quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Colaboradora: LÉA SAYÃO


Por Francisco José dos Santos Braga


LÉA SAYÃO (Carvalho Araújo) era natural de Belo Horizonte, onde nasceu em 23 de novembro de 1927, segunda filha de Bernardo Sayão Carvalho Araújo e Lygia Mendes Pimentel Carvalho Araújo (filha de Francisco Mendes Pimentel e Áurea), cujo casamento ocorreu em 16/10/1925. Sua irmã mais velha: Laís. Órfãs de mãe, Bernardo Sayão criou suas filhas para amar e conhecer as fronteiras de seu País e trabalhar a seu lado nas selvas, enquanto ele se dedicava à abertura de novas rotas através das ínvias matas da "Marcha para o Oeste". Enquanto suas amigas "debutavam no Rio, Léa se aventurava nas selvas, banhando-se nas águas frias do rio das Almas, indo a uma roça buscar mamão e algumas vezes uma abóbora, para a refeição da família. Eu me lembro muito bem de Léa sentada num tronco seco debaixo de uma barraca coberta de capim, ensinando os cansados trabalhadores a ler e a escrever, sob a luz de uma lamparina de querosene", escreveu Joan Lowell no prefácio do livro de Léa, "Bernardo Sayão em Quadrinhos".

Após a morte de Lygia, sua primeira esposa, Bernardo Sayão casou a segunda vez com a amazonense Hilda Fontenele Cabral em 25/10/1941. Desse casamento, nasceram Fernando Carvalho Araújo, Bernardo, Lia e Lílian. Em 1952 Laís casou com um diplomata e se mudou para Nova Iorque, enquanto Léa escolheu acompanhar o pai que sempre viajava na frente para novas missões: delinear o mapa da colônia agrícola de Ceres-GO (onde Léa ensinava a crianças e colonos) e desbravar a estrada Belém-Brasília (enquanto Léa seguiu para a Nova Capital com o objetivo de sedimentar as sementes do saber e fundar diversas entidades filantrópicas). Ela, ao acompanhar seu pai em suas missões, viveu em acampamentos construídos às pressas, ensinou peões a ler e a escrever, viajou em canoa, passou fome e frio e foi uma das poucas brasileiras que podiam proclamar com orgulho: "Vi nascer a estrada Belém-Brasília, a principal rodovia do País", "Vi nascer e crescer Brasília", cidade que ela amava com todo seu coração. Inteligente, trabalhadora, corajosa, simples, educada, culta e patriótica, pode-se dizer que Léa era uma autêntica pioneira da Nova Capital. Foi muito verdadeira quando escreveu um livro bilíngue ilustrado, intitulado "Brasília, eu te amo, Brasília, I love you" .

Ainda em 1952, Léa teve a sua primeira atuação "política", ao fundar em Anápolis a Liga Social Feminina, entidade filantrópica de amparo à infância desvalida. É extensa a lista das entidades filantrópicas que ou fundou ou ajudou a fundar. Por exemplo, ajudou a fundar vários partidos políticos do DF, contribuiu para a fundação da Associação dos Seresteiros do DF, Associação de Imprensa de Brasília, ANE-Associação Nacional de Escritores, Sindicato de Jornalistas do Estado do Rio de Janeiro, International Women' s Club Rio de Janeiro, APE (Brasília-DF), Pestallozzi (Brasília-DF), Casa da Mãe Preta, Liga Social de Brasília, Associação Cristã Feminina de Brasília, quando fundou e trabalhou durante cinco anos com creche e cursos. Dizia-se magoada com determinada diretora que a sucedeu, por ter abandonado um terreno no setor de grandes áreas que ela (Léa) havia conseguido. Junto, de cambulhada, perderam-se barracos, bibliotecas, máquinas de costura e de datilografia. Também foi Assistente Social do Projeto Terceira Idade.

Foi admitida no Senado Federal em 1961. Secretariou os seguintes Senadores: Juscelino Kubitschek (MG), Gilberto Marinho (RJ), Benedito Valadares (MG), Domício Gondim (PB), Osires Teixeira (GO), Eurico Rezende (ES), Moacyr Dalla (ES), Marcondes Gadelha (PB) e Olavo Pires (RO). Em 1989, aposentou-se e passou a trabalhar com serviços sociais, fundando com o apoio do Governo a Escola Agrícola Bernardo Sayão em São Sebastião do Distrito Federal. 

Foi casada com Milton Propício de Pina, que faleceu cedo deixando-a responsável pela educação de seus dois filhos, Milton de Pina Júnior (economista residente no Rio de Janeiro) e Bernardo de Pina (excepcional), que fazia questão de ser chamado por "Dr. Brama". Júnior, como costumava chamar o primeiro, deu-lhe duas netas (Júlia e Alice Matos de Pina) que lhe deram muita alegria. Também criou Léa um filho adotivo que aparecia, principalmente, no seu aniversário, no apartamento 206 do Bloco F da SQS 107, em Brasília, onde ela residia. 

Léa fez questão de fazer a seguinte dedicatória a mim, em seu livro "Nosso Melhor Amigo" (o cão, "o único que não faz cachorradas na vida!", costumava dizer), para crianças, com o qual conquistou o 1º prêmio como livro documentário sobre o cão na Academia Internacional de Ciências e Letras de MG. Assim escreveu na dedicatória a mim: "Ao grande pianista Francisco Braga, esperando que algum dia você tenha um amigo inigualável, um 'au-au' na sua vida. Com um abraço afetuoso, Léa Sayão. Brasília, 28/08/1999."

Mas Léa Sayão considerava mesmo sua grande obra o seu livro "Meu pai, Bernardo Sayão", onde ela se revela boa historiadora. Convém lembrar que ela era membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.  O exemplar de "Meu pai, Bernardo Sayão" que possuo é o da 6ª edição, de 2004, publicado pelo Centro Gráfico do Senado, reconhecendo a importância dos trabalhos realizados por Bernardo Sayão e colaborando, com essa iniciativa, para a sua divulgação para as futuras gerações. Dirigindo-se aos caros leitores, na introdução, Léa Sayão deixou claro que tinha a pretensão de que esse livro "levasse aos jovens de alta têmpera, do amanhã, a palavra de fé, de um grande exemplo em vida real." E finalizou sua mensagem de forma lapidar: "Papai não nos deixou fortuna, mas sim a maior de todas as heranças: UM NOME HONRADO."

Como amante da cultura popular e destacada carnavalesca que era, tinha um compromisso marcado e improrrogável, que consistia no seu desfile na ala das Baianas da Estação Primeira da Mangueira, no Rio de Janeiro. Até o Natal, Léa precisava ter colocado seus compromissos de Brasília em dia, porque no Ano Novo sua atenção se voltava inteiramente para o Carnaval e sua adorada Mangueira. E ninguém a segurava mais em Brasília. Era divertido vê-la despedindo-se das amigas, entrando em seu "carrão" com seus cãezinhos e Dr. Brama. Seguia ela para a sua residência no Rio: rua Gustavo Sampaio, nº 358, aptº 304, Leme. A cerca de 1.200 km de distância.

Léa foi também uma grande organizadora e perfeita animadora de festas. Algumas delas se realizavam em sua residência (apartamento 206 do Bloco F da SQS 107), especialmente as que comemoravam as datas natalícias de Léa e Dr. Brama. Também dignas de rememorarmos aqui foram: 
• festa em homenagem à compositora brasileira Chiquinha Gonzaga,  na Churrascaria do Lago, em Brasília, inicialmente prevista para realizar-se em 16 de outubro, foi remarcada para o dia 29 de outubro de 1999, com minha participação ao piano digital da "Casa do Poeta Brasileiro-Poébras-Seção Brasília", adquirido "ad hoc", sob a minha orientação, pelos membros do sodalício, fruto de uma "ação entre amigos" sob a presidência da saudosa e inesquecível poetisa Maria de Lourdes Reis, autora de "Neco primeiro e único".






















• comemoração do 40º aniversário da Rodovia Bernardo Sayão (nova denominação dada  à Rodovia Transbrasiliana ou Belém-Brasília pelo Decreto nº 47.763, de 02/02/1960, do Presidente JK, publicado no D.O. de 05/02/1960), nas instalações do Senado Federal.

• solenidade realizada no Catetinho em 14/09/2002 para entrega de Medalhas do Primeiro Centenário de Nascimento de Bernardo Sayão.

Em todas as festas, Léa Sayão primava pelo bom gosto, sendo excelente anfitriã, estando sempre rodeada de muitos amigos.

Fui convidado por minha amiga a animar algumas dessas festas, tocando no piano digital acima referido. Eis o registro de uma das festas, ocorrida em 08/04/2000, comemorando o 44º aniversário do Dr. Brama, no salão de festas do Bloco C da SQS 109 (onde residia a presidente da Casa do Poeta Brasileiro, seção DF), que animei naquele magnífico instrumento, comprovado por programa que guardo com carinho:





















Os livros publicados por Léa Sayão foram, pelo menos, os seguintes, que possuo: 
Meu pai, Bernardo Sayão, Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 2006, 591 p.

 Bernardo Sayão em Quadrinhos, Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 2004, 96p.

 Nosso Melhor Amigo, [s.n.], Brasília, 1992, 76 p.

 Mãe Preta: Casa da Mãe Preta-Núcleo Bandeirante-DF, [s.n.], Brasília, 1992, 69 p.

Léa Sayão se despediu da sua vida terrena aos 8 de outubro de 2011. Viveu uma existência muito digna e fez inúmeros amigos fiéis, entre os quais nos incluímos minha esposa Rute Pardini e eu.

Crédito pelas imagens: Rute Pardini.

(Texto da autoria de Francisco José dos Santos Braga, publicado em 01/08/2015 no Blog do Braga com o título de VIVAS A LÉA SAYÃO!, link: http://bragamusician.blogspot.com.br/2015/08/vivas-lea-sayao.html, levemente modificado para ser utilizado como biografia da nova colaboradora póstuma)

3 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Escrevi um artigo denominado "VIVAS A LÉA SAYÃO" em 01/08/2015 no Blog do Braga, homenageando a melhor amiga durante minha estada em Brasília. Léa deixou muita saudade em muita gente, estou certo. Tinha amigos por toda a parte.
Por exemplo, na data de hoje (23/11/2017), Dr. Adirson Vasconcelos lembra, na sua efeméride nacional e mundial, com saudade, o aniversário de Léa Sayão, que comemoraria seus 90 anos de vida em grande estilo, com muitos amigos, caso ainda estivesse entre nós.
Devido ao incentivo do grande historiador brasiliense, pensei em prestar uma nova homenagem à saudosa amiga Léa Sayão neste seu 90º aniversário, desta vez através de seus próprios textos, incluindo-a como colaboradora do Blog de São João del-Rei.

Danilo Carlos Gomes (cronista, escritor e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal) disse...

Prezado Francisco Braga, D. Lea Sayão merece todas as homenagens. Enquanto vivia e póstumas. Filha do grande Bernardo Sayão, herói da epopéia de Brasília e contemporâneo da saga de Juscelino Kubitschek de Oliveira, o imortal JK. Creio que ela era irmã da poetisa mineira ( que morou em Mariana) Carminha Gouthier, casada com o Dr. Hugo Gouthier, Juiz de Direito lá. Parabéns pela homenagem que o nosso caro historiador Adirson Vasconcelos suscitou.Associo-me às justas homenagens à sua amiga e benfeitora.

Anônimo disse...

Conheci Bernardo Sayão em mha casa em Ceres,Go. Esteve lá em um Jeep, com dois índios Chavantes. Era amigo de meu pai. Papai foi para Brasília trabalhar com Sayão na NOVACAP.Me chamo Maria Tereza,filha de José Marilio Cruzeiro.Hoje resido no Río de Janeiro. Admiradora de Bernardo Sayão pelas histórias que papai nos contava sobre o mesmo.