quinta-feira, 14 de outubro de 2021

UMA BANDEIRA DO BRASIL PARA OS HERÓIS DO REGIMENTO TIRADENTES


Por José Lourenço Parreira


 

O Capitão Benigno Parreira foi Maestro da Banda de Música do Regimento Sampaio, Rio de Janeiro, e da Banda de Música do Regimento Tiradentes, da Orquestra da Sociedade de Concertos Sinfônicos de São João del-Rei e da Lira Sanjoanense, a mais antiga Orquestra das Américas e a segunda do mundo. Benigno Parreira é meu querido irmão e fecundo memorialista. Disse-me, certa vez, que, quando São João del-Rei enviou seus filhos para lutarem na Itália, cada casa ostentava uma placa que dizia: "DESTA FAMÍLIA, PARTIU UM UM SOLDADO PARA DEFENDER O BRASIL, NA GUERRA!
 
Tomando nas mãos a obra "De São João del-Rei ao Vale do Pó" do luminar Tenente Gentil Palhares, padrinho de crisma de Benigno, releio valiosa efeméride, em face de a sra. Heleninha Resende ter partido desta vida,  em 10 de outubro de 2021. 
Segundo Palhares, no dia 21 de agosto de 1944, o III Batalhão do 11º Regimento de Infantaria, de São João del-Rei, desfilou pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro, onde todo o Regimento se adestrava para atravessar o Atlântico e lutar na sangrenta guerra na Itália! 
A cerimônia que se seguiu foi junto ao Palácio Tiradentes. Estavam presentes, altas autoridades civis, militares e religiosas, representantes da imprensa, do rádio, bem como uma caravana ilustre representativa de todas as classes sociais de São João del-Rei e chefiada pelo então prefeito, Dr. Antônio das Chagas Viegas, que seguiu para a Capital Federal, a fim de solenemente, em praça pública, fazer a entrega da Bandeira Nacional, oferecida pelo povo da legendária cidade mineira. 
Falou pelo povo são-joanense, em nome do prefeito, o Dr. Augusto Viegas. 
O Padre Mário Quintão deu a bênção à Bandeira Nacional guarnecida por uma Guarda de Honra. A população batia palmas, mas chorava, também. A Bandeira Nacional foi entregue ao General Euclides Zenóbio da Costa, por sete jovens senhoritas da Terra de Tiradentes, a saber: Carmem Viegas, Áurea Müller Dias, Lêda Castanheira Neto, Zélia Castanheira Neto, Geralda Viegas, Maria Helena Abreu e Maria da Vitória Abreu. Essa bandeira, relíquia de imenso valor patriótico, fora confeccionada com todo o zelo pelas delicadas mãos da srta. Helena Resende de Farias, conhecida por "Heleninha Resende", para a tropa do 11º Regimento de Infantaria seguir para a guerra! Dentre todas da caravana, sobressaiu-se a talentosa senhorita, falecida no dia 10 de outubro p.p., e que detinha o honroso título de "amiga do Regimento de São João"! 
No comovente ato de oferta da Bandeira do Brasil ao General Zenóbio, a jovem Beatriz de Castro Albergaria declamou poesia da lavra de Asterack Germano de Lima. Ei-la: 
"Esta Bandeira querida, 
Que é toda de ouro bordada, 
Representa a nossa vida, 
Nossa Pátria idolatrada! 
 
Representa a Pátria inteira, 
Num cantinho está São João, 
Foi servida esta Bandeira, 
Por mãos da gente mineira, 
Com civismo e coração. 
 
Nos mais longínquos recantos, 
Nos países de além-mar, 
Pavilhão cheio de encantos, 
Hás de, forte, tremular. 
 
Esta Bandeira bonita 
Que o vento da Pátria agita, 
No azulado firmamento, 
Traz o sopro da amizade, 
Da gratidão, da saudade, 
Ao nosso 11º Regimento. 
 
Aqui está São João del-Rei 
Vibrando, sempre de pé, 
Pela vitória da lei 
Da liberdade e da Fé!" 
 
Toda essa edificante História é viva na memória de cada filho de São João del-Rei, de cada combatente do Heróico Batalhão e de seus Comandantes, sempre que se canta a Canção do Batalhão, que assim se encerra: 
(...) 
Eis-nos de volta brasileiros, 
sempre ao lado do fuzil 
que das pelejas trouxe glória 
e honra para o Brasil! 
 
Temos Montese e Castelnuovo, 
as epopeias mui valorosas, 
por nossas armas conquistadas, 
em arrancadas gloriosas.
 
E para arrematar esta minha crônica, acrescento esta última observação igualmente importante: Conversando com o saudoso musicólogo ALUÍZIO JOSÉ VIEGAS, disse-me ele que o desenho na capa do livro de Gentil Palhares é obra do seu talentoso irmão, o genial pintor PEDRO PAULO VIEGAS, apelidado "Pedrinho", o que pode ser conferido na imagem abaixo. Deu detalhes de como foi tudo meio artesanal, do que infelizmente não mais me recordo.

 

BIBLIOGRAFIA

 

PALHARES, Gentil (da F.E.B.): De São João del-Rei ao Vale do Pó: Documentário Histórico das Ações do 11º, 6º e 1º R.I.,  São João del-Rei: Gráfica Diário do Comércio, 1951, 411 p. 
Obs. Os fatos aqui narrados encontram-se nas pp. 185-7 do livro.

6 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Prezad@,
Sob o título Uma Bandeira do Brasil para os Heróis do Regimento Tiradentes, no dia 11 de outubro p.p., enviou-me o professor de música, violinista e regente JOSÉ LOURENÇO PARREIRA, de sua autoria, a crônica comovente que reproduzo no link abaixo para os leitores do Blog de São João del-Rei.

Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2021/10/uma-bandeira-do-brasil-para-os-herois.html

Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei

Diamantino Bártolo (professor universitário Venade-Caminha-Portugal, gerente de blog que leva o seu nome http://diamantinobartolo.blogspot.com.br/) disse...

Muito obrigado.
Abraço.
Diamantino

Pe. Saulo José Alves (escritor, pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Conceição da Barra de Minas e membro da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Prezado Confrade Francisco Braga!

Sempre me caracterizei por ser muito emotivo.
Sua publicação de hoje, dentre tantas, mas de forma especial, me emocionou.
Parabéns!
Pe. Saulo

João Carlos Ramos (poeta, escritor, membro e ex-presidente da Academia Divinopolitana de Letras e sócio correspondente da Academia de Letras de São João del-Rei e da Academia Lavrense de Letras) disse...

Parabéns como sempre, mestre Braga!

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga,

Contraditoriamente heróica e trágica memória a desse indescritivelmente violento e destruidor conflito que foi a última Grande Guerra Mundial. E pensar que muitos dos interesses, da loucura e da estupidez humana que a geraram continuam latentes em toda parte.
Saudações.
Cupertino

Raquel Naveira disse...

História viva da guerra que abalou o mundo, com reflexos em terras brasileiras.