domingo, 22 de junho de 2025

BIBLIÓFILOS, BIBLIÔMANOS E BIBLIOPIRATAS

Por Eduardo Frieiro *

 
Quando se diz que alguém é amigo dos livros, faz-se em três palavras um elogio que classifica no escol intelectual a pessoa elogiada. 
É de tal modo considerada nobre e simpática a amizade aos livros, que mesmo quando esta se transforma em paixão, em mania ou latria, ou até em vício, ainda assim é julgada com benevolência pelos que são capazes de compreendê-la. 
Jules Janin, escritor e bibliófilo do século passado, conta em L'Amour des Livres, esta anedota:
Um dia, achando-se o Rei Luís XIII a palestrar no seu quarto com o chanceler Séguier, chefe supremo da justiça, o diálogo orientou-se para a venalidade dos juízes.
"Senhor chanceler", gracejou o rei, "por que preço venderíeis a justiça?"
"Oh! sire, por nenhum preço... Isto é, por um belo livro, não o garanto..."
É preciso acrescentar, diz Janin, que a biblioteca do chanceler de Luís XIII era uma das maravilhas que bastam para dar celebridade a um homem.
Há com efeito bibliotecas particulares que dão renome aos seus proprietários, homens que seriam perfeitamente desconhecidos sem os seus livros. Mas nem sempre estes possuidores de belas livrarias são letrados autênticos. Muito amiúde não passam de colecionadores mais ou menos maníacos. Há os autênticos bibliófilos, os que amam o livro em razão do seu valor intrínseco, medular. O bibliômano junta livros pelo prazer de juntar, preocupado unicamente com a qualidade ou a raridade dos exemplares que adquire. Há os que só colecionam clássicos, outros só obras antigas, outros só história, ou só memórias, diários e epistolários, ou só viagens e explorações, etc. Alguns, entre os portugueses e brasileiros, só querem Camões e Camilo. Aqui, são numerosas as coleções "Brasilianas", não sendo raras as de muito valor. A bibliomania na sua manifestação mais aguda é a que impele a colecionar unicamente livros raros, ou caros, singulares ou extravagantes, que dificilmente se encontram à venda. Pouco importam as grandes obras clássicas, as mais autênticas obras-primas, as boas obras de instrução ou distração. É uma mania, como a de colecionar selos ou autógrafos de celebridades do dia, se bem que mais amável e simpática. O prazer está em possuir aquelas obras cuja aquisição seja difícil ou demasiado custosa, ao alcance de poucos, sendo indiferente que se trate de um Manual de Cozinha ou da Arte de bem cavalgar, de um Tratado de Esgrima ou de Heráldica, de um Chave dos Sonhos ou de um Secretário dos Amantes. 
Para alguns outros o interesse consiste principalmente na pompa das encadernações. E quantos livros não são comprados unicamente pela invulgaridade do frontispício ou por causa duma vinheta! Compreende-se, por isto, que os possuidores de belos livros nem sempre sejam homens de letras ou de ciência. Às vezes, não passam de colecionadores que os conservam em ricas estantes, não para serem lidos, como distração, estímulo ou refrigério do espírito, mas para serem contemplados ciosamente no recesso dos bibliófilos, ou quando muito para serem apresentados com alarde à admiração invejosa dos amigos atacados da mesma mania. O móbil desta espécie de amigos do livro nem sempre é, bem se vê, a libido sciendi, o apetite de conhecimento, mas a libido possidendi, o apetite de possuir, de entesourar. Um maníaco desta espécie, português, o Cardeal da Cunha (conta Oliveira Martins, História de Portugal) tinha uma ostentosa livraria de 11.000 volumes, a que alguns chamavam "as onze mil virgens". 
Esta espécie livresca, o mesmo que as outras, é velha como o livro, e, desde a Antiguidade, os letrados pobres têm tratado com acrimônia os ricaços que por simples ostentação juntam livros raros ou suntuosos nas suas bibliotecas puramente decorativas. No tempo de Sêneca, que via na moda do livro pelo livro um sintoma de corrupção social, as bibliotecas particulares se multiplicavam, instaladas em salas de estilo asiático, com as estantes incrustadas de marfim e metais preciosos. Milhares de copistas  os "impressores" da época  tornavam os manuscritos acessíveis até às classes menos favorecidas. O bibliômano do tempo dos Césares costumava dissipar sua riqueza em livros. Vai daí, o literato impecunioso alvejava-o com chufas e zombarias. Entre outros, o céptico Luciano escarnecia assim dum bibliófilo de seu tempo:
"Tu tens um livro na mão e o lês continuamente, mas não compreendes patavina: pareces o burro que sacode as orelhas quando ouve a lira. Se a posse dos livros bastasse para fazer sábio àquele que os possui, ela seria inestimável; se o saber se vendesse no mercado, pertenceria exclusivamente a vós outros, ricos."
Indignado com o egoísmo do feliz possuidor de belas obras que, incapaz de apreciá-las proveitosamente, também não as facilitava a quem as poderia ler com fruto, censurava-o por esta forma:
"És como o cão que, deitado na estrebaria e não podendo comer a cevada, não permite que o cavalo a coma..."
La Bruyère, em Les Caractères, capítulo "De la mode", ironiza os maníacos colecionadores que enchem a casa de livros, bem encadernados em marroquim, dorés sur tranche, ornados de filets d'or, exibidos às visitas, com vaidade ostentatória. E para mostrar que têm a casa bem cheia, alguns desses maníacos, que nunca lêem, arranjam estantes de mentira com fileiras de livros pintadas, que enganam a vista. ¹ Logo à entrada o visitante sente-se desvanecer com o cheiro forte do couro das encadernações. Aquilo não é uma biblioteca, é um curtume. 
Na Idade Média, o cristianismo destruiu as bibliotecas pagãs. Os livros e com eles a cultura refugiaram-se nos mosteiros. A bibliofilia desapareceu por espaço de vários séculos, só reaparecendo, na Renascença, com a difusão do papel e a quase extinção dos livros em pergaminho. 
Isto para a Europa cristã. Há oitocentos anos, entretanto, o professor negro Ahmed Baba, da Universidade de Timboctu, achando-se à espera de sua execução, lamentava-se de que não vivera o bastante para juntar tantos livros quanto alguns de seus amigos possuíam. Sua biblioteca contava no entanto 1.600 volumes, o que indicava elevada atividade intelectual, notável na região negra em que tinha lugar, e sobretudo numa época em que muitos povos europeus se achavam ainda em grande atraso. 
Na Espanha muçulmana, o desenvolvimento da literatura e das ciências despertou grande afeição à leitura e aos livros. Leia-se a este propósito a Historia de la España musulmana de Ángel González Palencia. Na época de Abderrahmen III, chegavam a Córdova os mestres mais sábios, estudantes de todos os países, os copistas mais hábeis e os livreiros e mercadores mais ricos. A Biblioteca real dessa cidade chegou a possuir 400.000 volumes, com um bibliotecário-chefe encarregado da catalogação e tendo a seu serviço os melhores encadernadores, iluminadores e desenhistas. Havia outras bibliotecas célebres em Córdova, algumas particulares. Era muito generalizada a bibliofilia, desenvolvida também entre as mulheres. As mulheres de classe inferior copiavam o Alcorão e livros de orações. Os judeus, os moçárabes, os renegados  diz Palencia  todos seguiam a corrente, chegando os eunucos a adquirir vasta instrução e até a formar bibliotecas. E, como não era para menos, existiam bibliômanos, tolos, simuladores de cultura, ao lado dos bibliófilos de boa lei. 
No final da Idade Média, o nome do bispo inglês Ricard de Bury se torna célebre, ligado ao da obra que compusera sob o título de Philobiblion, na qual contou como colecionara os seus livros, dando destarte como que um bosquejo dos métodos da bibliofilia. 
É a época de Petrarca, chamado o "pai da bibliofilia moderna". Bibliófilo apaixonado na sua primeira mocidade, Petrarca comprava ou copiava tudo o que lhe caía ao alcance das mãos. Nas numerosas viagens que empreendeu, descobriu textos até então desconhecidos, de autores latinos. Seus amigos da Alemanha, França e Inglaterra remetiam-lhe quantos livros podiam. 
Com a invenção da Imprensa toma incremento a bibliofilia. Na época de Aldo Manúcio principia a voga das encadernações de luxo, que passaram a ser daí em diante a marca distintiva dos verdadeiros bibliófilos. Como colecionador de encadernações de luxo, Grolier de Servières torna-se famoso e é considerado por isso, cronologicamente, o primeiro bibliófilo, na acepção moderna do termo. 
A época de ouro da bibliofilia será porém o século XIX. Cresce na França, na Inglaterra, na Alemanha e em outros países a paixão colecionadora de volumes impressos no passado. O interesse despertado pela venda em leilão da coleção do duque de Roxburgh em 1812, disputada a peso de ouro pelos maiores bibliófilos ingleses do tempo, suscitou a fundação do "Roxburgh Club", o primeiro grêmio inglês de bibliófilos, que já então formam no mundo uma espécie de confraria de grã-finos, unidos pelo mesmo culto quase religioso dos livros antigos e raros. É a época das grandes vendas de coleções preciosas. Nas últimas décadas do século passado, Bernard Quaritch, alemão de nascimento, torna-se na Inglaterra e em todo o continente europeu o "Napoleão do comércio de livros antigos."
 
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O nome de Jean Grolier, príncipe dos bibliófilos de começos do século XVI, prende-se a um período particularmente brilhante da arte francesa da encadernação. Não era um encadernador, mas um homem rico que fazia trabalhar às suas ordens hábeis artistas encadernadores. Sobre as encadernações de Grolier aparecem pela primeira vez, gravadas em letras de ouro, o seu ex-libris: Jo. Grolieri et amicorum e a divisa: Portio mea domine sit in terra viventium ², conhecidos de todos os bibliófilos. 
Para mim e meus amigos é uma generosa divisa que alguns bibliófilos inscreveram nos seus ex-libris, à imitação de Grolier. Porém mais generosa ainda era a divisa de Schelder: Para todos e para mim
Nobres e simpáticas divisas, não há dúvida. Mas quem possua livros e queira conservá-los, avaliará facilmente os perigos que tais divisas cristãs encerram. 
Livro emprestado é livro perdido ou livro estragado. O amigo dos livros deve recear, sobretudo, aqueles que alimentam a mesma paixão livresca. O colecionador de livros raros, preciosos ou singulares, esse então costuma ser um bibliopirata, quando não é um biblioclepta, que satisfaz o seu vício onde pode e como pode. Famoso colecionador e não menos famoso pirata de livros foi o bibliógrafo espanhol Bartolomé José Gallardo, a quem um seu rival na mania colecionista, Estébanez Calderón, poeta de certa voga na época romântica, dirigiu um soneto que abre com uma mercurial de epítetos mordazes: 
Caco, cuco, faquín, bibliopirata, 
tenaza de los libros, cauzo, púa 
de papeles, aparte lo ganzúa, 
hurón, carcoma, polilleja rata... 
 
E o mais nesse estilo, concluindo por esta forma: 
 
y al fin te beberás, como una sopa 
llena de libros, África y Europa. 
 
D. Pedro II, o honrado imperador brasileiro, incorreu na pecha de bibliopirata, não sabemos se com razão. D. Pedro estimava os livros e deixou uma importante biblioteca. Não era o que se pode chamar um colecionador, um bibliófilo praticante, sem com isso dizer-se que não amava os livros raros. Conta-se que, quando visitou o Colégio do Caraça, pelo ano de 1881, examinou com grande curiosidade a rica biblioteca do estabelecimento, uma das melhores do Império. Viu ali uma peça que lhe teria parecido preciosa: a Crônica de Eusébio Panfílio, bispo de Cesareia, cognominado o Pai da História Eclesiástica. Tratava-se de uma obra aparecida em Veneza no ano de 1483, impressa por um alemão. Um incunábulo, portanto! 
A tentação era muito grande. D. Pedro desejou-o para si e, abusando das suas prerrogativas de soberano, teria carregado com ele. 
Li essa história em uma reportagem de Marcelo Coimbra Tavares sobre o Colégio do Caraça, publicada no Estado de Minas, edição de 11 de junho de 1950. Onde a ouviu o repórter? Provavelmente circula entre os padres daquele Colégio. Mas, como se poderia afirmar, com toda a certeza, que D. Pedro levou o precioso incunábulo? 
O Padre Francisco Silva, diretor que foi do Caraça, falecido posteriormente como bispo do Maranhão, escreveu sob o pseudônimo de Era Negra o trabalho intitulado Caraça: Apontamentos históricos e notas biográficas (Imprensa Oficial, Belo Horizonte, 1907), publicado anteriormente na Revista do Arquivo Público Mineiro. Referindo-se à visita de D. Pedro, aludiu à grande curiosidade com que o monarca manuseou algumas obras da biblioteca do velho Colégio dos padres lazarentas. E disse exatamente: "sobremaneira o encantou a Crônica de Eusébio, de um editor alemão, impressa em Veneza, no ano de 1483 ..." Só isso. Nenhuma referência ao seu desaparecimento. Excessiva discrição, ou timidez do historiador? 
Se o Imperador o surripiou, aonde teria ido parar o cimélio? Entre os 50.000 volumes deixados pelo monarca, os quais constituíram depois a Coleção D. Teresa Cristina, não havia incunábulos, consoante se lê no trabalho de Aurélio Lemos "D. Pedro II e os seus livros", inserto no Vol. 152 da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
O fato porém não invalida por si só a versão do furto imperial. ³ Diante do livro raro, a bichar ingloriamente nas estantes de um colégio de província, o "neto de Marco Aurélio" teria dito com as suas barbas, como qualquer inescrupuloso colecionador de raridades: 
 
"Je prends mon bien partout où je le trouve." 
 
O incunábulo a que nos referimos está assim descrito em Le livre en Italie à traves les siècles, por Léo Olschki, Florence, Imprimerie Junitine, 1914, p. 18:
 
"Eusebius Pamphilius. Chronicon a S. Hieronymo lat. 
[versum 
et ab eo Mattheo Palmerio continuatum. Venetiis, 
[Erhardus 
Ratdolt, idibus September (13 Sept.) 1483, in-4. Avec des 
initiales orn. dessinées par Bernard Moler, gr. en bois." 
 
Não é uma preciosidade. 
Depois de descrever a edição original do Chronicon a S. Hieronymo, feita em Milão pelo ano de 1475, o bibliófilo J.-Ch. Brunet (Manuel du libraire...) ajunta que a edição de Veneza é de pouco valor: 
 
"L'édition de Vénise, par Erhard Ratdolt, 1483, in-4, 
de 180 ff., a peu de valeur."
 
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Em fins de 1943 ter-se-ia verificado na Biblioteca Pública de Pelotas o furto duma obra preciosa, realizado em circunstâncias fora do comum, segundo vimos na revista carioca Vamos ler, que se referiu ao fato por esta maneira: 
"RAPTO DE UM LIVRO - Visitou recentemente a Biblioteca Pública de Pelotas um cidadão de nome X. (a revista deu o nome inteiro), que pediu para consultar a preciosa obra O Brasil Pitoresco, de Ribeyrolles. Cinco minutos depois de estar ali o consulente desapareceu com o livro, que pesa vinte quilos e mede de comprimento um metro por noventa centímetros de largura. X viajou no mesmo dia, por via aérea, para Porto Alegre, de onde despachou o livro por via férrea, para São Paulo, onde diz residir. O autor do rapto foi preso. Levado à polícia, confessou calmamente o delito, justificando-se que assim fizera porque precisa colher dados, pois está escrevendo um livro sobre as Missões Jesuíticas, havendo já adquirido por seiscentos cruzeiros, numa livraria carioca, uma lei em latim. Positivamente, com tão merecido trabalho, tal ladrão deve ser recompensado com um cargo de bibliotecário..." 
Cuidado, muito cuidado com os bibliófilos, bibliômanos e colecionadores de livros em geral. Cuidado com os bibliopiratas em particular! E os colecionadores, esses principalmente, não são de confiança. Por isso dizem com razão os franceses: 
 
Tout collectionneur , tout voleur
 
Os próprios bibliotecários ou responsáveis por bibliotecas não são de toda confiança. O rapinante, às vezes, está dentro de casa. Recorde-se um caso famoso, l'affaire Libri. O matemático e professor francês, de origem italiana. Conde Libri-Carrucci della Sommaia, era então inspetor-geral das bibliotecas de França. A cada visita que Libri fazia às bibliotecas que lhe incumbia inspecionar, verificava-se a desaparição de livros e manuscritos raros. Investigado o caso, Libri fugiu para Londres, onde o receberam como um perseguido. Isso não impediu sua condenação a dez anos de prisão. Mérimée, seu amigo, não quis crer na acusação e atacou rudemente, na Revue des Deux Mondes, os juízes que haviam condenado Libri. Levado aos tribunais, Mérimée teve quinze dias de prisão e mil francos de multa. O caso provocou grande celeuma, e os inimigos de Mérimée e de Buloz, diretor da Revue, regozijaram-se com o acontecido.
 
Fonte: Os livros, nossos amigos, Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 2007, pp. 59-67. 
 
* De tipógrafo na Imprensa Oficial do Estado, valeu-se de seu grande esforço de autodidata para chegar a professor catedrático de Literatura Espanhola e Hispano-Americana da UFMG;  como Diretor da Biblioteca Pública de Minas Gerais, cuidou de sua organização, transformando-a numa das melhores do Pais; deixou inúmeras obras literárias, especialmente Feijão, angu e couve: ensaio sobre a comida dos mineiros e O Mameluco Boaventura. Neste último, embora não sendo um historiador "stricto sensu", aborda importantes figuras da história mineira, tais como Aleijadinho, Tiradentes e Conde de Assumar, revisitando-as numa reconstrução ou mostrando sua "outra" face, como propala a Nova História ("Nouvelle Histoire"),  a qual, além dos eventos históricos, enfoca um leque mais diverso de fontes.
 

II. NOTAS EXPLICATIVAS por Francisco José dos Santos Braga, gerente do Blog


¹ Em 1980, testemunhei um fato inaudito enquanto aluno da ESAF-Escola de Administração Fazendária, órgão do Ministério da Fazenda, em Brasília, nos idos de 1980. Precisando consultar um livro sobre administração tributária, dirigi-me à sua biblioteca em busca de um que tratasse desse assunto. Fui surpreendido pela notícia da recepcionista de que o livro que buscava não estava disponível no momento. Perguntei-lhe, portanto, qual seria um livro substituto. A resposta foi categórica: nenhum livro que versasse sobre a matéria estava disponível. Só então fui informado que o Ministro da Fazenda (cujo nome não declino por respeito à sua memória) necessitara de todos os volumes relativos àquele assunto e mandara buscá-los, pois daria uma entrevista naquela semana e precisaria exibir sua proficiência naquela área do conhecimento.
Voltei na semana seguinte, quando os livros já tinham sido repostos nas estantes da biblioteca. 
 
² Salmo 141 (142), v. 6.

³ O livro "CARAÇA E A FAMÍLIA IMPERIAL" (1976, 1979, 1991), no capítulo intitulado "Caraça e a Família Real", do Pe. José Tobias Zico, CM., membro do IHGMG-Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e da AML-Academia Mineira de Letras, repudiou essa ofensa injuriosa e contestou completa e definitivamente essa invectiva ultrajante contra o nosso maior governante de todos os tempos, no qual seu autor Pe. Zico se insurgiu contra o boato divulgado pela imprensa de que o Imperador Dom Pedro II teria surripiado precioso incunábulo da biblioteca do Caraça  "Chronicon" de Eusebius Pamphilius, bispo de Cesareia , por ocasião de sua visita ao educandário nos dias 11 e 12 de abril de 1881.
Em uma visita presencial à Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, o autor Pe. Zico localizou, na folha de rosto do livro “Chronicon” de Eusebius Pamphilius, bispo de Cesareia, a simples e delicada dedicatória, feita pelo Pe. Superior do Colégio Caraça. Não está assinada, mas pelo arquivo caracense facilmente se prova ser a letra do Pe. Júlio Clavelin, superior ou diretor de 1867 a 1885. A dedicatória, escrita em francês, é a seguinte: “À SA MAGESTÉ D. PEDRO II, EMPEREUR DU BRÉSIL, LE COLLÈGE DU CARAÇA RECONNAISSANT. 12 AVRIL 1881”, na folha de rosto do referido livro, doado a D. Pedro II.
E Pe. Zico informa :
"Hoje, no museu provisório do Caraça, o visitante poderá ver (...) um álbum com várias páginas fotocopiadas do famoso livro “Chronicon” de Eusébio, mostrando, além de sua classificação entre os incunábulos da Biblioteca Nacional (C.I.B.N.-Catálogo de Incunábulos da Biblioteca Nacional nº 58), a letra do Superior do Caraça, na folha de rosto, documentando a doação do livro a D. Pedro II, livro que “de bom grado lhe foi ofertado”, conforme registro em dois lugares: no próprio livro, deixado no Brasil (na Coleção D. Thereza Christina) e na Crônica do Colégio do Caraça.”
E o próprio Pe. Zico deixa evidente que segue à risca a lição de Louis Halphen: "Pas de documents, pas d'Histoire", ao exercer seus dotes de exímio historiador através de documento comprobatório, e não através de narrativas.
E crava terminativo: "Em assunto de doação, o registro, feito pelo doador, tem mais força do que se feito pelo beneficiado", absolvendo nosso segundo imperador por não ter anotado no seu "Diário" o mimo que recebeu do diretor do Caraça.
Principalmente o que importa é que D. Pedro II, diante de sua deposição, banimento e exílio, deixou para o seu amado Brasil a obra que injustamente lhe deu a inglória alcunha de bibliófilo leviano e inconsequente.

Para maiores informações, sugiro ao leitor  que consulte meu artigo intitulado "No Caraça... crime real?", publicado no Blog do Braga.


III. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BRAGA, F. J. S.: NO CARAÇA... CRIME REAL?, publicado no Blog do Braga em 24/12/2024
 
_______________: Ensaio sobre Eduardo Frieiro (I), publicado no Blog do Braga em 09/02/2009 
 
FRIEIRO, Eduardo: Os livros, nossos amigos, Edições do Senado Federal vol. 80, Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 198 p.
 
ZICO, Pe. José Tobias, CM.: Caraça e a Família Imperial, Belo Horizonte: Editora O Lutador, 1991, 104 p. Ilustr.

4 comentários:

Francisco José dos Santos Braga disse...

Prezad@,
Dentro da obra "Os livros, nossos amigos", EDUARDO FRIEIRO analisa desde aspectos gráficos como a impressão até assuntos como os grandes leitores, colecionadores e até frequentadores de bibliotecas e sebos com o objetivo de furtar obras raras, sob o título BIBLIÓFILOS, BIBLIÔMANOS e BIBLIOPIRATAS.

Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2025/06/bibliofilos-bibliomanos-e-bibliopiratas.html

Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei

Anônimo disse...

Excelente estudo. Tenho uma pequena biblioteca, mas gosto de ler. O problema são os grifos e as anotações nas margens que faço, mas são meus e o dia que partir não terei interesse se desvalorizou ou não. Parabéns Confrade querido. Você produz muito.

Francisco José dos Santos Braga disse...

Cristovam Buarque disse...
Tem também os mais radicais “bibliopatas”, capazes de matar por um bom livro para ler ou roubar uma boa ideia para escrever um conto.
Cristovam
Onde está o livro?

Francisco José dos Santos Braga disse...

Ivan Alves Filho (historiador e escritor, membro da Academia de Letras de São João del-Rei, autor de livros como "Brasil, 500 Anos em Documentos" e O Caminho do Alferes Tiradentes) disse...
Eduardo Freiro foi um estudioso extraordinário. Parabéns pela lembrança!
Um forte abraço.