Por Francisco José dos Santos Braga
Neste
domingo, dia 04/11/2018, a 541ª Assembleia Ordinária do Instituto
Histórico e Geográfico de São João del-Rei, sob a presidência de Paulo
Roberto Sousa Lima e a vice-presidência de Maria Lúcia Monteiro Guimarães,
retomou, numa das seções da pauta dos trabalhos, uma singela e merecida
homenagem a confrades falecidos, distinguindo os seguintes nomes: Álvaro
Bosco Lopes de Oliveira, Astrogildo de Assis, Benito Mussolini Grassi;
José de Alencar Ávila Carvalho e Maria José Dutra de Carvalho ("Mara Ávila"); José Augusto
Moreira, José Roberto Vitral e Laís Medeiros Garcia de Lima.
Além do belo panegírico proferido por Wainer de Carvalho Ávila, em discurso oficial, homenageando todos os confrades falecidos acima citados, achei por bem acrescentar, na seção Palavra Livre, algumas palavras sobre meu saudoso benfeitor e primo
ÁLVARO BOSCO LOPES DE OLIVEIRA
(1937-2009), filho de Anna Braga Lopes e Miguel Lopes de Oliveira,
advogado e pessoa digna, foi um dedicado membro efetivo desta Casa e
aqui foi admitido por seus conhecimentos na área da Geografia e suas
elevadas qualidades pessoais, reconhecidas por todos os seus confrades:
lealdade, capacidade de ouvir, generosidade, amizade e, em especial, por ser possuidor de um dom especial para conciliar e reconciliar na busca
da concórdia entre seus pares. Dono de invejável bom senso e uma
cultura geral ampla e diversificada, pôde muito contribuir para as
discussões e aprofundamento das matérias em estudo, especialmente quando membro da
Comissão de Geografia deste IHG. Orgulhava-se de pertencer ao Quadro
de Sócios Efetivos, exaltando, quanto pôde, o nome do seu querido Sodalício. Seu
nome já constava como Sócio Efetivo deste IHG na Revista nº 3,
de junho de 1985. Na Revista nº 5, de 1987, na qual o IHG aparecia
distribuído por Comissões, pela primeira vez, ali seu nome já figurava
ao lado de Geraldo Guimarães, de quem era dileto amigo, e Aderbal Malta,
como os três integrantes da Comissão de Geografia. Ocupou a Cadeira nº
17, patroneada por Severiano Nunes Cardoso de Rezende.
Era
forte o seu senso de pertencimento a este Sodalício, tendo permanecido
fiel à sua vocação de historiador até 22 de maio de 2009, data de seu
falecimento em Belo Horizonte. Casou-se com Emma Parentoni Lanna de Oliveira, aqui
presente nesta singela homenagem a seu marido, cujo enlace matrimonial se deu em 30
de dezembro de 2000 e ao lado de quem foi feliz por nove anos. Seu nome é
também lembrado como exímio jogador de damas e contador de “causos” e
piadas, sempre recheadas com seu toque inconfundível de bom humor.
Álvaro
Bosco foi meu "padrinho" nesta Casa, indicando meu nome ao presidente
José Antônio de Ávila Sacramento, o qual, a 3 de junho de 2007, me deu
posse como Sócio Correspondente; da mesma forma agiu, indicando meu nome
para a Academia são-joanense de Letras, presidida por Wainer de
Carvalho Ávila, que me admitiu como Sócio Correspondente em 29 de julho
de 2007.
Outrossim, em
18 de fevereiro de 2014, no Blog de São João del-Rei, publiquei um elogio fúnebre
em homenagem ao meu primo e amigo Álvaro Bosco Lopes de Oliveira, onde
figura um texto de suas memórias intitulado “O fim da guerra”,
recuperando as sensações que vivenciou no seu 8º aniversário, ou seja,
em 6 de maio de 1945.
O FIM DA GUERRA
Por Álvaro Bosco Lopes de Oliveira
Os
convocados tinham o apelido de ARIGÓS ¹ , porque eram na sua maioria
gente simples da roça. Naquele dia 6 de maio de 1945 eles chegaram à
pensão de meu pai, eufóricos, transbordando de alegria.
Chegaram
me jogando para cima, fazendo festa. O clima de alegria contageou a
todos. Meu pai trouxe guaraná e cerveja e a festa foi se avolumando,
pipocando por toda a cidade. Fiquei perplexo com aquela grande festa, na
pensão de meu pai, no Segredo e no resto da cidade... No pouco
entendimento dos meus oito anos, eu achei que aquilo era uma grande
festa do meu aniversário. Só mais tarde vim a saber que toda aquela
festa contagiante era porque tinham se livrado da Guerra, tinham se
livrado da perspectiva da morte nos campos de batalha da Itália, para
onde muitos já haviam ido; aquele 6 de maio de 1945 foi o dia da
rendição alemã, o fim da II GRANDE GUERRA.
Mas
a festa não ficou só na cerveja e guaraná. Teve outros lances. E um,
digno de registro: um soldado do glorioso 11º Regimento Tiradentes,
junto com o piloto Messias, sobrevoou, deu voos rasantes sobre o
Regimento e imediações, jogando cal, purificando e embranquecendo as
pessoas, pacificando o mundo!
E o soldado? E aquele soldado que jogava cal de um teco-teco? Quem era?
O
soldado que teve participação tão original nas comemorações do fim da
Segunda Guerra era FERNANDO SABINO. Também ele aguardava com ansiedade o
desenrolar da Guerra na expectativa de ir para a frente de combate.
Não
conheço nenhuma crônica de Fernando Sabino que faça alusão ao fato, mas
em "O Grande Mentecapto" ele faz o herói do livro, Viramundo, viver
parte de sua vida aventurosa e picaresca em São João del-Rei. Nesta
passagem por São João del-Rei, Viramundo acaba participando de uma
orquestra local, e aí, como em todos os lances do romance, faz as suas
trapalhadas, de forma saborosa para o leitor.
Mas
deixemos de divagações, voltemos ao dia 6 de maio de 1945. A rendição
alemã tirou um peso do mundo. A humanidade voltou a respirar aliviada,
cheia de entusiasmo para reconstruir dos escombros os edifícios e
cidades que a loucura de HITLER havia atingido.
NOTAS EXPLICATIVAS
¹
Nos Estados do Amazonas e Pará, principalmente, arigó é a designação
dada aos nordestinos, em especial cearenses, que para lá migraram a fim
de participar, como "soldados da borracha", da extração do látex das
seringueiras no esforço de guerra durante a II Guerra Mundial. Foram, ao
todo, 55.000 brasileiros recrutados pelo governo Getúlio Vargas para
produzir, nos seringais da Amazônia, 100.000 toneladas de borracha por
ano para os países aliados. Fugindo da seca de 1942, os nordestinos se
alistaram como voluntários, dos quais pelo menos 31.000 morreram,
vítimas de malária e outras enfermidades, além dos problemas decorrentes
da dura jornada de trabalho.