segunda-feira, 3 de julho de 2023

Colaborador: PIERRE HADOT


Por Francisco José dos Santos Braga 

 

Crédito: Wikipedia

PIERRE HADOT nasceu em Paris em 1922. Educado como católico, aos 22 anos Hadot começou a se preparar para o sacerdócio. Ordenado padre em 1944, ele estuda na Sorbonne e no Institut Catholique, frequenta cursos, conferências, círculos filosóficos parisienses. Foi nesta ocasião que se deu o seu encontro com o padre Paul Henry, jesuíta, professor de teologia no Institut Catholique e famoso especialista e editor de Plotino. Em 1946, deu início à pesquisa que o levou à sua tese de doutorado e a  uma série de grandes publicações sobre a teologia trinitária de Marius Victorinus (retórico cristão do século IV) e suas fontes neoplatônicas (sobretudo, Porfírio). No entanto, seguindo a encíclica do Papa Pio XII, Humani Generis, de 1950, Hadot deixou o sacerdócio, casando-se pela primeira vez em 1953. Entre 1953 e 1962, Hadot estudou patrística latina e formou-se em filologia. Nessa época, Hadot também estava muito interessado em misticismo. Em 1963, publicou Plotino: ou A Simplicidade da Visão, sobre o grande filósofo neoplatônico. Nesse período, ele também produziu dois dos primeiros estudos sobre Wittgenstein escritos em língua francesa. Hadot foi eleito diretor de estudos da quinta seção da École Pratique des Hautes Études en Sciences Sociales em 1964 e aí permaneceu  até 1986. Casou-se com sua segunda esposa, a historiadora da filosofia Ilsetraut Hadot, em 1966. A partir de meados da década de 1960, a atenção de Hadot voltou-se para estudos mais amplos no pensamento antigo, culminando em duas obras fundamentais: Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga, escrito em 1981 (traduzido para o inglês em 1995 como Spiritual Exercises and Ancient Philosophy) e O que é Filosofia Antiga?, escrito em 1995 (traduzido para o inglês em 2002 como What is Ancient Philosophy?). Hadot foi nomeado professor no Collège de France em 1982, onde ocupou a cadeira de História do Pensamento Grego e Romano. Hadot se aposentou dessa posição para se tornar professor honorário do Collège de France em 1991. No seu último livro, publicado em 2008, faz um profundo estudo sobre Goethe, contendo um comentário impressionante sobre o Fausto II. Ele continuou a traduzir, escrever, dar entrevistas e publicar até pouco antes de sua morte em abril de 2010.
 
Pierre Hadot, filósofo clássico e historiador da filosofia, é mais conhecido por sua concepção da filosofia antiga como um bios ou uma maneira de viver. Seu trabalho tem sido amplamente influente nos estudos clássicos e em pensadores, incluindo Michel Foucault. De acordo com Hadot, a filosofia acadêmica dos séculos XX e XXI em grande parte perdeu de vista sua origem antiga em um conjunto de práticas espirituais que vão desde formas de diálogo, passando por espécies de reflexão meditativa, até a contemplação teórica. Essas práticas filosóficas, bem como os discursos filosóficos que as diferentes escolas antigas desenvolveram em conjunto com elas, visavam principalmente formar, e não apenas informar, o aluno filosófico. O objetivo das filosofias antigas, argumentava Hadot, era cultivar uma atitude constante e específica em relação à existência, por meio da compreensão racional da natureza da humanidade e seu lugar no cosmos. Esse cultivo exigia, especificamente, que os alunos aprendessem a combater suas paixões e as crenças ilusórias de avaliação instiladas por suas paixões, hábitos e educação. Cultivar o discurso filosófico ou a escrita sem conexão com tal comportamento ético transformado era, para os antigos, ser um retórico ou um "sofista", não um filósofo. No entanto, de acordo com Hadot, com o advento da era cristã e a eventual proibição, em 529 d.C., das antigas escolas filosóficas, a filosofia concebida como uma maneira de viver desapareceu em grande parte do Ocidente. Suas práticas espirituais foram integradas e adaptadas por formas de monaquismo cristão. As técnicas dialéticas e as visões metafísicas dos filósofos foram integradas e subordinadas, primeiro à teologia revelada e depois, mais tarde, às ciências naturais modernas. No entanto, Hadot sustentou que a concepção da filosofia como um bios nunca desapareceu completamente do Ocidente, ressurgindo em Montaigne, Rousseau, Goethe, Thoreau, Nietzsche e Schopenhauer, e mesmo nas obras de Descartes, Spinoza, Kant e Heidegger. 
 
A concepção de Hadot da filosofia antiga e sua narrativa histórica de seu desaparecimento no Ocidente provocaram elogios e críticas. Hadot recebeu uma série de cartas de estudantes de todo o mundo dizendo-lhe que suas obras haviam mudado suas vidas, talvez o tributo mais adequado dada a natureza das reivindicações metafilosóficas de Hadot. Ao contrário de muitos de seus contemporâneos europeus, a obra de Hadot é caracterizada por uma prosa lúcida e contida; clareza do argumento; a quase completa ausência de jargão recôndito; e um humor gentil, embora às vezes autodepreciativo. Enquanto Hadot era um admirador de Nietzsche e Heidegger, e comprometido com uma espécie de reformulação filosófica da história das ideias ocidentais, a obra de Hadot carece de qualquer sentido escatológico do fim da filosofia, do humanismo ou do Ocidente. No final da vida, Hadot relataria que isso acontecia porque ele era animado pela sensação de que a filosofia, tal como concebida e praticada nas escolas antigas, continua sendo possível para homens e mulheres de sua época: “de 1970 em diante, senti muito fortemente que foi o epicurismo e o estoicismo que puderam alimentar a vida espiritual dos homens e mulheres de nosso tempo, assim como o meu” (Filosofia como uma Maneira de Viver, p. 280)
 
Fontes: Internet Encyclopedia of Philosophy
 
HOFFMANN, Phillippe: Pierre Hadot (1922-2010), In memoriam, in Revista Archai, UnB, nº 18, set/dez 2016, p. 291-316.
 
WIKIPEDIA: verbete Pierre Hadot

Um comentário:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Prezad@,
Tenho o prazer de apresentar a reprodução do Prefácio ao livro "Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga" de PIERRE HADOT, produzido por ARNOLD I. DAVIDSON, professor associado de filosofia e membro dos Comitês sobre Fundações Conceituais de Ciência e Estudos Gerais nas Humanidades na Universidade de Chicago. Sua página na Internet informa que ele desenvolve o projeto denominado Critical Inquiry, onde esboça a profunda importância que os escritos de Hadot representam para os últimos trabalhos de Michel Foucault.

TEXTO DO PREFÁCIO
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2023/07/prefacio-ao-livro-exercicios.html 👈

DADOS BIOBIBLIOGRÁFICOS DE PIERRE HADOT
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2023/07/colaborador-pierre-hadot.html 👈

Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei