quinta-feira, 22 de novembro de 2018

DIA DE SANTA CECÍLIA


Por José Lourenço Parreira


O dia 22 de novembro é dia do músico, da música, de sua Padroeira: Santa Cecília. Cecília viveu em Roma, nos primórdios do cristianismo. Bela jovem católica foi entregue, contra sua vontade, em matrimônio ao pagão Valeriano. No entanto, Cecília o converteu. Ambos foram martirizados. Cecília foi decapitada; no entanto, seu corpo está incorrupto num sarcófago nas catacumbas de São Calixto. 

Nos anos 1982, no Rio de Janeiro, Vila Militar, ocorria bela cerimônia em honra da mártir Santa Cecília e em homenagem aos músicos. 

À frente da Banda de Música do Regimento Sampaio estava o Capitão Músico Benigno Parreira, meu querido irmão. 

Com apoio de seus superiores, no dia de hoje, havia a celebração da Santa Missa, abrilhantada pelo Coral do Regimento Sampaio que fora criado pelo Capitão Parreira. Após a Santa Missa, na Avenida diante da Divisão de Exército, a tradicional Divisão Mascarenhas de Moraes, havia apresentação artística por cada uma das Bandas de Música convidadas para o evento: Bandas de Músicas do Exército, da Marinha, da Polícia Militar, da Força Aérea, dos Bombeiros. 

A cerimônia tinha o seu clímax com o desfile monumental. Tendo à frente o Capitão Parreira, desfilavam em honra à Padroeira dos Músicos e em continência ao General Comandante da Divisão de Exército, 700 músicos militares! 

Fantástico espetáculo artístico-castrense, único na História do Brasil! 

Benigno Parreira, atualmente, é o Maestro Honorário da Orquestra Lira Sanjoanense, fundada em 1776. 

Sala de Ensaios Maestro Benigno Parreira, na sede da Orquestra Lira Sanjoanense

A Lira Sanjoanense é a mais antiga orquestra das Américas e segunda mais antiga do mundo, conforme a UNESCO. Seu atual Regente é o Maestro Modesto Fonseca, doutor em Regência, e o jovem violinista Leandro. 

Domingo, dia 18 de novembro, do corrente ano, a Lira apresentou belíssimo Concerto no Teatro Municipal de São João del-Rei. 

Este autor tem a honra de ser violinista-solista da Orquestra Lira Sanjoanense. 

José Lourenço Parreira solando diversas canções comemorativas no Dia da Artilharia com festa regional  do CMO

O General de Exército Raul Silveira de Mello, maior autoridade em Historiografia no século XX, escolheu José Lourenço Parreira para ser o autor da melodia de seu belo poema, a "Canção do Bom Soldado". Referida Canção foi brilhantemente cantada pelo Batalhão Laguna, o 44º Batalhão de Infantaria Motorizado, com sua magistral Banda de Música, com sede em Cuiabá-MT. Atualmente, seu Comandante é o Coronel Nilberti Viana Gramosa.

 MARCHA FÚNEBRE SAUDADES

Há mais de 50 anos, nos anos 50, o jovem Sargento Benigno Parreira compôs a Marcha Fúnebre Saudades, tendo ofertado cópias de sua obra às Bandas de São João del-Rei (Banda do Batalhão, Banda Teodoro de Faria) e às Orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos. Benigno Parreira também deu cópia de "Saudades" para a Banda da Prefeitura que a tem executado todos os anos.

Da esq. p/ dir.: pianista e compositor Francisco Braga; compositor, regente, clarinetista e dotado de voz privilegiada de baixo profundo, Benigno Parreira; e este autor, violinista José Lourenço Parreira
Sua primeira apresentação universal deu-se num sábado da Quaresma, aquele em que a Irmandade dos Passos realiza o Depósito das Dores, quando a Imagem de Nossa Senhora das Dores é conduzida no andor, velada, da Matriz do Pilar para a Igreja da Venerável Ordem do Carmo. 

Conforme antiga tradição, em procissão, o Depósito das Dores é acompanhado pela Banda de Música Teodoro de Faria que "invariavelmente" executa, nesse traslado, a Marcha das Dores. Não sabemos o porquê, mas nesse ano o Maestro Teófilo Inácio Rodrigues (Sô Tiofo) decidiu quebrar tradição e acompanhou a Imagem de Nossa Senhora das Dores, tocando a Marcha Saudades de autoria de Benigno Parreira! 

Naquele ano, também, ocorreu de a Banda do Batalhão ser convidada para tocar no Depósito das Dores! A Banda do Batalhão tinha à frente o Ten Alberto Wilson de Castro. A Banda ficou na confluência da rua Resende Costa com a Rua Direita, defronte ao belo templo de Nossa Senhora do Carmo. Os sinos do Carmo tocam mais celeremente anunciando que a Procissão do Depósito se aproxima e os irmãos do Carmo saem da Igreja para se encontrarem com a Procissão dos Irmãos dos Passos e, assim, receberem a Imagem que pernoitará na Igreja do Carmo... 

Pois bem, a Rua Direita está tocada pelos acordes da novel Marcha Saudades que ninguém ouvira e, no entanto, tocava a sensibilidade de todos! Eis que, nesse clímax do encontro das duas Irmandades, a Banda do Batalhão estremece o solo, as paredes do casarão, atinge os corações e começa a vibrar, também, a Marcha Saudades de autoria do Sargento Parreira que, emocionado, está tocando a sua clarineta... 

Foi assim, a primeira audição mundial, a primeira vez que Saudades foi executada: no Depósito das Dores, pela Banda Teodoro de Faria que quebrou a tradição e a Banda do Batalhão que, excepcionalmente, naquele ano, foi convidada a tocar no referido Depósito! 

O tempo passou, e, paulatinamente, "Saudades" caiu no gosto dos artistas e do povo fiel! Na quaresma, tanto a Lira como a Ribeiro Bastos tocam Saudades em várias solenidades sacras... Neste ano de 2018, a Ribeiro Bastos tocou "Saudades" em vários dias do Setenário das Dores! A Lira, orquestra do compositor, sempre a toca na Quaresma... 

Observe que Saudades foi executada nos funerais do querido e saudoso Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva e Aluízio José Viegas. Nas exéquias do Aluízio eu estava presente. O féretro saiu da sede da Lira e entrou na Catedral. Quando Modesto Fonseca começou a reger Saudades, eu toquei molhando em lágrimas o meu violino! 

No Domingo do Encontro, virou tradição a Banda do Batalhão tocar na Rasoura do Senhor dos Passos, na Igreja de São Francisco. 

O ilustre historiador e escritor Antônio Gaio Sobrinho escreveu, num seu artigo publicado na GAZETA que a Marcha Saudades de Benigno Parreira equivale a uma bela homilia... *

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Certa vez, estávamos Aluízio Viegas, Benigno Parreira e eu ali atrás da Catedral Basílica de N. S. do Pilar conversando, quando chegou um moço muito educado. Dirigiu-se a Benigno Parreira dizendo-lhe: "Maestro estou fazendo minha Tese de Doutorado e elegi como Tema as Marchas Fúnebres. Poucos são os compositores que compuseram duas Marchas Fúnebres. O senhor é um desses poucos. Descobri, também, que Saudades é a Marcha Fúnebre mais tocada em todo o Estado de Minas Gerais, ao lado da Marcha da Paixão. Como a da Paixão é só na Sexta-Feira, Saudades é a mais tocada..." 

Aluízio José Viegas (⭐︎São João del-Rei, 26/03/1941-✞Nova Lima, 27/07/2015)
Meu irmão, meio surdo, depois me perguntou o que aquele senhor dissera. Falei-lhe e Benigno, a humildade em pessoa, disse: "Engraçado, obra tão simples. Quem será que mandou cópias para outras cidades?" 

O nome do pesquisador, hoje doutor, é Edésio de Lara Melo. Seu trabalho está em pdf na internet. 


* Cf. Divina Música, por Antônio Gaio Sobrinho in https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2018/02/divina-musica.html

10 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Ontem, dia 22 de novembro, dia dedicado a Santa Cecília, padroeira dos músicos, e, por extensão, Dia do Músico, recebi, como se faz todos os dias, a mensagem contida no Evangelho Cotidiano, produzido pelo Capitão JOSÉ LOURENÇO PARREIRA, que sutilmente lembra a seus leitores algumas verdades eternas que muitas vezes nos passam despercebidas. Coincidentemente, o texto que lhes apresento no Blog de São João del-Rei, objeto deste post, constava ontem do referido Evangelho Cotidiano. Escrevi a seu autor solicitando autorizaçào de publicá-lo para fazer uma merecida e justa homenagem a seu digno irmão, BENIGNO PARREIRA, compositor, clarinetista, regente e cantor dotado do privilégio de ser baixo profundo, residente em São João del-Rei e recebi dele uma comovente receptividade assertiva. Assim sendo, aos que ainda não conhecem a produção diária evangelizadora de Lourenço, apresento o texto da sua autoria homenageando a obra musical de seu irmão Benigno, uma espécie de Menção Honrosa concedida por seu irmão àquele que já angariou, em diversas ocasiões, títulos e menções honrosas ao longo de sua vida profissional e musical, merecendo deste Blog o destaque e projeção nacionais - e por que não internacionais? - deste seu trabalho em prol da boa Música.

TEXTO: DIA DE SANTA CECÍLIA
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2018/11/dia-de-santa-cecilia.html

SOBRE O AUTOR JOSÉ LOURENÇO PARREIRA
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2018/11/colaborador-jose-lourenco-parreira.html

Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei

Paulo Sousa Lima disse...

Parabéns, confrade Francisco Braga, pela divulgação desse belo texto e história. São João Del-Rei tem mesmo muitas histórias para contar.

Dr. Paulo Milagre (corretor de imóveis, escritor, membro e ex-presidente da Academia Divinopolitana de Letras) disse...

Parabéns pelo Dia do Músico.

Elisa Freixo (organista titular dos órgãos históricos das cidades mineiras de Mariana e Tiradentes e organizadora de programas especiais para divulgar a boa música a interessados, iniciantes ou amadores) disse...

Obrigada pelo envio de tanto material interessante.

Abraço, Elisa

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (professor universitário, desembargador do TJMG, escritor e membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

SALVE!

Adirson Vasconcelos (advogado, administrador, professor, jornalista, acadêmico de diversas Academias, autor de mais de 30 livros, Conselheiro de Cultura do DF) disse...

Gratíssimo, estimado Francisco Braga. Associo-me a você e a todos nesta Homenagem ao Mérito.
o Adirson Vasconcelos.

Eudóxia de Barros (insigne pianista, concertista e membro da Academia Brasileira de Música) disse...

Muito bom !
Obrigada, cordialmente !
Eudóxia .

Dr. Mário Pellegrini Cupello (escritor, pesquisador, presidente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ, e sócio correspondente do IHG e Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Caro amigo Braga

Acabamos de chegar de Juiz de Fora e encontramos o seu e-mail “Dia de Santa Cecília”, que leremos em seguida: parece um tema muito interessante. Agradecemos pelo envio.

Abraços, dos amigos Mario e Beth.

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga.
Muito justa sua publicação que destaca a figura desses irmãos ligados também pelo amor à música. Pessoalmente me ocorre uma curiosidade; minha esposa - que é mineira do "Triângulo" - nasceu no dia de Santa Cecília, era para ter esse mesmo nome, e sua família pelo lado materno é a dos "Valerianos".
Agradecido.
Cumprimentos, Cupertino.

Diamantino Bártolo (professor universitário Venade-Caminha-Portugal, gerente de blog que leva o seu nome http://diamantinobartolo.blogspot.com.br/) disse...

Bom dia
Estimado Francisco Braga.
Muito obrigado pelos belos textos.
Abraço.
Diamantino Bártolo