segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

LUPICÍNIO ESQUECIDO?


Por AUGUSTO DE CAMPOS
O texto original apareceu no Correio da Manhã, edição 22827 de 03/09/1967, 4º caderno, p. 4 e edição 22845 de 24/09/1967, 4º caderno, p. 4. Contudo, a versão aqui adotada é a que o autor ofereceu à 2ª edição revista e ampliada do seu livro BALANÇO DA BOSSA e outras bossas (1974) às pp. 219-229.  
Lupicínio Rodrigues, o Lupi, como era chamado desde pequeno (1914-1974)

 

Tempo houve em que se falava de Lupicínio Rodrigues como “o ídolo de sua terra natal”, o Rio Grande do Sul. A impressão que tenho, hoje, é de que o compositor anda meio marginalizado, incompreendido até em sua própria terra e esquecido fora dela. De seu largo e importante repertório só se ouve agora o Se acaso você chegasse. Quanto ao resto, silêncio. Compositores da velha guarda, radicados no Rio ou em São Paulo, são frequentemente homenageados nos programas dos mais novos. Para Lupicínio nada, ou quase nada, a despeito de Elis Regina, uma das maiores animadoras dos programas de música popular moderna, ser também gaúcha. 
 
Em 1952, época em que a indústria do disco não havia lançado ainda o microssulco entre nós, a "Star" editou uma espécie de long-play de pobre  o álbum Roteiro de um Boêmio, um conjunto de 4 discos em 78 rotações, com músicas de Lupicínio: Eu e Meu Coração, As Aparências Enganam, Felicidade, Eu Não Sou de Reclamar, Eu É Que Não Presto, Sombras, Vingança, Nunca. Era a primeira vez que Lupicínio aparecia em disco cantando suas próprias composições. Depois desse extraordinário lançamento veio um verdadeiro LP, com o mesmo título (Copacabana LP-3014) e outras músicas de Lupicínio, também cantadas pelo compositor. E parece que foi só. Lupi, que quase não sai de Porto Alegre, já não grava mais. 
 
Tendo atingido o apogeu na fase de decadência e de transição da música popular brasileira que precedeu a revolução da bossa-nova, a obra de Lupicínio foi mais ou menos relegada à faixa do samba-canção, bolerizado e descaracterizado, quando o seu caso não é realmente esse. Suas músicas podem lidar com o banal, mas não são banais. Cantadas o mais das vezes por intérpretes inadequados ao seu estilo, deixaram de ter o seu melhor e, em certos casos, o seu único intérprete: o próprio Lupicínio, como o revelou o Roteiro de um Boêmio. E eis a questão. A velha guarda não tem como incorporá-lo, a não ser na base do samba rasgado de Se acaso você chegasse, e as gerações mais novas, muito mais intelectuais e sofisticadas, não sabem como situar o aparente anti-intelectualismo das composições de Lupicínio e parecem não se ter dado conta do que e de como ele canta. 
 
Para mim, o caso de Lupicínio é mais ou menos como aquele de um outro Rodrigues, o Nelson. Ninguém enxerga o óbvio. Só os profetas enxergam o óbvio, diz o dr. Camarinha, personagem de O Casamento. A linguagem de Nelson Rodrigues é, como ele próprio a definiria, o óbvio ululante, ou como diria José Lino Grünewald, um de seus melhores intérpretes, o ovo do óbvio. Não se poderá compreender Nelson Rodrigues (o escritor) como aprioris intelectualistas. Nelson é o anti-intelectual, o anti-Rosa, num certo sentido. Se, como quer Décio Pignatari, a poesia de Oswald de Andrade é a poesia da posse contra a propriedade, poesia por contato direto, sem preâmbulos ou prenúncios, sem poetizações, poesia que transforma o lugar-comum em lugar-incomum, Nelson Rodrigues  menos intelectual e mais possesso  tem algo de Oswald em sua antiliteratura, em sua presentificação bruta da roupa suja do diálogo quotidiano. 
 
Pois bem. Também os textos de Lupicínio se recusam aos aprioris. Também eles se notabilizam, embora de outra forma e com outros propósitos, pelo uso explosivo do óbvio, da vulgaridade e do lugar-comum: A vergonha é a herança maior que meu pai me deixou, diz ele num dos seus mais conhecidos sambas-canções. Enquanto outros compositores de música popular buscam e rebuscam a letra, Lupicínio ataca de mãos nuas, com todos os clichês da nossa língua, e chega ao insólito pelo repelido, à informação nova pela redundância, deslocada do seu contexto. 
 
Com esse arsenal, aparentemente frágil  fundamentalmente o mesmo com que Nelson Rodrigues vira pelo avesso o recesso do sexo, na pauta diversa do romance ou do teatro  Lupicínio se dedicou, afincadamente, por toda a vida, a virar pelo avesso a dor de cotovelo amorosa. E assim como Shakespeare formulou em termos arquetípicos o sentimento do ciúme em Otelo, Lupicínio  o criador da dor-de-cotovelo, na definição eufemística de Blota Jr. , com menos armas, ou se quiserem até praticamente desarmado, com a força da sua verdade e do pensamento bruto, consegue formular como ninguém aquilo que se poderia chamar, parodiando a requintada terminologia sartriana, de sentimento da cornitude

Para os que se arrepiem com a comparação entre Shakespeare e Lupicínio, direi que a poesia pode comportar distingos, mas não conhece distinções de raça, credo ou cultura. Um dos mais espantosos poemas sobre o ciúme que conheço e que não hesito em trazer à baila, no confronto com o texto shakespeariano, pertence a um anônimo pele-vermelha (revelou-o o poeta colombiano Ernesto Cardenal no nº 10 da revista mexicana El Corno Emplumado): 
 
Eu me pergunto 
Se ela estará suficientemente humilhada  
A mulher sioux 
Cuja cabeça acabo de cortar. 
 
É claro que, no caso da música popular, é mais ou menos impossível dissociar a letra da música e, no caso específico de Lupicínio, da sua própria interpretação. O processo de envolvimento é total  dir-se-ia mesmo verbivocomusical e não pode ser seccionado sem perdas. Quem já ouviu Lupicínio cantando suas músicas (ou quem já o ouviu em Roteiro de um Boêmio, malgrado o acompanhamento retórico e lancinante do Trio Simonetti) sabe o quanto a sua voz e a sua maneira de cantar se ajustam às suas letras. 
 
Antes que João Gilberto inaugurasse um estilo novo de interpretação, o canto como fala, contraposto ao estilo operístico do cantor-de-grande-voz, que predominava até então, Lupicínio, sem que ninguém percebesse, e numa época em que ainda não haviam surgido as regravações de Noel cantando Noel (1956) e ainda não se dera  salvo engano meu  o retorno de Mário Reis, apareceu com a sua interpretação de voz mansa e não empostada  só levemente embargada , que transmitia como nenhuma outra os temas do ressentimento e da dor amorosa, sem agudos e sem trinados. Àquela altura, apresentavam-no quase que pedindo desculpas  ficasse claro que não se tratava de um cantor  mas, na verdade, o que Lupicínio esboçava já, intuitivamente, levado apenas pela fidelidade ao seu pensamento bruto, era a ruptura com um formulário vocal alienante, que só valorizava o estrelismo do cantor em detrimento da experiência da música e do texto. Mais tarde, com uma utilização já totalmente consciente, e ainda mais funcional e instrumental da voz, João Gilberto abriria o caminho para a liberação de grandes intérpretes, cantores de voz pequena ou de nenhuma voz, segundo os padrões tradicionais, como Nara Leão, Astrud Gilberto, Edu Lobo, Chico Buarque de Hollanda e muitos outros que descobriram uma personalidade vocal acima e à margem dos receituários do bel canto, como antes o haviam feito Noel Rosa e Mário Reis. 
 
Como foi importante essa redescoberta da voz humana, da voz-verdade, prova-o ainda agora o LP gravado por Frank Sinatra com músicas de Tom Jobim. À parte o que a gravação tem de bom para a difusão e a valorização da música popular brasileira, diga-se que o disco vale para acentuar o quanto é superior a interpretação de João Gilberto, que, comparativamente, põe a nu todos os cacoetes e sestros do famoso cantor norte-americano. Em João Gilberto observou muito bem Gene Lees  o ar se move sem esforço pelas cordas vocais, como se não fosse impelido mais do que o suficiente para fluir. É a personificação do canto a palo seco, de que fala João Cabral de Melo Neto. Só a lâmina da voz. Lupicínio, o anticantor, cantando a sua própria música em Roteiro de um Boêmio, fez, talvez sem o saber, a crítica dos seus intérpretes, assim como antecipou alguma coisa das transformações radicais por que passaria a utilização da voz na canção popular brasileira poucos anos depois. 
 
As letras de Lupicínio Rodrigues desenvolvem até à exaustão, e com todas as variantes possíveis, o sentimento que Drummond equacionou, em Perguntas, numa linha sucinta: Amar depois de perder. A partir do Se Acaso Você Chegasse, que dá o ângulo do amigo, até as numerosas respostas do amante desprezado. As Aparências Enganam  Vejam como as aparências enganam, /Como difere a vida dos casais. / Não são aqueles que mesmo se amam / Que às vezes moram em lugares iguais... Eu Não Sou de Reclamar Se queriam que eu matasse, / O crime não compensa, / Só Deus dá a sentença ao pecador. / Se eu matasse não podia / Esperar ver algum dia / As lágrimas cruéis do meu amor. Nervos de Aço  Você sabe o que é ter um amor, meu senhor, / ter loucura por uma mulher, / E depois encontrar esse amor, meu senhor, / Nos braços de um outro qualquer.Seus versos não deixam de ter certos requintes. Por exemplo, a rima interna, que Lupicínio usa mais de uma vez: Eu e Meu Coração Quando o coração tem a mania de mandar na gente, / Pouco lhe interessa a agonia que a pessoa sente; Sombras  Quando eu vejo essas noites escuras / Nossas aventuras fico a recordar... [...] Os escuros eram os abrigos  Pra dos inimigos eu me ocultar. Na colcha-de-retalhos de frases-feitas irrompem quando menos se espera metáforas lancinantes e desmesuradas, mas tremendamente justas e eficazes: Eu É Que Não PrestoTodas que falam em mim, / A chorar vão contar / Com certeza o malfeito, / Chegam até a afirmar / Que eu tenho uma pedra / Encerrada no peito.Aves DaninhasJá não chegam essas mágoas tão minhas / A chorar nossa separação, / Ainda vêm essas aves daninhas / Beliscando o meu coração.Dona DivergênciaAonde a Dona Divergência / Com o seu archote / Espalha os raios da morte / A destruir os casais / E eu, combatente atingido, / Sou qual um país vencido / Que não se organiza mais. 
 
Em Vingança, a fenomenologia da cornitude tem todo um desenvolvimento elaborado. Na primeira parte, o tom é de conversa, quase monólogo interior. Raras letras conseguiram tanta cursividade (Garota de Ipanema, de Vinicius, por exemplo). Eu gostei tanto, / Tanto, / Quando me contaram / Que lhe encontraram bebendo e chorando / Na mesa de um bar. / E que quando os amigos do peito / Por mim perguntaram / Um soluço cortou sua voz / Não lhe deixou falar. / Eu gostei tanto, / Tanto, / Quando me contaram, / Que tive mesmo que fazer esforço / Pra ninguém notar. (Escansão perfeita, cortes justos, como flui!) Na segunda parte, a explosão do ciúme, subindo na escala: O remorso talvez seja a causa do seu desespero, / Ela há de estar bem consciente do que praticou, e a frase patética: Me fazer passar essa vergonha com um companheiro / E a vergonha é a herança maior que meu pai me deixou! E a maldição final: Mas enquanto houver força em meu peito / Eu não quero mais nada, / Só vingança, vingança, vingança aos santos clamar / Você há de rolar como as pedras que rolam na estrada, / Sem ter nunca um cantinho de seu pra poder descansar. Em Nervos de Aço, Lupicínio tem outra tirada espetacular, definindo pela negativa a turbulência de sensações que o acometem: Eu não sei o que trago no peito / É ciúme, despeito, amizade ou horror, / O que eu sinto é que quando eu a vejo / Me dá um desejo de morte e de dor. 
 
Um levantamento completo das letras de Lupicínio seria impossível sem o concurso do próprio autor. Muitas de suas composições, e das melhores, se encontram inéditas. Quantos romances, quanta prosa chata, quantos sonetos burilados e retorcidos, quantos versalhetes esforçados e camuflados se fizeram que não foram capazes de dizer o que diz, sem retoques  e sem recalques, com ingenuidade e grandeza, Lupicínio Rodrigues, o cantor da infidelidade, irremediavelmente fiel a sua vida e a sua música.
 
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Aproveitando uma breve estada em Porto Alegre, com Haroldo de Campos e Décio Pignatari, para a realização de poesia concreta, sob o patrocínio do Instituto dos Arquitetos do Brasil, quis entrevistar Lupicínio Rodrigues. Descobri a música de Lupicínio por volta de 1952, mais ou menos na mesma época em que descobri a música de Webern e a poesia concreta. Este era pois um encontro fundamental. 
 
Nas vésperas da inauguração da mostra, fomos assim, Haroldo, Décio e eu, levados por bons amigos porto-alegrenses, desentocar o autor de Vingança no Clube dos Cozinheiros, pequeno reduto de música popular, que o cantor Rubens Santos administra dando-lhe um certo ar de santuário: nas paredes, recobertas de partituras, o visitante bate logo com os olhos no cartaz-aviso: Quem fala quando alguém faz música coloca a própria ignorância na vitrina (provérbio chinês); depois da meia-noite, a norma é aplaudir com estalidos dos dedos, ao invés de palmas... 
 
Lupicínio nos esperava, já temperando o instrumento vocal com umas quantas biritas (elas contribuem para dar a sua voz aquele pathos inimitável. E logo depois das apresentações, desrespeitando (que remédio!) o provérbio chinês enquanto outros cantavam, fui arrancando a Lupi (que fala pouco) algumas observações sobre ele próprio e sua música. 
 
Relembro-lhe o Roteiro de um Boêmio", o seu long-play de pobre. Vamos recordando, uma a uma, as composições do álbum. Lupicínio se anima. Volta a 1952. Tudo começou no programa que, sob aquele título, Lupi fazia na Rádio Farroupilha. Depois, em São Paulo, as audições noite a dentro na Rádio Record. E o êxito surpreendente, como cantor, na Boîte Oasis: dois meses de sucesso. Mais do que qualquer cartaz internacional. A noite paulista parava para ouvir a voz suave e embargada de Lupicínio. Quem me lançou como cantor de minhas músicas foi Emilio Vitale, afirma Lupicínio. Depois daquela fase, só tem voltado a São Paulo esporadicamente. E há 5 anos que não grava. Resolvo cutucá-lo sobre a bossa nova. Lupicínio resiste um pouco, diz que não a acha tão nova, a batida no fundo é a mesma. Mas admira João Gilberto. Conheceu-o no começo da carreira, em Porto Alegre mesmo, numa temporada em que JG apareceu por lá. Segundo Lupi, João Gilberto passava até fome por essa época. Ninguém o entendia. Ninguém o levava a sério. Antes de João Gilberto  diz Lupicínio  eu já cantava daquele jeito, quase falando. Mas não fui o primeiro. Antes de mim, Mário Reis, que, quando eu era criança, gostava de imitar. Chico Buarque vem de Noel Rosa (e de João Gilberto, acrescentaria eu). Roberto Carlos? Lupicínio lembra uma velha composição sua: Você parece uma brasa, / Toda vez que chego em casa / Dá-se logo uma explosão... (Brasa).
 
Peço-lhe que cante. Lupicínio não gosta de cantar suas composições de maior sucesso. Prefere interpretar músicas novas, muitas delas, por incrível que pareça, ainda não gravadas. E de repente: Vocês querem ouvir uma federal ou estadual? Fico sabendo que há uma dor de cotovelo estadual e uma federal. Mas esta, a mais aguda, Lupi só canta depois de uma boa embiritação. Canta duas ou três, acompanhado só de violão, e eu fico pensando nos acompanhamentos que têm desservido Lupicínio. Sua voz, como a de João Gilberto, pede, essencialmente, acompanhamento de violão, e o resto, se houver, em segundo plano ou surdina. Pergunto-lhe se acha alguma relação entre o seu samba e o tango. Ele nega, peremptoriamente. Mas suponho que, em parte, é uma autodefesa contra a exploração xenofobista. Vingança já fez sucesso como tango em Buenos Aires e muitas de suas composições poderiam ser tocadas diretamente em ritmo de tango. O que não quer dizer nada de mau. Seria estranhável é que sua música, produzida no Sul, tivesse jeito de norte-americana. De resto, o tango não é a mesma coisa que o bolero  tem outra tradição e outro conteúdo. Num pequeno estudo sobre as letras de tango, Jorge Luís Borges aventura a profecia de que as letras de tango formarão, com o tempo, um grande poema civil. Musicalmente  diz ele o tango não deve ser importante; a sua única importância é a que lhe atribuímos. E acrescenta: A reflexão é justa, mas talvez possa aplicar-se a todas as coisas. À nossa morte pessoal, por exemplo, ou à mulher que nos despreza... 
 
Lá pelas duas horas da manhã, o clube dos Cozinheiros dá por encerrada a sua sessão. Todo mundo vai embora. Levantamo-nos, mas Lupicínio me segura pelo braço. Sentamos novamente. Lupicínio começa a cantar a palo seco, sem nenhum acompanhamento. Explica: Tudo o que eu canto é verdade. A minha vida. E de vez em quando solta uma frase lapidar, que já parece nascer letra de samba: Quem vê as pingas que eu tomo, não sabe os tombos que eu levo. Agora vai cantar uma federal Um favor , fantástica, e ainda não gravada: Quem puder gritar que grite / Quem tiver apito apite / Faça esse mundo acordar / Para que onde ela esteja / Saiba que alguém rasteja / Pedindo pra ela voltar. Vou anotando na semi-obscuridade fragmentos incríveis de outras composições novas: Eu hoje preciso fazer uso da minha ignorância." E este, semi-edipiano: Eu fui um dos nenens mais bem ninados deste mundo" (Meu Natal). E ainda: A minha dor é enorme / Mas eu sei que não dorme / Quem vela por mim. E mais, este final: Parte meu coração em pedacinhos / E distribui a quem quiser. Entre uma birita e outra, entre uma canção e outra, Lupicínio resume: Tudo é confusão entre a filial e a matriz. (matriz = esposa). São 4 horas. Eu deixara de levar o instrumento certo para a entrevista  o gravador. Da grande noite que nos deu Lupicínio sobraram apenas esses estilhaços de conversa, estes s.o.s. musicais que reproduzo para mim mesmo e para quem possa interessar... 
 
As gerações mais novas fariam bem de  mesmo considerando o quanto o caminho de Lupicínio tem de solitário e incontinuável  procurar compreender o seu estranho e autêntico roteiro. E as gravadoras e os colecionadores de sons (e às vezes até de alguns ruídos literários) para museus, fariam melhor se não perdessem de registrar-lhe o depoimento e a interpretação, para que não venham lamentar-se depois, quando já for tarde para partir em busca do canto perdido. Que Lupicínio Rodrigues não tenha, hoje, um ou mais álbuns de suas músicas, interpretadas por ele mesmo, com acompanhamento adequado, é um crime de lesa-música do qual são cúmplices não só os que têm poderes para produzi-los como os que têm o direito de exigi-los: os meios musicais de São Paulo, Rio e de Porto Alegre os gaúchos, em especial, que às vezes parecem consentir na omissão de que é vítima o seu maior valor em música popular.
 
 
II. BIBLIOGRAFIA

 
CAMPOS, Augusto de. BALANÇO DA BOSSA e outras bossas, 2ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 1974, 357 p.

SILVA, Arthur de Faria.  LUPICÍNIO - Uma Biografia Musical, tese apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito para obtenção do grau de doutor em Letras, área de Estudos de Literatura, 2022, 359 p.