedicada e leal colaboração ao aprimoramento da cultura de nossa mocidade, para a qual lecionou com grande dedicação e excepcional capacidade de trabalho. 
Ao nosso querido amigo Gentil Palhares, à sua esposa e filhos, aos seus demais irmãos e cunhados, o sincero pezar de toda a turma do DIÁRIO DO COMÉRCIO, de entremeio com os votos mui sinceros que formulamos a Deus para que os reconforte em tão doloroso transe. "
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Certo de que encontraria o elogio fúnebre do ilustre orador Tenente Gentil Palhares para sua saudosa mãe, busquei nas edições posteriores do mesmo jornal o necrológio de sua autoria em homenagem a sua genitora e não tive dificuldade em localizar o trabalho do grande historiador da F.E.B., uma semana depois, que abaixo transcrevo para desfrute dos seus admiradores.

Nas duas matérias aqui reproduzidas foi respeitada a grafia original.



II.  ATÉ LÁ, MÃE QUERIDA!

Por Gentil Palhares 
 
"Quando chegamos à nossa terra natal, onde ela ficou para sempre, já a noite caía fechada e fúnebre. O corpo querido, imóvel e frio, estendido naquele caixão, que nos traz sempre a lembrança da morte, nos esperava no cemitério, já dentro daquela catacumba escura, pronta para ser fechada. À luz de uma vela, pudemos ver então, por minutos fortúitos que quiséramos nós tivessem a duração dos anos, a figura serena da MÃE querida. Tôda de preto, as flôres em torno, não parecia que estava morta. Dormia. Por certo que dormia. Descansava. Foram 87 anos de vida terrena, de lutas, de desenganos. E precisava descansar. Precisava dormir. Mas, vendo-a assim, sem olhar os dois filhos que chegavam aflitos e desolados, sem lhes dar o seu sorriso de sempre, só então compreendemos que tudo era verdade. Só então nos foi dado sentir que nossa MÃE deixara de viver. Só então compreendemos que estava tudo acabado aqui na terra, para aquela a quem Deus fôra assaz pródigo, dando-lhe tão longa jornada, para que pudesse, pela dor e pelo sofrimento, chegar um dia até ÊLE. 
Nos meus pobres escritos, dentro do cenário da vida, nunca me esqueci da morte. Os próprios santos nos recomendam esta meditação, como que nos alertando para a vida futura. De tôdas as crônicas, porém, que tenho escrito, falando dos que já nos deixaram, nenhuma como esta feriu-me tão profundamente. Sem dúvida porque grita dentro de mim o coração de filho. Ou porque tenho a impressão de que falo de minha própria morte, sendo como sou um fragmento pensante daquela que morreu. Oh, não! por que falar em MORTE, se esta não existe? Por que falar que minha MÃE morreu, quando só agora começou a viver? Não é a morte do corpo o princípio da vida da alma? E a alma encarcerada num corpo não é alma morta? Não disse JESUS "deixai aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos?" Choro, entretanto, sôbre os teclados desta máquina, que levam a O DIÁRIO estas linhas, pedaços do meu coração; choro porque sinto saudades, ainda que sabendo-a mais viva do que eu próprio, na conceituação do DIVINO JESUS. Choro ainda porque a palavra MÃE tem a fôrça singular e incoercível, divina e misteriosa de fazer chorar os homens. Choro, enfim, porque a perda de minha MÃE me faz voltar à infância que passou, tempos felizes em que ela era moça e eu menino. E os meninos choram! Por isso, debruçado sôbre esta máquina os teclados se embaralham, se confundem nos meus olhos, onde dançam as lágrimas numa orgia de imagens e de côres. E o meu pensamento vôa para aquêle cemitério triste, onde, no segrêdo da noite, daquela noite mais triste ainda, ela nos esperava no seu caixão florido!  
Foi o último adeus ao corpo amado! Foi o derradeiro olhar de MÃE, que soube sublimar-se no amor aos filhos, sempre ausentes, para que ela, na sua longa trajetória pela vida, vivesse, como nós agora, morrendo de saudades! 
Filhos que ainda possuem suas MÃES! Conservem-nas bem dentro de seus corações! Acariciem-nas na mocidade, mas reverenciem-nas mais apaixonadamente na velhice, quando os seus cabelos brancos vão surgindo, para nos dizer a nós, os filhos, que o ocaso da vida dessas criaturas santas já vem chegando! 
Aqui me despeço, minha MÃE saudosa, porque estas linhas são dirigidas à tua imagem, à tua pessoa, tú que não morreste, mas continuas vivendo, sentindo em espírito os nossos anseios, as nossas dores, as nossas SAUDADES que são muitas. E elas viverão perenes em nossos corações, até que um dia e será um dia feliz, possamos deixar êste VALE DE LÁGRIMAS e nos reunirmos ao teu regaço! Daqui da terra te mandaremos sempre as nossas preces arrancadas do fundo de nossos corações. É o que agora temos para te oferecer, porque de nada mais precisas. 
Até lá, MÃE querida!"

Fonte: DIÁRIO DO COMÉRCIO, São João del-Rei, Ano XXIII,  Nº 6.523, edição de 28 de julho de 1960, p. 2. 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

ALUÍZIO JOSÉ VIEGAS (☆1941 ✞ 2015): "Eu, antes de mais nada, sou um amante das coisas da minha terra."


Por Edésio de Lara Melo

Aluízio José Viegas, comendador.
Foto: Beatriz do Carmo Brighenti Viegas (em 13/11/2011) na Fazenda do Pombral.

Este artigo saiu originalmente no JORNAL DAS LAJES, na edição nº 436, de 13/08/2015,  publicado em Resende Costa-MG 




Faleceu no último dia 27 de julho, aos 74 anos de idade, o músico sanjoanense Aluízio José Viegas. Aluízio encontrava-se adoentado e internado em hospital de Nova Lima, na grande Belo Horizonte, a capital mineira. Foi enterrado no Cemitério do Carmo da cidade de São João del-Rei no dia seguinte, depois de missa de corpo presente celebrada na Catedral Basílica Nossa Senhora do Pilar pelo pároco Padre Geraldo Magela e outros três vigários, com a música tocada e cantada pelas centenárias Orquestras Ribeiro Bastos e Lira Sanjanense. Depois o corpo seguiu cortejo ao som plangente dos sinos das igrejas, tendo sido recebido pela Irmandade do Carmo que o conduziu até a sepultura, momento em que se ouviu o Miserere de Manoel Dias de Oliveira, interpretado pela Ribeiro Bastos.

Dedicou-se Aluízio, ao longo da vida, a trabalhos junto à Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar e ao estudo da história da música sanjoanense e arredores e da sua divulgação. Aluízio era como uma enciclopédia, repleto de informações. Era simples, bem humorado e franco. Não se sentia um musicólogo, como disse o amigo e musicólogo Paulo Castanha (Unesp) em homenagem que lhe prestou no facebook. Porém, boa parte do conhecimento que temos do que restou da música escrita em Minas Gerais para coro e orquestra desde meados do século XVIII e, posteriormente, para banda, devemos a ele.

Durante minha pesquisa no mestrado, entre 1999 e 2001, o procurei em busca de ajuda. Marcamos encontro na sede da Lira Sanjoanense, onde ele atuava como regente e arquivista, no mesmo lugar em que seu corpo foi velado. A conversa, no dia 24 de julho de 2000 foi longa e produtiva. Naquele dia ele me contou, em detalhes, parte da história de sua vida.

Aluízio, 12º filho de família numerosa, gostava que o José, de seu nome, fosse realçado; significava muito para ele. Seu envolvimento com a música, ele o teve como herança de família, puxou ao pai, um compositor e flautista modesto, segundo disse. Aluízio começou a estudar música aos 18 anos. Ele bem que tentou iniciar antes, mas “houve uns momentos críticos de família – meu pai era empregado público estadual – e os recursos para manter uma família numerosa eram difíceis”, afirmou.  Aos 7 anos participou da sua “primeira Semana Santa, ajudando na limpeza da prata e depois ajudando, vestido com opa do Santíssimo Sacramento.” A proximidade com a igreja foi determinante para suas atividades artísticas e profissionais em São João. E intensificou a partir do momento em que seu pai adquiriu uma casa geminada na Rua Santo Antônio. Pouco tempo depois o outro lado foi ocupado pela Lira Sanjoanense, fundada em 1776, com atuação intensa nas Igrejas do Carmo e Pilar, principalmente. Os ensaios semanais das novenas e os cursos de música foram como isca para Aluízio que logo manifestou desejo de fazer um curso de contrabaixo na orquestra. Sobre o seu primeiro contato com o professor de música, Aluízio disse o seguinte: “Quando ele falou que eu não tinha o tamanho necessário para começar a tocar contrabaixo, me acomodei. Quando eu fui me manifestar já por vontade própria, achando que tinha o tamanho necessário para começar a estudar o contrabaixo, o professor com quem eu comecei, falou: vamos começar primeiro com o violoncelo, depois se você tiver jeito pro contrabaixo, a gente passa pro contrabaixo, porque eu não tenho contrabaixo.  Violoncelo, você vai tomar aula lá em casa. Contrabaixo, eu vou precisar vir aqui na sede e eu não estou animado a fazer isto. Então eu iniciei no violoncelo com o Francisco de Assis Carvalho, mais conhecido como Juju”.  Juju era ex-combatente e o trauma surgido no pós-guerra o deixou com dificuldades de manter regularidade nos compromissos. Por isso as aulas eram constantemente interrompidas. Em certo momento o professor lhe disse “você tem jeito pra tudo, menos pra música.” Foi por isso que, em 1959, Aluízio comprou um violoncelo em Lavras/MG, para reformá-lo em São João e, então, começar a estudar sozinho. “Comecei a estudar particularmente; eu mesmo me dando aula”, disse.

A partir daquele momento, tocando na orquestra e começando a ouvir gravações em disco obras de autores mineiros recuperadas por Francisco Curt Lange, nasceu o seu interesse pela pesquisa em música.  O desejo e envolvimento com a pesquisa chamou a atenção do maestro Pedro de Souza, que Aluízio tinha como segundo pai. Ao lhe entregar as chaves do arquivo, sob o protesto dos músicos e da diretoria, o maestro comentou: “oh, eu vejo no Aluízio a continuidade”. “E de fato ele, me entregou a chave da sede, mas, antes, ele me aconselhou, com aquele conselho sábio: oh, isso é patrimônio de uma entidade, não é patrimônio particular não. Então eu espero de você, o zelo que eu tenho e que seja continuador dele. Então eu passei a ser para ele, de fato, o auxiliar imediato; copiando novas partes, preservando os manuscritos, os manuscritos mais antigos. Então iniciei aquilo que eles não faziam: comecei a fazer montagem das partituras a partir das partes individuais e eu posso ter até um justo orgulho. Eu fui o primeiro brasileiro a montar uma partitura de uma obra de Manoel Dias de Oliveira”, confessou Aluízio.  

Apesar de nunca ter feito curso superior, a competência e dedicação o fizeram respeitado no Brasil e exterior. Chegou inclusive a ser convidado pelo padre-compositor Jaime Diniz, da Academia Brasileira de Música, para se mudar e ajudar a criar o Instituto de Musicologia da Universidade Federal da Bahia. Segundo disse Jaime Diniz, Aluízio tinha uma coisa que a universidade não ensina: o senso inato do pesquisador. “Você tem um faro impressionante para descobrir as coisas. Você tem a escola prática e quando o aluno sai da universidade, com o estudo teórico, ele vai dar na falta da prática e isso você já tem”, disse-lhe o padre em 1963. O projeto só não foi adiante devido às dificuldades enfrentadas por todos a partir da revolução de 31 de março do ano seguinte.

Fato é que Aluízio permaneceu em São João, para reunir amigos, em especial Geraldo Barbosa de Souza, Antônio Carlos Rossito e José Lourenço Parreira e tocar em seus instrumentos o rico repertório guardado na Lira, manter contato e trocar informações com musicólogos importantes como Cleofe Person de Matos e Francisco Curt Lange, dirigir ensaios e concertos da Lira, auxiliar Monsenhor Paiva na Matriz e, acima de tudo, receber interessados em saber mais do passado musical mineiro. Assim, ao longo de sua vida, além de guardião de um dos mais importantes arquivos de música antiga brasileira, foi verdadeiro mestre para aqueles que o procuraram em busca de ensinamentos, informações e documentos. Caberá agora, ao seu sucessor, observar as advertências deixadas pelo maestro Pedro de Souza e seguidas à risca por Aluízio, de bom guardião do valioso arquivo da Lira Sanjoanense.

Colaborador: EDÉSIO DE LARA MELO



Área de atuação: regência, canto e pesquisa em música e história

Formação Acadêmica

Pós-Graduação:

2013 – Doutorando / História / UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais 
Linha de pesquisa: História Social da Cultura
Projeto: “As Marchas Fúnebres e sua Contribuição para o Processo de tradicionalização das Manifestações Religiosas e Culturais de Minas Gerais”
Orientadora: Professora Dra. Adalgisa Arantes Campos

2001 – Musicologia / Mestrado / Strictu Sensu
UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro Dissertação: “A Música da Semana Santa em Quatro Cidades dos Campos das Vertentes”
Orientadora: Professora Dra. Martha Tupinambá de Ulhôa 

1994 – Lazer / Especialização/Lato Sensu
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Educação Física / SESI Nacional

Graduação
        
1985 – Regência
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Música
Professores David Machado e César Guerra-Peixe

1999 – Canto
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Música
Professor Amin Abdo Ferez 

Destacam-se em sua formação, os cursos de curta duração que frequentou: Festival de Campos do Jordão (SP), Festival de Inverno de Ouro Preto (MG), Curso de Verão de Música de Brasília / CIVEBRA (DF) e os cursos de regência coral oferecidos pela FUNARTE.

Paralelamente ao curso de gradução, recebeu, por longo período, aulas de canto com Eládio Perez Gonzales (MG), Francisco Campos Neto (SP) e Francisco Frias (DF) e de regência com renomados maestros, tais como Carlos Alberto Pinto Fonseca (MG) e Manuel Ivo Cruz (Portugal).  


Atividade profissional


Professor adjunto do Curso de Música da Universidade Federal de ouro Preto (Ufop) desde 2001. Área de atuação: regência, canto coral, técnica vocal. Entre 2005-2007 foi chefe do Departamento de Artes da Ufop. Na Ufop é o regente e do Coral Ufop e coordena o programa “Ufop Convida” que promove concertos, palestras, masterclasses e workshops oferecidos por professores e alunos da universidade e de outras escolas de música de ensino superior do Brasil e do exterior.

Desenvolve pesquisa em música, notadamente na microrregião de São João del-Rei, tendo como objetivo principal os aspectos históricos e repertório das bandas de música dos municípios.

Participa eventualmente do Festival de Inverno de Ouro Preto atuando como regente em oficinas de Bandas de Música (2009) e canto coral infantojuvennil (2015).

Foi membro efetivo do Coral Lírico de Minas Gerais entre os anos de 1989/2004, quando atuou como primeiro tenor e chefe de naipe no coro. Durante esse período, participou de todas as produções lírico-sinfônicas promovidas pela Fundação Clovis Salgado (Palácio das Artes) quando atuou ao lado de renomados artistas brasileiros e estrangeiros. Antes de se transferir para o coral Lírico, foi professor de Música na Fundação Clóvis Salgado entre 1979/1989, atuando nas classes de canto coral, percepção musical e orquestra jovem.

Foi professor  de Música nos Cursos de Licenciatura e Bacharelado Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), desde 1998. Área de atuação: canto, metodologia do ensino do canto, pedagogia do canto, canto coral e técnica vocal, entre os anos de 1998 e 2014. Entre os anos de 2005 e 2008, coordenou, na instituição, foi o coordenador dos cursos de Pós-Graduação da Escola de Música da Uemg no período de 2005 a 2008.

Foi, durante longo período, integrante dos corais do MAI – Modern American Institute, sob a regência de Ângela Regina Pinto Coelho e do Ars Nova – Coral da UFMG, este sob a direção do renomado maestro Carlos Alberto Pinto Fonseca.

Foi supervisor Cultural e Regente Coral do SESI-DRMG (SESIMINAS) (1987-1994).

Ex-Regente dos Corais da Copasa-MG, do Minas Tênis Clube e Elizabeth Figueiredo do Tribunal de Alçada de Minas Gerais (1994/1999) e dos Alunos do Colégio Padre Eustáquio (2001/2010).

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

FUNDAÇÃO DA SOCIEDADE DOS AMIGOS DE SÃO JOÃO DEL-REI EM 23/06/1960


Por Fábio Nelson Guimarães



I.  INTRODUÇÃO, por Francisco José dos Santos Braga



O que se lerá abaixo refere-se ao funcionamento da "Sociedade dos Amigos de São João del-Rei" no período contido entre 23/06/1960 e 21/08/1960, ou seja, durante dois meses. Essa Sociedade foi importante iniciativa de um grupo de pessoas gradas de São João del-Rei, lideradas por Fábio Nelson Guimarães, o qual atuou com muita firmeza na presidência provisória da Associação antes da eleição da sua primeira diretoria.

O que aparece transcrito abaixo foi obtido de duas fontes: uma folha avulsa de papel pautado datilografada, que Fábio Guimarães guardava dentro de um de seus cadernos pretos como um resumo do livro de atas, e o próprio livro de atas da Sociedade que se encontra na biblioteca do IHG local. Observe que no lado superior direito da folha pautada está anotado: "N.B. - o livro de atas está no arquivo da biblioteca do IHG local", o que corresponde à verdade.

Folha de papel pautado datilografada encontrada no acervo deixado por Fábio Nelson Guimarães



Parece que há uma correspondência perfeita entre as duas fontes de informações durante o período de dois meses de funcionamento da Associação, importando lembrar que o livro de atas está preenchido da folha 1 até a folha 9-verso. Como esse livro é numerado, percebe-se que foram arrancadas, com o auxílio de um objeto cortante (estilete ou gilete), as folhas de nº 10, 11 e 12 (e seus versos obviamente). As folhas preservadas, de nº 13 a 50, estão intactas, não preenchidas. Importante observar que na última ata, intitulada "Ata da sessão de 21 de agôsto de 1960", lavrada pelo Prof. Elpídio-Antônio Ramalho, basicamente faltam as assinaturas dos membros da Associação que estiveram presentes à sessão. Que razão teria levado alguém a fazer desaparecer as assinaturas de uma ata? Há também a possiblidade de ter havido, por parte dessa(s) pessoa(s), a intenção de destruir(em) não só as assinaturas de uma ata, mas também outras atas que se encontravam redigidas até a folha 12-verso.

Observo que a ata sempre era assinada pelos sócios presentes após a sua leitura, ou seja, na reunião seguinte à que se refere a ata. Com isso, é possível imaginar que teria havido pelo menos mais uma reunião, se é que havia assinaturas na folha nº 10 (arrancada) do Livro de Atas.  



Para facilitar a leitura, fundi as duas fontes de informação de modo a fazer corresponder o item da folha avulsa com a respectiva ata copiada do Livro de Atas. Ao final da exposição, serão apresentados dois artigos da autoria de Fábio Nelson Guimarães, autêntico CEO da Sociedade dos Amigos de São João del-Rei.



Foi observada com rigor a grafia da época.







II. HISTÓRICO DA SOCIEDADE DE AMIGOS DE SÃO JOÃO DEL-REI







1. FUNDAÇÃO DA SOCIEDADE DE AMIGOS DE SÃO JOÃO DEL-REI EM 23/06/1960



23/06/1960: ata de fundação, no Ítalo (Cantina Calabresa), às 21 hs.

Sócios fundadores: Fábio Nelson Guimarães, Nelson José Lombardi, Nadir Salim, Getúlio Silva, Aníbal Pereira Neto, José Antônio da Silva e Maria Carmen Mansur.

Objetivos: Auxiliar a administração municipal, sem sectarismo político, religioso e filosófico. Cuidar do turismo.

Foram eleitos por aclamação: Fábio Guimarães (que na ocasião era o presidente do DASTA-Diretório Acadêmico São Tomás de Aquino), presidente, e Maria Carmen, secretário.

Sócios:

1)   Fábio Nelson Guimarães 
2)   Getúlio Guilherme Silva 
3)   Rômulo de Castro Ferreira Alves 
4)   Vicente Terra 
5)   Nadir Salim 
6)   Nelson José Lombardi 
7)   Odila Maria Garcia de Lima 
8)   Elpídio Antônio Ramalho 
9)   José Antônio da Silva 
10) Aníbal Pereira Neto 
11) Kleber Vasques Filgueiras 
12) Lúcia Kawall Filgueiras 
13) Maria Carmen Mansur 
14) Luso Soares de Azevedo 
15) Zoé Simões Coelho 
16) Sebastião de Oliveira Cintra 
17) Jairo Teixeira Ramalho 
18) José Bernardino Silveira 
19) Ivan Della Croce 
20) José Resende Guimarães Filho 
21) José Norberto Esteves dos Santos



ATA DE FUNDAÇÃO



Aos vinte e três dias do mês de Junho de mil novecentos e sessenta, na sobreloja do Edifício São João del-Rei, às 21 horas reuniram-se os srs. Nelson Lombardi, Nadyr Salim, Getúlio Guilherme Silva, Aníbal Pereira Neto, José Antônio Silva, Fabio Nelson Guimarães e Maria Carmen Mansur com o fito de fundar a "Sociedade dos Amigos de São João del-Rei". Essa instituição, que poderá se tornar muito significativa para o bem da cidade, visa alcançar fins filantrópicos, com o propósito de tecer ponderações em relação à cousa pública sanjoanense, zelando pelos imóveis da cidade e interesses coletivos, procurando sobretudo elevar, sob qualquer aspecto, o nome de São João del-Rei. Ficou estabelecido nessa ocasião que a sociedade em questão pairará acima de côres políticas, religiosas e de ideologias filosóficas; como condição para ser admitido o sócio deverá externar sua vontade de trabalhar em prol da sociedade e de São João del-Rei com ardor e abnegação. Os presentes deram por fundada a entidade considerando-se como sócios fundadores. Vendo-se a necessidade da elaboração de estatutos que dirijam a nova instituição, decidiu-se que esse trabalho será feito por uma comissão tendo à frente o Dr. Getúlio G. Silva. Como presidente foi apontado o nome do Sr. Fábio Guimarães que aceitou o cargo provisoriamente até que se possa realizar uma eleição, o mesmo acontecendo para o cargo de secretária, que foi ocupado pela Srta. Maria Carmen Mansur. Ficou estabelecido que se faria realizar uma nova reunião a vinte e nove do mês corrente às 10 hs nos salões do Minas Futebol Clube. Esta reunião deveria constar de uma palestra sobre a história de São João del-Rei, feita por Fábio Guimarães e de uma mesa redonda sobre assuntos ainda de grande interesse para a formação da Sociedade dos Amigos de São João del-Rei. Diante da constatação de que deveria ser aumentado o número dos sócios, ficou decidido que cada presente teria direito de convidar mais cinco componentes, uma vez que não é interesse para a sociedade possuir grande quantidade de sócios. Pensou-se também na vantagem que trará para a instituição os serviços auxiliares das Bandeirantes na função de cicerones no trabalho de Turismo, e também do Diretório Acadêmico da Faculdade de Filosofia D. Bosco, que no dizer de seu Presidente Fábio Guimarães, apoiará tôdas as iniciativas da recém-criada Sociedade. Não havendo nada mais a tratar, encerrou-se a sessão e eu, secretária ad-hoc lavrei a presente ata, que se for aprovada, será devidamente assinada. São João del-Rei, 29 de Junho de 1960. Maria Carmen Mansur, secretária ad-hoc

Fábio Nelson Guimarães - Presidente
José Resende Guimarães Filho
Ivan Della Croce
Nadir Salim

... (ilegível)

Kleber Filgueiras

Nelson José Lombardi
Agenor Simões Coelho
Pelas Bandeirantes presentes:
Zayra Batista Teixeira
Gui Tarcísio Mazzoni
Domingos Magno Ferreira
Therezinha Guimarães
Júnia Guimarães
José Bernardino Peixoto
Osni de Assis e Silva
Joaquim Aleixo de Sousa




2. PALESTRA


29/06/1960: Fábio Guimarães proferiu palestra sobre história local, às 10 hs., no Salão dos Espelhos do Minas Futebol Clube.


ATA DA PRIMEIRA REUNIÃO DA SOCIEDADE DOS AMIGOS DE S. JOÃO DEL-REI



Aos vinte e nove dias do mês de Junho realizou-se a reunião que havia sido marcada por ocasião do primeiro encontro que marcou a fundação da Sociedade. Como estava programado, a sessão foi iniciada com uma palestra do Sr. Fábio Nelson Guimarães sobre a história de São João del-Rei. Apesar de curta a palestra pôde dar aos presentes uma boa visão do passado sanjoanense, versando sôbre datas importantes e fatos interessantes da cidade assim como sôbre visitas ilustres que aqui estiveram e sanjoanenses que elevaram o nome de sua terra ligando-se a cargos importantes ou fatos dignos de nota. Terminada a palestra, os presentes puderam fazer algumas perguntas que foram respondidas pelo Sr. Fábio Guimarães e às vezes comentadas por todos. A sessão contou com a presença de várias pessoas interessadas em assuntos sanjoanenses e de algumas Bandeirantes. Ao terminar suas palavras sobre história sanjoanense, o Sr. Fábio Guimarães, presidente da Associação dos Amigos de São João del-Rei, disse que, dado ao avançado da hora, não haveria uma longa sessão, e convidou os presentes a ouvirem a leitura da Ata da última reunião e a debaterem assuntos relacionados aos interesses da Sociedade. Após a leitura da Ata, o Sr. Nelson Lombardi pediu licença para ler uma Lei, digo, um item da Lei Orgânica dos Municípios Mineiros que se referia à instituição de Sociedades semelhantes à que estamos organizando. Opinou o Sr. Nelson Lombardi que a Sociedade dos Amigos de São João del-Rei, deveria ser organizada de acordo com a Lei dos Municípios Mineiros, com estatutos aprovados pela Autoridade Municipal, pois assim gozará ela do privilégio de opinar sobre o que realiza a Prefeitura. Se não for a Sociedade um órgão oficial, não terá voz ativa. O Sr. José Bernardino, concordando com o Sr. Nelson Lombardi, propôs que este, vereador da Câmara Municipal, entrasse com o projeto sobre a fundação de nossa entidade. Mas, segundo a opinião do Sr. Nelson e de muitos presentes, resolveu-se que a instituição só deve ser levada à Câmara, depois de organizada. Terminando os debates, disse o Sr. Nelson Lombardi que, se interessa ou não à Sociedade possuir cunho oficial, é um assunto que deverá ser estudado por todos. Marcou-se então uma outra sessão para o próximo domingo, dia 3, e eu a secretária lavrei a presente Ata, que, se for aprovada, será devidamente assinada. São João del-Rei, 3 de Julho de 1960. Maria Carmen Mansur - Secretária
Fábio Nelson Guimarães - Presidente
Kleber Filgueiras
Gui Tarcísio Mazzoni
Rômulo de Castro Ferreira Alves

...

Nelson José Lombardi

Ivan Della Croce
José Antônio da Silva
Odila Maria Garcia de Lima
Elpídio-Antônio Ramalho




3. REUNIÃO ORDINÁRIA SEMANAL


03/07/60, no Minas Futebol Clube. Sócios seniors: nº limitado (21), com direito a voto. Sócios juniors: nº ilimitado, sem voto, com direito a voz nos debates. A SAMIS (Sociedade dos Amigos de São João del-Rei) começa a agir no turismo.
O 1º ofício recebido foi da ACAR ¹:  "(...) e se não for atendida, pelo menos figurará na história sanjoanense que houve quem lutasse pelos interesses da cidade."



ATA DA SEGUNDA REUNIÃO DA SOCIEDADE DOS AMIGOS DE SÃO JOÃO DEL-REI, realizada aos três de julho de 1960, na sede social do Minas F. Clube à rua Artur Bernardes, nesta cidade. Estiveram presentes os sócios: Dr. Kleber Filgueiras, Nelson Lombardi, Dr. Anibal Pereira Neto, Dr. Ivan Della Croce, José Antônio Silva, Dr. Elpídio Ramalho, Srta. Odila Garcia de Lima, o presidente Fábio Guimarães e a secretária Maria Carmen Mansur e Dr. Rômulo de Castro F. Alves. Esteve presente à reunião o Sr. Gui Mazzoni que irá fundar em Belo Horizonte a Casa dos Amigos de São João del-Rei. A reunião foi aberta pelo presidente Fábio Guimarães tendo sido lida e aprovada a ata da reunião anterior. O primeiro assunto a ser tratado foi a respeito dos estatutos da Sociedade; que digo, na opinião de todos os presentes deve constituir a principal preocupação: a elaboração de estatutos que dirijam a entidade. O presidente Fábio Guimarães propôs a inclusão de dois artigos nos estatutos segundo os quais, qualquer decisão só seria tomada em Assembléia, e pessoas de vida acentuadamente política não ocupariam cargos de direção na Sociedade. Este segundo item resolveu-se que deveria ser estudado pela comissão encarregada dos estatutos. O primeiro foi discutido e concluiu-se que seria pouco útil à Sociedade a inclusão daquele artigo, pois resultaria uma grande morosidade na resolução dos problemas se só pudessem ser tomadas decisões em Assembléias. Foi aceita por todos a opinião apresentada por Dr. Kleber Filgueiras: os assuntos públicos, muito importantes, devem ser resolvido em Assembléia, ao passo que, para assuntos de menor alcance, bastará a decisão tomada pela Diretoria. Foi estudado em seguida o problema financeiro prevendo-se a necessidade de ser estabelecida uma cota com a qual contribuirão os sócios e que será a primeira fonte de renda da entidade. Foi lembrado por um dos sócios que, antes de se fixar a cota, deveria ser estabelecido o número de sócios. Discutindo-se quanto à quantidade de sócios, todos foram de opinião favorável à limitação a um número se não pequeno, pelo menos razoável de membros, lembrando o Sr. Nelson Lombardi o perigo da infiltração, se não houver número limitado. O Dr. Elpídio Ramalho foi de opinião que o número de sócios não deveria ser muito pequeno para que esses não ficassem sobrecarregados. O Dr. Kleber Filgueiras lembrou-se, então, de uma organização americana na qual existem dois tipos de membros: os seniors e os juniors. Aproveitando a idéia para a nossa Sociedade, teríamos como seniors os sócios com direito a voto e em número limitado. Os juniors seriam sócios, sem número determinado, que assistiriam as reuniões, discutiriam e opinariam sobre os assuntos nelas tratados, mas não votariam. Para seniors e juniors haveria a condição única para sócio: dedicação e vontade de trabalhar. Tendo sido por todos aprovado esse tipo de organização, discutiu-se o número de sócios seniors chegando-se à decisão final: 21 membros com poder do voto, espécie de efetivo, e número ilimitado de sócios sem direito de voto, mas ajudando nos trabalhos e colaborando com suas opiniões. Foi lembrado que, para conseguir maior penetração, a Sociedade deverá contar com representantes das diversas classes. Foram então lembrados nomes ligados às classes dos comerciários, operária, das donas de casa, etc. que seriam convidados a figurar no quadro de sócios seniors. Os convites seriam feitos pelo Presidente e demais sócios para que comparecessem à próxima reunião, quando deveriam ser aprovados os estatutos da Sociedade. Falou-se também sobre o tipo de trabalho a que se dedicará a Sociedade, pois não poderá ela viver apenas em função do Turismo como muitos poderiam pensar. Mas o Turismo será o ponto de partida, apenas, e podemos dizer que os sócios desta entidade serão os eternos vigilantes da causa pública. Como a Sociedade é amparada e prevista pelo artigo 134 da Lei dos Municípios Mineiros de 1947, ela gozará de voz ativa junto ao Executivo. Portanto, todo problema a ser resolvido, será discutido pelos sócios e em seguida levado por uma comissão ao conhecimento da Autoridade Municipal. Ficou claro aos sócios que sua ação não se confunde com a dos membros da Câmara Municipal. Nessa conta a maioria política, enquanto que a Sociedade dos Amigos de S. João del-Rei representará a opinião pública. Sua missão não será a de opor-se ao Poder Municipal nem de fazer agitação. O Poder não será desrespeitado. Seu intento será sempre conseguir a coisa pela qual luta, e não apenas fazer oposição. Levará suas conclusões diretamente ao Prefeito e se este não atender, poderá recorrer à campanha, à polêmica; e se não for atendida, pelo menos figurará na história sanjoanense que houve quem lutasse pelos interesses da cidade. O Sr. Presidente, em seguida, acusou o recebimento de um convite proveniente da ACAR, que constitui a primeira correspondência endereçada à Sociedade dos Amigos de São João del-Rei. Nada mais havendo a tratar, eu, a secretária ad-hoc, lavrei a presente ata que vai por mim escrita e assinada. São João del-Rei, 7 de julho de 1960. Maria Carmen Mansur, secretária.

Fábio Nelson Guimarães - Presidente
Kleber Filgueiras
Vicente Ramos ...
Lúcia Filgueiras

...

Rômulo de Castro Ferreira Alves

Nelson José Lombardi
Getúlio Guilherme Silva
Ivan Della Croce
Odila Maria Garcia de Lima



4. REUNIÃO ORDINÁRIA SEMANAL


07/07/1960: às 19:45 hs, no Minas Futebol Clube. Um minuto de silêncio pela morte de Luciano R. Salles. O suíço Carlo expôs achados em escavações em Congo Fino.



ATA DA TERCEIRA REUNIÃO DA SOCIEDADE DOS AMIGOS DE SÃO JOÃO DEL-REI,  realizada aos sete de Julho de mil novecentos e sessenta, na séde social do Minas Futebol Clube, nesta cidade. Abertura da sessão às 19:45 hs, tendo o Presidente, senhor Fábio Nelson Guimarães, pedido aos presentes um minuto de silêncio em homenagem à memória de Luciano Rastelli Salles. Logo após foi lida e aprovada a ata da reunião anterior. O presidente passou a palavra ao Dr. Ivan Della Croce, para a leitura do esbôço dos estatutos. Contudo, não se chegou a acôrdo, devido à essência dos artigos que estatuíam sôbre as finalidades e as categorias dos sócios da Sociedade. Devido à pluralidade de ponderações, o Presidente suspendeu a sessão, convocada para a apreciação dos estatutos, a fim de apresentar aos sócios o sr. Carlo, de naturalidade suíça, o qual expôs seus pontos de vista pessoais e suas conclusões sôbre excavações realizadas no distrito de Congo Fino, no decorrer das quais encontrou elementos que julga serem vestígios de civilização muito antiga. O referido senhor expôs também as dificuldades que impediram a continuação de seus trabalhos. Prometeu-se, na ocasião, apôio irrestrito ao senhor Carlo, desde que fossem averiguadas as reais probabilidades dessa suposta existência pretérita. Um achado desta natureza seria um ponto de atração turística, além de focalizar para o nosso município a atenção dos cientistas. Reiniciou-se a sessão, tendo retomado a palavra o sr. Presidente, que nomeou uma comissão para estudar os ítens que foram objeto de discussão, principalmente os que se referem às finalidades da Sociedade. Tal comissão será integrada pelos sócios Dr. Ivan Della Croce, Dr. Getúlio Silva, sr. Nelson Lombardi e Dr. Elpídio-Antônio Ramalho. Outra reunião foi marcada para o dia 14 próximo, às 19:30 hs., tendo sido solicitada a atenção de todos para a elaboração de uma sigla que pudesse responder pelo nome da Sociedade. Nesta reunião, contamos com a presença dos novos sócios sr. Vicente Terra e Dª Lúcia Filgueiras, e também com a participação dos srs. Raul de Oliveira Pereira e Dion Braga, residentes no Rio de Janeiro e Belo Horizonte, respectivamente, e que estão interessados na fundação de filiais de nossa entidade naquelas cidades. Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a sessão, da qual eu, por impedimento da secretária ad-hoc, lavrei a presente ata, que vai por mim escrita e assinada. São João del-Rei, 14 de Julho de 1960. Odila Maria Garcia de Lima

Fábio Nelson Guimarães - Presidente
Getúlio Guilherme Silva
Luso Soares Azevedo
José Antônio da Silva
Kleber Filgueiras
Lucia Filgueiras
...




5. REUNIÃO ORDINÁRIA SEMANAL


14/07/1960: às 19:50 hs, no Minas Futebol Clube. Aprovados os estatutos.



ATA DA QUARTA REUNIÃO DA SOCIEDADE DOS AMIGOS DE SÃO JOÃO DEL-REI, realizada aos 14 de Julho de mil novecentos e sessenta, na séde social do Minas Futebol Clube, nesta cidade. O Presidente abriu a sessão às 19:50 hs., tendo sido lida e aprovada a ata da reunião anterior. Logo a seguir iniciaram-se os trabalhos para a aprovação dos estatutos, recomendando o Presidente que se racionalizasse a sessão e fossem respeitados os direitos de aparte, visando economia de tempo. O senhor Nelson Lombardi, membro da comissão designada para elaborar os estatutos, foi encarregado de ler cada artigo em separado, para discussão. Após a leitura, cada artigo era analizado, e os debates surgidos foram decididos por votação. Após a aprovação dos estatutos, o senhor Nelson Lombardi entregou-os ao sr. Presidente, para serem transcritos no livro de Atas. Nesta oportunidade, o sócio dr. Aníbal Pereira Neto propôs que se consignasse em ata um voto de louvor à comissão, o que foi aceito por todos. Por sugestão do sócio dr. Kleber Filgueiras, foi nomeada nova comissão, para elaborar o Regimento Interno das reuniões da Sociedade. Para êste trabalho foram designados os srs. Luso Soares de Azevedo, Nelson Lombardi e Getúlio Silva. No tocante à freqüência dos sócios às reuniões, o sr. Presidente sugeriu a adoção de um Livro de Presença. A questão referente à sigla da Sociedde ficou em suspenso, tendo sido deliberado que a sigla a ser adotada não figurará nos Estatutos. Foram apresentadas duas sugestões: S.A.S. e S.AMI.S. Foi marcada nova reunião para o dia 22 de Julho, com a finalidade de eleger a diretoria que funcionará até Janeiro/1961, de acôrdo com os Estatutos aprovados. Antes de encerrar a sessão, o Presidente enumerou ràpidamente diversos assuntos que poderão constituir metas para a Sociedade. Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a sessão, às 21:55 hs. Para constar, eu, por impedimento da secretária ad-hoc, lavrei a presente ata que, se for aprovada, vai por todos assinada. São João del-Rei, 22 de Julho de 1960. Odila Maria Garcia de Lima. Fábio Nelson Guimarães - Presidente




6. REUNIÃO ORDINÁRIA SEMANAL


22/07/1960: às 19:30 hs, no Minas Futebol Clube. Eleição por aclamação (veja "Jornal de Minas", 1972 e Diário do Comércio, em 1960). Diretoria até janeiro de 1961.



ATA DA QUINTA REUNIÃO DA SOCIEDADE DOS AMIGOS DE SÃO JOÃO DEL-REI, realizada aos vinte e dois de Julho de mil novecentos e sessenta, às 19:30 hs., na séde social do Minas Futebol Clube. Aberta a sessão pelo sr. Fábio Nelson Guimarães, foi lida e aprovada a ata da reunião anterior. Sendo esta reunião destinada à eleição da diretoria que funcionará até Janeiro de 1961, o sr. Fábio Nelson Guimarães apresentou uma chapa, a qual foi discutida e modificada. Tendo sido por todos aprovadas as modificações propostas, procedeu-se à eleição por aclamação. A diretoria eleita compõe-se dos seguintes membros: Presidente, sr. Luso Soares de Azevedo; Vice-Presidente, dr. Kleber Filgueiras; 1º secretário, Odila Maria Garcia de Lima; 2º secretário, dr. Elpídio-Antônio Ramalho; 1º tesoureiro, sr. José Antônio da Silva; 2º tesoureiro, sr. Jairo Ramalho, Conselho Fiscal: sr. Fábio Nelson Guimarães, dr. Ivan Della Croce e dr. Getúlio Silva. Dr. Kleber Filgueiras sugeriu uma sessão solene, para a posse da diretoria eleita, marcando-se para o dia 7 de Agôsto próximo. Não estando presente, por motivo justificado, o sr. Luso Soares de Azevedo, foram designados os sócios Fábio Nelson Guimarães, José Antônio Silva e dr. Rômulo de Castro para procurá-lo, comunicando-lhe sua eleição para o cargo de Presidente desta Sociedade. Decidiu-se que a diretoria eleita providenciará, imediatamente após a posse, o registro da Sociedade junto às autoridades competentes. Nada mais havendo a tratar, encerrou-se a sessão, da qual, para constar, lavrei a presente ata que, se for aprovada, vai por todos assinada. São João del-Rei, em 7 de Agôsto de 1960. Odila Maria Garcia de Lima, secretária.

Fábio Nelson Guimarães - Presidente

Luso Soares de Azevedo

Kleber Filgueiras

Elpídio-Antônio Ramalho
José Antonio da Silva
Jairo Teixeira Ramalho
Getúlio Guilherme Silva

Ivan Della Croce
...

Lúcia Kawall Filgueiras

...

Nelson José Lombardi

...

Rômulo de Castro Ferreira Alves



7.  REUNIÃO ORDINÁRIA SEMANAL


07/08/1960: às 10:30 hs, na Associação Comercial. Posse da diretoria.



ATA DA SEXTA REUNIÃO DA SOCIEDADE DOS AMIGOS DE SÃO JOÃO DEL-REI, realizada aos sete de Agôsto de mil novecentos e sessenta, na séde da Associação Comercial desta cidade, às 10:30 hs. Abrindo a sessão, o presidente em exercício, senhor Fábio Nelson Guimarães, comunicou aos sócios ter escrito um artigo sôbre a Sociedade, no qual convidava o povo para a sessão solene da posse da diretoria, entregando-o na redação do Diário do Comércio. No entato, o referido artigo não foi encontrado naquela redação, não sendo publicado. Pediu o sr. Fábio N. Guimarães que a diretoria procurasse esclarecer a questão. A seguir, foi feita a leitura da ata, que foi aprovada. O senhor Fábio N. Guimarães declarou então empossada a nova diretoria, dirigindo brilhantes palavras de estímulo a todos, exaltando os ideais que deverão orientar as atividades da Sociedade. O sr. Luso Soares de Azevedo, Presidente, assumiu então a presidência da sessão, e discursou agradecendo o sufrágio de seu nome, congratulando-se com todos e afirmando seu propósito de tudo fazer em prol do desenvolvimento da Sociedade dos Amigos de São João del-Rei. Seu primeiro passo seria comunicar ao sr. Prefeito do Município, ao Presidente da Câmara e demais autoridades, o feliz surgimento da Sociedade. Finalizando, foi vibrantemente aplaudido pelos presentes. Declarada franca a palavra, o sr. Nelson Lombardi dela fez uso, para saudar o sr. Luso S. de Azevedo e demais membros da Diretoria, hipotecando seu irrestrito apôio à mesma. A seguir, o sr. Fábio Nelson Guimarães, na qualidade de presidente do Diretório Acadêmico S. Tomaz de Aquino, fez entrega de ofício congratulatório dirigido por aquela entidade à Sociedade dos Amigos de S. João del-Rei. Não havendo mais quem desejasse fazer uso da palavra, o sr. Presidente convidou a nova diretoria para uma primeira reunião no dia 9 do mês em curso, marcando também uma reunião geral dos sócios para o dia 21 do mesmo mês em curso. Nesta reunião tivemos a presença honrosa dos senhores José Resende Guimarães Filho, Major João Cabello Bidart, Dr. Waldemar Moura Filho, Dr. Joaquim Aleixo Sousa e sr. Wilson Ourique de Oliveira. Nada mais havendo a tratar, o Presidente, agradecendo a presença de todos, encerrou a sessão, da qual, para constar, lavrei a presente Ata que, se for aprovada, vai por todos assinada. São João del-Rei, 9 de Agôsto de 1960. Odila Maria Garcia de Lima, secretária.

  


8. REUNIÃO ORDINÁRIA SEMANAL

09/08/1960: às 19:30 hs,  na Associação Comercial. 1ª reunião da diretoria. Assuntos: sugestão à Prefeitura: criação de Comissão Municipal de Turismo e aproveitamento da cachoeira dos Moinhos (Luso).


ATA DA PRIMEIRA REUNIÃO DA DIRETORIA DA SOCIEDADE DOS AMIGOS DE SÃO JOÃO DEL-REI, realizada aos nove dias do mês de Agôsto de mil novecentos e sessenta, às 19:30 hrs, na séde da Associação Comercial desta cidade. O primeiro assunto tratado foi o que se refere ao pagamento das contribuições, de acôrdo com os estatutos. Ficou decidido que o sr. José Antonio da Silva, 1º tesoureiro, mandará imprimir recibos, iniciará o recebimento, a fim de atender às primeiras despesas, como aquisição de um livro-caixa, livro de presença, livro de protocolo de documentos, etc. A seguir, combinou-se uma visita ao Sr. Prefeito do Município, a fim de comunicar-lhe a fundação da Sociedade, expondo suas finalidades e pedindo o apôio do govêrno municipal. Foi resolvido que o Presidente da Sociedade, sr. Luso Soares de Azevedo, procuraria, para os mesmos fins, o Presidente da Câmara Municipal, sr. Mozart Novaes. O sr. Fábio Nelson Guimarães prontificou-se a providenciar, com urgência, cópias do estatutos da Sociedade, para os fins devidos, como registro, etc. Discutiu-se sôbre a criação por iniciativa da Prefeitura, de uma Comissão Municipal de Turismo, sugestão que a diretoria fará, quando de sua audiência com o sr. Prefeito. Foram lembrados diversos nomes para a citada comissão, como Dr. Augusto das Chagas Viegas, Dr. José Viegas, srs. Luís Alvarenga e José Vicente. A Comissão, auxiliada pelos sócios da Sociedade dos Amigos de São João del-Rei, providenciaria a colocação de cartazes, placas indicativas, distribuição de roteiros turísticos, reuniões com os hoteleiros, organizando um plano de completa assistência aos que desejarem conhecer nossa histórica cidade. O sr. Luso S. Azevedo expôs um plano que deverá merecer o trabalho da Sociedade, e que visa o aproveitamento da cachoeira de Moinhos, servindo aos distritos de Rio das Mortes, Vitória, e outros. Dr. Kleber Filgueiras encareceu a necessidade urgente da elaboração de um Regimento Interno, assunto já entregue em reunião anterior dos sócios, a uma comissão. O sr. Fábio Nelson Guimarães lembrou o nome do sr. Dr. José Norberto Esteves, para completar os 21 sócios seniors, sendo apoiado pela Diretoria. Também o sr. Fábio Guimarães lembrou a urgência para a nomeação de um encarregado das Relações Públicas, que, pelos Estatutos, deve ser um membro da Diretoria. Para tal cargo foi lembrado o nome do Dr. Ivan Della Croce. O Presidente encarregou a secretária de marcar a audiência com o Prefeito Municipal, comunicando depois à Diretoria, data e hora. Esteve presente a esta reunião, numa colaboração espontânea e valiosa, o sr. Dr. Joaquim Aleixo de Souza, que trouxe à Sociedade um convite do escritório local da A.C.A.R., para uma reunião dia 12 de Agôsto, às 13 horas. O Dr. Joaquim Aleixo de Souza foi convidado pela diretoria a comparecer à reunião dos sócios, dia 21 dêste, a fim de fazer uma palestra sôbre o órgão que dirige. Nada mais havendo a tratar, foi marcada nova reunião da diretoria para o dia 16, às 19:30 hrs., e encerrou-se a sessão, da qual lavrei a presente ata que, se for aprovada, vai por todos assinada. São João del-Rei, 16 de Agôsto de 1960. Odila Maria Garcia de Lima, secretária.

Luso Soares de Azevedo
Kleber Filgueiras
Vicente Ramos ...
Lucia Kawall Filgueiras
M. José Simões Coelho
Maria Carmen Mansur
Joaquim Aleixo de Souza
Jairo Teixeira Ramalho
Fábio Nelson Guimarães
....
Rômulo de Castro Ferreira Alves
Joaquim Aleixo de Souza
José Antonio da Silva
Elpídio-Antônio Ramalho




9. REUNIÃO ORDINÁRIA SEMANAL

21/08/1960: às 10:30 hs, na Associação Comercial. Ainda, turismo e exposição sobre ACAR.

  

ATA DA SESSÃO DE 21 DE AGÔSTO DE 1960


Aos 21 dias do mês de agôsto de mil novecentos e sessenta nesta cidade de São João del-Rei, na sede da Associação Comercial, às dez e trinta horas, reuniu-se a Sociedade dos Amigos de S. João del-Rei, com a presença de algumas pessoas gradas. A sessão foi presidida pelo Sr. Luso Soares de Azevedo e secretariada por Elpídio-Antônio Ramalho. O sr. Presidente informou que, conforme ficara deliberado, na sessão anterior, a diretoria da sociedade fizera uma visita ao Sr. Prefeito Municipal, encontrando de parte de S. Excia. o maior interêsse para com a nossa Sociedade. Desejava lembrar a idéia da criação da comissão municipal de turismo, como um departamento da Prefeitura, com guias de turismo. Disse que as Bandeirantes poderiam também orientar essa propaganda e que a comissão visaria levar os alunos de grupos escolares a conhecerem as nossas obras de arte. Para consecução dêsses objetivos, contamos com a valiosa colaboração do Sr. Fábio Nelson Guimarães, o qual cuidará de organizar um roteiro turístico. A seguir, o Sr. Presidente deu a palavra ao Dr. Joaquim Aleixo de Souza, para falar sôbre como surgiu a ACAR. Após várias considerações sôbre êsse serviço e extensão ao meio rural, o Dr. Joaquim traçou o programa da ACAR, que é o de elevar o nível de vida das famílias rurais. O Sr. Presidente Luso Azevedo, enaltecendo a excelente palestra feita pelo Dr. Joaquim Aleixo de Souza, marcou a próxima reunião geral para o próximo dia 25 de setembro. E, para constar, lavrou-se a presente ata que vai devidamente...



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III.  ARTIGOS NA IMPRENSA SÃO-JOANENSE



FUNDADA A SOCIEDADE DOS AMIGOS DE SÃO JOÃO DEL-REI

Por Fábio Guimarães (Presidente em exercício)


As últimas administrações municipais têm se destacado por um não desenvolvimento global das reais atribuições do cargo de prefeito como tal. Nesse sentido, as faltas e omissões são devidas à irrisoriedade das posses financeiras, tão comuns às prefeituras de interior, donde derivam toda gama de inexistência de penetração por caminhos outros que há muito deveriam ter sido explorados. Às vezes, as lacunas determinam-se pela incapacidade pessoal de administração; outro sério fator é a impossibilidade inicial de desenvolvimento de planos, o que faz com que a prefeitura se dedique inteiramente ao calçamento da cidade e sòmente isto, para não considerarmos a motivação da vaidade autocrática ou política, cega às necessidades atuais de um município progressista como é o nosso. Mas, no momento, isto não importa, porque somos efeito de um conjunto de causas.

Vejamos um aspecto particular: o turismo. A criação de um departamento municipal interessado em incrementar o turismo, não seria absolutamente dispendioso nem difícil, desde que houvesse prévio planejamento. O que falta é boa vontade e visão. Ou melhor, falta de vontade de trabalhar, porque este setor não aufere vantagens políticas. Além deste setor de suma importância para São João, muitíssimos outros estão clamando pela atenção daqueles que pensam. Porque administrar é observar, é planejar, é criar nem sempre é condição inata. Precisa-se de equipe, de conselheiros.

Observando-se a série de reivindicações que qualquer atento às nossas reais necessidades pudesse apurar, foi que nasceu a Sociedade dos Amigos de São João del-Rei, cuja existência é prevista por lei vigente. Fundada a 23 de Junho último, a Sociedade complementará o esforço da prefeitura municipal na solução dos problemas que afligem enormemente a cidade. Presentemente, com a aprovação dos estatutos e prestes a ter nome registrado juridicamente, a Sociedade batalhará em prol do integral progresso de São João, como conselheira que poderá vir a ser do poder municipal, a exemplo das várias que já se fundaram pelo interior mineiro e que atuam conforme as finalidades estatutárias. Planejando e ponderando, a Sociedade cuidará do turismo, da abertura racional dos novos bairros, da higiene, do plano diretor e das necessidades imediatas da população, opinando também publicamente a respeito do que está por se fazer, para a mais rápida adaptação de São João del-Rei em seu digno e devido lugar dentro da comunidade brasileira, já previsto pelo inefável passado de nossa gente laboriosa, cheio de amor e cheio de fé.

Em sessão solene programada para 7 de Agôsto vindouro, tomarão posse nos cargos para os quais foram eleitos em assembléia, os seguintes amigos da cidade: Luso Azevedo (presidente), dr. Kleber Filgueiras (vice-presidente), srta. Odila Garcia de Lima (secretária), dr. Elpídio Ramalho (2º secretário), José Antônio da Silva (1º tesoureiro), Jairo Ramalho (2º tesoureiro). Para o Conselho Fiscal foram votados os drs. Getúlio G. Silva, Ivan Della Croce e o autor destas linhas.

Fonte: DIÁRIO DO COMÉRCIO, São João del-Rei, 31 de julho de 1960, Ano XXIII, edição nº 6.526, p. 1.


O ALTRUÍSTICO NASCIMENTO DA SOCIEDADE DOS AMIGOS DE SÃO JOÃO DEL-REI

Por Fábio Guimarães (Presidente em exercício)


O toque de felicidade de uma família sempre deveria se estender às coletividades, mormente no seu sentido alcançado pelo campo da imaginação e da inteligência. Desde que a civilização fosse produto do subjetivismo, compete aos pensantes originais por assim dizer, pois todo humano pensa, ditar as metas que poucos capazes pudessem apreender e, com as facilidades proporcionadas pela atualidade, aquilatar e dilatar o número dos demais no mesmo meio, num tom relativamente aristocrático de início, uma vez que Deus criou os homens diferentes no físico e no intelecto. O sanjoanense, lamentàvelmente desprezando seu berço natal, esconde os verdadeiros motivos e acena com o indiferentismo e o comodismo. Assim, numa comunidade tão antiga como é São João, com problemas complexos a serem solucionados, ao trabalho de um governante secundado pela equipe política de edís, teria que se seguir a atividade extra dos pensantes originais, como qualifiquei acima, infensa ao sectarismo político e religioso, ponderando e orientando. Como atualismo racional da necessidade, surgiu a Sociedade dos Amigos de São João del-Rei, convicta do papel de responsabilidade idônea, o que já não é facultado a qualquer cidadão criado por Deus. Do abrir os olhos à consolidação óssea do organismo, bastou energia desprendida por um grupo até então securitista.

Nascida a Sociedade, os espíritos de análoga profundeza atraíram-se mutuamente, não sendo absorvidos pelos de importância ilusória e demagógica, divorciados da razão, da responsabilidade e da realização. Do continuísmo estarrecedor dos tempos, facetou-se um pupilo de pensantes originais inconformados com o mundo sanjoanense de então, emergindo a Sociedade dos Amigos da terra, de nascimento e de coração. 

7 de Agôsto de 1960, às 10,30 horas, na sala magna da Associação Comercial, com a posse solene da diretoria e já sanados os empecilhos de fundação, uma nova chama de esperança arderá pelos céus sanjoanenses. Para o ato convidamos todos os sanjoanenses verdadeiramente amigos da terra e dispostos a empreender batalhas que não condecorarão nomes. Caminharemos com a esperança de que o progresso e a felicidade dêem mãos a tão altruístico movimento, pelo qual poucos após tanto tempo desejaram comunicar a uma gente de tão celebrado passado. Que Deus nos permita!

N.B. -  Publicado com atraso por falta de espaço.

FonteDIÁRIO DO COMÉRCIO, São João del-Rei, 13 de agosto de 1960, Ano XXIII, edição nº 6.534, p. 4.
Fábio Nelson Guimarães (esq.),  secretário e chefe de gabinete, despachando com o Prefeito 
Nelson José Lombardi (1963-1966)



IV. NOTAS EXPLICATIVAS, por Francisco José dos Santos Braga





¹ ACAR-Associação de Crédito e Assistência Rural, antiga EMBRATER. De acordo com a Enciclopédia Agrícola Brasileira: 
"(...) A Extensão Rural no Brasil. No País houve várias tentativas de levar a assistência educacional ao homem do campo e a seus filhos. Criaram-se escolas formais e serviços de fomento agrícola. Somente na década de 40, com auxílio de agências internacionais, como a American International Association (AIA) e a Usaid, dos EUA, vários serviços se organizaram no Brasil para desenvolver programas de extensão rural, tanto em organizações governamentais como em não-governamentais. Embora seja louváveis as tentativas anteriores de atendimento ao produtor e à sua família, a que foi considerada autêntico serviço de extensão rural, e que mais perdurou, começou em Minas Gerais, em 1948, através de uma acordo entre o governo mineiro e a AIA, dando surgimento à ACAR (Associação de Crédito e Assistência Rural) e se multiplicou por todos os estados brasileiros, exceto em São Paulo, e se organizou como entidade não-governamental, com uma federação denominada ABCAR (Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural) fundada em 1956. As filiadas mantinham em seu nome a raiz/sigla ACAR, mais a abreviação do Estado... Em 1975, com a criação da EMBRATER (Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural), os serviços de extensão nos Estados se tornaram empresas oficiais (EMATERs) e passaram por várias etapas de afastamento e de aproximação dos princípios da Extensão Rural, acima expostos, na dependência da política geral ou agrícola em voga. (...) Recentemente, o sistema perdeu a identidade, sua finalidade e eficácia. Foi extinto em 1996, com sua incorporação ao sistema da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Manteve-se em alguns estados como empresas estaduais e como serviços de assessoramento, prestados pelas cooperativas e associações de produtores, com maior ou menor identificação com a extensão rural como aqui conceituada. (...)"  
Cf. https://books.google.com.br/books?id=Pydx4Jb_4-EC&pg=PA166&lpg=PA166&dq=acr%C3%B4nimo+ACAR&source=bl&ots=CQPBc0b2Gp&sig=1lE1eZUNcanukKGnQL3UrWbTTRg&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwit39nWh7TKAhUJFpAKHTRnAYoQ6AEIJzAC#v=onepage&q=acr%C3%B4nimo%20ACAR&f=false



V.  BIBLIOGRAFIA


SOUZA, J.S.I., PEIXOTO, A.M. & TOLEDO, F.F.: ENCICLOPÉDIA AGRÍCOLA BRASILEIRA, São Paulo: EDUSP, 1995