sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

A VELHA "TORCIDA" DO MINAS (EM HOMENAGEM AO 1º CENTENÁRIO DO MINAS FUTEBOL CLUBE, O "GLORIOSO" LEÃO DA BIQUINHA (15/08/1916-15/08/2016))


Por Paulo Christófaro e Gentil Palhares ¹


Da monografia, que será publicada pelo   
44º aniversário do Minas (1916-1960).
Monografia publicada para a comemoração do 44º aniversário do 
MINAS FUTEBOL CLUBE (1960). Crédito: Silvério Parada

Foi sempre renitente e incontrolável a velha "torcida" do Minas. Conquanto não constitua um privilégio do "BIQUINHA", a sua "torcida" se reveste de aspectos interessantes e pitorescos, só encontrados, senão excepcionalmente, no "MENGO" da Guanabara, que ostenta também essa mesma vibração e entusiasmo populares, para ser o "MAIS QUERIDO".

Eis porque evocamos aqui, numa lembrança carinhosa, porque bem mineira, o velho SINFRÔNIO, sempre prometendo furar 20 gôlos de um só chute, gritando atráz do goleiro adversário, "para atrapalhar", dizia êle na sua fala complicada. Morador daquelas redondezas do campo mineiro, tendo mesmo nascido lá pelo Tijuco, não poderia o Sinfrônio deixar de ser um adépto fervoroso do "BIQUINHA". E foi um dos seus maiores e legítimos "torcedores", qualquer coisa de "patrimônio humano" do clube, daí o direito adquirido de entrar no campo, sem pagar.

Ainda em saudosa evocação nos é caro trazermos à tona, quando tudo já passou e não volta mais, as figuras queridas de VICENTE LOBOSQUE, ANTÔNIO ROSA E PAULO ALVARENGA. O primeiro, que jamais se fazia prescindir do seu chapéu e da sua bengala, dotado de temperamento nervoso, nunca espiava "bater" uma penalidade máxima, fôsse a favor ou contra o Minas. Na hora precisa virava as costas, punha a bengala em ombro-arma e esperava; logo após o apito do juiz, se a torcida mineira começava a gritar, aí então êle se voltava para o campo e brandia a bengala a torto e a direito, gritando, gesticulando, dando vivas ao Minas. Mudo, quieto, andando pra lá, pra cá, ficava entretanto o nosso VICENTE quando, batida a penalidade contra o "BIQUINHA", ouvia o apito do juiz anunciando o gôl. Virava-se para o campo e não conversava. Tinha-se a impressão de que seu coração um dia estouraria, morreria no campo. Foi um grande mineiro o VICENTE LOBOSQUE!

ANTÔNIO ROSA, ex-Presidente do Minas e que foi morrer lá pela longínqua cidade de Formiga, era um torcedor inconformado. Ou por não conhecer lá muito bem as regras do futebol, ou por malícia, para ANTÔNIO ROSA, quase todo gôl contra o Minas era de "off-side". Nervoso, voz forte, movimentava-se em redor do campo, gritando, protestando, espumando de raiva. Não aceitava nem mesmo a ponderação de seus companheiros mais prudentes, os quais tudo faziam para contê-lo. E não tinha conversa: "LADRÃO! LADRÃO! Bota o juiz prá fóra!" "JUIZ LADRÃO!" Assim defendeu o MINAS, com seu corpo muito grande e maior ainda o seu amor pelo clube, aquêle que em vida se chamou ANTÔNIO ROSA.

PAULO ALVARENGA, também mineiro de sete costados, comandava o seu batalhão de meninos, que recebiam o "soldo" de um tostão, para que, empunhando ramos e bambús, que eram agitados durante todo o tempo do jôgo, torcerem em alaridos ruidosos. Postava o seu "batalhão" em cima do barranco, bem perto da bandeira do Minas, como se para defendê-la e, personificando a verdadeira figura do CHEFE, comandava Paulo Alvarenga com vozes e gestos, subindo ou descendo mais o barranco, avançando ou recuando, gritando, impetuoso, agressivo, como se fossem todos, Chefe e comandados os personagens de uma batalha. PAULO ALVARENGA, quando percebia que o seu batalhão estava demonstrando enfraquecimento em suas fileiras, entoava o "grito de guerra", verdadeiro brado do orientador:

"Eu virei tico-tico,
Eu virei sabiá,
Eu virei o ...
De pernas pro ar...
"


Dessa "torcida" belicosa, hoje extinta, para tornar-se um futebol todo diferente, com suas "charangas" e seus rancores inexplicáveis, o que não se dava naquêles tempos, mas tão sòmente os impulsos no momento do jôgo; dessa "torcida" que foi muito da vida do nosso primitivo futebol, fazia parte ainda o XAXÁ, antigo carroceiro. Era êle forte e resoluto, valente mesmo, "lugar-tenente" do PAULO ALVARENGA. O XAXÁ também já morreu, foi fazer companhia ao VICENTE LOBOSQUE e ao ANTÔNIO ROSA, seguido depois do nosso PAULO. E lá estão êles, VICENTE, PAULO, ANTÔNIO ROSA e XAXÁ, quatro mineiros valentes à espera do SINFRÔNIO!


Fonte: DIÁRIO DO COMÉRCIO, São João del-Rei, Ano XXIII, nº 6.518, edição de 21 de julho de 1960, p. 4.


NOTAS  EXPLICATIVAS, por Francisco José dos Santos Braga


¹  Embora a matéria do Diário de Comércio tenha sido assinada por Gentil Palhares, com pequenas alterações de menor monta em relação ao texto que saiu na monografia intitulada "1916 - MFC - 1960 - 15 de agôsto - O MINAS FUTEBOL CLUBE NO SEU 44º ANIVERSÁRIO" (editada como suplemento de "O Santuário de S. João Bosco" - Número comemorativo do 44º aniversário), esta foi assinada a quatro mãos, em coautoria. São seus autores: Paulo Christófaro e Gentil Palhares. O texto de "A velha 'torcida' do Minas" está estampado nas páginas 26 e 27 da monografia. 

No prefácio intitulado "Explicando", constante da página 1, os coautores fazem a seguinte apresentação do seu trabalho:


EXPLICANDO 
A presente monografia do MINAS FUTEBOL CLUBE, editada no 44º aniversário de sua fundação é um pequeno subsídio para que, mais tarde, quando do cinquentenário do Clube, seja editada uma obra de fôlego, condigna com o acontecimento. 
O que foi dado historiar está nos arquivos, velhos documentos que o tempo, de foice em punho, vai consumindo ou desbastando, dificultando dest'arte uma investigação eficiente. 
Algumas informações nos vieram de fonte oral, pelos conhecedores da vida do clube. 
Recebendo a incumbência do nosso Presidente Dr. Luiz Natali Baccarini, para apresentarmos o pequeno trabalho ora dado à publicidade, sòmente tivemos uma vaidade: a de podermos ser úteis ao MINAS FUTEBOL CLUBE e à nossa S. João del-Rei. 
Cabe-nos, pois, agradecer a todos aqueles que, direta ou indiretamente, cooperaram para a consecução desse modesto trabalho, o primeiro, aliás, que o MINAS publica.     
                Paulo Christófaro                          Gentil Palhares



AGRADECIMENTO


O Blog de São João del-Rei vem agradecer ao historiador Silvério Parada, do IHG de São João del-Rei, a cessão da foto da revista comemorativa no 44º Aniversário (1916-1960) do Minas Futebol Clube de seu acervo para enriquecimento deste post.

18 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Prezad@,
Tenho o prazer de entregar ao leitor do Blog de São João del-Rei a matéria intitulada "A VELHA TORCIDA DO MINAS", que apareceu em 1960 numa monografia redigida por Paulo Christófaro e Gentil Palhares.
Na ocasião (1960), comemorava-se o 44º aniversário do MINAS FUTEBOL CLUBE, o legendário e glorioso LEÃO DA BIQUINHA.
Neste ano de 2016, o Minas comemora seu centenário com muita pompa e circunstância.
Antecipando-me a essas comemorações em 15 de agosto, formulo a esse clube, que tanta glória trouxe a São João del-Rei, votos de vida longa e permanente sucesso na sua caminhada.

Se me for permitido lembrar alguns nomes que engrandeceram o Minas Futebol Clube, excetuando todos os atletas que deram glória ao clube e os autores do texto acima, citaria, com antecipadas escusas por imerecidas omissões, os que, de forma nenhuma, poderiam faltar numa galeria de benfeitores do clube, por terem colaborado com o melhor de seu tempo, entusiasmo e desprendimento para o maior brilho do clube de seu coração e em benefício da sociedade são-joanense:
Dr. Antônio Ferreira Ribeiro da Silva, Tancredo de Almeida Neves, Francisco de Almeida Neves, Mozart Novaes, Braz Camarano Primo, João Lombardi, Tuffy Hallak, João Hallak, meu pai Roque da Fonseca Braga, Raimundo Rodrigues Rocha ("Mundico") e Cenyra Rocha, Dr. Jacy de Castro, Dr. Aníbal Pereira Neto, Sô Nhôzinho, Rômulo Pinto Camarano, José Joaquim Pinheiro, Domingos Pinto Camarano, Josemar Lobosque Senna, Silvério Parada e Luiz Antônio Ferreira ("Irmão"). Há também o caso de um autêntico athleticano, o Dr. Carmello Geraldo Viegas, que dirigiu o Departamento Jurídico do Minas e prestou excelente serviço ao clube, na administração de Domingos Pinto Camarano.

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (desembargador, palestrante, conferencista, escritor e membro correspondente da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

SOU ATHLETICANO, MAS APLAUDO O GLORIOSO MINAS!!!!
ABS.

ROGÉRIO

Prof. Fernando Teixeira (professor universitário, escritor e Secretário Geral da Academia Divinopolitana de Letras) disse...

São lembranças que merecem ser lembradas.
Fernando Teixeira

Francisco Voltaire Reis de Castro (bioquímico e farmacêutico) disse...

"UMA MARAVILHA".
ABS,
VOLTAIRE

Betânia Maria Monteiro Guimarães (professora universitária, pesquisadora, escritora e membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Prezado confrade Braga
Aprendi com meu pai gostar de futebol. Lembro-me, na década de 50, nos jogos que deram ao glorioso Minas o tetra em 1959, meu pai se deslocava da fazenda, no município de Dores de Campos para assistir aos jogos. Trazia sempre um saco de laranjas para os jogadores na hora do intervalo. Nas ceias de aniversário do Minas, doava também uma leitoa. Esse Clube me traz boas recordações. O primeiro balé aquático que assisti foi na piscina do Minas... Era criança, fiquei encantada! Parabéns por sua publicação. Betânia

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor e gerente do Blog de São João del-Rei e do Blog do Braga) disse...


A data de 15 de agosto nos faz lembrar a Assunção de Maria, mãe de Jesus, homenageada neste dia com o título de NOSSA SENHORA DA GLÓRIA.
Nesta oportunidade também não poderia deixar de lembrar que nesta mesma data foi fundado o MINAS FUTEBOL CLUBE.
Lemos no site São João del-Rei Transparente as seguintes notas a respeito dessa fundação em 15 de agosto de 1916:

"O Minas Futebol Clube foi fundado em São João del-Rei, em 15 de agosto de 1916, por José de Assis Viegas, Humberto Renari e Verbini Parizzi. A data de fundação inspirou as cores do clube, azul e branco, em homenagem a Nossa Senhora da Glória. Já o escudo e a bandeira, com as letras MFC e 22 estrelas, significam os 22 atletas do Minas.

O clube é carinhosamente apelidado de “LEÃO DA BIQUINHA” graças à junção de dois ícones: uma bica d’água existente em frente ao campo de futebol e a instalação, no mesmo campo, de um circo cuja principal atração era um leão. Seu modesto e acanhado estádio, o João Lombardi, está instalado no centro de São João del Rei.

É também chamado de “GLORIOSO”, nome dado pelo falecido senhor José Severiano, provavelmente em função do Minas ter sido criado no dia de Nossa Senhora da Glória, cuja festa era muito importante e concorrida na época.

O clube já disputou grandes partidas em São João Del Rei, como em 06/08/1939, quando empatou com o Botafogo do Rio em um sensacional 4x4.

O maior nome de sua história foi, sem dúvida, Tancredo Neves. Ex-atleta, foi presidente do clube entre 1942 e 1946 e por toda sua vida continuou como seu grande benfeitor. Sua morte, em 1985, além de enlutar todo o país trouxe sérias dificuldades ao Minas para terminar a construção de seu ginásio, já que o então presidente eleito colaborava diretamente para que o projeto fosse concluído."

Fonte: http://saojoaodelreitransparente.com.br/works/view/811

No início da década de 1960, tive a honra de pertencer ao "Infantil" do Minas Futebol Clube. Na ocasião, meu pai Roque da Fonseca Braga era tesoureiro do Minas e incentivava seus filhos à prática de esportes em geral.

Foi assim que fiz uso do vestiário e da piscina do Minas.
No futebol, "Pavão" era o treinador do "Infantil" e era o grande defensor do time oficial do Minas (zagueiro, ou melhor, beque, como dizíamos). Sob seus cuidados, meu pai deixou três de seus filhos: Roque César, Carlos Fernando e eu. Lembro-me ainda do dia em que estreei minhas chuteiras novas nos treinos. Lembro-me ainda de alguns colegas de futebol: Marquinhos e Taquinho Rios, Zezé Tampinha, Pudim e Pardal, Jairo e João (filhos do Juju), José Rômulo Sena, etc.
Na piscina, lembro-me principalmente do guardião, Sr. Valter Lopes Silva, que às 15 horas franqueava a piscina à entrada dos garotos (de uma hora da tarde até aquele momento, era exclusiva das moças; as mais ousadas continuavam após a nossa entrada.) Vi ali grandes nomes na prática da natação: "Caju" Paiva e seus irmãos, bem como José Rômulo Sena.

Daquela ocasião, não posso esquecer, na escalação do time oficial, os nomes do treinador Mundico, o goleiro Pagador, Pavão, Antero, Papa-Arroz, Josemar Sena, etc. A Diretoria era constituída pelo presidente João Hallak, Dr. Jaci de Castro, diretor social, sendo meu pai o tesoureiro.

Na data comemorativa de hoje (15/08/2016), cumpre ao Blog de São João del-Rei homenagear o "glorioso" MINAS FUTEBOL CLUBE, que, naquela ocasião, foi tetracampeão são-joanense, com um texto maravilhoso de Gentil Palhares e Paulo Christófaro.

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (desembargador, palestrante, conferencista, escritor e membro correspondente da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Sou athleticano, mas tenho grande admiração pelo Minas Futebol Clube e apreço pelos amigos da família alvi-celeste.
Parabéns!

Rogério

João Paulo Guimarães (gerente da TV DelRei e do blog Notícias de São João del-Rei) disse...

Adorei seu texto. Vou compartilhar.

Aluízio Antônio de Barros (pesquisador, ex-professor universitário e membro da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Parabéns, caro amigo, pelo relato importante de nossa época. Tenho perdido as comemorações do centenário. Hoje mesmo aconteceu uma partida de futebol na Biquinha. O atual presidente é meu amigo. Irei cobrar maior divulgação da efeméride. Um grupo estava trabalhando no arquivo histórico do clube. Espero que já tenha resultados a apresentar.
Sou athleticano (com th) mas também nadei no Minas e conheci o senhor Valter. Grande abraço.

Maria Carla de Souza Campos disse...

Glória ao nosso querido Minas Futebol Clube, o time para o qual toda minha família materna sempre torceu! Meu abraço,


Maria Carla

Maria Carla de Souza Campos disse...

Adorei o artigo, muito interessante. Obrigada,



Maria Carla

Dr. Mário Pellegrini Cupello (pesquisador, historiador, escritor, presidente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença e sócio correspondente da Academia de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei) disse...

Parabéns ao Minas, pelo seu centenário!
Abraços, Mario.

Anizabel Nunes Rodrigues de Lucas (flautista, professora de música e regente de grupo coral) disse...

Bem lembrada a data. Parabéns ao clube bem como aos mineiros.

Ulisses Passarelli disse...

Ótimo registro.
Mais uma pérola, Braga!
Grande abraço.

Prof. Fernando Teixeira (professor universitário, escritor, poeta e Secretário Geral da Academia Divinopolitana de Letras) disse...

Muito grato, caro Braga, pelo envio da matéria.
Abraço do Fernando Teixeira

Prof. José Lourenço Parreira (violinista, regente e escritor) disse...

Caríssimo amigo BRAGA, lê-lo é como ouvi-lo. Sim, suas palavras transportam-me para a querida São João del-Rei e, com os olhos da

alma, vejo muitos dos nomes citados, pessoas que fizeram história em nossa terra.

Muito lhe agradeço o enviar-me suas pérolas literárias!

Que a Virgem Maria, Nossa da Glória, abençoe você e a todos que são caros!

Paulo Sousa Lima disse...

Parabéns, Mestre Braga, por essa maravilhosa descrição histórica. Senti falta no detalhamento dos nomes importantes do "Leão da Biquinha" do nome do referido Paulo Alvarenga, leader de animada torcida. Seria ele pai, entre outros, da Marina, Iolanda, Newton, Walter (meu cunhado) e o Cacá, e que conheci no fim da sua caminhada terrena, figura engraçada/enfezada, desbocada mas de uma alma de todo tamanho?

Paulo Roberto Souza Lima (escritor, gestor cultural e membro do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei) disse...

Parabéns, Mestre Braga, pela homenagem centenária ao MFC (azul e branco como o meu Cruzeiro FC).