Por Francisco José dos Santos Braga
I. INTRODUÇÃO
São
João del-Rei é uma cidade muito especial por suas características próprias,
historicamente verificáveis. Desde que o Arraial Novo do Rio das Mortes foi
elevado à categoria de vila em 8 de dezembro de 1713, ganhando seu nome
definitivo em homenagem a Dom João V – Vila de São João del-Rei, – a nova vila, desmembrada da vila de Vila Rica, foi escolhida
como cabeça da Comarca do Rio das Mortes e tinha como limites “a leste a comarca de Vila Rica; ao norte as
de Sabará e Paracatu; a oeste as províncias de Goiás e S. Paulo; ao sul esta
última e a do Rio de Janeiro”. A consequência natural foi a Vila de São João
del-Rei abordar os problemas que enfrentava sob um enfoque regional, tendência
que se reforçou com a passagem do tempo. Exemplo desse fenômeno pode ser visto ainda atualmente nas
nossas principais instituições e órgãos públicos, tais como: o Museu Regional; o Fórum da Comarca de São João del-Rei (com jurisdição sobre vários Municípios
integrantes); a Diocese de São João del-Rei (abrangendo 25 Municípios, com 40
paróquias, atuando através de 4 foranias); a Santa Casa da Misericórdia, o
Hospital das Mercês e a UPA Dr. Antônio de Andrade Reis Filho prestando atendimento a toda a região do Campo das
Vertentes; o 11º Regimento de Infantaria de Montanha, acolhendo recrutas de variada procedência; o Ginásio Santo Antônio e
o Colégio Nossa Senhora das Dores que atraíam respectivamente centenas de alunos e alunas internos de
todas as partes do País e até do exterior; a Faculdade Dom Bosco, congregando seminaristas de todos
os Estados, bem como oferecendo o célebre curso de revalidação dos estudos filosóficos
para uma clientela específica formada por bispos, padres, ex-padres e pastores
evangélicos de todo o País que tinham feito sérios estudos em seus seminários sem reconhecimento algum por parte do Governo; a
Universidade Federal de São João del-Rei com vários “campi” disseminados pelo Estado de Minas Gerais; etc.
Esta introdução é apenas para mostrar a tendência
histórica de São João del-Rei de liderar, preferindo conduzir a ser conduzida. Acho
que a ela cabe perfeitamente o lema em latim que vem subscrito no brasão da cidade de
São Paulo: “Non ducor, duco” (Não sou conduzida, conduzo.)
II. A CRIAÇÃO DA DIOCESE DE SÃO JOÃO DEL-REI
Por
isso mesmo, foi com grande entusiasmo que eu, como são-joanense, na idade de 11
anos, tomei parte em um cortejo ou comitiva infantil, que tinha a missão de
acompanhar e conduzir o primeiro bispo são-joanense em sua primeira aparição
pública no adro e na praça da Igreja de São Francisco de Assis. Os meninos, à moda de cavaleiro de honra ou pajem, trajavam paletó e calça com elástico a meio palmo abaixo do joelho, ambos de veludo vermelho; usavam, além disso, uma capa de honra, aberta no lado direito e presa por um alfinete, para deixar o braço livre; os botões do paletó eram recobertos de tecido negro, bem como eram da mesma cor o chapéu à mosqueteiro, o cinto e os sapatos de mocassim, com solado flexível e ornado com um pompom negro na ponta. Na ocasião, não imaginávamos que estivéssemos fazendo história. Certamente a organização, seleção e treinamento desse cortejo infantil devem ter ficado a cargo da Paróquia da Matriz de Nossa Senhora do Pilar, sob a direção pessoal do Cônego Almir de Rezende Aquino ¹. Também tive o
privilégio de acompanhar a criação da Diocese de São João del-Rei em 21/5/1960
pelo Papa João XXIII, formada a partir do desmembramento da Arquidiocese de
Mariana e das Dioceses de Campanha e de Juiz de Fora. Lembro-me bem das
comemorações na Catedral Matriz de Nossa Senhora do Pilar e da excelente
acolhida que teve o 1º bispo Dom Delfim Ribeiro Guedes (1960-1983), transferido
de Leopoldina onde também tinha sido o primeiro bispo (1943-1960), cuja posse
canônica se deu em 23/7/1960; a instalação da Diocese se deu em 6/11/1960, às 9
horas, na Matriz de Nossa Senhora do Pilar, perante Dom Oscar de Oliveira,
Arcebispo de Mariana, e o delegado do Núncio Apostólico no Brasil, Dom Armando
Lombardi.
O
desmembramento de Mariana correspondeu a uma aspiração de toda a comunidade
católica são-joanense e das cidades circunvizinhas.
Na
bula papal do Papa João XXIII constava que fosse dispensada atenção especial à
criação de um seminário, que nasceu já no ano seguinte com a denominação de
“Seminário Menor São Tiago” (nome escolhido devido à devoção espanhola ligada a
Nossa Senhora do Pilar), ainda hoje em atividade. A fim de fazer jus à existência de
uma nova Diocese, também são dignas de menção as seguintes obras implementadas
por Dom Delfim: organização da Cúria Diocesana, criação da paróquia de São
Francisco de Assis, fundação do Mosteiro de São José, do Instituto da S.S.
Trindade, do ginásio São João Evangelista, etc. É claro que seus sucessores – Dom
Antônio Carlos Mesquita (1983-1996), Dom Waldemar Chaves de Araújo (1996-2010)
e Dom Frei Célio de Oliveira Goulart o.f.m. (2010) – deram continuidade a seu
profícuo trabalho, mas a abordagem de suas obras escapariam ao objeto do
presente trabalho.
NOTA EXPLICATIVA
¹ A 9/2/1963, o Papa João XXIII conferiu ao são-joanense Cônego Almir de Rezende Aquino, vigário da paróquia de Nossa Senhora do Pilar, o título de Monsenhor. Foi empossado vigário em 04/04/1948, permanecendo vigário de Nossa Senhora do Pilar da terra natal até 16/01/1967.
NOTA EXPLICATIVA
¹ A 9/2/1963, o Papa João XXIII conferiu ao são-joanense Cônego Almir de Rezende Aquino, vigário da paróquia de Nossa Senhora do Pilar, o título de Monsenhor. Foi empossado vigário em 04/04/1948, permanecendo vigário de Nossa Senhora do Pilar da terra natal até 16/01/1967.
10 comentários:
Tenho o prazer de remeter-lhe minha "Reminiscência dos Preparativos para a Instalação da Diocese de São João del-Rei" no início de 1960, como partícipe das solenidades religiosas que culminaram com a posse canônica de Dom Delfim Ribeiro Guedes a 23/07/1960 e a instalação da Diocese ocorrida em 6/11/1960, às 9 horas, na Matriz de Nossa Senhora do Pilar, perante Dom Oscar de Oliveira, Arcebispo de Mariana, e o delegado do Núncio Apostólico no Brasil, Dom Armando Lombardi.
Meu caro Braga.
Seu texto me trouxe lembranças de vivências da época. Em 1960 eu tinha 8 anos de idade, as missas eram em latim e o ritual era outro, do qual não consigo lembrar-me de detalhes. O Concílio Vaticano II, que modernizou o ritual das missas, se ainda me lembro, terminou já no papado de Paulo VI, pelos idos de 1965. E, aqui lendo Dom Delfim Ribeiro Guedes, me veio uma agradável lembrança, dos tempos de criança no qual, num determinado momento da missa eram solicitadas orações "para nosso bispo Dom Delfim Ribeiro Guedes"... Há quase 50 anos eu não ouvia esse nome. Obrigado por trazê-lo às minhas recordações. Abraço do CLARET.
Olá Braga:
Um ano depois, em 1961, Nova Friburgo foi elevada a diocese, pelo mesmo João XXIII. Desmembrada da diocese de Campos. Eu presenciei certos eventos, como a chegada do Bispo. Nada de pajens. Só uma turba aos gritos e aplausos. O bispo novel fez história: Dom Clemente José Isnard. Qdo S. Exª. chegou, lembro-me de que estávamos reunidos, ao ar livre, em algum lugar(?) de Friburgo. E todo o mundo gritou: "EEEEEEHHHHHHH!!!" e aplaudiu.
Só para vc sentir a cepa de que era feito esse bispo, vou lhe contar o último de seus feitos. Estava eu em Passa Quatro, por volta de 2005/6. Dom Clemente, já idoso, tinha-se aposentado e retornara ao claustro, acho que naquele belíssimo mosteiro do Rio. Era beneditino.
Veja só: estavam vendendo e comentando, nessa ocasião, lá em Passa Quatro, um livrinho, um opúsculo, recém publicado por Dom Clemente. Eu o li, na varanda da Pousada. Vi que o bispo emérito defendia idéias singulares. Duas delas...o casamento de padres e a aceitação dos divorciados na comunidade católica.
O mais interessante é como ele termina o livro. Antes de o livro ser publicado, escreve D Clemente que foi chamado pelo abade a uma audiência. Nesta o adade lhe censurou as opiniões, dizendo que ele não deveria publicar tais idéias, pois poderiam abalar sua ilibada reputação, construída com tanto zelo, durante sua jornada como bispo de Nova Friburgo, e também reconhecida por tantos fiéis etc, etc.
Resposta de D. Clemente:
--"Nesse momento não tenho superior aqui, meu superior é o Papa". E publicou.
Esse era D. Clemente Isnard.
Abçs
Celeste
Meu caro Braga.
Seu texto me trouxe lembranças de vivências da época. Em 1960 eu tinha 8 anos de idade, as missas eram em latim e o ritual era outro, do qual não consigo lembrar-me de detalhes. O Concílio Vaticano II, que modernizou o ritual das missas, se ainda me lembro, terminou já no papado de Paulo VI, pelos idos de 1965. E, aqui lendo Dom Delfim Ribeiro Guedes, me veio uma agradável lembrança, dos tempos de criança no qual, num determinado momento da missa eram solicitadas orações "para nosso bispo Dom Delfim Ribeiro Guedes"... Há quase 50 anos eu não ouvia esse nome. Obrigado por trazê-lo às minhas recordações. Abraço do CLARET.
Agradecemos pelo envio.
Abraços
Mario
Há fatos marcantes na nossa história e de nossa comunidade, que vale serem relembrados.
Fernando Teixeira
Muito interessante a retrospectiva da criação da diocese, bem como a citação dos diversos órgãos centralizados em SJDR.
Assim que puder, vou conhecê-los.
Bom dia, prezado Braga!
Como sempre, matérias de relevância de sua lavra para a memória de nossa cidade.
Desejo a você e a Rute ótima semana.
Abraços.
Bosco.
Parabéns, Francisco, por mais este magnifico texto.
Prezado,
Belíssimo.
Parabéns!
Ruth.
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