sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

O TARCÍSIO QUE EU CONHECI


Por Abgar Antônio Campos Tirado


A véspera do dia de Santa Cecília nos trouxe um acontecimento de triste impacto: falecera repentinamente nosso conterrâneo e amigo Tarcísio do Nascimento Teixeira. Que lamentável perda para todos que o amavam e admiravam e que tremenda lacuna para nossa vida musical. Pianista dotado de excelente leitura à primeira vista, consciente e seguro em suas atuações, vinha colaborando intensamente com as realizações musicais de nossa cidade, acompanhando e preparando cantores e instrumentistas, quando não era ele mesmo o cantor, além de ser entusiástico promotor de eventos relativos à Música. 

São-joanense, Tarcísio passou a maior parte de sua vida fora de sua terra natal, quer como seminarista salesiano, quer como funcionário do Banco do Brasil e músico militante, radicado na cidade de São Paulo, de onde retornou para São João del-Rei, no início da década de noventa. Com ele, veio seu imenso acervo de partituras, livros e discos. Realmente duvido que em todo o país haja um arquivo musical particular, mais amplo que o dele. Esse maravilhoso acervo esteve à disposição de quem dele necessitasse; todavia, Tarcísio se queixara de que esperava que fosse muito mais utilizado do que o estava sendo. 

Uma vez em São João del-Rei, Tarcísio promoveu cursos sobre compositores específicos, recitais e concertos, ao mesmo tempo que estava sempre disponível para ensaiar com cantores e instrumentistas. Sempre convidado por ele, pude participar ao piano, sozinho ou a quatro mãos, das apresentações dedicadas a Tchaikovsky (seu compositor predileto), a Grieg, a Dvorak, à música de cinema (esse concerto apresentado também em Curitiba, em 1995), a Carlos Gomes, a Schubert, a Lorenzo Fernandez, a Francisco Mignone, a George Gershwin e a Chausson. 

Por outro lado, quando fui encarregado de realizar um Concerto Nietzsche, tive o prazer de convidar o Tarcísio, que dele participou como cantor e também como pianista, concerto esse apresentado em São João del-Rei (Conservatório e FUNREI), em Belo Horizonte (PUC) e em Juiz de Fora (UFJF). 

Tarcísio era uma dessas pessoas que faziam milagre com o tempo: realizava mil e uma atividades, principalmente musicais, caminhava bastante, viajava com frequência e, no entanto, estava sempre disponível para quem o procurasse. Impressionava-me, a par da vastidão de seus conhecimentos, sua infalível memória. Sabia de cor tudo o que se relacionava a um compositor contemplado em um curso; e mais ainda, retinha tudo aquilo na memória de forma duradoura. 

Pessoa franca, sincera, era capaz de grandes atos de solidariedade humana e de silenciosa caridade. Também cooperava entusiasticamente com o Conservatório, com a Sociedade de Concertos Sinfônicos, bem como dirigia cursos bíblicos e orientava grupos religiosos, além de colaborar como organista na capela de São Caetano. 

Enfim, muito e muito mais poderia ser dito sobre o Tarcísio, o que seria impossível na limitação deste texto. Uma coisa, porém, não podemos deixar de dizer: 
- Tarcísio, você fará muita falta e tão grande como os méritos que acumulou é a saudade que nos legou. 
(Jornal da ASAP, 11/2001)

Fonte: TIRADO, Abgar Antonio Campos: Crônicas de Abgar, editor Luiz Antonio Teixeira Rodrigues, 2018, 367 p.

Crédito pela foto: Rute Pardini Braga, que recuperou as cores contidas na imagem disponibilizada no livro. 

3 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Fui gentilmente presenteado com um exemplar do livro Crônicas de Abgar, magnificamente ilustrado, com honrosa dedicatória do autor Abgar Antônio Campos Tirado, cujo livro, além das citadas crônicas, produzidas para o "Jornal da ASAP", num total de 123 crônicas, durante o período de maio de 1977 a julho de 2017, também inclui:
1) registro histórico sobre o Teatro Municipal de São João del-Rei, elaborado em 1993 pelo mesmo escritor Abgar, por ocasião do transcurso do 1º centenário da sua construção (p. 326-334 do livro);
2) ensaio intitulado "O pentágono religioso", de Abgar, sem data (p. 335-336 do livro);
3) breve estudo feito por Abgar sobre a conveniente grafia do nome de São João del-Rei e do adjetivo gentílico relativo (p. 337-342 do livro);
4) um trabalho de minha autoria intitulado "Maestro" e Literato Abgar Campos Tirado, glória de São João del-Rei (p. 344 a 350 do livro), o qual aparece resumido mas que pode ser lido na íntegra in http://saojoaodel-rei.blogspot.com/2011/03/maestro-e-literato-abgar-campos-tirado.html;
5) entrevista realizada por Juliana Prado Campos com Abgar, estampada às páginas 359-364 do livro (publicada originalmente no Jornal da ASAP em maio de 2013).

À guisa de prefácio, com o título Magister Abgar, às páginas 5-6, o editor LUIZ ANTÔNIO TEIXEIRA RODRIGUES apresenta o autor do livro, bem como faz apreciação de seu homenageado como "homem, músico e professor" e a sua contribuição para a cultura são-joanense. Além do "prefácio", Rodrigues é responsável pela seleção das crônicas.

Dando continuidade à publicação das crônicas de Abgar, o Blog de São João del-Rei se sente honrado de prestar essa homenagem ao grande pianista TARCÍSIO DO NASCIMENTO TEIXEIRA, mestre "dotado de excelente leitura à primeira vista, consciente e seguro em suas atuações", compartilhando esta crônica do Prof. Abgar com seus muitos leitores e admiradores, publicada no referido livro às pp. 71-72.

Crônica: O Tarcísio que eu conheci
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2018/12/o-tarcisio-que-eu-conheci.html

Colaborador: Abgar Antônio Campos Tirado
http://saojoaodel-rei.blogspot.com/2009/02/colaborador-abgar-antonio-campos-tirado.html

Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei

Artur Cláudio da Costa Moreira (professor, pesquisador e ex-presidente do IHG de São João del-Rei) disse...

Caro amigo Francisco Braga,

Como vai? E nossa Rute?
Agradeço-lhe muito, pela bondade em enviar-me aquilo que vai no seu Blog. Sempre magnificamente escritos, seus textos vão preenchendo as lacunas deixadas sobre a história de nossa rica cidade, no que tange ao aspecto cultural. Seu trabalho, caro amigo, tem um peso imenso.

Sinceros abraço e afeto de seu amigo ,


Atenciosamente,

Artur Cláudio da Costa Moreira

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga.
Mais uma vez, pela pena do professor Abgar, importante registro sobre a figura desse artista tão importante e dedicado que foi Tarcísio Teixeira.
Agradecido,
Cupertino