segunda-feira, 11 de maio de 2009

São João del-Rei, por que desprezada?

Por Abgar Campos Tirado *
Este artigo é um grito de protesto. Vejamos o motivo: São João del- Rei ocupa, sem dúvida, lugar de destaque no cenário mineiro e brasileiro. Importante Vila de 1713, já em 1714 era constituída sede da imensa Comarca do Rio das Mortes. Essa vasta região, centrada juridicamente em São João del-Rei, abrigaria hoje cidades tão distantes entre si, como Bambuí, Pouso alegre, Itajubá, Conselheiro Lafaiete e Juiz de Fora! Aqui nasceram homens ilustres como Tiradentes, Tancredo Neves, D. Lucas Moreira Neves e tantos outros que se destacaram no Império e na República, nos mais diversos campos. Sede de instituições mais que bicentenárias, como as Orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos, a Santa Casa da Misericórdia, as Ordens Religiosas, Confrarias e Irmandades, bem como a quase bicentenária Biblioteca Municipal Batista Caetano de Almeida e as já mais que centenárias instituições, que são a Estrada de Ferro Oeste de Minas e o Regimento Tiradentes, São João del-Rei impressiona vivamente por tão rico acervo. Nosso Teatro Municipal, de 1893, é mais antigo que o do Rio de Janeiro e o de São Paulo. Nossa Sociedade de Concertos Sinfônicos (1930) é mais antiga que a Orquestra Sinfônica Brasileira (1940). A única Unidade militar de Montanha, do Brasil, reside em nosso 11º Batalhão de Infantaria de Montanha. Também enriquecem esta urbe o Conservatório Estadual de Música "Padre José Maria Xavier", outras orquestras além das citadas e também excelentes bandas de música. Além de bons colégios, temos a Universidade Federal de São João del-Rei, a UFSJ , em franco progresso, abrigando inclusive curso superior de Música. Nossa Semana Santa tradicional é ímpar, mesmo em termos mundiais, e o nosso Carnaval, por muitos anos, gozou de imenso prestígio. Tudo isso sem falar de nossas formosas igrejas, pontes e casario colonial. Possuímos entidades respeitáveis, além das referidas, como a Academia de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico, o Centro de Referência Musicológica Dr. José Maria Neves, o CEREM, bem como preciosos museus, não nos esquecendo de nossos jornais, rádios e de nossa televisão, lembrando-nos também de nossa tradição literária e teatral, além da musical. Todos esse méritos nos fizeram, com muito orgulho, a Capital Brasileira da Cultura 2007. Temos ou não temos razão de nos orgulharmos desta velha urbe de D. João V? Pois bem, em geral, a grande mídia, em âmbito nacional, ignora o mais possível nossa São João del-Rei. Até mesmo quando seria impossível deixar de citar a cidade, mesmo assim, conseguem omitir, como, por exemplo, em uma grande reportagem de importante emissora de TV, sobre o Presidente Tancredo Neves, pouco depois de sua morte, na qual o nome de São João del-Rei só foi citado na referência sobre o trem entre esta cidade e Tiradentes. Nem mesmo como berço natal do falecido presidente São João del-Rei foi mencionada, o que gerou um protesto nosso à Emissora, juntamente com a Secretaria da Cultura e Turismo local. Não sei da resposta. Sinceramente, é de partir o coração são-joanense ver em importantes jornais e emissoras de TV amplas referências sobre o carnaval de outras tradicionais cidades mineiras e nada sobre o nosso. Mesmo na Semana Santa, pouca referência há sobre nossas cerimônias, preferindo-se privilegiar alegorias banais presentes em outras cidades, a focalizar, por exemplo, a imensa riqueza cultural e religiosa de nosso Ofício de Trevas, atualmente reconhecido como único no mundo, na autenticidade de suas características. Contemplando outra falta, examinemos a Lista Telefônica da Guiatel: embora São João del-Rei esteja citada no quadro de distâncias de Belo Horizonte a algumas cidades da Estrada Real, seu nome não faz parte do quadro da distância de Belo Horizonte às principais cidades de Minas Gerais, quando são apontadas 56 cidades, mesmo algumas já citadas no quadro da Estrada Real, sendo que muitas das outras mencionadas não se podem comparar, em expressão, a São João del-Rei. Para não me alongar, deixo de citar publicações diversas que, quando não omitem totalmente o nome de nossa cidade, colocam-na em posição injustamente subalterna. A que atribuir esse desprezo para com nossa São João del-Rei? Seria falta nossa essa pobreza de divulgação? Não sei responder; gostaria imensamente de que essa resposta me fosse dada. 
 
Artigo originalmente publicado no Jornal da ASAP, janeiro/fevereiro 2008  
 
 
 
 
 
 
 
* Abgar Antônio Campos Tirado é natural de São João del-Rei, MG. Com formação na área das Letras e da Música, é professor, palestrante, comentarista cultural, escritor, pianista e compositor, com obras já executadas no exterior. Foi diretor por vários anos do Conservatório Estadual de Música “Padre José Maria Xavier” de São João del-Rei, onde se aposentou. É sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei e membro efetivo da Academia de Letras da mesma cidade, bem como da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais. Mais...

4 comentários:

José Antônio de Ávila disse...

Compartilho-me do estrondoso brado do prof. Abgar em favor da "terra onde os sinos falam" e contra o desprezo de certos setores midiáticos pela cidade de São João del-Rei.
Citarei aqui, para ilustrar, apenas um exemplo (também mencionado pelo autor neste artigo): em 07 de maio de 2008, enquanto ainda presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, devidamente alertado sobre este assunto pelo amigo e nosso sócio honorário Abgar, expedi correspondência para a responsável pela edição do GUIATEL, na qual relatei a nossa surpresa por conta da não inclusão do Município de São João del-Rei, em benefício da citação de outros com população e importâncias cultural, histórica e econômica aquém do nosso, que como bem escreveu Abgar, é um município já consagrado como destino turístico-cultural e cidade pólo da região do Campo das Vertentes.
Na correspondência, alertei sobre a existência de um possível equívoco nos critérios utilizados para definir quais são as principais cidades de Minas Gerais e solicitei a revisão deles para a próxima edição da publicação.
Com tristeza, percebi que de nada adiantou a correspondência oficial do IHG, pois se nem respostas obtivemos, também constatei que a situação referenciada voltou a se repetir no GUIATEL do ano de 2009.
Assim, a despeito dos diversos boicotes sofridos e dos nossos evidentes e lamuriosos protestos, faço coro com a indignação do notável articulista, solicitando àqueles que souberem, que nos digam qual a verdadeira causa de toda essa situação.
Que ecoem ainda mais alto os nossos gritos de protestos!

José Antônio de Ávila Sacramento

Anônimo disse...

Prezado Abgar,

Seu artigo tem muitas verdades que
não poderiam deixar se serem
ditas. Contudo, S.João foi ficando
esquecida principalmente em virtu-
de dos nossos políticos antigos e
novos!
S.João foi esquecida do cenário
brasileiro e mineiro. Não por
culpa dos simples cidadãos são-
joanenses e sim pela maneira
desleal e astuta que os políticos
de nossa terra sugaram seu leite
em benefício próprio!

Rafael Braga

Anônimo disse...

O prof. Abgar tem toda razão! O problema é que o próprio povo da cidade não a valoriza. Deve-se começar por ai.

Anônimo disse...

Caro professor Habigail. O problema está naquela estrada que liga Larvas a SJ del Rey. Tem muito buraco e cratera lá. Daí acontece que os carros das emissoras de televisão e etc não conseguem chegar até a cidade. Assim, ninguém fica sabendo quão maravilhosa é a vossa urbes.

Espero que tapem os buracos para a próxima semana santa. Assim, os setores midiáticos conseguirão chegar em condições de admirar a grande São J del Rey.

Um abraço.