sexta-feira, 30 de junho de 2017

FESTA DE SÃO SEBASTIÃO EM S. JOÃO D'EL-REY em 1919


Por Francisco José dos Santos Braga





I.  INTRODUÇÃO



Tive muita sorte de ganhar um mimo do saudoso amigo Luiz Antônio Ferreira, o "Irmão" (2/2/1949-5/3/2015) há uns dez anos atrás: um programa original da festa do Glorioso São Sebastião, que o Vigário Monsenhor Gustavo Ernesto Coelho, da Matriz de Nossa Senhora do Pilar, mandou celebrar, em honra do santo, no período de 11 dias, no ano de 1919.

Assina como procurador dos atos descritos no programa o poeta itapecericano Bento Ernesto Júnior ¹, que se tornou, por vontade própria, filho adotivo de São João del-Rei, tendo passado a residir nesta cidade durante a maior parte de sua vida. 




II.  PROGRAMA DA FESTA DE SÃO SEBASTIÃO EM 1919
 
 
FESTA DE SÃO SEBASTIÃO

em S. João d'El-Rey

1919

PROGRAMMA


A festa ao Glorioso São Sebastião obedecerá, de accordo com o Revmo. Vigario Monsenhor Gustavo Ernesto Coelho, ao seguinte traçado:

Dia 10 - Sexta-feira: Inicio do novenario, às 7 horas da noite

Dia 18 - Sabbado - Terminação do novenario.
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DIA 19 - Às 6 1/2, missa com harmonium pelo illustre professor Carlos dos Passos por intenção dos que concorreram para a festa.

                - Às 6 da tarde, trasladação solemne da imagem de N. S. das Mercês da sua capella para a Matriz, para sahir na procissão do dia 20, sendo o acto realizado pelas gentis senhoritas sãojoannenses, sob os auspicios da digna Mesa Administrativa das Mercês. Abrilhantará a trasladação a banda musical RIBEIRO BASTOS, sob a direção do talentoso e apreciado maestrino José Quintino dos Santos. À chegada na Matriz, a Virgem das Graças será recebida pelo Revmo. Clero e pela banda musical BAPTISTA LOPES, regida pelo seu director, o distincto maestrino Raphael Moreira.

             - Às 7 horas da noite, será entoado o Terço, seguindo-se solemne Te-Deum Laudamus pela


Terminação da guerra e da peste

terminando os actos do dia com a bençam do S.S. Sacramento.  

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DIA 20 - O raiar do dia será saudado com repiques de sino e girandolas de foguetes.

                  - Às 10 horas da manhã, missa com musica. Eleição dos juizes para o anno de 1920. 

             - Às 5 horas da tarde, sahirá da Matriz a imponente procissão do Invicto Martyr,  tomando parte no prestito outras imagens e a banda BAPTISTA LOPES, sendo percurso o do custume. 

                  À entrada, depois de eloquente sermão do erudito orador sacro Padre João de Baptista da Fonseca, será entoado o Te-Deum Laudamus e dada a bençam do SS. Sacramento, como remate condigno aos festejos. 

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Os actos internos terão a abrilhantal-os, a orchestra Lyra S. Joannense, obedecendo à regencia do provecto professor, maestro João Feliciano de Souza, de reputação firmada.

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A partitura da missa é do insigne maestro sãojoannense JOÃO DA MATTA,  de tão saudosa memoria, sendo, tambem, de sua lavra genial o Tantum-ergo ², da bençam do dia 19, ao incensorio sendo executado o bello concertante de João Feliciano, Auctor beate sæculi, de tão commovedor effeito. Credo do Padre José Maria, o festejadissimo e immortal musicista patricio.

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O Clero será, nos festejos, representado pelos Exmos. Snrs. Monsenhor Vigario Gustavo Ernesto Coelho, Conegos Candido Alvarenga e João Baptista da Silva, Padres João Baptista da Fonseca, Francisco Rocha e Frei Benigno.

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Em nome do Glorioso Martyr, convidando-se o  povo em geral para comparecimento aos festejos, faz-se um appello especial às Exmas. Familias para que mandem donativos e prendas para o leilão, para auxiliarem as despezas e enviem anjos às procissões - e às gentis senhoritas para, no maior numero possivel, abrilhantarem a transladação da veneranda imagem da Virgem das Mercês.

A Omnipotencia Divina, por intercessão do S. Sebastião, galardoará a todos que houverem concorrido para a realização das homenagens, este anno, ao grande Santo.
                                                                            O PROCURADOR 
                                             Bento Ernesto Junior 



III.  NOTAS  EXPLICATIVAS 





¹  [CINTRA, 1982: 352] comemorou o nascimento desse poeta na efeméride do dia 25 de agosto de 1866: 
"Nasceu em Itapecerica o Prof. Bento Ernesto Júnior, Poeta, Escritor, Musicista e Jornalista, filho de Bento Ernesto Corrêa. Era membro da Academia Mineira de Letras e do Conselho Superior de Instrução do Estado de Minas. Publicou em jornais de Juiz de Fora trabalhos em verso e prosa utilizando os pseudônimos BEJ, João Ninguém, JUC, Lauro Benício e L. Benício. Colaborou em vários jornais de S. João del-Rei e de outras cidades. Na terra natal fundou os periódicos O Raio (1884) e o Canário (1885), órgãos humorísticos. Livros publicados: Átomos Líricos (versos), Frondes e Contos Cacetes (prosa), Vida Aldeã (contos), Árvore do Bem e Terra Prometida (poesia). Também foi literato seu irmão Dr. João Ernesto Corrêa (adv.) falecido em Passos a 25/03/1913. Bento Ernesto, exímio musicista, compunha partituras muito apreciadas para as festas de N. Sra. da Conceição, das Mercês e do Mês de Maria, em S. João del-Rei. Também escreveu para os jornais locais belas poesias em louvor da Virgem Santíssima. No harmônio das igrejas sanjoanenses executava peças de compositores de S. João del-Rei. Depois de 40 anos de atividades relacionadas com o ensino público, aposentou-se no cargo de inspetor técnico. Era correspondente em S. João del-Rei do Arquivo Público Mineiro. Era casado com Ana Ernesto de S. José, falecida a 14/03/1949, em Itapecerica. Faleceu a 09/01/1943, sendo sepultado no Cemitério do Carmo desta cidade. Sanjoanense adotivo dos mais distintos. Bento Ernesto residiu muitos anos em S. João del-Rei."
Imagem: BENTO ERNESTO JÚNIOR. Fonte: BRAGA, Tancredo: Álbum da cidade de São João del-Rei, em comemoração à data de 8 de dezembro de 1913. Crédito: historiador Silvério Parada. 
 
Com base na informação fornecida pelo historiador Cintra, procurei o túmulo do ilustre poeta no Cemitério do Carmo. Não conseguindo localizá-lo, dirigi-me à Secretaria para maior informação. Lá, tive acesso ao livro de registro do Cemitério e pude constatar que Bento Ernesto Júnior era irmão carmelita e que o seu corpo foi sepultado no dia 10/01/1943, na tumba 23, 1º andar, conforme anotado pelo Secretário José de Assis Sobrinho. Tendo sido aberto o seu túmulo em 9/4/1952 (informação vertical à esquerda do registro do óbito), não foi anotada no registro correspondente a transferência de seus restos mortais para nenhum mausoléu nem para o ossuário geral - anotação normal num desses casos. Portanto, lamento informar que é desconhecido o destino dado a eles.
Registro de falecimento e sepultamento de Bento Ernesto Júnior no Cemitério do Carmo

Bento Ernesto Júnior é patrono da Cadeira nº 83 da AMULMIG-Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais. Na Academia de Letras de São João del-Rei é patrono da Cadeira nº 36, ocupada pela Acadêmica Profª Betânia Maria Monteiro Guimarães.

²  A partitura de Tantum ergo, por João da Matta, está disponível a 2 e 4 vozes com acompanhamento de órgão (arranjo de Rafael Sales Arantes) in http://imslp.org/wiki/Tantum_ergo_(Matta,_Jo%C3%A3o_da) 

[CINTRA, 1982: 417] deixou evidente a profunda admiração do poeta Bento Ernesto Júnior pelo colega musicista João da Matta, tendo anotado em efeméride de 3 de outubro de 1889 o trecho abaixo, extraído do jornal A Pátria Mineira na mesma data, em que este colocava à venda diversas coleções de músicas, não esclarecendo se eram de sua autoria, manuscritas, ou edições de terceiros. Em seguida, continuando, ressaltou o conteúdo de uma crônica do primeiro escrita em homenagem ao grande músico, valorizando suas composições musicais: 
"Na Pátria Mineira, desta data, João Francisco da Mata anuncia a venda de diversas coleções de músicas (marchas, dobrados, polcas, modinhas e hinos patrióticos). 'Espero que meus bons conterrâneos me favoreçam, comprando-me algumas músicas, visto ser o seu produto para auxiliar a minha viagem à Corte, onde vou publicar uma artinha musical e diversas  composições minhas'. O poeta e jornalista Bento Ernesto Júnior, membro da Academia Mineira de Letras, ressaltou em crônica a grande admiração que João da Mata despertava em toda parte, conquistando amigos, e 'a consagração invulgar do aplauso da mais rutilante glória da música brasileira, o grande, o imortal Carlos Gomes, que proclamou João da Mata, uma das mais admiráveis organizações musicais, que lhe fora dado a conhecer'." 
Na realidade, o anúncio datado de 24/09/1889 a que se refere a efeméride acima de Cintra apareceu na edição nº 20, p. 3, Anno I, de 26 de setembro, tendo sido reiterado nas edições de 3, 17 e 24 de outubro de 1889 de A Pátria Mineira, com o seguinte teor, na íntegra:
Musicas à venda
"Tendo de demorar-me nesta cidade de 8 a 15 dias, partecipo aos meus amigos e apologistas que trago em rascunho excellentes quadrilhas a 5.000 rs. a collecção; marchas a 4.000 rs. cada uma; dobrados a 5.000 rs., polkas a 2.000 rs., walsas a 2.000 rs. e modinhas a 1.000 rs. cada uma; Hymno da Princeza ou 2º Hymno Nacional, 10.000 rs.; Hymno do Tiradentes, 10.000 rs.
Espero que os meus bons conterraneos me favoreçam, comprando-me algumas musicas, visto ser o seu producto para auxiliar a minha viagem à côrte, onde vou publicar uma artinha musical e diversas composições minhas.
Quem dignar-se auxiliar-me pode deixar o seu recado no escriptorio desta folha.
S. João del Rey, 24 de Setembro de 1889.
JOÃO FRANCISCO DA MATTA"
Observe então que a efeméride do historiador Sebastião de Oliveira Cintra é composta de duas referências: na primeira referência, Cintra atribui à data de 3 de outubro de 1889, sendo que já verificamos que o anúncio, embora datado de 24/09/1889, foi pela primeira vez publicado em 26/09/1889; depois, nos dias 3, 17 e 24 de outubro de 1889. Quanto à segunda referência, que trata de crônica de Bento Ernesto Júnior, o qual, segundo Cintra, fala da alta conta que Carlos Gomes tinha o nosso "conterrâneo" João da Matta, não a localizamos.

Por outro lado, Luiz Fonseca, no pequeno jornal Pérolas do Samba, no artigo intitulado EXPRESSÃO CULTURAL: João da Matta, trouxe novas informações sobre a biografia de João da Matta: 
"(...) JOÃO FRANCISCO DA MATTA era músico de profissão. Sua paixão dominante era a música. Compôs: dobrados, valsas, missas e motetes. Musicou poesias, orações e invocações. E foram inúmeras as composições musicais que produziu. Foi maestro, afinador de piano, compositor de muita fama e instrumentista. Contam que tocava todos os instrumentos de três chaves e alguns de corda; era também pianista e professor de música. Como professor João da Matta chegou ao distrito de Aventureiro, pertencente à Vila de Mar de Hespanha, para dar aula de música, por volta de novembro de 1883. Mas em março do ano seguinte já deixava o local voltando a São João del-Rei, quando fez publicar no "O Arauto de Minas" a seguinte nota: 'É muito difícil retirar-se de qualquer lugar especialmente pequeno, sem deixar ou levar inimigos ou desafeições; a igualdade e perseverança que revelou para comigo o distinto e respeitável povo do Aventureiro, no bom proceder, cir(cuns)pecção, hospitalidade, generosidade e lealdade, me enthusiasmaram, e deram-me poesia e ânimo de dizer, com imensíssimas e evidentes provas, que me retirei daquele lugar contra a vontade de todas as pessoas que eu conheci nele. Isto depõe tanto a meu favor, como a favor delas. Fico bem saudoso, e muito grato, com o meu fraco e limitado préstimo ao dispor deste excelente povo, no Mar de Hespanha. São João del-Rei, 12 de março de 1884. - O Professor de Música - João Francisco da Matta' (...) O jornal "A Gazeta Mineira", numa de suas edições de 1891, anunciava que a música "Tango das Moças", de autoria do compositor e maestro João da Matta fora impressa em Juiz de Fora, na tipografia dos Drs. Leite Ribeiro & Cia., e se encontrava à venda. No catálogo de partituras da Fundação da Biblioteca Nacional há várias obras do fantástico compositor são-joanense, dentre as quais citamos: 1) Marcha Fúnebre (RJ/Narciso & Arthur Napoleão/1870); 2) Minh'Alma é triste (poesia de Casimiro de Abreu musicada); 3) Os Monarchas (quadrilhas para banda); 4) Missa (Assumpção de Nossa Senhora/Quarta Missa) a quatro vozes/Dedicada a D. Pedro II; 5) Miragem! (marcha festiva...); 6) Marcha de Santa Anna...; 7) Canção dos cantos miridionaes (sic) (por Luiz Fagundes Varella-1841/1875-poesia musicada); 8) Romance do moço loiro (poesia de Joaquim Manuel de Macedo-1820/1882-musicada). João da Matta deixou músicas que marcaram a vida de várias gerações dos mais variados lugares, como, por exemplo, uma belíssima marcha fúnebre, que há mais de cento e dez anos é executada na Procissão do Enterro, na Semana Santa de Prados. É tocada, também, no interior da Matriz local, após a visitação aos Passinhos, que ocorre ao término da Procissão das Dores, na Quarta-feira, que antecede a Quinta-feira Santa. (...) É maravilhoso e tocante o solo de bombardino que se apresenta nela. (...)" 
Anúncio no "Arauto de Minas" noticiando o retorno de João da Matta à sua terra natal, depois de lecionar música por 4 meses em Aventureiro, distrito da Vila do Mar de Hespanha
João Francisco da Matta (foto restaurada pelo historiador Silvério Parada em 2009)


Escreveu sobre o célebre músico são-joanense (?) (18??-1909) o musicólogo José Maria Neves, o qual em Música sacra mineira (Funarte, Rio de Janeiro, 1997, p. 102) registrou: 
"Dizem que foi discípulo do maestro Martiniano Ribeiro Bastos. Faleceu em Serranos, então município de Aiuruoca. Era negro e participou, tocando diversos instrumentos (tendo sido virtuose no oficleide), de todas as corporações musicais de São João del-Rei, lecionou e apresentou-se em concertos em todo o Oeste e Sul de Minas, atuando também como compositor ativo e fértil, com forte influência da ópera italiana, como a maioria dos seus contemporâneos. Conta-se que Carlos Gomes tinha por ele grande admiração, tendo lamentado que não lhe fosse dada a oportunidade de estudar na Europa."
Obs.: Da autoria de João Francisco da Matta, primeiramente, são citados um hino Ave Maris Stella e uma Missa Carmelitana em Dó no catálogo da Coleção Curt Lange, vol. I, 138-9. A Missa é autógrafa e datada da cidade de Oliveira, 1880. O manuscrito do acervo ECA/USP, provavelmente autógrafo, é datado da cidade de Lavras, 1873. Além disso, é citado um Tota pulchra publicado pela Funarte. Ademais, são ainda citados um Veni Creator Spiritus: Solo ao pregador para tenor, datado da cidade de Lavras, de 4 de setembro de 1873. Finalmente, é citado um Per te sciamus.
Cf. in http://www.rebeca.eca.usp.br/lam/minas/biografias/matta.html
Foto reconstituída pelo historiador Silvério Parada a pedido do saudoso Aluízio José Viegas, o qual identificou alguns componentes da Orquestra Lira Sanjoanense em Juiz de Fora em fins do século XIX
Busto do ilustre músico são-joanense João Francisco da Matta, existente na sede da Orquestra Lira Sanjoanense, em São João del-Rei

O ilustre músico, que lecionou e se apresentou profissionalmente em concertos por todo o Oeste e Sul de Minas, é homenageado em São João del-Rei, com a denominação de um logradouro no bairro do Bonfim: Rua João da Mata.


IV.  REFERÊNCIAS   BIBLIOGRÁFICAS



CINTRA, Sebastião de Oliveira: Efemérides de São João del-Rei, Belo Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 1982, 2 vol., 622 p. 

Jornal Arauto de Minas, São João del-Rei, Anno VIII, edição de 15 de março de 1884, nº 1, p. 3

FONSECA, Luiz: Expressão Cultural: João da Matta. Jornal Pérolas do Samba, São João del-Rei, Ano 0, edição nº 6, de dezembro de 2008, p. 8

NETO, J.R., SACRAMENTO, J.A.A. & RAMALHO, O.A.: Pátria Mineira, site sobre a história de São João del-Rei. http://www.patriamineira.com.br/arquivos.php Acesso em 16/06/2017.

 

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Colaborador: José Augusto da CÂMARA TORRES


José Augusto da CÂMARA TORRES
(☆ Caicó, RN, 22.6.1917-✞Niterói, RJ, 22.8.1998) 
Jornalista, educador, advogado e político.


• Jornalista Profissional (repórter, redator, colunista, editor e correspondente) de diversos jornais e revistas de Caicó (RN), Niterói, Rio, Natal e Angra dos Reis e do extinto Serviço de Propaganda e Turismo do Estado do Rio de Janeiro, em momentos do período dos anos 1920 a 1952.
• Professor de História do Brasil, Língua Portuguesa, Literaturas Portuguesa e Brasileira, dos Colégios Salesiano, N. Sa. Das Mercês. e Ginásio Icaraí, de Niterói, nas décadas de 1930 e 1940.
• Técnico de Educação, por Concurso Público de provas e títulos, com defesa de Tese, oral e escrita, e Chefe da Primeira Inspetoria Regional de Ensino (Extremo Sul do RJ), de 1941-1953, com sede em Angra dos Reis, RJ.
• Deputado Estadual à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro por quatro mandatos sucessivos (1954-1970), representando, prioritariamente, Angra dos Reis e o Extremo Sul do Estado. Deixou, além de um notável legado de ética, probidade e coerência política, de nobres causas e lutas, de fidelidade aos seus representados, um importante patrimônio de leis e realizações, especialmente, na Educação, Cultura, e nos setores sociais e econômicos.
• Primeiro Secretário da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (1959-60).
• Membro do Conselho Estadual de Educação (1961-1962).
• Consultor Técnico de Educação do Estado do Rio de Janeiro, cargo no qual se aposentou.
• Secretário Estadual do Interior e Justiça (1968), com notáveis realizações, desenvolvimento e vanguardas promovidas nas áreas política, forense, penitenciária e das municipalidades.
• Secretário Estadual de Serviços Sociais (1971), com breve gestão de marcantes feitos.
• Advogado militante, eminente civilista, em todo o Estado do Rio de Janeiro, principalmente em Angra dos Reis e na Região Sul Fluminense, Niterói e Rio de Janeiro, de 1943 a 1998.
• Dirigente da OAB-RJ, onde criou e instalou as Subseções de Angra dos Reis e Paraty, presidindo a primeira em duas gestões.
• Intelectual ativo e produtivo durante toda a vida, é autor de um livro de ensaios, publicado aos 22 anos, e de centenas de outros ensaios, conferências, editoriais, artigos, reportagens, discursos em diversas áreas da Cultura, Ciências Humanas e Sociais (Sociologia, História, Direito, Política, Educação), Literatura e Folclore.
• Criador e modernizador de toda a estrutura física de Educação Pública Básica de Angra dos Reis e do Extremo Sul Fluminense, implantando administração, pedagogia, didática e serviços de excelência, adaptados à realidade regional, que alfabetizou e formou várias gerações de crianças e jovens.
• Membro Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e da Academia Valenciana de Letras; da Associação Brasileira de Escritores, um dos Fundadores do Instituto Histórico e Artístico de Paraty e Sócio Correspondente do Ateneu Angrense de Letras e Artes.
• “Cidadão Honorário” do Estado do Rio de Janeiro, de Angra dos Reis, Paraty, Rio Claro, Mangaratiba e outros municípios fluminenses.
• Detentor de dezenas de láureas e homenagens de instituições, públicas e privadas, políticas, educacionais, culturais, sociais, sindicais, filantrópicas, esportivas e religiosas nacionais e dos Estados do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Norte.
•  Primo dos Cardeais Dom Hélder Câmara e Dom Jaime de Barros Câmara; e do escritor Luís da Câmara Cascudo.

Autor: MARCELO Nóbrega da CÂMARA Torres in memoriam

CÂMARA TORRES E O ESTADO DO RIO DE JANEIRO


Por MARCELO Nóbrega da CÂMARA Torres

1917-2017
CENTENÁRIO DE CÂMARA TORRES 
José Augusto da Câmara Torres
(☆Caicó, RN, 22/6/1917-✞22/8/1998)
Jornalista, educador, advogado e político

Em 1960, a bordo do Patrício, no cais de Paraty, RJ




José Augusto da CÂMARA TORRES (1917-1998), jornalista, educador, advogado e político, foi, no Século XX, o mais importante líder comunitário e político do Extremo Sul Fluminense. Em quatro legislaturas consecutivas, e com votações crescentes, de 1954 a 1970, cumpriu mandatos na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, representando, prioritariamente, o povo de Angra dos Reis, Paraty, Rio Claro e Mangaratiba. Ocupou, ainda, as Secretarias de Estado do Interior e Justiça e de Serviços Sociais, e foi membro do Conselho Estadual de Educação. Era considerado um dos maiores especialistas e executivos em Educação e um dos mais brilhantes advogados do País, destacadamente nas áreas do Direito Civil. Na sua carreira política, sempre recebeu votos em todos os municípios fluminenses, porém a sua base era os municípios de Angra dos Reis, Paraty, Rio Claro e Mangaratiba, onde Câmara Torres militou politicamente por mais de sessenta anos, recebendo, nas eleições das quais participou votações maciças, que chegaram a ultrapassar os 80 por cento dos votos válidos no Extremo Sul Fluminense.

Em todo o Estado do Rio de Janeiro, advogou por mais de meio século, principalmente no Sul do Estado e nas cidades de Niterói e Rio de Janeiro. Técnico de Educação concursado, com defesa de tese, oral e escrita, chefiou a Primeira Região Escolar, no Extremo Sul do Estado, sendo o responsável pela criação, construção, instalação e ampliação de toda a rede de Educação Pública daqueles municípios. De 1942 até a sua morte em 1998, ele foi o protagonista das grandes conquistas socioculturais e econômicas da Região. Era aposentado como Consultor Técnico Estadual de Educação e como advogado, viúvo da professora Gertrudes Nóbrega da Câmara Torres - a Dona Tudinha - mestra de gerações de angrenses, falecida em 1989. Sua casa, primeiro em Angra, depois em Niterói, sempre foi chamada de "a embaixada da Região", aberta a todos cidadãs e cidadãos de todas as classes sociais e cores políticas, fossem seus eleitores ou não, clientes ou não, amigos ou desconhecidos.

Fiel e dedicadíssimo às comunidades que representava, Câmara Torres entregou àqueles municípios, com elevada dignidade e correção, mais de cinquenta anos de vida pública. O seu generoso coração sempre esteve ocupado por esses municípios que ele chamava de “pátrias íntimas”. Do início dos anos 1940 até a sua morte, não houve iniciativa ou conquista para o povo da Região que não contasse com a sua liderança, participação decisiva. Por isto, o Estado do Rio de Janeiro muito lhe deve como educador e político de muitas lutas, nobres causas e grandes realizações. No Extremo Sul Fluminense, de 1942 a 1953, triplicou o número de escolas e de matrículas no Ensino Fundamental. Implantou a Merenda Escolar na Região e participou e influiu, decisivamente, na implantação dos cursos de segundo grau, extracurriculares e profissionalizantes. Levou a Educação aos pontos mais distantes de todo o Extremo Sul Fluminense. Depois, como Deputado Estadual, legislou intensa e continuadamente na Assembleia Legislativa nas áreas da Educação, Cultura, Saneamento, Saúde, Transportes, Segurança Pública, Comunicações, Turismo e Meio Ambiente. Pugnou, com altivez, pelo Ensino Público de qualidade e pela valorização dos professores. Até a sua morte, era reconhecido como "o deputado das professoras", "o político da Educação Pública", um batalhador pela Educação Pública de qualidade, universal e gratuita, e por condições dignas de trabalho para os profissionais do setor. Por sua obstinada e desvelada dedicação ao povo dos municípios que representava, a Imprensa, algumas vezes, o criticava pejorativamente como sendo “o faz-tudo do povo da Região”.

EDUCAÇÃO E CULTURA

Nascido em Caicó, no Rio Grande do Norte, José Augusto da Câmara Torres, de família pobre e de ilustres intelectuais, como o grande Luís da Câmara Cascudo e os Cardeais Dom Hélder Câmara e Dom Jaime de Barros Câmara (este filho de um potiguar que migrou para Santa Catarina), o jovem chegou a Niterói com 15 anos, já com experiências no Jornalismo, revelando-se precocemente um intelectual de talento, orador, ensaísta, líder e ativista estudantil católico. Na juventude, fundou e editou jornais e dirigiu instituições culturais em sua terra natal e em Niterói. Foi aluno do Colégio Salesiano Santa Rosa e do Liceu Nilo Peçanha, formando-se pela Faculdade de Direito de Niterói, Bacharel em Direito e Ciências Sociais. Lecionou História do Brasil, Língua Portuguesa, Literatura Portuguesa e Brasileira nos Colégios Salesiano, Nossa Senhora das Mercês e no Ginásio Icaraí. Em 1939, foi aprovado em rigoroso concurso público para Técnico de Educação, de provas e títulos, quando defendeu tese, escrita e oral, sob o tema Educação Moral e Cívica, sendo nomeado Inspetor Regional de Ensino, e designado, em 1942, para a chefia da 1ª Região Escolar, no Extremo Sul Fluminense, com sede em Angra dos Reis, onde, recém-casado, foi residir. Dois anos depois, é novamente brilhantemente aprovado, em novo concurso ratificador, também com defesa de tese, oral e escrita, sob o tema A Inspeção Escolar na Escola Primária.

Em poucos anos, revoluciona a Educação na Região, introduzindo uma moderna gerência de administração escolar, novas técnicas de ensino e metodologias didático-pedagógicas de vanguarda, que valorizavam o professor, as culturas locais e integravam a comunidade à escola. Introduziu a merenda escolar em toda a Região, que encontrou com pouco mais de trinta escolas, deixando-a, em 1953, com mais de uma centena de unidades. Triplicou o número de crianças matriculadas na Região, de dois mil para seis mil estudantes. Promoveu, ainda, um intenso movimento cívico e cultural, realizando exposições e semanas de estudos pedagógicos, as famosas “excursões culturais” criadas por Rubens Falcão que faziam o intercâmbio entre escolas e estudantes de vários municípios, entre outros eventos que marcaram época. Nunca o Ensino Público atingiu níveis tão altos de excelência e eficácia no Extremo Sul Fluminense.

José Augusto da Câmara Torres foi, fundamentalmente, um homem da Educação e da Cultura. Mais que isto, um homem da Educação e da Cultura Fluminense. Seu curriculum profissional nos apresenta um trabalhador intelectual fértil, produtivo e brilhante: jornalista profissional aos treze anos, liderança estudantil e tribuno desde os quinze, professor aos dezoito, escritor de obra reconhecida e Técnico de Educação aos vinte e dois anos. Depois, advogado, jurista, político. Câmara Torres não foi apenas um homem do Jornalismo, das Letras, do Magistério, da Política, da Advocacia Fluminense. Câmara Torres foi um notável agente que realizou, difundiu e desenvolveu a Educação e a Cultura na terra fluminense. Seu espírito humanista, seu trabalho cívico, comunitário e político em favor da Educação e da Cultura, estão em cada município que atuou: em cada rua das cidades, em cada praia, nas matas, sítios e fazendas, e grotões dos municípios, onde, semeou fé e esperança, plantou escolas, alfabetizou, formou e ensinou cidadania a gerações de milhares de crianças e jovens. Cada escola que construiu transformou-se em um centro de realização e promoção cultural, onde a história, o patrimônio, as referências, o Homem local era valorizado e promovido, em sintonia com a história da comunidade, do Estado e da Nação.

No Estado do Rio, Câmara Torres empreendeu inúmeras ações culturais, associando-se a instituições e lideranças da terra para atuar como o estudioso, o professor, o administrador, o político, que empreendeu, gerenciou e sustentou inúmeros projetos culturais. Na sua condição de educador e político, idealizou e apoiou muitos eventos, foi um ágil e produtivo animador cultural, um realizador bem sucedido, catalisando interesses, sentimentos e aspirações da gente fluminense, transformando sonhos em obras, em fatos culturais de relevância. Câmara Torres foi um estudioso e um tenaz defensor, como educador, advogado e político, do patrimônio cultural do Estado do Rio de Janeiro. Por mais de cinquenta anos, ele foi o grande incentivador e apoiador das manifestações populares e folclóricas no Extremo Sul Fluminense e em outros municípios, suas festas e celebrações religiosas e profanas. Ele foi o interlocutor, antes de 1950, do seu primo, mestre e amigo, o grande Luís da Câmara Cascudo, promovendo o diálogo entre os Governo do Estado e da União, visando aos primeiros apoios e estímulos à pesquisa e aos estudos do Folclore fluminense, que resultaram na criação da Comissão Fluminense do Folclore. Na década de 1960, Câmara Torres levou a Paraty o seu amigo e grande folclorista Edson Carneiro, liderando um grupo de pesquisadores de prestígio nacional, para conhecer in loco o Folclore Paratyense, depois registrado em artigos e ensaios editados em livros e revistas especializadas. Em 1960, afirmou-se como o grande apoiador das comemorações dos Trezentos Anos de Paraty, que comemorou a Revolução Popular liderada por Domingos Gonçalves de Abreu que promoveu a autonomia de Paraty em relação à Angra dos Reis. Em 1967, novamente, Câmara Torres foi um dos principais realizadores dos festejos do Tricentenário da Vila de Nossa Senhora dos Remédios de Paraty. Por iniciativa de Câmara Torres, nasceram o brasão e a bandeira de Angra dos Reis, Paraty, Rio Claro, Mangaratiba e Piraí, criações do seu amigo e famoso heraldista Alberto Lima. Todas as instituições socioculturais e esportivas do Estado sempre tiveram nele um amigo valioso, um apoiador incansável.

O seu notável trabalho como Técnico de Educação no Extremo Sul Fluminense, seu fecundo e eficaz munus político de deputado estadual e dirigente partidário, fizeram de Câmara Torres o orador dos grandes eventos, das inesquecíveis efemérides. Foi um dos grandes incentivadores dos estudos sobre a História e a Cultura Fluminense, inclusive produzindo ensaios importantes, sobre nós mesmos, sobre o nosso lugar, o nosso papel na vida nacional, os fatos e processos acontecidos na terra de Euclides da Cunha. A inauguração de cada uma das dezenas de escolas que construiu no Sul Fluminense traduzia-se numa festa cultural, popular, democrática, onde Câmara Torres ministrava uma aula sobre o patrono de cada unidade, convocava o povo para a sua História, para o exercício da cidadania social e política, práticas tecidas na pesquisa, na reflexão e na ação, a partir de cada município, a partir da sua gente e da sua História. No seu tempo, cada escola era um centro comunitário de atividades culturais, a célula de uma biblioteca e espaço para as atividades artísticas e profissionalizantes. Câmara Torres criou a rotina de trazer personalidades da Cultura Brasileira para falar ao povo, aos estudantes, aos professores de cada município do Extremo Sul Fluminense. Os seus objetivos eram estimular o conhecimento e a autoestima dos munícipes, proporcionar a consciência e a responsabilidade sociocultural e política de cada um e de todos.

A partir de 1942, os temas “Angra dos Reis, “Paraty”, “Rio Claro”, “Mangaratiba” vão ocupar, prioritária e majoritariamente, a agenda de Câmara Torres, vão habitar toda a sua obra divulgada e publicada, no Jornalismo e na Ensaística, nos campos da Educação, do Direito, da Política, da História, da Sociologia. Isto porque, naquele ano, ele visita a Região pela primeira vez, se apaixona pela terra, e publica em sua coluna Hora Fluminense, na primeira página de O Estado, de Niterói, o mais importante jornal à época, densos e informativos artigos, tratando da problemática socioeconômica dos municípios, das suas belezas e potencialidades, antevendo-lhes um destino promissor nos campos socioeconômico, cultural e turístico. É de sua autoria o primeiro e mais importante perfil biográfico de Samuel Costa, a belíssima e memorável oração que pronunciou quando da inauguração do Grupo Escolar, a 18 de novembro de 1948, na condição de Técnico de Educação e Chefe da Inspetoria Regional de Ensino, no 66º ano de nascimento do ilustre paratyense. Publicou na revista literária Bando, de Natal, Rio Grande do Norte, a única e histórica crônica que narra a morte, em 1944, em Angra dos Reis, do grande Alberto Maranhão, estadista da Primeira República, que após a Revolução de 1930, vive em Paraty, como fazendeiro e proprietário de jornal, por longos anos. Em 1951, proferiu no Grupo Escolar Samuel Costa, conferência sobre a vida e obra de Sylvio Romero e sua identidade com Paraty, recebendo, à época, do Doutor Nelson Romero, filho do ilustre humanista, em nome da família, carta de regozijo e agradecimento. Reuniu e editou, pela primeira vez, em 1973, os poemas de Samuel Costa, escrevendo a introdução à antologia. Também prefaciou as obras Paraty – Caminho do Ouro, de Heitor Gurgel e Edelweiss Amaral, e Silvio Romero, Juiz, de José Alberto da Silva, livro que narra a vida do grande sergipano como "Juiz Municipal do Termo de Paraty", de 1877 a 1879.

Como jornalista, professor, advogado e político, em toda a sua vida acadêmica e profissional, em mais de setenta anos de ininterrupta atividade intelectual, publicou livros e centenas de ensaios, estudos, artigos, reportagens e críticas nas áreas da Literatura, da História, da Educação, Política, Sociologia e do Direito, além de trabalhos nos campos do Folclore. Até a sua morte, participou, ativamente, de diversas instituições e movimentos culturais que agitaram o Sul Fluminense e todo o Estado do Rio de Janeiro, simultaneamente fundando entidades e dirigindo campanhas comunitárias.

DOAÇÃO E SERVIÇO

Afora o seu ingente trabalho, por mais de quarenta anos, como líder e arauto das grandes causas da Gente Fluminense, não há cidadão ou família do Extremo Sul Fluminense que não reconheça e não deva a Câmara Torres, uma atitude, um empenho, um gesto, pelo menos uma palavra de compreensão e apoio, em defesa de um direito ou benefício pessoal, afora todas as suas realizações coletivas, em benefício das comunidades. Na Região, os órgãos e os serviços públicos devem muito à ação contínua e persistente de Câmara Torres, tanto na Assembleia Legislativa, como junto a órgãos estaduais, federais e internacionais. Durante o tempo em que foi Deputado, viabilizou os governos dos prefeitos daqueles municípios, à época sociedades e prefeituras pobres, sem recursos, prestando-lhes toda a assistência e apoio, para bem e produtivamente desempenharem os seus mandatos.

No final da década de 1960, o Projeto Turis, da EMBRATUR, que tratava da ocupação racional e ecológica do litoral do Rio a Santos, teve em Câmara Torres um defensor entusiasta, corajoso e tenaz. O Plano de Desenvolvimento Integrado e Proteção do Bairro Histórico do Município de Paraty, patrocinado pela União Federal, cuja conveniência foi tratada na UNESCO, órgão da ONU, nasceu das idéias e das ações de Câmara Torres em vários fóruns regionais e nacionais nos anos cinquenta e sessenta, resultado do seu trabalho contínuo pela integração do Município ao Estado do Rio e pelo desenvolvimento autossustentável daquelas comunidades. Ambos os instrumentos tiveram o apoio político indispensável de Câmara Torres na Assembleia Legislativa e junto aos governos estadual e federal, e que introduziram Paraty no Século XXI.

Lutou, politicamente, sem pausa, por mais de três décadas, inicialmente pela abertura, depois pela conservação, tráfego regular e pavimentação da estrada Paraty-Cunha. Lutou, incansavelmente, nos níveis estadual e federal, mobilizando até organismos e recursos internacionais, para a pavimentação da estrada, chegando mesmo a obter compromissos formais de governadores, ministros de Estado e a celebração de contratos entre o Governo do Estado e construtoras, os quais sucessivos governos federais não permitiram que fossem cumpridos. Hoje, a Estrada Parque Comendador Antônio Conti, pavimentada, é uma realidade, uma conquista de Câmara Torres, do Povo Paratyense através dele e de seus líderes comunitários e políticos. Foi o grande responsável pela abertura da Estrada Angra dos Reis-Paraty (Rodovia Roberto Silveira) e, depois, pela Rodovia Rio-Santos, com outro traçado, é verdade, mais inteligente e preservacionista.

Dedicou-se, também, durante toda a sua vida pública, pela manutenção do Serviço de Navegação Sul Fluminense, que oferecia transportes às comunidades da Baía da Ilha Grande. Criticou, durante anos, o funcionamento do presídio na Ilha Grande, que segundo ele, "contrariava as vocações ecológicas e preservacionistas daquele patrimônio, expondo-o a toda sorte de perigos e agressões".

Como parlamentar, atuou e legislou destacadamente na área social, em favor da Região que representava, especialmente na Educação, Cultura, Saúde, Saneamento, Transportes, Segurança Pública, Turismo e Meio Ambiente. Planejou e viabilizou, como Secretário do Interior e Justiça, a construção do Fórum Silvio Romero, em Paraty, e João Fausto Magalhães, cujos nomes foram dados por ele. Criou e instalou as Subseções da Ordem dos Advogados de Angra dos Reis e de Paraty Construiu, com recursos próprios, no início da década de 1950, o Aeroporto de Angra dos Reis, fundou e foi presidente do Aero Clube de Angra dos Reis. Empenhou-se pela manutenção e melhoria do campo de aviação de Paraty, pois foi um pioneiro do transporte aéreo no extremo sul do Estado. Idealizou e coordenou, em 1970, a Operação Trindade, primeira ação multidisciplinar do Estado no sentido da integração e desenvolvimento socioeconômico sustentado da comunidade da Praia da Trindade. Foi o autor da lei que remunerava e dava tratamento especial aos profissionais da Educação designados para trabalhar nas escolas oceânicas, de difícil acesso de Paraty. Irmão e Procurador das Irmandades das Santas Casas de Misericórdia de Angra dos Reis e de Paraty, era, também, membro da Associação de Caridade São Vicente de Paulo, que mantém o Asilo de assistência à velhice em Angra dos Reis.

Cristão e solidário, generoso em todos os seus atos, Câmara Torres, na Plítica, teve adversários, jamais inimigos. Na Advocacia, contendores que o admiraram, nunca debatedores odientos. Morreu pobre, sem bens a inventariar, sendo visto por correligionários e adversários políticos, como "uma legenda moral de honestidade e trabalho, de doação às causas populares, que fazia dele um homem público por excelência, honrado, leal, destemido e produtivo, com inestimáveis serviços prestados ao Estado do Rio de Janeiro". Os cientistas políticos poderão ver Câmara Torres como "um Homem Público com uma inexcedível capacidade de doação, um Político com uma dimensão humana e social insuperável". Deixou oito filhos, quatorze netos e uma legião de amigos e admiradores no Estado e no País. Entre os seus filhos está o jornalista, escritor, consultor cultural e Consultor Legislativo do Senado Federal, aposentado, Marcelo Câmara, que sempre desenvolveu intensa e múltipla atividade intelectual, herdou, ainda em vida do pai, a rica biblioteca de Câmara Torres, com importantes e raras obras jurídicas, de História, Educação, Literatura, Ciências Políticas e Sociais, e o seu monumental arquivo profissional e pessoal, onde está registrada toda a sua vida como jornalista, educador, advogado e político, inclusive a sua correspondência com líderes e famílias da Região Sul do Estado, e com personalidades da vida fluminense e nacional, estas desde os anos vinte até a sua morte.

LIDERANÇA POLÍTICA

Em meados da década de 40, Câmara Torres já era uma vigorosa e irreversível liderança regional. Com a redemocratização do País, em 1945, ingressa no Partido Social Democrático - PSD, e, cinco anos depois, é um dos fundadores e dirigente do Partido Social Progressista - PSP, elegendo-se, por essa legenda deputado estadual em 1954 e, por mais três vezes consecutivas. Funda os diretórios municipais do PSP em Paraty, Angra dos Reis, Rio Claro e Mangaratiba e é eleito Secretário-Geral do partido no Estado do Rio. Em 1958, foi um dos principais articuladores da coligação PSP-PTB-UDN, que levou o amigo e companheiro de lutas estudantis e políticas, Roberto Silveira, ao Governo do Estado. Em 1959, exerce as funções de Primeiro Secretário da Assembleia Legislativa. No Governo de Geremias de Matos Fontes, ocupa, por alguns meses, a Secretaria de Estado do Interior e da Justiça, onde realiza profícua administração, erguendo fóruns em vários municípios, assistindo e modernizando as prefeituras municipais e revolucionando o sistema penitenciário, com a implantação de projetos pioneiros da Educação formal e profissional nos presídios. Em sua gestão, obteve, pela primeira vez, em mais de sessenta anos de tentativas frustradas de tantos governos, a devolução, por parte do então Estado da Guanabara, das áreas, prédios e benfeitorias, onde funcionavam o Presídio do Abraão e a Colônia Penal Dois Rios, na Ilha Grande, concretizando-se anos depois a transação, por conta da sua saída da Secretaria, e de sua volta à Assembleia Legislativa.

Mesmo ingressando na Aliança Renovadora Nacional – ARENA, após o golpe de 1964, lutou, durante o regime militar, contra a instalação da usina nuclear na Praia da Itaorna, em Angra, e esteve preso no Colégio Militar, sendo libertado após dez dias de detenção, sem qualquer acusação formal, com um pedido de desculpas do então comandante da unidade. Antes, fora acusado em Inquérito Policial Militar, por ter intervindo em favor da liberdade e integridade de líderes políticos e comunitários de Paraty, uns presos, outros perseguidos pela Ditadura, a maioria deles, seus circunstanciais adversários políticos. Em 1970, foi o único deputado estadual da ARENA a concorrer a uma vaga na Câmara Federal, não logrando êxito, apesar de expressiva votação, o que o colocou numa primeira suplência por quatro anos, levando-o a um longo jejum eleitoral. Em 1971 assumiu a Secretaria de Estado de Serviços Sociais, iniciando um trabalho em várias frentes, de grande repercussão, com projetos de vanguarda dirigidos aos marginalizados, crianças e idosos, aos portadores de deficiência física e mental, apoiados por governos e instituições estrangeiras e internacionais. Isto provocou inveja e intriga em setores do poder, sendo demitido por exigência da chamada “linha dura” do regime que infelicitava o País, por ordem expressa do general Walter Pires. Em 1986, após dezesseis anos afastado de disputas eleitorais, amigos de Angra e de Paraty lançam o seu nome à Assembleia Legislativa pelo Partido Democrático Social – PDS. Obtêm 5 mil votos, uma expressiva votação à época, é o candidato à Assembleia Legislativa mais votado em Paraty. Entretanto, não se elege, abandonando definitivamente a Política. Com sabedoria e prudência, presidiu o PSP, a ARENA e o PDS, de Angra dos Reis.

Visionário, homem de vanguardas, espírito empreendedor, de convergências e de conciliação, sempre liderou ou, pelo menos, influiu, decisivamente, direta ou indiretamente, no progresso de toda a Região. Mesmo nas iniciativas privadas, onde o interesse e os direitos do povo estiveram em jogo, como a instalação dos Estaleiros Verolme, em Angra dos Reis, ou os grandes projetos turísticos na Costa Verde, lá estava a presença dinâmica e articuladora de Câmara Torres resolvendo, incentivando, apoiando, realizando, sempre zelando pelas comunidades, seus valores, direitos e patrimônios.

O Extremo Sul Fluminense lhe deve a edificação das matrizes do seu desenvolvimento socioeconômico, político e cultural, além de conquistas na Saúde, nos Transportes, no Saneamento, na Segurança Publica,  na Preservação Ambiental, no Turismo e outras áreas de atuação do Poder Público. Entre os benefícios regionais alcançados graças ao trabalho incansável de Câmara Torres, além daquelas já apontadas, está a abertura e conservação da Estrada Rio Claro-Mangaratiba. Sócio Remido e Vice-Presidente do Aeroclube do Estado do Rio de Janeiro, realizou os primeiros voos de Angra dos Reis e Paraty com destino a Niterói e ao Rio de Janeiro, para acudir a população que precisava de atendimento médico de urgência, favorecendo, também, a ida constante de servidores e autoridades públicas ao Município.

JORNALISTA E ESCRITOR

Aos onze anos de idade, José Augusto da Câmara Torres já era um jornalista profissional, quando fundou e dirigiu o veículo estudantil O Ideal da Juventude, em sua terra natal. Mais tarde, também fundou e dirigiu, em Niterói, os jornais Espumas e A Ordem. Antes, no Colégio Marista, em Natal, colaborou no Sete de Setembro. Jovem, militou politicamente ao lado de Alceu de Amoroso Lima, o Tristão de Athayde, Dayl de Almeida, José Arthur Rios, os irmãos Badger e Roberto Silveira, Celso Peçanha, Anselmo Macieira, Vasconcelos Torres, entre outros, nas lutas estudantis, universitárias e políticas. Em Niterói, pertenceu ao Centro de Cultura José de Anchieta, do Colégio Salesiano Santa Rosa, e foi um dos fundadores da Congregação Mariana, presidindo a Academia São Francisco de Sales, braço cultural da Congregação. No Rio e em Niterói, escreveu em jornais e revistas, entre eles, Folha Colegial, O Estado, Correio da Manhã, Revista Potiguar (RN), Ariel, Taba, O Gládio, Ariete, Almanaque Ilustrado das Famílias Católicas Brasileiras. Fez crítica literária, de cinema e teatro. Foi correspondente no Rio e articulista da revista Nordeste, de Natal, RN, colaborando, também, em A República, da capital potiguar. Assinou, na década de 40, a coluna Hora Fluminense, espaço nobre na primeira página do diário O Estado, então o maior jornal da Velha Província e redator do antigo Serviço de Propaganda e Turismo do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Em Angra dos Reis, publicou no jornal O Sul Fluminense, e assinou, por sete anos, a coluna Aspectos na Folha de Angra, onde também foi secretário de redação. Foi membro da Associação Fluminense de Jornalistas e da Associação de Imprensa Periódica Paulista. Em 1939 e em 1944, respectivamente, circulam, com tiragens restritas, nos meios acadêmicos e técnicos da Educação, as duas monografias, teses de sua autoria, apresentadas em concursos públicos: Educação Moral e Cívica e A Inspeção Escolar na Escola Primária.

Aos 22 anos publicou, com Dayl de Almeida, Imortais, livro de ensaios, com prefácio de Alcebíades Delamare. Publicou, ainda, diversos trabalhos de História, Ciência Política, Educação, Sociologia, Folclore e Crítica Literária. Entre esses, destacam-se os estudos pioneiros sobre o paratyense Samuel Costa (1948), Sylvio Romero (1949) e sobre o angrense Lopes Trovão (1947 e 1953). Em 1943, a Biblioteca Municipal Professor Guilherme Briggs, de Angra dos Reis, publica Os olhos verdes na literatura, ensaio e conferência que profere naquele município. Foi um dos fundadores do Instituto Histórico e Artístico de Paraty. Era Membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e Sócio Correspondente do Ateneu Angrense de Letras e Artes. Integrava a Academia Valenciana de Letras, a Associação Brasileira de Escritores, entre outras entidades culturais, fluminenses e nacionais. Possuía os títulos de Cidadão Fluminense, do antigo Estado do Rio de Janeiro, de Cidadão Honorário do Estado do Rio de Janeiro, do atual Estado do Rio de Janeiro, e de Cidadão Honorário de Angra dos Reis, Paraty, Rio Claro e Mangaratiba. Foi agraciado com a Medalha do Centenário de Silvio Romero (1939), pelos seus trabalhos sobre o escritor, com a Medalha do Cinquentenário da República, e com a Medalha Tiradentes, da Assembleia Legislativa do atual Estado do Rio de Janeiro, entre dezenas de outras insígnias. Em Angra dos Reis, foi eleito pelos seus colegas de profissão "O Advogado do Ano" por mais de uma vez. Pertenceu a diversas entidades religiosas do Estado, sendo, também, Benemérito de dezenas de instituições socioculturais, filantrópicas e desportivas. Recebeu dezenas de láureas de instituições públicas e privadas do Estado.

Câmara Torres morreu pobre, sem bens a inventariar. Deixou, além de um notável legado de ética, probidade e coerência política, de nobres causas e lutas, de fidelidade aos seus representados, um importante patrimônio de leis e realizações, especialmente, na Educação, Cultura, e nos setores sociais e econômicos. Foi, enfim, um importante e luminoso personagem da Educação, da Cultura, da História Política Fluminense nos últimos sessenta anos do século XX.


Em 2000, o Teatro Municipal de Angra dos Reis, RJ, o mais importante centro cultural da cidade, recebeu o nome de TEATRO MUNICIPAL CÂMARA TORRES, por força de Lei Municipal.
 
Em 2004, a Casa de Cultura de Paraty passou a denominar-se CASA DE CULTURA CÂMARA TORRES, em decorrência da Lei Municipal 1414, resultado de Projeto do então Vereador e Presidente da Câmara, Casé Miranda.
Casa da Cultura Câmara Torres: sobrado do século XVIII, um dos mais valiosos prédios do Bairro Histórico de Paraty. Fonte: site da Casa da Cultura Câmara Torres.
Em 2011, o município de Rio Claro, RJ, homenageou-o inaugurando, em Passa Três, a sua mais moderna e bem equipada escola, o CENTRO DE ENSINO MUNICIPAL DEPUTADO CÂMARA TORRES, construído com recursos da União (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB).

O Aeroporto de Angra dos Reis, RJ, construído no início dos anos 1950 por Câmara Torres, com recursos próprios, passará a se chamar, em breve, AEROPORTO CÂMARA TORRES.

Os municípios de Mangaratiba e Niterói, igualmente, preparam homenagens à sua memória.

terça-feira, 13 de junho de 2017

Colaborador: JOÃO CARLOS RAMOS



























JOÃO CARLOS RAMOS nasceu em 12 de agosto de 1956 em Ladainha-MG e reside em Divinópolis desde 1966. É casado com Marita Conceição Ramos, com quem teve cinco filhos: Sara, Tiago, Lídia, Priscila e Lucas. 
- Escreveu e publicou os seguintes livros de poesia : Zumbi em 3 Tempos (duas edições) e Uma Noite sem Ela.
- Cofundador da "Noite da Poesia" em Divinópolis em 1988. 
- Membro da ADL-Academia Divinopolitana de Letras em 2007. Cargos desempenhados: Presidente da Academia Divinopolitana de Letras em junho/2015 e junho/2016, Vice-Presidente (2 mandatos), Secretário Geral e Segundo Tesoureiro.
- Funcionário da SEMC-Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de Divinópolis, lotado na Biblioteca Pública Municipal "Ataliba Lago", com 31 anos de experiência na área de pesquisas.
- Membro Correspondente da Academia de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei e da ALL-Academia Lavrense de Letras, onde tem como patrono o poeta Castro Alves.
- Títulos: Comenda da Consciência Negra outorgada em 2007 e 2009 pela Câmara Municipal de Divinópolis e Comenda Servidor/Destaque outorgada pela Secretaria Municipal da Cultura-SEMC em 2011.
- Cronista semanal do JORNAL AGORA em Divinópolis.
- Poeta, cantor, compositor e declamador.
- Palestrante em terapia de casais e convivência familiar.
- Astrólogo e especialista em piramidologia. 
- Escritor premiado em diversos concursos literários.
- Possui inúmeras participações em eventos literários e culturais em Divinópolis e várias regiões. 
- Colaborador de antologias da ADL.
- Autor de textos esparsos publicados na Internet.

DISCURSO DE DESPEDIDA DO PRESIDENTE JOÃO CARLOS RAMOS DA ACADEMIA DIVINOPOLITANA DE LETRAS


Exmo. Sr. Presidente eleito da Academia Divinopolitana de Letras, Fernando de Oliveira Teixeira.
Vice-Presidente eleito José Raimundo Batista Bechelaine.
Confrades e confreiras.
Autoridades presentes.
Senhoras e senhores! 
       Boa noite!

Sinto-me feliz e honrado por pertencer à Academia Divinopolitana de Letras, onde ocupo a cadeira de número 15, cujo patrono é Humberto de Campos, e a antecessora, Nylce Mourão Gontijo. Empossado em 2007 como acadêmico efetivo, após 8 anos, em 2015, fui elevado à categoria de Presidente, após ocupar vários cargos em várias diretorias. Por dois mandatos consecutivos, cumpri a nobre missão de presidir a famosíssima ADL. Foi um grande desafio tal responsabilidade, sabendo da grandiosa importância que ela representa para Divinópolis e para o mundo.

A ADL foi fundada em 1961 pelos quatro pioneiros: Jadir Vilela de Souza, Sebastião Bemfica Milagre, José Maria Álvares da Silva Campos e Carlos Altivo, completando hoje 56 anos de fundação, sendo sempre honrada pelos seus sucessores na escalada do sonho real.

Ao ser empossado nas duas ocasiões, meu discurso foi altamente inflamado, no sentido de engrandecer ainda mais a instituição de mérito, prometendo garra e determinação, rumo ao êxito total. O resultado foi parcial, reconheço com humildade, mas satisfatório à luz do bom-senso. Abateu-se sobre o País a maior crise econômica de todos os tempos e afetou o empresariado e a população em geral, gerando impossibilidades, quanto a patrocínios, com raras exceções como a parceira inesquecível, a GERDAU. Por outro lado, nós nos intimidamos no processo de procura insistente, numa atitude de prudência, diante da amarga realidade. Sem nenhuma remuneração presidencial, mas eventualmente, onerando o próprio bolso, realizamos nas duas gestões: 31 reuniões oficiais, sendo: O CHÁ DAS 5, em cinco ocasiões, com sucesso absoluto, em estilo de primeira grandeza. Realizamos a cerimônia de entrega do TRÓFEU ORFEU, sob a presidência organizacional do competentíssimo Vice-Presidente, jornalista Augusto Ambrósio Fidelis. Na oportunidade, homenageamos artistas, intelectuais e os segmentos jornalísticos e empresariais que apoiaram altruisticamente a ADL. Sem sombra de dúvidas, a visibilidade da ADL aumentou significativamente com a entrega do referido Troféu, abrindo as portas da percepção do poder público e do empresariado no tocante à valorização dos cidadãos e cidadãs da terra do divino.

Todos os imortais são mortais, antes de tudo, e por isso é com imensa saudade que nos recordamos  daqueles que foram arrebatados pelo além. Faleceram em nossos dois mandatos:
1-Osvaldo Diomar: renomado professor e historiador de Carmo do Cajuru;
2-Guilherme Sanches, músico famoso e ferroviário aposentado;
3-Zoroastro Ferreira de Andrade: empresário de sucesso, memorialista e poeta de alto nível; 
4-João Augusto Dias: militar de alta patente e memorialista de peso.
5-Antônio Lourenço Xavier: poeta dos mais sensíveis que deixou familiares e amigos em prantos.

Vale ressaltar que também tivemos a partida da esposa do acadêmico Mercemiro de Oliveira Silva, o fiel escudeiro da ADL e da irmã do historiador Ruy Franca, Eliza Franca. Somente a cadeira de Antônio Lourenço Xavier permanece vaga, deixando nesta data 39 cadeiras ocupadas. Em memória dos saudosos acadêmicos, organizamos em alto estilo a "NOITE DA SAUDADE" na Biblioteca "Ataliba Lago", entre lágrimas e felizes recordações.

Tivemos ainda a oportunidade de nos reunir com autoridades de todas as esferas do poder, na expectativa de apoio à construção da sede própria da ADL. Lançamos sementes em terra fértil e aguardamos que  o presidente eleito colha os frutos, com apoio de sua equipe altamente selecionada. Vale ressaltar minhas homenagens e agradecimentos a todos os que me fizeram feliz na trajetória presidencial. Agradeço a todos os acadêmicos efetivos que me apoiaram, elegendo-me e me auxiliando a carregar o peso da responsabilidade. Dentre todos, destaco as luzes intensas na hora mais escura:
• do Secretário Geral, hoje sendo empossado Presidente Fernando de Oliveira Teixeira; 
• do Vice-Presidente que se despede do cargo, o jornalista de mérito Augusto Ambrósio Fidelis; 
• do Acadêmico Francisco Braga, grande maestro  e intelectual, honrosamente empossado em nossa Arcádia durante meu segundo mandato; 
• da ex-Vice-Presidente Maria Conceição da Cruz, mulher culta e de grande peso moral e intelectual; 
• da ex-estagiária Marcelle Costa, testemunha ocular de lágrimas e júbilos;
• da Acadêmica Honorária Maria da Conceição Aparecida Maciel pelo imensurável apoio, em cuja pessoa  agradeço sobremaneira à GERDAU;
da Cidah Viana, também Acadêmica Honorária, a maior divulgadora da ADL, através do teatro, de que é mestra incomparável.

Agradeço também aos cantores, músicos, decoradores, profissionais liberais, artesãos e aos jornalistas Sílvio França, Samuel do Vale e Flávio Ramos atuantes como mestres-de-cerimônia. Agradeço de forma especial à Câmara Municipal, na pessoa do presidente Adair Otaviano e do seu antecessor Rodrigo Kaboja, bem como ao atual representante do Poder Executivo e ao antecessor, pelo apoio possível. Outros apoiadores, sintam-se agradecidos.

João Carlos Ramos discursando - Crédito: Acadêmico Augusto Fidelis
Ao encerrar o meu discurso, relembro o que disse Benjamim Constant, após a assinatura da Lei Áurea: "Eu trouxe os meninos cegos de minha escola para verem este dia."

Também relembro o oficial inglês que pegou uma flor perto do trono de Isabel, a Redentora, e disse: "Levarei essa flor para o meu país para mostrar que no Brasil a abolição aconteceu entre flores, enquanto lá custou tanto sangue."
Foto geral dos Acadêmicos presentes à transmissão de posse da Diretoria - Crédito: Rute Pardini Braga
A transição é bela e pacífica. O poder é passageiro. Preciso descer nesta estação. O último apito soou em um show de democracia no dia da eleição.

Obrigado, ó  Deus! Obrigado a todos! Um abraço!...


Discurso proferido no Plenário da Câmara Municipal de Divinópolis, em 9 de junho de 2017.