sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

NO CAMINHO DO PROGRESSO


Por AVELINA MARIA NORONHA DE ALMEIDA

 

Os Governadores”, de José Joaquim Viegas de Menezes, Vila Rica, 1807 - Retrato gravado de Pedro Maria Xavier de Athayde e Melo (Governador e Capitão-General da Capitania de Minas Gerais, no Brasil) e de Maria Madalena Leite de Sousa Oliveira e Castro

...“omnis creatura ingemiscit et parturit.” (... o mundo geme em trabalho de parto de alguma coisa) - Rm 8:22

 

Comemora-se, no dia 5 de janeiro, a criação da Tipografia no Brasil, com o alvará de D. João de 5 de janeiro de 1808 liberando o funcionamento de gráficas no Brasil, o que havia sido até então proibido. Foi assim que surgiu a Imprensa Régia, no Rio de Janeiro, para imprimir documentos, decretos e livros. Logo depois passaria a circular, com informações oficiais, o primeiro jornal brasileiro, “A Gazeta do Rio de Janeiro

Porém, extra-oficialmente, a província de Minas Gerais já havia dado antes o primeiro passo concreto na tecnologia da informação, com José Joaquim Viegas de Menezes, um sacerdote mineiro, nascido em Vila Rica, que exerceu em sua vida as seguintes habilidades: gravador, pintor, impressor e ceramista. 

Embora tivesse saúde muito frágil, teve uma existência frutuosa como intelectual, artista plástico e cultor das artes gráficas. Um dia, o presidente da Província de Minas, Pedro Maria Xavier de Athayde e Melo, conhecedor das habilidades do sacerdote, chamou-o dizendo que gostaria de ver impresso um poema que recebera, como homenagem, de Diogo Ribeiro de Vasconcelos e o encarregava da tarefa. Padre Viegas alegou não poder executar a impressão porque havia a proibição da atividade de imprensa e que era severa a punição para quem ousasse infringi-la. Mas o governador insistiu e ainda disse que não se preocupasse com os riscos da impressão. “Oh! Se é só isso, não se aflija, tomo sobre mim toda a responsabilidade: mãos à obra, meu Padre.” 

Foi assim que, graças ao Pe. Viegas, Minas Gerais tem o pioneirismo na impressão oficial no Brasil, em 1807, imprimindo o poema de 14 páginas, utilizando a técnica da calcografia (chapa de metal fixa). Ao primeiro passo no setor tipográfico do brilhante sacerdote, seguiu-se o segundo, em 1821, pois foi o responsável pela criação da primeira tipografia no país, auxiliando um português residente em Vila Rica a fundir os tipos, construir o prelo e todas as outras peças para funcionar uma tipografia. 

Foram os primeiros tempos, em nosso País, de uma atividade que constitui importante fator de desenvolvimento, pela ampliação das possibilidades de comunicação e da disseminação da cultura entre os seres humanos. Pessoas como José Joaquim Viegas de Menezes, um nome quase esquecido nos dias de hoje, fazem, com sua força de trabalho e idealismo, sem medir esforços e sem temer dificuldades, o mundo caminhar. Assim contribuem para que isso se processe de forma positiva, fecunda e benéfica, pois, dia a dia... “omnis creatura ingemiscit et parturit.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

HOMENAGEM À PROFESSORA CELY


Por ELIZABETH DOS SANTOS BRAGA

 

Professores Oyama, Cely e a autora

Foi com muita tristeza que recebi a notícia do falecimento da Profª Cely Marina Moebus de Alencar Ramalho. Esposa de Oyama de Alencar Ramalho, residia em São João del-Rei, minha terra natal. 

É da posição de ex-aluna da Faculdade Dom Bosco (atual UFSJ) que esboço este texto. 

No primeiro e no segundo semestres do curso de Pedagogia, no já longínquo ano de 1985, minha turma teve aulas de Medidas Educacionais I e II com o temido Prof. Oyama. 

Muito provavelmente, ao conhecermos a Cely, no segundo semestre, era assim que a ela nos referíamos: “a mulher do Oyama”. Mas, desde o primeiro dia de aula, ela me pareceu uma pessoa absolutamente singular. Todos o somos, mas aquela professora de Psicologia da Criança e do Adolescente e, depois, de Psicologia da Aprendizagem, era dotada de características que faziam dela, pelo menos para mim, uma pessoa extraordinária, por cujas aulas eu aguardava ansiosamente, anotando todas as observações nos cadernos que infelizmente foram perdidos num pequeno incêndio doméstico. 

Tentando rememorar, sem o apoio de nenhum documento, os seus ensinamentos, me vêm os conceitos de inatismo, behaviorismo, cognitivismo e humanismo (sobre a psicanálise, as/os que seguiram a habilitação em Orientação Educacional, teríamos mais tarde aulas intrigantes com o saudoso Prof. João Gualberto Teixeira de Carvalho Filho). Vigotski, autor em cujas ideias me especializei posteriormente, havia acabado de ser traduzido para o português, em 1984, na publicação brasileira da coletânea A formação social da mente, e ainda não constava nos programas das disciplinas dos cursos de Pedagogia.

Hoje, quando leciono Psicologia da Educação ou Psicologia Histórico-Cultural e Educação, para alunas e alunos das licenciaturas, na Faculdade de Educação da USP, não deixo de me lembrar das aulas da Profª Cely, ao discutir o behaviorismo, principalmente os experimentos de Pavlov que muito me intrigaram na época e me fizeram buscar um manual de Psicologia na biblioteca para ler em detalhes. Também as diferenças entre as abordagens de Watson e Skinner e todas as distinções e nuances entre condicionamento clássico e operante, modelagem e extinção do comportamento, reforço (positivo e negativo), punição, etc., pontos em que precisei me aprofundar, mesmo sem concordar, mas consciente da importância, durante os anos em que lecionei Psicologia para o Serviço Social na Universidade Estadual de Ponta Grossa, no fim da década seguinte. 

Um dos momentos especiais das aulas da Cely foi a leitura do livro Liberdade sem Medo, do professor escocês Alexander Sutherland Neill, contando sobre a criação (em 1921) e funcionamento da Escola Summerhill na cidade de Leiston, Condado de Suffolk, Inglaterra. Contrário às ideias cientificistas positivistas e ao método cartesiano de formação do indivíduo, fez severas críticas à Escola Tradicional e até à Escola Nova, por essa corrente propor apenas mudanças didáticas, mas não mudanças sociais, e por se preocupar com o desenvolvimento cognitivo, dando pouca importância à dimensão afetiva. Afora alguns detalhes buscados na Wikipedia, lembro-me (não sei se é memória ou imaginação) de ter formado a imagem de uma escola no alto de um monte, onde crianças e jovens felizes se engajavam em tarefas e atividades as mais diversas, no seu tempo e ritmo, interessando-se e se responsabilizando voluntariamente por elas. 

Naquela época, nós já havíamos lido Paulo Freire nas aulas de Introdução à Filosofia com o Prof. João Bosco Batista, bem novinho na época e nos passando seu entusiasmo, e estávamos resolutas/os na busca de uma educação com liberdade e compromisso político. Eu acredito que a leitura, o trabalho escrito e a discussão do livro de Neill com a Cely só nos ajudaram a sonhar com uma escola mais democrática e a tentar realizar práticas diversas às que estávamos acostumadas/os. 

Muitos anos depois, no Solar da Baronesa, em 2000, ela me deu muita alegria quando foi prestigiar o lançamento do meu livro A constituição social da memória: uma perspectiva histórico-cultural, fruto do trabalho de mestrado, junto com o Oyama e muitos outros ex-professores, colegas e amigos. 

À Cely, pessoa que combinava muito bem seriedade, cuidado (na preparação das aulas) e delicadeza, minha gratidão e saudade.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

RESENHA CRÍTICA DO LIVRO “PASSEIO SENTIMENTAL”


Por Francisco José dos Santos Braga


 

Antes da análise do livro PASSEIO SENTIMENTAL ¹, da autoria de Prof. Evandro de Almeida Coelho, cabe-nos reproduzir as partes constitutivas da obra. 
Inicialmente, na "orelha" da contracapa, lemos as seguintes informações sobre o livro: 
A obra tem duas fontes principais: o Passeio Sentimental começou com o pedido de cinco alunos monlevadenses que se dispuseram a conhecer a "segunda cidade do mundo". Preparada a viagem de carro, foram recomendados a ir de véspera e usar um hotel conhecido para o descanso noturno. Acordaram com repiques e dobres dos sinos, reforçaram o café da manhã e... rua! 
Encontraram o Museu Regional e fizeram a rota do passeio a pé na primeira parte. Para a segunda parte, com vistas mais gerais, usaram o automóvel nas ladeiras e subidas. Gostaram do que viram e das informações complementares. De volta contaram aos amigos o roteiro e vários pediram cópias, que foram ampliadas por vários anos. 
As crônicas sobre a história começaram com uma sugestão da Diretora da "minha escola" João dos Santos, a professora Neide. Como fiz jornal e revista na faculdade, fui chamado para fazer um jornal independente em Monlevade. Foi o início de uma imprensa livre, noticiosa e variada, base para historiadores futuros. Entrevistamos antigos moradores anteriores aos belgominas. Depois de aposentado, voltei para a "Odalisca das Vertentes". A diretora me falou da dificuldade dos alunos em consultar bibliografia sobre a História da cidade. Trabalhamos na consulta anotando muitas obras antigas e mais novas, redigimos estas crônicas dos tempos passados. Com a opinião de alguns leitores sobre os primeiros esboços, acho que melhorou bastante. Espero que outros pesquisadores possam fazer obras de maior vulto: a cidade merece uma História maiúscula.
Abre-se o livro com o Sumário, isto é, suas principais divisões, a saber: 
Passeio muito sentimental, p. 13-36 
São João del-Rei no século XVIII, p. 37-54 
O século XIX, p. 55-84 
Cem anos se passaram..., p. 85-87 
Menos de cem anos..., p. 88-90. 
 
A seguir, o autor manifesta Agradecimentos para com as suas principais fontes de sua pesquisa, a saber:  
Aos historiadores mais antigos consultados: Antônio Guerra, Augusto Viegas, Fábio Guimarães, Geraldo Guimarães, Hélio Conceição, José Bellini dos Santos, José Vítor Barbosa, Luís Alvarenga e Waldemar Barbosa; 
Aos antigos amigos dos velhos tempos: Aurélio Afonso de Almeida, José Leôncio coelho, Monsenhor Almir de Rezende Aquino e professor Pedro Raposo; 
Aos confrades do Instituto Histórico de São João del-Rei, na pessoa do professor Antônio Gaio Sobrinho, pesquisador incansável, incessante e inteligente por seus livros e observações, representante dos atuais e antigos colegas; 
Às Bibliotecas que sempre me atenderam prestimosamente; 
Aos jornalistas com suas variedades de informações que me foram utilíssimas. 
 
Em curto mas poético Prefácio, nas p. 09-11, datado de 29/05/2020, intitulado "São João del-Rei e seus sentimentais caminhos", o presidente do IHG-SJDR, sociólogo e escritor Paulo Roberto de Sousa Lima, apresenta a obra, em que finaliza com as seguintes palavras cheias de entusiasmo: 
(...) Esse livro singelo, mas importante, e que ouso apresentar em linhas tecidas de sonho e imaginação, nos ensina a olhar para ruas e praças; Igrejas, casarões e casinhas desta bendita São João e nelas sentir que esse povo que aqui habita é mineiro, de vale e monte; brejeiro, mas de Barão e Conde e hospitaleiro, o bastante. (...)

 

I.  PASSEIO MUITO SENTIMENTAL 

No primeiro capítulo ou divisão, observa-se qual a intenção original do autor com seu livro Passeio Sentimental: ser um bom guia turístico (isto é, roteiro impresso com informações dos passeios e fartas atrações turísticas na cidade de São João del-Rei) e suscitar a admiração e a curiosidade do turista com "causos", pontuados por elementos da história são-joanense. Para isso, o autor completa seu Passeio muito sentimental com algumas informações mais amplas sobre alguns topônimos ou termos utilizados no roteiro. 
Quem pensa que este primeiro capítulo é a própria razão de ser do livro, engana-se. 
 
 
II. SÃO JOÃO DEL-REI NO SÉCULO XVIII
 
O segundo capítulo São João del-Rei no século XVIII é uma dissertação sobre o 1º século de existência de São João del-Rei, desde os tempos do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes depois da descoberta do ouro em suas encostas, passando pela Guerra dos Emboabas, criação da Vila de São João del-Rei (8/12/1713), etc. O trecho desse segundo capítulo que será reproduzido aqui foi retirado do referido capítulo, p. 46, a saber: 
Podemos fazer ideia do tamanho das lavras do ouro entre o atual morro da Igreja das Mercês e as proximidades do Ribeirão de São Francisco. Hoje, teríamos toda a serra onde está a imagem do Cristo (Redentor), os Altos de São Geraldo, indo acima de Dom Bosco até as colônias na margem do Rio das Mortes. Em 1780, pelo que soube Eschwege, em 1821, havia as lavras do Barro Vermelho, com 999 escravos; a de Antônio Teixeira Carneiro, com 100 escravos; a de Lourenço Bengala, 80 escravos; mais para cima do morro, a de João Rodrigues, 400 escravos; do Capitão José Rodrigues Criolo, 77 escravos; de Padre Gervásio, 200 escravos; a Praia da Serra, com 150 escravos; mais abaixo, perto do Rio, os serviços do negro José da Silva, com 60 escravos; um pouco mais além, serviços de Franco Ferreira, com 20 escravos. Os dados são dos registros de capitação impostos pagos por cabeça de trabalhador com o total de 2.426 escravos na área do Barro Vermelho.
Completando suas informações sobre o ouro, o autor continua ainda no segundo capítulo nas p. 48-9: 
Podemos notar que a Vila de São João del-Rei começou com a agricultura e o comércio para abastecer os viajantes que prosseguiram seus caminhos. O ouro foi descoberto, mas não era em quantidade para competir com outras vilas. Pelo cálculo dos quintos - vinte por cento da extração - podemos verificar quanto ouro era extraído e declarado. O quinto não era o que hoje chamamos de imposto. A mentalidade dos governantes e governados ainda era bastante medieval, diferente dos sistemas de governo atuais. Era um direito senhorial, devido à Sua Majestade como fruto das terras que o mesmo Senhor tem domínio. Atualmente se chama "aforamento" ou "enfiteuse" a cessão dos direitos úteis mediante pagamento de "foro". Antônio de Albuquerque fez acordo com os mineradores para o pagamento de dez oitavas ² de ouro por bateia de escravo. Tanto pagavam os que achavam ouro como os que não o encontravam. O segundo governador, Braz Baltazar foi autorizado a mudar o sistema para outro que lhe aprouvesse. Fez o ajuste com a cota geral de 20 arrobas de ouro, quitado na saída da capitania. Em 1715, foram fixados os limites das comarcas e se estabeleceu que São João del-Rei pagará 5 arrobas e 10 libras dos quintos. Vila Rica pagará 12 arrobas; a Vila Real do Sabará pagará 10 arrobas e 22 libras, mais 2 arrobas dos quintos de gados. Total dos quintos, 30 arrobas para a Capitania. 
A vida comum era bem variada. Em 1718, a Câmara contratou o médico de Coimbra, Dr. José Macedo Correa por uma libra de ouro anual, para "curar os pobres, de graça". Quem era rico ia curar-se no Rio de Janeiro. Em 1719, quando o Conde de Assumir visitou a comunidade, o Senado da Câmara mandou pagar 275 oitavas de ouro pelas despesas de estadia. As festas do Corpo de Deus, em 1725, gastaram 53 oitavas de ouro como pagamento da cera gasta. O ouvidor e corregedor Dr. Tomé Godinho, achou o gasto exagerado. Os casamentos da princesa Dona Maria Bárbara e do Príncipe Dom José, que se casaram fora de Portugal, foram motivo para doação de 125 arrobas de ouro em pó, pagáveis em seis anos, formando parte do dote nos dois matrimônios. Era o ano de 1727. 
A eleição dos juízes de vários ofícios, em 1739, teve também a aprovação do tabelamento de alguns preços, aprovados pelo Senado da Câmara, com a assistência dos "homens bons". Alguns exemplos: feitio de sapato liso 2 oitavas de ouro; chinelos de mulher, em couro comum 1 oitava e meia; de marroquim 2 oitavas; bota de canhão 6 oitavas; sem canhão 4 oitavas; feitio de vestido de pano, abotoado de fio 13 oitavas; vestido de luto 5 oitavas; calção de pano ou seda, abotoado 3 oitavas; vestido de seda 2 oitavas; saia de seda 1 oitava e meia; manto de seda 1 oitava e dois quartos; colete de seda 1 oitava e meia. 
Quem participava das festas e solenidades oficiais recebia propinas em ouro, além dos proventos do cargo. Dom João V faleceu em 1750 e o Senado da Câmara aprovou as despesas com as exéquias em 468 oitavas e 7 vinténs em ouro, sendo 80 oitavas em favor de Estevão Andrade, artista que preparou a essa de Sua Majestade. Outras propinas para "botarem luto": os juízes e o ouvidor geral 111 oitavas; os vereadores, procurador, alcaide, porteiro, almotacés, cada um 50 oitavas; o tesoureiro do Senado da Câmara 25 oitavas; o alferes do estandarte do Senado 31 oitavas; o juiz de órfãos 101 oitavas. (...)”

 

III. O SÉCULO XIX

O terceiro capítulo, intitulado O século XIX, é constituído de uma coleção de efemérides, em cronologia crescente. É claro que todos os importantes fatos e feitos históricos foram abordados com olhos de historiador que é, mas, como a atividade precípua do autor foi a de professor, é natural que dê destaque à educação, conforme já se vê no início do capítulo, cuja primeira efeméride (ano de 1803) já inaugura o século com assunto educacional: 
A educação era fundamental para os habitantes. Em 1803, foi nomeado o Padre-Mestre Manoel da Paixão e Paiva, substituindo o Padre Marçal da Cunha Matos, designado, em 1774, para lecionar gramática latina para alunos que se ordenaram presbíteros ou se formaram em Coimbra, nas diferentes faculdades. Padre Manoel lecionou até 1820, e em seu testamento reconheceu oito filhos de várias mães. No mesmo ano de 1803 há uma carta do Juiz e dos oficiais da Câmara para o Ouvidor Geral e Corregedor da Comarca, por ordem do Príncipe Dom João, dizendo: "A cadeira de ler, escrever e contar ocupada pelo Alferes José Pedro da Costa Batista, que anualmente recebe ordenado de cento e cinquenta mil réis... sem fruto talvez pela incapacidade do professor... reduzida a pequeno número de alunos pardos, pretos e cativos ou de outros da plebe tão necessitada e pobre que não pode pagar a um bom mestre". Há nesta vila quatro escolas públicas que são as de Antônio dos Santos Cunha, Francisco José Cardoso, José Joaquim de Miranda e Bernardo Ferraz, além de outros que ensinam pelas casas.
Vamos coletar apenas as efemérides que se referem ao mesmo tema da educação e assuntos correlatos. Não que as de outra natureza careçam de importância, mas porque vêm comprovar que o autor, ao coletar fatos e feitos históricos, teve em mira constatar a evolução da área da educação em seu torrão natal, há tempos seu fecundo objeto de pesquisa. Convém frisar aqui o seu pioneirismo em tratar com tanta relevância do assunto educacional, reiterando, mais uma vez e sempre, com seu permanente olhar de educador. 
20/08/1824: O Presidente da Província encaminha a João Severiano Maciel da Costa parecer favorável à representação de Batista Caetano (de Almeida) para criar biblioteca, já que doou 800 volumes para seu patrimônio. 
20/11/1826: Circula o periódico "Astro de Minas", fundado e mantido por Batista Caetano. Circulou até 6 de junho de 1839. Na época, foi instalada a biblioteca criada por Batista Caetano na Casa de Caridade ³ e, depois, em 1848, transferida para a Casa da Câmara e cadeia.
04/08/1827: Começou o uso permanente de vacinação, sob direção do médico inglês Doutor Jorge Such, que tinha grande prática obtida na Ásia e África, com grande conhecimento.
14/06/1828: Nasceu João Batista dos Santos, depois, Visconde de Ibituruna. Formou-se em medicina no Rio de Janeiro, foi médico particular de Dom Pedro II. Quando proclamada a República, presidiu a província de Minas Gerais. Faleceu a 11 de janeiro de 1911.  
No mesmo ano de 1828, o mestre-escola de Baependi, José Alcibíades Carneiro, requereu transferência para São João del-Rei. Teve parecer favorável da Câmara Municipal e foi atendido pelo governo provincial. Tinha 31 alunos. Em 1832, foi eleito vereador e substituiu interinamente o Pe. José Antônio Marinho como lente de Filosofia. Em 1840, foi eleito deputado pela província, transferindo-se para a Corte, no Rio de Janeiro. Substituído por Reginaldo Pereira de Barros, que teve apenas 8 alunos. Esta aula pública de latim, criada em 1774, só foi extinta em 1890. 
10/11/1828: Começa a funcionar o Colégio Feminino de Margarida Cortona de Aguiar, situado à Rua da Ponte da Misericórdia. Aceitava pensionistas de fora e "da terra"). Ensinava a ler, escrever e contar, além das prendas de uma senhora: costurar, cortar, bordar, dançar, ler e falar a língua francesa e princípios de música.
A título de observação, o autor acrescenta: Houve notícias da sequência da aula de ensino mútuo, método Lancaster, onde dez alunos eram dirigidos por um decurião. Há poucas informações do fato.
09/03/1829: Eram vereadores da Vila Francisco de Paula Almeida Magalhães, João Pereira Pimentel, Batista Caetano de Almeida, Gabriel Francisco Junqueira, José Fernandes Pena, Padre Antônio Joaquim de Medeiros, Padre João Ferreira Leite e Antônio Fernandes Moreira, que tomaram posse no dia 14 de março.
07/04/1829: Apresentada na Câmara uma subscrição popular para construir nova cadeia. O vereador Batista Caetano doou o terreno no valor de quatrocentos mil réis.
Ainda neste ano, fundação do Colégio Policena, nome de sua proprietária, perto da casa que foi da administração da Câmara entre 1719 e 1849. Esta casa foi residência para o Juiz de Fora, quando na vila. Na casa, funcionou também o Colégio Conceição, o Colégio Maciel e, depois, o Hospital do Rosário. Neste local, atualmente, é o hospital das Mercês, completamente novo!
1830: A São João del-Rei Mining Company, fundada em 1830, distribuiu salários no primeiro ano, de 2.310 libras. De 1831 a 1834 respirava-se otimismo com as atividades das galerias (o "canal dos ingleses") protegidas por obras de alvenaria, represas para lavagem do minério, residências, depósitos e escritórios. A saída da empresa foi uma catástrofe.
De 1830 a 1833: A convite de Batista Caetano, houve um curso de Belas Artes com o padre português Francisco Freire de Carvalho lecionando retórica, poética, eloquência, crítica e poesia. Nessa escola, o padre José Joaquim de Santana ensinava francês, latim, música e dança.
05/10/1831: Informações de João Pereira Pimentel e José Dias de Oliveira sobre a instrução na vila de São João del-Rei e seu termo. São três aulas públicas: a primeira, de ensino mútuo, com o professor interino Antônio Mariano Pereira Pimentel, 59 alunos; segunda, de meninas, com a professora Policena Tertuliana de Oliveira com 75 alunas; terceira, de gramática latina com o professor José Alcibíades Carneiro, com 31 alunos. Duas escolas particulares de primeiras letras, do professor Guilherme José da Costa, com 40 alunos e do professor Antônio Dias Pereira, com 62 alunos. Havia o Colégio particular do Padre José Joaquim de Santana, com 10 alunos que moravam com o professor, que ensinava música, dança, francês e latim. O português Padre Francisco Freire de Carvalho com 4 alunos ensinava retórica, poética, eloquência, crítica e poesia.
1835: A Lei 13, de 28 de março, e o regulamento 3, de 22 de abril, estabelecia que a instrução intermédia contava com as seguintes matérias: 13 cadeiras de latim e poética, incluindo São João del-Rei; 17 cadeiras de latim e francês, somando 30 cadeiras. (...) Nos externatos de Diamantina e São João del-Rei havia cadeiras de latim e poética respectiva, francês e inglês, retórica e literatura clássica, língua e poética portuguesa, filosofia e princípios de direito natural, geografia universal, corografia do Brasil, cronologia e história universal, aritmética e álgebra limitada às equações de segundo grau, escrituração mercantil, geometria plana, desenho linear, topografia e agrimensura.
07/08/1835: Anúncio de aulas de dança: "uma arte encantadora para uma educação cuidadosa
21/10/1837: Nasce Antônio José da Costa Machado (mais tarde Padre Machado), que se tornou pessoa eminente na educação.
1838: Início do colégio Nossa Senhora da Conceição, externato de educação intermédia, ensinando latim, francês, inglês, geografia e filosofia. O Padre José Antônio Marinho ensinava filosofia moral e retórica desde 1832, mas foi suspenso e demitido na Revolução Liberal de 1842. 
Neste ano, em 08/12/1838, dá-se a elevação da Vila a Cidade.
1839: Neste ano foram criadas escolas de farmácia em Ouro Preto e São João del-Rei, ensinando farmácia e matéria médica. A escola de Ouro Preto ainda funciona e a nossa teve pouca duração.
1843: Neste ano, funcionava o colégio Margarida Cortona, ensinando a instrução primária, a doutrina cristã, gramática nacional, francês, desenho e prendas domésticas como "ponto-de-marca", música e dança.
1848: Funcionava o Colégio Duval, um dos melhores do Império, fundado por ingleses que vieram explorar ouro desde 1830. O colégio ensinava primeiras letras, doutrina cristã, latim, francês, inglês, aritmética, geometria, filosofia, geografia, história, retórica, desenho, música vocal e instrumental. Funcionou na Casa da Intendência, junto com a residência dos ouvidores, o quartel e a fundição oficial de ouro.
1854: O Colégio Dalle passou da Rua de São Francisco para Matola.
1856: A célebre cantora Candiani cantou na Procissão do Enterro como Verônica.
Ainda no mesmo ano, o Colégio Nossa Senhora das Dores ou das Mercês avisa que o ano letivo começa no dia 7 de janeiro e vai até 20 de dezembro.
07/03/1858: O diretor do Colégio Duval entrega cinco contos de réis como primeira prestação de um empréstimo feito pelo governo provincial.
1859: José Antônio Rodrigues escreve nos "Apontamentos e notícias cronológicas de São João del-Rei", que o Padre Antônio Caetano de Almeida Villas Boas, orador sagrado, era o "terror do pecado e eco eloquente dos Evangelhos". Cita mais sete outros oradores sagrados nascidos nesta cidade. Dá como notícia cultural haver quarenta pianos na cidade. Diz também que as festas gastaram 150 arrobas de cera nas igrejas. Na revista do IHG-SJDR, volume IV, um artigo de Geraldo Guimarães noticia que, em 1859, havia uma população de 21.500 habitantes, sendo 15.200 homens livres, 6.300 escravos e 100 estrangeiros. A biblioteca possuía 9.000 volumes. Richard Burton visitou o externato (Colégio Duval), fundado em 1848, dirigido por um inglês, depois por um francês. Comentou a vista magnífica, na parte sul, no prédio em que funcionavam a Casa da Intendência, a residência dos ouvidores e o quartel das tropas de linha. Visitou a Santa Casa da Misericórdia, funcionando desde 1817. Elogiou a igreja de São Francisco, a mais famosa da cidade, senão de Minas Gerais. Pelas notícias do mesmo José Antônio, a cidade tem 8.500 habitantes em 160 casas, sendo 80 sobrados em 25 ruas calçadas. Havia 64 "casas de negócio". Quem mais certo? Rodrigues diz também que a cidade não entrou em decadência depois da fase do ouro por ser um entreposto comercial forte. Os capitais acumulados por parte da elite econômica centralizaram o crédito.
19/03/1860: Fundação da Casa Bancária de Custódio de Almeida Magalhães, depois transformada em banco.
17/01/1861: O Presidente da Província cria o externato de São João del-Rei. Neste ano, o Padre Machado foi nomeado para as cadeiras de Filosofia e Latim. Seu colégio surpreendeu o Imperador Dom Pedro II com a biblioteca, uma das mais ricas da província, com a cultura do Diretor e com a aplicação dos alunos em latim e francês. Funcionava em uma casa na Praça do Carmo.
1865: Neste ano, houve a publicação de Elementos de Estatística, de Sebastião Ferreira Soares, onde se afirma que São João del-Rei é a principal cidade comercial da província de Minas Gerais. Cita que, em 1861, só perdia em arrecadação para a capital, Ouro Preto.
1867: Neste ano, Richard Burton - o que citamos como visitante do externato - esteve na cidade e escreveu que teve prazer em chegar ao vale do Rio das Mortes. Este inglês comentou a rua principal e uma praça quadrada formada pelas melhores casas, cada qual com seu jardim. "Aboletou-se" no Hotel Almada e procurou o Capitão Custódio de Almeida Magalhaes. Conversou com o doutor Lee, médico que se casara na cidade há trinta anos. Foi apresentado ao senhor Carlos Copsey, de Cambridge, professor de inglês, matemática e geografia no liceu da cidade.
15/07/1867: Pedido de duas loterias nacionais para conseguir melhores cômodos onde ficariam os alienados, morféticos, doentes contagiosos, além da melhoria para recolhimento, educação e amparo dos expostos e abandonados. Foram concedidos em outubro.
1869: Outro colégio, Nossa Senhora das Dores, é citado pela qualidade do ensino. Atraía moças de Minas, São Paulo e da capital federal. Foi elogiado por Dom Pedro II e por Carlos de Laet, algum tempo depois.
07/08/1870: Marcado o dia 21 de agosto para inauguração do "recolhimento dos expostos" com despesas autorizadas para missa com música, convite às autoridades civis e religiosas, e a todos os irmãos. Depois da missa, a bênção do prédio.
08/03/1877: Começa a circular o jornal "Astro de Minas", que durou até 1888.
07/01/1878: Foi inaugurado o colégio São José, de Cândido José Coelho de Moura.
08/05/1878: Circulou o jornal "O Escolástico", com redação de Elói dos Reis e Silva, médico, e depois Deputado Constituinte da República, e de Fernando Cotrim Moreira da Silva, capitalista, benfeitor da Santa Casa da Misericórdia e outras entidades.
24/04/1881: Chegou a comitiva de Dom Pedro II e a Imperatriz. No dia 23, ele visitou o Externato e ainda inaugurou a Escola João dos Santos, na Rua da Prainha, mantida pelo Visconde de Ibituruna. Eram professores Aureliano Pimentel e Maria Eugênia Carramanhos. O nome da escola foi escolhido em homenagem ao pai do Visconde. Em 1911, com a morte do fundador, o prédio da Prainha passou ao Estado e à Santa Casa, até fechar. O Grupo Escolar de São João del-Rei funcionou de 1908 a 1918 na Rua da Prata e, depois, para o prédio próprio só em 1919.
1883: Neste ano, a Escola Normal anexa ao Externato, que foi reformado em 1871, ensinava: língua nacional, instrução moral, religiosa e cívica, história, geografia, francês, noções de ciências naturais, física, química, desenho linear e de imitação e música. Teve anexo um curso de agronomia para moças. A escola foi suprimida, em 1906, por economia do Estado e porque já funcionava o Colégio Nossa Senhora das Dores.
24/06/1884: Faleceu o Cônego Antônio José da Costa Machado, grande educador. Seu colégio , Nossa Senhora da Conceição, teve posição ímpar na galeria são-joanense. Foi sepultado na Capela do Santíssimo, Matriz do Pilar. Foi homenageado pelo professor Lara Resende quando criou o Colégio Padre Machado. 
Antes de 1890, houve o Colégio São Francisco, anexo ao asilo de órfãos, com o Padre João Sacramento. Pela qualidade do ensino foi equiparado ao Gymnasio Nacional Pedro II, no Rio de Janeiro, em 1904. Depois de 1913, instalou-se no "sobrado da frente", onde é, atualmente a Ladeira Tenente Vilas Boas. Na mesma casa, funcionou a Escola de Farmácia e, em 1915, começou o curso de odontologia, ambos do professor "Toniquinho" . O colégio funcionou até 1920.
16/06/1888: No salão da Philarmonica houve reunião dos eleitores republicanos para criar um jornal. Como não houve sucesso na venda de cotas, o professor Sebastião Rodrigues Sette Câmara resolveu editar por sua conta "A Pátria Mineira".
Obs.: Nos anos de 1890, a Philarmonica se exibiu em sua sala, no salão do Hotel Oeste, em casa do Professor Guilherme Barreto e no Clube São-joanense.
1891: Funcionou o colégio Jardim de Infância, lecionando todos os preparatórios e as matérias exigidas para qualquer carreira particular. Funcionou perto da Matriz e na Rua da Prainha. Havia também o Externato Travanca e o Instituto Caligráfico Travanca, na rua Antônio Rocha, depois na rua da Cruz, e depois na rua Santo Antônio.
 
 
IV. CEM ANOS SE PASSARAM... e V. MENOS DE CEM ANOS...
 
Após ter realizado a pesquisa sobre os séculos XVIII e XIX, onde prevaleceu o senso crítico do autor,  parece que ele não manteve a mesma linha metodológica que utilizou para lidar com fatos mais recentes, deixando transparecer o senso comum. Depois de 1917 até hoje, o autor se reportou a duas crônicas suas publicadas no jornal Tribuna Sanjoanense, respectivamente nas edições de 27/06/2017 e de 08 a 18/09/2017, incluindo, na parte final de seu livro, dois trechos dessas crônicas. Em linhas gerais, elas tratam de costumes de época e hábitos domésticos e sociais, reconhecendo ao final que pretende com elas despertar os historiadores para "completar os fatos" e que "há outras pesquisas, teses e escritos sobre o período, mas... Saudade é coisa muito boa...".

 

I. NOTAS EXPLICATIVAS

 

¹  COELHO, Evandro de Almeida: PASSEIO SENTIMENTAL, Barbacena: Gráfica e Editora Cidade de Barbacena, 2020, 90 p. 
 
²  De acordo com o Compendio Elementar de Metrologia para Uso das Escolas Primarias, por Dr. Jorge de Lossio, Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1865, as correspondências atuais para as unidades de peso que veremos aqui são: 
Arroba = 32 libras = 14.689,6 gramas, ou seja, quase 15 quilos 
Libra = 459,05 gramas, ou seja, quase meio quilo
Oitava = 3,5863 gramas 
Obs.: O ouro é um metal bastante denso. Enquanto um litro de água pesa um quilo (densidade de 1 g/ml), um litro de ouro (no estado sólido) pesa 19,3 kg (densidade de 19,4 g/ml). Mesmo comparado a outros metais, como o ferro (7,87 g/ml), o ouro ainda é bem pesado. Deve causar surpresa o fato de que todo o ouro já extraído no mundo, desde a antiguidade até hoje, caberia em apenas quatro piscinas olímpicas.
 
³  Aos 21 dias de janeiro de 1817 houve a mudança do nome da Casa de Caridade para de Misericórdia (conforme Ata transcrita na p. 137 do livro História da Santa Casa da Misericórdia de São João del-Rei (1783-1983), por Luís de Melo Alvarenga, Belo Horizonte: Gráfica Formato (apoio: BDMG Cultural), 2009, 444 p. 
 
  Há um pouco de confusão para nós com o que denominavam "colégio". Na época, ajuntar alunos e ensinar alguma coisa era tarefa do "professor". Depois da reforma Capanema, em 1942, houve mais segurança no vocabulário.

  Conforme notícia de falecimento do Professor Antônio Augusto Ribeiro Campos, do jornal A Nota, edição do dia 30/11/1917, esse professor depois de ter frequentado o Instituto de Humanidades, os colégios São Francisco e Maciel, cursou a Escola Normal desta cidade, onde, com dedicação e inteligência, se diplomou em 1899; mais tarde, foi nomeado inspetor técnico interino do ensino, função que cabalmente desempenhou durante um ano, pois que, ao fim deste tempo, deixou esse cargo para fundar o Liceu São Gerardo; fechado esse estabelecimento de ensino, voltou de novo o professor à inspeção técnica do ensino, cargo este que ultimamente exercia. Nasceu em Carmo do Rio Claro, em 1880 e faleceu em 27/11/1917, na véspera de completar 37 anos. 

  Externato Travanca, dirigido pelo Prof. José Rodrigues Ferreira Travanca, o qual, comprometido na propaganda republicana em Portugal, se refugiou em São João del-Rei e aqui, a 31/01/1903 desposou Ana Machado. No que se refere ao último endereço do Externato Travanca, ouvi de nossa avó paterna, Josefina Fonseca Braga, a informação de que a referida instituição educacional existira onde ela residia (atuais números 132 e 136 da Rua Santo Antônio). Sobre a austeridade do professor Travanca, ela narrava diversos "causos" divertidos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

MISSA FESTIVA PELOS 90 ANOS DO ESTIMADO MAESTRO CAPITÃO BENIGNO PARREIRA


Por Francisco José dos Santos Braga

 

Conforme prometi, ao enviar o post anterior, haveria uma segunda parte na minha cobertura das comemorações aos 90 anos do CAPITÃO BENIGNO PARREIRA. A primeira parte consistiu de uma justa homenagem ao seu soldado exemplar feita pelo 11º Batalhão de Infantaria da Montanha 11º BI Mth no dia 11 de fevereiro. 
 
São os votos da Orquestra Lira Sanjoanense ao seu "regente honorário".

No dia do seu aniversário (13/02/2021), foi a vez de a Paróquia Nossa Senhora do Pilar reconhecer e enaltecer o trabalho diuturno dele por 60 anos em prol da Música sacra à frente da Orquestra Lira Sanjoanense, conduzindo-a regularmente nas funções das irmandades do Rosário, Mercês e Nossa Senhora da Boa Morte da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar. Conforme relato do irmão do homenageado, José Lourenço Parreira, “por louvável iniciativa do Sr. Kléber Oliveira Lima, a Venerável Arquiconfraria de Nossa Senhora das Mercês providenciou uma Santa Missa em gratidão por tudo o que Benigno Parreira fez pela Igreja das Mercês”, celebrada por Pe. Geraldo Magela da Silva, pároco da Catedral Basílica Nossa Senhora do Pilar, às 10 horas do dia 13 de fevereiro de 2021. 
 
Chegada de Benigno para celebração religiosa do seu 90º aniversário
 
Tive a honra de comparecer à Missa cantada festiva na Igreja de Nossa Senhora das Mercês, por intenção dos 90 anos do Capitão Benigno Parreira, “regente honorário” da Orquestra Lira Sanjoanense, e aqui passo a relatar as principais falas e fatos que tive a sorte de presenciar naquela manhã nublada de um dia agradável e fresco. 
Durante a Santa Missa foram executadas as seguintes obras dos respectivos autores, sob a regência de Modesto Flávio Fonseca: 
 
ABERTURA (p/ orquestra): Georg Friedrich Haendel: La Rejouissance 
PROCISSÃO DE ENTRADA: Hino “Um coração para amar!" 
ATO PENITENCIAL: Teófilo Helvécio Rodrigues: Kyrie da Missa São Benigno 
ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO: Geraldo Barbosa: Aleluia 
OFERTÓRIO: João Feliciano de Souza: Tota pulchra 
SANTO: Luigi Bordese: Sanctus da Missa São Bento 
CORDEIRO DE DEUS: Luigi Bordese: Agnus Dei da Missa São Bento 
COMUNHÃO: Pe. José Maria Xavier: Hino “Oh Gloriosa Virginum” (solo de flauta da Introdução por Inês Cristina Santana Resende Senna e ária de baixo feita por José Justino) 
SAÍDA: Hino a Nossa Senhora das Mercês 
 
Reproduzo abaixo, do Evangelho Cotidiano de José Lourenço Parreira, trecho da crônica intitulada “Efemérides (de São Benigno de Todi; frei Orlando, patrono do SAREx; e Benigno Parreira) referentes à data de 13 de fevereiro”, as breves notícias, mas muito expressivas, sobre as três figuras lembradas por seu autor, comentando mais extensamente sobre a vida de seu irmão e, em especial, o que se passou antes, durante e após a Missa festiva por intenção do Maestro Benigno Parreira, celebrada na Igreja de Nossa Senhora das Mercês às 10 horas no dia 13 de fevereiro, data natalícia do nosso homenageado, que completava 90 anos de uma vida de amor a Deus, à Pátria, à Santa Igreja e à Orquestra Lira Sanjoanense. 
“(...) No dia de hoje, 13 de fevereiro, por louvável iniciativa do Sr. Kléber Oliveira Lima, a Venerável Arquiconfraria de Nossa Senhora das Mercês providenciou uma Santa Missa em agradecimento por tudo o que Benigno Parreira fez pela Igreja das Mercês. Benigno pertence à Arquiconfraria desde a idade de 7 anos! 
O Celebrante foi o Revmo. Padre Geraldo Magela da Silva que, na sua ungida homilia, ressaltou alguns aspectos da personalidade do Capitão Benigno, dentre eles, a humildade e o profundo amor ao Sagrado Coração de Jesus e à Virgem Maria. 

Pe. José Geraldo Magela cumprimenta o aniversariante.

A Orquestra Lira Sanjoanense fez-se presente e magistralmetne tocou um Kyrie, em português, da Missa São Benigno, composta pelo são-joanense Maestro Teófilo Helvécio Rodrigues, especialmente para a celebração dos 90 anos do Benigno! 
A LIRA é regida pelo Maestro Modesto Flávio Fonseca que recebeu de Benigno Parreira a missão de continuar-lhe a transcendental missão iniciada em 1776. Benigno não poupa encômios a Modesto e diz: “Até no nome ele é modesto!
Maestros Benigno Parreira e Modesto Flávio Fonseca, ao final da celebração da Missa.
Ao final da Santa Missa, a Sra. Inês Cristina Santana Resende Senna, Presidente da Orquestra, entregou ao aniversariante uma Placa, em nome da Lira. 
Momento de entrega de placa comemorativa e partitura da Missa São Benigno.








Placa comemorativa ofertada pela Lira ao Maestro Cap. Benigno Parreira.

A Sra. Maestrina Anizabel Nunes Rodrigues de Lucas, irmã do Maestro Helvécio, entregou ao Benigno Parreira as partituras musicais dos originais da Missa São Benigno, cujo Kyrie foi executado.
Missa São Benigno, composta por Teófilo Helvécio Rodrigues

Kyrie da Missa São Benigno

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sensibilizados, presentes nesta Missa festiva estavam, Maria Célia, esposa de Benigno; João Gabriel, violinista, filho do casal; e José Lourenço Parreira, irmão do Benigno. 
Presentes às belíssimas cerimônias estiveram, também, a cantora lírica Rute Pardini e o historiador Francisco Braga que as fará perenizar no seu Blog de São João del-Rei. (...)

 

Meus cumprimentos ao Maestro Benigno Parreira!


I.  REFERÊNCIAS DE PADRE GERALDO MAGELA DA SILVA AO TRABALHO DE BENIGNO PARREIRA EM BENEFÍCIO DE NOSSA SENHORA DAS MERCÊS 

Ao final da homilia 

(...) Todos acompanhamos o extremo cuidado e esmero de Benigno Parreira na festa das Mercês e com certeza esse carinho absoluto está no coração de Nossa Senhora. A mãe não esquece o carinho do filho. Esse seu carinho então para com a Mãe das Mercês está registrado no coração dela, e ela se desvela para cuidar, para rezar e interceder pelo Sr. Também todo o seu trabalho, o seu amor à Lira, ao canto litúrgico, o louvor a Deus. O Sr. com esse dom que recebeu de Deus, um bom músico, foi um excelente cantor; o Sr. quis usar esses dons para o louvor a Deus. Então, por anos a fio, depois como regente, como maestro, a sua vontade de estar em dia com a liturgia da Igreja, esses cantos em português, sem esquecer claro a imensa riqueza musical de São João del-Rei durante séculos e que deve ser conservada e colocada também para o louvor a Deus. O Sr. soube unir bem essas coisas com equilíbrio, neste mundo a que falta tanta harmonia. às vezes, um radicalismo ingênuo, sem conteúdo. Olhemos para os idosos e vemos essa liderança sem essa harmonia. Nós devemos procurar esse equilíbrio, sem perder as riquezas da liturgia de São João del-Rei. Mas sabendo colocar coisas novas, adaptá-las para estarem em comunhão com a Igreja, para facilitar a oração do povo de Deus. Tudo isso é muito bonito e eu devo realçar. Com certeza, enquanto tenho a dizer essas coisas belas do Sr. Parreira, tanta coisa bonita, testemunhos bonitos para nós, claro que ele tem seus limites, suas dificuldades, e Deus é infinitamente misericordioso. 
Com tudo isso nós louvamos a Deus, por tudo o que o Sr. tem conseguido na sua família, por ser um homem de fé desta Paróquia, por ser irmão das Mercês, pelo talento que Deus deu ao Sr. e pelo carinho na Lira Sanjoanense. Todos na Lira têm um respeito muito grande para com o Sr. Então, o Sr. é muito especial para todos nós. Que Deus o abençoe, parabéns, que venham 100 anos e Nossa Senhora das Mercês continue cuidando do Sr. e de cada um de nós com muito amor. Amém.
Maestro Parreira participa da Missa em local de honra que lhe foi reservado
Logo após a Comunhão
“(...) Peço a Nossa Senhora para continuar guardando-nos em nossos caminhos. Ave Maria (...). 
Nossa piedosíssima Mãe das Mercês. (3X) E o povo responde: Rogai por nós. (3X) Sagrado Coração de Jesus. (3X) E o povo responde: Em vós confio. (3X) 
Parabéns, Sr. Parreira, parabéns pelos seus 90 anos, me aguardava sempre na sacristia para eu depois subir para o púlpito. Eu sempre cheguei um tanto quanto atrasado, mas Sr. Parreira me esperava, depois hoje ele me pediu para que o seu irmão pudesse me acolher. Muito obrigado pelo carinho que o Sr. tem para comigo! Parabéns!” 
Na hora da Bênção Final 
(...) Pedimos ao nosso bom Deus por seus 90 anos, por nosso irmão na fé, nosso amigo, Maestro Parreira. Nós nos unimos ao Sr., a seus familiares, seus amigos, neste grande louvor a Deus pelo dom da vida e por que não? agradecer a presença constante de Nossa Senhora em sua vida e na vida de cada um de nós.

 

II. A FALA DE JOSÉ LOURENÇO PARREIRA PARA AGRADECER EM NOME DE BENIGNO PARREIRA 

 

José Lourenço Parreira agradece em fala improvisada

Como é bom termos um pai, termos o senhor, Padre Geraldo, nosso Pároco para celebrar esses 90 anos de Benigno Parreira. Neste momento, o Lourenço que fala é irmão, sim, mas aos quatro anos de idade, meu pai partiu. Aos 14 anos, minha mãe, também! Então, quem me educou foi meu irmão Benigno e os outros. Benigno é como se fora meu pai! 
Há mais de 1800 anos, numa cidadezinha da Itália. chamada Todi, ali perto de Roma, nasceu um Benigno: São Benigno! Minha mãe, Olira, muitos séculos depois, aqui perto da Igreja das Mercês, no dia de hoje, 13 de fevereiro, em 1931, deu à luz um menino. Conforme a cultura católica daquela época, que sugeria aos pais dar o nome do santo do dia aos seus filhos, Dona Olira deu ao seu filho o nome de Benigno! 
Por sermos vizinhos da Igreja das Mercês, podemos dizer que a canção de ninar de Benigno Parreira era o som dos sinos dessa Igreja! 
E foi assim que, com 7 anos, aqui está a Bula, meu querido Pároco, meu querido Kléber, a Bula que atesta que Benigno Parreira é irmão das Mercês, há 83 anos! Crescidinho, eis que o menino Benigno corre para a torre da Igreja das Mercês para tocar sino. Artista nato, tocava sino como ninguém o fazia e nossa mãe, Olira, percebia quem era o sineiro! E quando ele chegava em casa, recebia uma boa percussão de tamancadas, porque mamãe não permitia que ele subisse para a torre. 
Bula do mercedário Benigno datada de 24/09/1938
Aos vinte anos, estando no glorioso Regimento Tiradentes, é exímio clarinetista da Banda de Música e ingressa na Lira Sanjoanense, como cantor, belíssima voz de baixo. Como diz o Santo Evangelho, sempre humilde, Benigno irá crescer diante da sociedade, do Exército e de Deus! 
Em 1963, recebe do Dr. Pedro de Souza a batuta para conduzir, também, a Lira Sanjoanense. Os seus três amores são a Igreja de Nossa Senhora das Mercês, o Regimento Tiradentes e, agora, bem forte, a Lira Sanjoanense! 
Seu amor pelos Sacerdotes é marcante, contagia-me! Ah! Parece que estou ouvindo Benigno falar comigo, ao telefone, que estava andando ali na Rua Direita com seu querido filho João Gabriel, quando passa o saudoso Padre Pedro Teixeira. Benigno e João Gabriel recitam bela jaculatória ao Sagrado Coração de Jesus! Padre Pedro fica extasiado ao ver aquela criança com tão profunda fé no Sagrado Coração de Jesus! 
Quem não se emocionaria vendo Benigno e João Gabriel cantarem uma ária musical “O Anjo da Guarda”, na qual Benigno era o Anjo protetor do menino interpretado por João Gabriel!
Quando o Padre Geraldo chegou à nossa Paróquia, Benigno ficou estuante de alegria. Só Deus sabe como Benigno ama o Sr, caro Padre Geraldo!
Marcante a saudação de Benigno, ao telefone ou pessoalmente: “Na paz de Cristo, um bom dia!
Indo para o Rio de Janeiro, logo a Banda do Regimento Sampaio aprendeu o que ele fazia na Banda do Regimento Tiradentes: antes de iniciar qualquer missão, Benigno erguia os braços e, ao abaixá-los, a Banda começava a tocar o “Eu confio em Nosso Senhor com fé, esperança e amor”, as três virtudes teologais! 
E foi Benigno que marcou a História do Exército Brasileiro, a História da Música, quando nos anos 1982, para celebrar o Dia da Música, de Santa Cecília, 22 de novembro, reunia todas as Bandas de Música do Estado do Rio de Janeiro, Exército, Força Aérea, Marinha de Guerra, Polícia Militar e Bombeiros Militar, num efetivo de cerca de 700 músicos militares! 
O General de Exército Raul Silveira de Mello celebrava a data do seu nascimento no dia em que fora batizado! Quando eu olho para a Pia Batismal da Catedral Basílica do Pilar, descubro em profundidade o que Silveira de Mello pensava, e fico a ver, em espírito, quantos ilustres filhos de São João del-Rei foram ali levados. Benigno Parreira ali também foi batizado e a graça nele frutificou! 
Padre Geraldo bem disse: “as pessoas esperavam o último dia da Novena das Mercês quando, vindo do Rio de Janeiro, o Parreira cantava com sua belíssima voz e ímpar interpretação o "Oh Gloriosa Virginum!".
Terminado seu tempo no Rio de Janeiro, volta para São João del-Rei. E na primeira vez que Parreira está com a Lira na Santa Missa das dez, nesta Igreja das Mercês, antes da homilia, o padre exclama: “Parabéns, Parreira, o Sr. está de volta. Nossa Senhora estava triste e agora está feliz porque o seu filho muito querido voltou para São João del-Rei, para os braços de Nossa Senhora das Mercês! Todos estamos felizes, principalmente, Ela, a Mãe das Mercês, a Mãe do Parreira!
Os fiéis aplaudiram entre lágrimas e sorrisos! 
Todos os domingos, para a Missa das Dez na Igreja das Mercês, o Parreira esperava o Celebrante na entrada da Sacristia. Só após esse encontro com o Padre Celebrante que lhe dava a bênção, o Parreira ia para o Coro reger a sua querida Lira. 
Um dia perguntei-lhe porque fazia esse protocolo com os Padres, antes da Missa. Respondeu-me com doçura angelical: “É que o Padre é o Cristo neste mundo!” Que profundidade, meu Deus! 
No seu ombro, fardado, viam-se três Estrelas que, podemos dizer, brilhavam evocando as três virtudes: fé, esperança e amor! As três virtudes orientaram a sua vida na luminosa caminhada de 90 anos! 
Ao seu lado, verdadeiro Anjo da Guarda, sua esposa, Célia, que também canta o “Eu Confio em Nosso Senhor!
Maestro Benigno Parreira e seus familiares
A Orquestra Lira Sanjoanense, que abrilhanta esta Santa Missa, foi e é a força que Deus lhe dá nessa bela e luminosa caminhada. Ao longo dos anos, a Orquestra Lira Sanjoanense, com seus acordes, também, afirma ao seu Maestro Parreira: “Eu confio em Nosso Senhor!”
Inês, presidente da Lira e flautista, cumprimenta o Maestro
Meu Deus, que vida edificante e luminosa! 
É por isso que eu peço que cantemos um refrão deste cântico que marcou e marca a vida de Benigno Parreira: “Eu confio em Nosso Senhor!

 

Maestro Benigno Parreira com seus colegas da Lira Sanjoanense

III. AGRADECIMENTOS 
 
 
À minha querida esposa, cantora lírica Rute Pardini, pela sua presença envolvente, pela sua disposição de colaborar ativamente em todas as fases do trabalho, através de suas filmagens, áudios e fotografias, registrando tudo o que relatei desta Missa festiva e contribuindo para a degravação de vídeos e áudios quase inaudíveis. Ao violinista, professor e regente Capitão José Lourenço Parreira, pelo honroso convite para eu fazer a cobertura historiográfica deste histórico acontecimento e por outras contribuições para se chegar à redação definitiva. À Orquestra Lira Sanjoanense, por municiar o presente trabalho com elementos necessários ao bom resultado do empreendimento, cabendo destacar a colaboração mais direta de sua presidente, Inês Cristina Santana Resende Senna, bem como da contrabaixista Sandra Rosária de Carvalho Santos, que estabeleceram rico contato com Rute Pardini.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

HOMENAGEM DO REGIMENTO TIRADENTES AOS 90 ANOS DO CAPITÃO BENIGNO PARREIRA


Por Francisco José dos Santos Braga

 

Tive a honra de ser convidado para comparecer à residência de meu amigo CAPITÃO BENIGNO PARREIRA às 14h 30min de 11 de fevereiro para assistir a uma apresentação da Banda do Regimento Tiradentes 11º Batalhão de Infantaria de Montanha (11º BI Mth) em homenagem ao 90º aniversário do seu “regente honorário”. 
Lá, minha esposa Rute Pardini e eu fomos efusivamente recebidos pelo aniversariante Benigno Parreira e seus familiares. 
Considero que, como historiador, cabe-me cumprir, quando me for dado ser testemunha ocular, minha primordial missão de registrar momentos históricos como este que passo a relatar. 
Inicialmente, convém lembrar que, durante todo este ano de 2021 até 10 de dezembro, a Banda do Regimento Tiradentes está em festa, pois está comemorando seu primeiro centenário de existência. 
Impressionou-me inicialmente a presença do Comandante do Regimento Tiradentes em pessoa, Tenente-Coronel SÉRGIO RICARDO REIS MATOS, à frente de uns 30 músicos, que prazerosamente se deslocaram do Círculo Militar à residência do homenageado, que está situada na Rua Tenente Gentil Palhares, nº 266, acima da casa onde residiu o inesquecível historiador, escritor e cronista Gentil Palhares. A distância percorrida pelo batalhão foi de aproximadamente um quilômetro, cada músico portando o seu instrumento musical. 
Lá fiquei sabendo que iria assistir à quinta ininterrupta comovente manifestação de gratidão dos músicos-membros da Banda ao Capitão Benigno Parreira, seu “regente honorário”. Encantou-me saber desse comparecimento espontâneo dessa eminente corporação musical à porta da casa do seu regente emérito para prestar-lhe as honras de “regente honorário”. Mas o que me deixou realmente estupefato foi a revelação de que, pela primeira vez, o Comandante da unidade febiana se dignava a homenagear o Capitão Benigno em sua residência.
O meu homenageado, o nonagenário Capitão Benigno Parreira, postou-se na sacada da casa, ladeado por sua esposa Dona Célia e seu irmão Capitão José Lourenço Parreira, historiador e escritor, servindo no Comando Militar do Oeste, em Campo Grande, o qual veio para prestigiar o encontro. 
 
Na sacada, Dona Célia e Benigno; Lourenço, recepcionando os colegas de farda.

 
O Comandante do Regimento acumulou as funções de chefe de cerimônia do evento e, ainda, a de orador oficial saudando o nonagenário Capitão Benigno. 
O orador Comandante teve o bom senso de intercalar as diferentes partes do seu discurso entre as músicas executadas pela Banda, o que deu muita leveza à sua fala. 
A sua primeira manifestação foi muito espontânea e singela, na forma de diálogo com o homenageado: 
“Estamos aqui em visita festiva para comemorar o seu aniversário com três dias de antecedência, neste dia 11 de fevereiro. 
Já fui informado de que o Sr. aceitou a incumbência de seu comandante em 1964 de dirigir a banda de música ¹ e que depois levou esta alegria e esse entusiasmo de São João para outras bandas, tais como da Vila Militar, do BG. 
Nós hoje queremos fazer uma singela homenagem. Seu aniversário é dia 13, não é mesmo? Dia de frei Orlando... Também neste dia ingressei no Exército.” 
Fala do Comandante do 11º BI Mth

 

A seguir, a banda regida por Capitão Carlos Antônio dos SANTOS, 1º Ten João BATISTA da Silva e 2º Ten Antônio MILTON da Silva iniciou sua apresentação com a Canção do glorioso Regimento Tiradentes, da autoria do Tenente João Cavalcante (1902-1985), tocando-a e cantando com garbo e perfeita afinação, acompanhada pela voz do baixo Benigno Parreira. 

 
Eia infantes destemidos, 
Regimento de São João, 
que por essa Pátria Heróica 
tem grande abnegação; 
 
na bateria temos apoio, 
no esquadrão nosso vigia, 
e na metralha o poder, 
na baioneta a ousadia. 
 
Eis-nos de volta brasileiros, 
sempre ao lado do fuzil, 
que das pelejas trouxe glórias 
e honra para o Brasil; 
 
temos Montese e Castelnuovo, 
as epopeias mui valorosas, 
por nossas armas conquistadas, 
em arrancadas gloriosas.
 
 
Banda perfilada, observando a distância regulamentar

 
 
Após a brilhante apresentação, soltaram o brado retumbante: “Montanha!” 
 
O Comandante, em seguida, passou às mãos do Capitão Benigno, em sinal de gratidão, um singelo presente do Regimento Tiradentes: as bandeiras do Brasil e do Regimento cravadas sobre uma base de madeira. 
 
Ten-Cel Sérgio oferta troféu com 2 bandeiras ao Cap Benigno

“Passo às mãos do Sr. Capitão Benigno, em agradecimento e reconhecimento do que o Sr. fez, por tudo o que o Sr. é e representa, e por seus frutos estarem aqui,” dirigindo-se a todos os músicos ali presentes, dos mais antigos aos novatos, “tocando neste vale de São João del-Rei, impulsionando outras pessoas a se devotarem e trabalharem em engrandecimento da cidade. Montanha!” 
Troféu com as bandeiras do Brasil e do 11º BI Mth













 
Em seguida, também o regente da Banda, Capitão Carlos Antônio dos Santos, pede a palavra ao Comandante para falar umas palavras comovidas de agradecimento, bem como licença para passar às mãos dos Capitães Benigno e José Lourenço Parreira, em sinal de gratidão, um presente da Banda.  
“Licença, Comandante.” Faz continência. “Montanha, Capitão, Montanha!” 
É com grande satisfação para a Banda estarmos presentes aqui hoje, tocando esses números para o Sr.; executaremos em seguida os Parabéns para Você, em agradecimento ao Sr. pelo trabalho feito por Sr. no tempo em que serviu no 11º, trabalho este que marcou para a vida toda. O Sr. tenha a certeza de que é uma pessoa muito admirada e estimada, muito respeitada e conceituada, não só em SJDR, mas também em todo o Brasil. O Sr. serviu no RJ, pode ter certeza de que esse fato vai se perpetuar. Isso para nós é muito gratificante podermos estar presentes neste momento para agradecer-lhe. Mas antes de tocar os Parabéns, quero dizer que o Sr. foi convidado para a cerimônia de 100 Anos da Banda de Música e, ciente de que razão de ordem pandêmica impediu o seu comparecimento, passamos a suas mãos uma lembrança do I Centenário da nossa amada Banda do 11º BI Mth.” E dirigindo-se a Benigno: “Montanha, Capitão!” Benigno respondeu: “Montanha!
Cap Santos, regente da banda, oferta lira com 7 cordas aos Cap Benigno e José Lourenço

Após essas palavras, o regente Capitão Santos passou às mãos do Capitão Benigno troféu em formato de uma lira com 7 cordas, evocando as 7 notas musicais, e ofertou o mesmo troféu ao Capitão José Lourenço Parreira, irmão de Benigno, por este criado e educado, e por ser da Artilharia e músico e professor de violino do Exército. 


 

A Banda interpretou ainda “Amigo”, de Roberto Carlos. 

Após a brilhante apresentação, soltaram o brado retumbante: “Montanha!” 

 
O Capitão José Lourenço Parreira, irmão do homenageado, pediu a atenção dos presentes para algumas palavras que tinha de agradecimento. Imediatamente, o Comandante do Regimento concedeu-lhe a palavra: 
Da esq. p/ dir.: Capitães José Lourenço Parreira e Benigno Parreira

“Momento inexcedível na sua ternura, no seu evocar castrense, em que toda a história do glorioso Regimento Tiradentes aqui se faz presente através da Música. 
Meu irmão, com quem - todos dizem - pareço muito, pediu-me que traduzisse em palavras o quase impossível: AGRADECER. Afinal, Sr. Comandante, quero que saiba que eu muito o respeito no nosso diálogo virtual – coisa de Deus. 
Esta banda é aquela que outrora, ali em Juiz de Fora, em um concurso de bandas foi a primeira colocada, surpreendendo a todos, porque então não se tinha o costume de decorar partituras, e esta Banda tocou com maestria, de cor, a Protofonia da ópera O Guarani, de Carlos Gomes. Nela estava o então Sargento Parreira. 
Ora, no Rio de Janeiro, no ano de 1982, fato inédito na história da música castrense: no tempo de Caxias, Gottschalk reuniu ali 550 músicos de bandas militares para tocar a Marcha Solene Brasileira. Em 1982, o então Capitão Benigno Parreira, com apoio de seus comandantes, ali reúne todas as bandas do Exército do Estado do RJ, da Força Aérea, da Polícia Militar, dos Bombeiros, da Marinha de Guerra, ao todo 700 músicos militares. Antes, não se conseguiu reunir tamanho efetivo, e depois dele, também não. 
Cada um que aqui está é como uma relíquia. É uma alusão ao passado. E essa unidade febiana fenomenal que foi para a Itália, e num traduzir de Gentil Palhares, os italianos diziam que nós lá fomos ensinar-lhes a rezar. 
Ah! quisera ter a eloquência para ver o dedo de Deus aqui. 
Há dois anos, no comando da 9ª Região Militar, quando eu falava sobre frei Orlando, o General Marçal ficou impactado quando eu disse a data 13 de fevereiro. Era importante porque nasceu meu irmão Benigno Parreira. No dia 13 de fevereiro eu, que vos falo, transpus os portões da gloriosa Escola Sargentos das Armas. Gostaria de convidá-los a uma reflexão sobre a Mão da Providência Divina: no dia 13 de fevereiro nasceu São Benigno de Todi; no dia 13 de fevereiro nasceu Frei Orlando, Patrono do SAREx; no dia 13 nasceu o Capitão Benigno Parreira; no dia 13 de fevereiro eu, que vos falo, ingressei na ESA; no dia 13 de fevereiro ingressou no Exército o General Marçal que comandou a 9ª RM; no dia 13 de fevereiro ingressou no Exército o Tenente-Coronel SÉRGIO RICARDO REIS MATOS, atual Comandante do 11º BI Mth! Não é coincidência. É Providência, o Dedo de DEUS! Assim, foi escrita mais uma luminosa página castrense que edifica a Pátria Brasileira! Sursum Corda! BRASIL! 
É importante nas nossas vidas porque nessa mesma data em que nasceu São Benigno, nasceu também Benigno Parreira, na epopeia viva do Exército e da música, autor da canção do SAREx. 
É por isso que este céu, coberto de nuvens sim, mas para os nossos olhos, nós que vemos com o coração de patriotas, com o coração de cristãos, o céu está azul, brilha no céu o sol, como diz aquela antiga Canção do Expedicionário: Aquele dia em que eu voltar há de brilhar no céu estranha claridade porque trarei comigo a paz e a liberdade. Não há mais palavras a expressar. 
Estou muito emocionado e meu irmão, muito mais do que eu nos seus 90 anos de história, porque aqui está a Banda de seu coração, a Banda que fazia SJDR sorrir naquele início de 1964 e Benigno me contou que, quando ele formou uma pequena banda, seu comandante disse-lhe: “Parreira, passe por todos os cantos do quartel! O quartel está triste: precisamos de música sim. É preciso a música estar presente. Quando Cristo nasceu, não foram as danças de Roma que ali estavam. Não, quando Cristo nasceu, o Príncipe da Paz, quem é que se fez presente? A música dos anjos cantando: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados. 
E esta frase foi tão importante, Sr. Comandante Sérgio, que, quando foi dado o toque de cessar fogo na Itália, o nosso grande Comandante Mascarenhas de Morais começa assim: “Acaba de ser dado o toque de cessar fogo em todo o teatro de operações.  Glória a Deus nas alturas e paz na Terra entre os homens.”
Assim, foi escrita mais uma luminosa página castrense que edifica a Pátria Brasileira! Sursum Corda! BRASIL! 
Tudo isso vem-nos à memória neste momento. E eu gostaria de ouvir, para fazer tremer as pedras destas montanhas, seu brado de guerra bem forte. 
O Comandante puxa e eu faço coro com a banda: o brado de guerra do glorioso Batalhão de Montanha do Exército brasileiro.” 
O Comandante Sérgio atende o pedido do orador e brada: “Para frente e para o alto!” Todos respondem: “Montanha!” 
O orador conclui: “Glória a Deus!”
A estas palavras ungidas e iluminadas, todos clamaram novamente o brado: “MONTANHA!” 
 
Foi pena que, muito emocionado, Benigno não falou. Foi uma tarde de luminosa ternura e amor ao Benigno, à Banda, ao 11º BI Mth, à Pátria!
 
Num pequeno momento de confraternização e fechando assim o evento, Dona Célia ofereceu a todos os músicos, vizinhos presentes e transeuntes que ali passavam naquele momento, bandejas de bombons como um pequeno "regalo" do aniversariante.
 
Quando a banda já descia a ladeira, o que muito emocionou a todos ao final do evento, foi a minha esposa Rute Pardini espontaneamente, a capella, dedicar a Benigno Parreira, todo ouvidos, com uma voz muito emocionada, a ballata do 2º Ato, “Oh come è bello il ciel!”, da ópera Il Guarany de Carlos Gomes cantada por Cecília. 
Rute Pardini "deu a canja", de pé, defronte à sua casa na ladeira, sobre as mesmas pedras que minutos antes ouviram o brado de guerra. Felizes os que lá estiveram presentes. 

O autor da matéria e sua esposa, a cantora lírica Rute Pardini

 

CARLOS GOMES: Il Guarany, Ato II: Oh! Come è bello il ciel!
Ária de Cecília (na voz da soprano búlgara Krassimira Stoyanova)

 


I. NOTA EXPLICATIVA

 

¹   Gentil Palhares, na sua crônica “Subtenente Benigno Parreira”, relata que 
“como soldado, cabo e depois sargento da nossa Cia. de Comando e Serviços do glorioso Regimento Tiradentes, era ele o exemplo da Banda de Música.” 
Na ocasião narrada por Gentil Palhares, a Banda do Regimento Tiradentes era muito conceituada e valorizada pelos comandantes do Regimento. Lembro-me bem de eu próprio ter frequentado alguns seus ensaios em 1963 na companhia de Gil Amaral Campos. Cheguei a ouvir a Abertura 1812 de Tchaikovsky, magistralmente executada pelo famosa corporação musical. 
 
 
A seguir, venho fazer um relato do que presenciei como um garoto de 14 anos de idade. 
No começo da década de 1960, uma profunda agitação política tomou conta do País. Depois da renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, assumiu seu vice, João Goulart (Jango), um político gaúcho que defendia medidas consideradas socialistas pelas elites políticas brasileiras. Estas sentiram-se ameaçadas por reformas de base propostas para reduzir as desigualdades sociais brasileiras. Como o perfil de Jango incomodava as elites, desconfiadas de que Jango pretendia uma alteração social profunda nas relações entre o capital e o trabalho, os políticos decidiram adotar o Parlamentarismo, uma das medidas adotadas para enfraquecer o então presidente, em 1961 e 1962, mas a experiência não durou muito: em 1963, o regime presidencialista foi restabelecido através de um plebiscito, quando Jango propôs reformas constitucionais para acelerar as reformas de base que ele pretendia implantar. Ao lado dessa instabilidade política, a crise econômica grassava pelo País que se encontrava dividido pró e contra Jango. Por um lado, as forças democráticas se articulavam contra o que consideravam o governo da indisciplina. Por outro lado, Jango tinha o apoio do PCB, das organizações de massa e dum pretenso “esquema militar”, quando conseguiu acender as paixões na caserna, após dar apoio à rebelião dos marinheiros que saiu vitoriosa e com a qual pretendia dar uma demonstração de força, mostrando que tinha prestígio junto aos escalões menores das Forças Armadas. A desconfiança dos comandantes militares se tornou realidade na noite de 30 de março de 1964. Convidado pela Associação dos Subtenentes e Sargentos da Policia Militar do Rio de Janeiro para discursar na data do aniversário da entidade, Jango compareceu à reunião na sede do Automóvel Clube, no Rio de Janeiro, com a presença de centenas de sargentos, além de diversos oficiais e ministros, dentre os quais o novo Ministro da Marinha, Almirante Paulo Mário. Consta que dezenas de comunistas, inclusive o Cabo Anselmo, se confraternizaram com os militares presentes. 
“O ponto alto da reunião foi o discurso do Presidente da República. Inebriado pela calorosa recepção dos sargentos e incentivado pelos constantes aplausos, Jango fez um dos discursos mais inflamados de sua vida pública. Defendeu os sargentos amotinados. Propugnou pelas reformas de base. Acusou seus adversários, políticos e militares, de estarem sendo subsidiados pelo estrangeiro. Ameaçou-os com as devidas ‘represálias do povo’. A televisão mostrou ‘ao vivo’ estas cenas. Muitas das pessoas que as assistiam, sentiram que, após aquela reunião, a queda de Jango era iminente.” 

Link: http://www.wirelessbrasil.org/orvil/textos/2p_cap03_item08.php 

Lembro-me claramente de que todas essas paixões políticas tomaram conta da caserna e em São João del-Rei houve grande repercussão desse movimento revolucionário capitaneado pelo presidente Jango. 
Todos os musicistas da Banda do glorioso Regimento Tiradentes, com exceção de Benigno Parreira, se posicionaram a favor do presidente e dos militares revoltosos. Somente ele foi a voz discordante e isolada do corpo da Banda. Ele tomou a mais difícil decisão de sua vida, posicionando-se a favor da disciplina militar e de seus comandantes. Adepto da hierarquia militar e da legalidade, jamais se insubordinaria contra seus superiores hierárquicos. 
Com exceção de Benigno Parreira, todos os músicos da Banda foram transferidos para não sofrerem uma penalidade ainda maior. 
Gentil Palhares fala desse momento crucial para a Banda, em que, diante desse incidente desagregador para a qual foi levada pelas circunstâncias, Benigno Parreira teve uma conduta irrepreensível, mantendo-se firme na trincheira da legalidade. Segundo Gentil Palhares, Benigno 
“seria, ainda, com o tempo, um dos esteios da nossa Banda de Música, quando dele viesse ela a precisar, não apenas como militar, senão que também como verdadeiro artista. E foi o que aconteceu, pois que, surgindo a revolução moralizadora de março de 1964, quando houve tantas indecisões em torno de sua movimentação, o então sargento Benigno Parreira não titubeou e permaneceu firme na Cia. Se soube respeitar o pensamento dos seus colegas, posto que sem a eles aderir, não arredou pé do seu Regimento e colocou-se pronto para o cumprimento da missão que receberia de seus superiores, do seu Comandante. E foi por isso que não saía nunca de São João del-Rei, sua Terra natal, onde ocupa lugar proeminente nos nossos meios musicais, especialmente na Sociedade de Concertos Sinfônicos, da qual é um dos baluartes.” 
O acaso contribuiu para que Benigno Parreira, de clarinetista que era até então, passasse a ocupar o cargo de regente da Banda do Regimento Tiradentes indicado pelo comandante de então, após a destituição e transferência de todos os seus colegas musicistas titulares para outras unidades. Como era lhano e afável, não lhe foi muito difícil re-fundar a nova Banda, sem animosidades, para o que contribuiu o seu caráter conciliador e agregador. 
 
Faltou a Gentil Palhares mencionar que a vida musical são-joanense ganhou muito com a permanência de Benigno na cidade. Além da sua atuação na “Sinfônica” como membro do Conselho Artístico, regente do Coral e baixo solista (inesquecível sua atuação na invocação “O Dio degli Aymoré” do 3º Ato, da ópera Il Guarany, de Carlos Gomes e o seu solo de "Oh Gloriosa Virginum" na Novena de Nossa Senhora das Mercês do Pe. José Maria Xavier), tornou-se regente do Coral e da bicentenária Orquestra Lira Sanjoanense (da qual ainda hoje é regente honorário) e refinado compositor, cabendo aqui destacar a composição de duas marchas fúnebres, sendo a mais executada a denominada “Saudades”.