domingo, 3 de fevereiro de 2019

FRANCISCO DE LIMA CERQUEIRA


Por Luís de Melo Alvarenga



Muitos dos grandes artistas dos fins do século XVIII e princípios do XIX ainda continuam desconhecidos ou são lembrados por um pequeno número de estudiosos. 

Duas causas para isso têm concorrido, aqui em Minas: primeiro, a falta de pesquisas nos arquivos, pois somente de alguns anos para cá se têm feito buscas mais detalhadas e minuciosas nos velhos livros das Igrejas e Irmandades, assim como nos arquivos municipais. A segunda causa foi o endeusamento do grande e lendário "Aleijadinho". Toda obra de arte, principalmente em pedra, era logo atribuída a esse genial artista, não admitindo os seus admiradores que se pudesse atribuir qualquer grande e portentosa obra de arte que não houvesse saído de seu escopro e martelo. 

Desde menino sempre ouvi dizer que a Igreja de S. Francisco de Assis de minha terra era obra sua, assim como a do Carmo, mas pelos assentamentos encontrados nos livros de deliberações das mesmas Ordens sabemos que isso não é verdade. 

O autor dessas duas grandiosas Igrejas foi o mestre pedreiro e canteiro português FRANCISCO DE LIMA CERQUEIRA, coadjuvado na de São Francisco, por um grande artista sanjoanense, ainda desconhecido, o Alferes Aniceto de Sousa Lopes, e na de N. S. do Carmo pelo mestre Agostinho Gonçalves Pinheiro. 

Francisco de Lima Cerqueira nasceu na freguesia de S. Mamede da Parada do Monte, Termo de Valadares, Comarca de Valença, pertencente ao Arcebispado de Braga, em princípios do segundo quartel do século XVIII. 

Era filho legítimo de Antônio Bento e D. Isabel de Cerqueira. O nome de sua mãe na cópia do testamento existente em livro da Matriz, pelo mesmo deixado, está escrito Siqueira, enquanto que na sua carta patente de Irmão da Ordem de N. S. do Carmo está Serqueira. 

Tinha quatro irmãos: Manuel Bizides de Brito, José Bizides de Lima, Antônio Bizides e Domingos Bizides, todos moradores em Portugal. 

Trabalhou por alguns anos em Ouro Preto e Congonhas do Campo. 

Em Ouro Preto trabalhou em diversas obras de valor e arrematou outras, em que além de contratar bons auxiliares entrava também com o seu serviço pessoalmente. 

Arrematou a feitura dos serviços de cantaria e talha da Igreja de N. S. do Carmo de Ouro Preto. 

Diz Francisco Antônio Lopes, no volume que escreveu para o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, "História da Construção da Igreja do Carmo de Ouro Preto" que "reza a tradição que a talha do Pórtico do Carmo e a Fonte da Sacristia são devidas a Antônio Francisco Lisboa, o "Aleijadinho"." Acreditamos que Lima Cerqueira tem algum serviço nesta obra, mas é bem possível que tenha contratado o "Aleijadinho" para a maior parte da mesma, pois pouco tempo, isto é, três anos depois, mudou-se para São João del-Rei, a fim de se encarregar, como Mestre, da feitura da Igreja de São Francisco de Assis, onde os Mesários o foram buscar pessoalmente. 

Sòmente de quando em vez ia a Ouro Preto tratar de seus negócios, pouco se demorando. 

A sua ausência mais demorada de São João del-Rei, foi a que realizou em setembro de 1778, quando se deixou ficar por lá durante quatro meses, pois estava de volta em janeiro de 1779. ¹ 

Francisco de Lima era afamado mestre em Ouro Preto juntamente com José Pereira Arouca, arrematante da Igreja de S. Francisco de Mariana, Antônio Francisco Lisboa, o "Aleijadinho", João Alves Viana, José Antônio de Brito, José da Silva Pereira e outros. Eram ouvidos como louvados e davam pareceres sobre os riscos e orçamentos das principais obras. 

O nosso biografado antes de arrematar as obras de talha e cantaria da Igreja do Carmo de Ouro Preto, em julho de 1771, foi procurado por seu colega Arouca, em Congonhas, onde se achava trabalhando, para dar parecer sobre os riscos e as condições em que deviam ser feitas as mesmas obras de cantaria e talha. 

Respondendo a essa consulta enviou uma carta acompanhando duas figuras (como disse) e justifica que "não vão revestidas com sombras porque não tenho cá preparos para isso", o que demonstra o seu conhecimento de desenho e planta, o que mais tarde provou por ocasião da construção da Igreja de São Francisco de Assis de São João del-Rei, onde "fizera o officio de arquitecto tirando novas plantas e novos desenhos como na mesma obra se vê." ² 

A magnífica obra de arte que é a Igreja de S. Francisco, de S. João del-Rei, é trabalho seu, pois, como disse em seu testamento: fui "Mestre da ditta obra, ... e a pús no estado em que se acha." 

Pode-se dizer que é de sua autoria todo o trabalho de talha mais fino e bem feito desta Igreja, pois quando em setembro de 1785 quis exonerar-se do cargo de mestre e de mestre de lavar, por se sentir adoentado, foi pela Mesa recusado seu pedido e declaram que: "continuasse o mesmo Irmão Francisco de Lima debaixo do mesmo ajuste na administração da obra, tanto a de pedra como a de madeira zelando e promovendo todo o augmento da mesma como fazia delle sempre se esperava com a condição de fazer por suas mãos toda a Lavrage do seu officio que fosse mais mimosa, e superior a capacidade dos outros officiaes." 

Nesse mesmo termo de deliberações de 11 de setembro de 1785 se faz referência ao risco da mesma Igreja feito por Antônio Mrz- (este Mrz-, Martins, está riscado e a margem com outra letra escrito - Fran.co Lx.a, mas mais abaixo quando se torna a falar no autor da planta primitiva lá está novamente Mrz, sem ser riscado) e que deve ter desta data em diante um suplemento com as modificações prescritas pelo Mestre Francisco de Lima Cerqueira, como se deu quando trataram da mudança de óculos para frestas grandes.

Foto de antigo documento em que o nome de Antonio Martins 
aparece riscado e substituído pelo do "Aleijadinho"
Desta correção, visivelmente feita por outra pessoa que o autor do termo, querem alguns que a planta da Igreja tenha sido do "Aleijadinho" a fim de que assim tenha esse admirável esteta da pedra alguma parte nesta "epopeia da pedra", a mais bela e bem acabada das suas congêneres, principalmente em sua portada rica de ornatos. 

Será mesmo do "Aleijadinho" o risco? 

Outros dizem que por ter sido mulato Antônio Francisco Lisboa, não figura o seu nome nos livros da Ordem de S. Francisco, pois só admitiam brancos em seu meio, mas isso não nos parece argumento razoável porque, neste mesmo livro a folhas 144 verso, encontra-se o termo de ajuste feito com o Alferes Aniceto de Sousa Lopes - que era pardo - para terminar as obras da capela, depois da morte de Francisco de Lima. 

Não será a planta da Igreja de S. Francisco de S. João del-Rei do pintor e desenhista Antônio Martins Silveira, autor dos painéis do presbitério da Capela do Seminário Menor de Mariana? 

Lima Cerqueira, como não mais desejava sair de S. João, em 13 de janeiro de 1788 transferiu a sua patente de Irmão da Ordem do Carmo de Ouro Preto para a daqui. 

Religioso como era, tornou-se também irmão de S. Francisco de Assis, do SS. Sacramento em 9 de abril de 1801 e de S. Miguel e Almas. 

Na Ordem de S. Francisco exerceu por muito tempo o cargo de Procurador Geral. 

Grande entusiasmo e dedicação teve com a construção da Igreja de S. Francisco, a ponto de, como Procurador Geral e Mestre das obras da mesma, despender todo o seu dinheiro, tendo a Ordem chegado a lhe ficar devendo quantia superior a seis mil cruzados. 

Quando iam adiantadas as obras, teve, por causa de uma cobrança que fez, uma desavença com a Mesa. Por haver cobrado e reclamado também do Ordinário a cobrança de sua dívida, alegaram os Mesários estar ele devendo à Ordem, mas não responderam a carta que Lima Cerqueira escreveu pedindo a conta, pois não tinha dela conhecimento. A diretoria da Ordem, a pretexto de alcances em testamentarias, promoveu sequestro em seus bens, em setembro de 1805, sendo, nesta ocasião, socorrido pela Ordem do Carmo, que, atendendo aos bons serviços prestados à mesma, à construção da fachada de sua Igreja e a esmolas dadas, lhe deu casa e comida. 

Aos 13 dias do mês de dezembro de 1787 a Ordem do Carmo, dando cumprimento ao resolvido na reunião da véspera, isto é, de se edificar uma fachada condigna, chamou, em definitório, o mestre Francisco de Lima Cerqueira a fim de com o mesmo combinar o ajuste, que foi feito, de administrar, reger e determinar "tudo o que for a bem da dita obra com forme a planta e risco que melhor for, e pareçer mais acertado pra a formozura do Fronte espicio Torres e omais que pertencer a dita obra", do mesmo modo com que vem agindo na construção da igreja de S. Francisco." Para esse ajuste foi-lhe oferecida a quantia de cento e sessenta mil réis (Cr$ 160,00) por ano, mas, ficou resolvido que, quando ficasse só por conta das obras da igreja do Carmo, novo ajuste fariam de acordo com o seu novo trabalho. 

A construção das torres desta igreja foram objetos de vários deficitários. 

Três anos depois do ajuste, em 1790, em reunião de 1º de agosto, resolveram que as torres fossem quadradas, mas como os alicerces já estivessem feitos para redondas, de acordo com o risco, chamaram novamente o Mestre Cerqueira e o Mestre entalhador Luís Pinheiro. 

Nesse definitório ficou resolvido, devido às dificuldades, que se fizessem mesmo redondas e foram tomadas mais as seguintes resoluções: as torres serão "mais altas pª melhor perfeição"; o pé direito da fachada mais alto 4 palmos ou o que for conveniente; que a cantaria seja da Candonga; que as escadas das torres sejam de cantaria com pião ôco; mudar as Armas da Ordem, pondo-as no remate da porta principal. 

Em dezembro deste mesmo ano ficou resolvido em definitivo que as torres seriam oitavadas porque "ficarão mais vistozas, e engraçadas, no que conveyo o mestre da mesma obra Francisco de Lima Cerqueira que disse o mesmo." 

Em 14 de abril de 1792 teve Francisco de Lima plenos poderes para "q. podesse fazer aquellas couzas, q. entendesse serem convenientes a Obra q. de pez.te se esta fazendo do Fronte espicio da Capela de Nossa Snra. do Monte do Carmo" e como muitas "Couzas senão mostrão no Risco, determinarão, q. elle as fizesse a seu arbitrio, na forma q. entendesse; e asq. se achão no Risco as podesse mudar, ou deminuhir, como julgasse; communicando porem aos Irmãos de Meza." 

Tendo resolvido que a coroa e o remate da porta fosse feito por um risco pequeno e não pelo risco grande, fez reunir os irmãos no dia 6 de maio de 1794. 

Em 1800 está também trabalhando como mestre da obra o mestre Agostinho Gonçalves Pinheiro.

Lima Cerqueira, como na Igreja de S. Francisco, não trabalhou na feitura das torres, pois essas só ficaram prontas depois de sua morte. 

Deve ter tido diversos discípulos e entre eles - achamos - se encontra o artista sanjoanense Aniceto de Sousa Lopes, a quem serviu de fiador na construção da ponte da Misericórdia. 

O Alferes Aniceto de Sousa Lopes nasceu em São João del-Rei, sendo filho de Margarida da Silva. Casou-se no dia 10 de junho de 1792 com Maria Josefa da Costa Batista. É o autor da empena da torre da Igreja de São Francisco de Assis, com seu magnífico trabalho representando S. Francisco recebendo as chagas; da torre e do arco abatido do coro, esta maravilha da engenharia, conforme se lê no seguinte termo, que se encontra no L. 2º a fls. 144 v. 

"Termo de novo ajuste com o Alferes Aniceto de Sousa Lopes official de cantaria sobre a obra da nossa Capella. Aos tres de novembro de mil oitocentos e nove esendo no Consistorio em Meza Definitoria da Nossa Ven.el Ordem compareo presente o Alferes Aniceto de Souza Lopes official de Cantaria e com elle se fez novo (sic) ajuste pª finalizar o resto da obra da nossa Igrª pelo jornal de seis centos e setenta e sinco reis cada dia, sem poder em nenhum tempo alterar o m.mo jornal, trabalhando na mayor altura da dita obra lavrando no telheiro ou em outro lugar acabando pelas suas maons a obra da Impena a da Torre e fazer a do Arco do Coro como tambem tomando debaixo da sua inspeção o governo dos Escravos trabalhadores, e mais officiais com participação ao N. C. Ir. Procurador geral e sua faculdade: tendo vigilante zelo nas ferramentas pertencentes a esta Ven.el Ordem que se lhe entregarão por listas, e responderá pelo que faltar; ao que tudo se obrigou: E pª constar se mandou fazer este Termo assinado por todos com o dº official e eu Joze Ferreira de Souza ex-secretario na ausencia do actual o escrevi. João Ferreira Leite, Comisrº - Luis Antonio de Souza, Minstrº - João Antonio de Olivrª D. F. - Joze Ferreira de Souza, Ex-secretario - Joaq.m Jose de Sz Lessa D. F. - Jose de Souza Dias, Sindico - Custodio Nogueira da Costa D. F. - Aniceto de Souza Lopes." 

Aniceto de Souza Lopes alguns anos mais tarde fez a estátua da Justiça, em pedra, para o Pelourinho da Câmara, estátua esta, hoje muito mutilada e estragada, que se encontra guardada na Prefeitura. 

Francisco de Lima foi escolhido, por unanimidade de votos, Juiz do Ofício de pedreiro para o ano de 1791. Era grande o prestígio de que gozava em S. João, como Mestre, tanto assim que por ocasião da arrematação das obras das duas pontes de pedra: a da Cadeia de arco abatido e a do Rosário de arco pleno, uma das condições estipuladas era serem as mesmas feitas sob a orientação do grande mestre e canteiro português. Francisco de Lima Cerqueira faleceu solteiro, com todos os sacramentos, no dia 27 de setembro de 1808, na então Vila de S. João del Rei e foi encomendado e sepultado na Igreja de S. Francisco de Assis, conforme determinou em seu testamento feito um ano e poucos meses antes de sua morte, no dia 25 de maio de 1807, o qual é do seguinte teor: 
"Eu Francisco de Lima Serqueira, morador nesta Villa de Sam João estando em meu perfeito Juizo e Intendimento que Deos Nosso Senhor me deo e tendo concideração de que sou mortal sem saber a hora que Deos disporá de mim, primeiramente por me achar molesto passo este meo Testamento da Forma seguinte. = Declaro que sou filho legitimo de Antonio Bento e de Izabel de Siqueira ambos fallecidos, natural e Baptisado na Freguesia de Sam Mamede de Parada do Monte, Termo de Valladares Comarca de Vallença e Arcebispado de Braga. = Instituo por meos testamenteiros em primeiro lugar ao Alferes José Antonio da Costa morador nesta mesma Villa, em segundo lugar ao Cappitam João Batista da Silveira em terceiro lugar ao Alferes Manoel Moreira da Rocha, em quarto lugar Antonio Pires Segurado, aos quaes pesso por caridade queirão aseitar esta minha Testamentaria administrando meus bens, com livre e geral administração e se necessario he os constituo meus Procuradores Bastantes em cauza propria; meo corpo será envolto no habito de Sam Francisco de quem sou indigno Irmam e sepultado na sua Capella; o meu Funeral deixo a eleição do meo Testamenteiro e mesmo os suffragios que pello amor de Deos me quizer fazer visto que ao presente me veja distituido de bens, e deixo ao dito meo Testamenteiro quatro annos para dar conta destte Testamento, que será dada com seu Juramento declarando ter cumprido as minhas dispoziçoens. = Declaro que por mam do ditto meo Testamenteiro o Alferes Jozé Antonio da Costa, forão pagas as dividas todas que eu devia as quaes herão poucas, e alguas não ha duvida, as pagou com algua cobrança que fes minha; pois que os mais meus devedores quazi todos puzerão e ainda poem duvida em me pagarem; mas he certo que essas dividas constão de credittos. = Declaro que possuo hum escravo por nome Antonio, de Nação Bangella, o qual depois de trabalhar hum anno he minha vontade fique Liberto... e meo Testamenteiro depois do ditto tempo lhe passará Carta de Liberdade ou lhe sirva estta verba de titullo. = Declaro que por fallecimento de meus Pays toda a legitima que me cobe as mandei desfrutar por meus quatro Irmãos Manoel Bizides de Britto, Jozé Bizides de Lima, Antonio Bizides e Domingos Bizides, igoalmente, e assim o fizerão e he minha vontade se conservem emquanto forem vivos os ditos quatro Irmãos meus. Declaro que nunca fui cazado, em estado de solteiro me tenho conservado, e não tenho herdeiros ascendentes ou descendentes e por isso Livremente posso dispor de meus bens. = Declaro que os Mezarios da Veneravel Ordem terceira de Sam Francisco destta Villa, quando quizerão edificar a mesma Capella da ditta Ordem forão pessoalmente buscar-me a Villa Rica donde me achava, e chegando a estta Villa menpreitarão para ser Mestre da ditta obra, que de facto fui, e a pus no estado em que se acha, e fui muitos annos Procurador Geral da mesma Ordem e dispendi em todo esse tempo o meo dinheiro, em beneficio e creditto della e pagando todos os annos promptamente a minha Propinna e das minhas poçoens se me estão devendo seis mil e tantos Cruzados ou o que constar, e não obstante chamarem os Mezarios da Meza para me pagarem esta quantia, e que por isso eu deveria abatter algua coiza e logo dice que abatia a metade passando-se ahi mesmo, huas obrigação do resto pello longo tempo de doze annos em pagamentos, cuja obrigação não quiz aseitar, dizendo que se abatia a metade e tão grande quantia hera por beneficio da Ordem e para se me dar logo o resto cuja obrigação fis reclamar no Ordinario desta Villa, passando aquelles Irmãos e Ingratidam deme fazerem sequestro em todos os meus bens apretesto de alcances de Testamentarias, quando he certo dever me a Ordem alem das minhas porçoens o que constar por contas do Secretario, e mais clarezas, estando huns em meu poder, e outras junctas aos Autos do Sequestro que o meo Testamenteiro indagará e cobrará o que se me dever, e porque me constou que a mesma Ordem dizia que eu lhe hera devedor, deo isto motivo a escrever aos Mezarios haverá tres mezes parame aprezentar essa conta, a qual eu ignorava, e athe agora se me não aprezentou, e me dizem que o Vigario do Culto divino está incumbido de a tirar; o meo Testamenteiro averigoará pois o que hade constar de clareza. = Declaro que na ocazião que me fizerão o Sequestro eu tinha vinte e tantas oitavas de oiro em pó as quaes não entrarão no Sequestro nem eu as receby athe agora e não sei quem com ellas ficou e assim mais....... ocazião hua caixa com vários e diversos papeis, Livros pertencentes a Testamentaria de Francisco Ribeiro Mendes, entre os quaes forão alguns creditos, e mais documentos e de nada se fez Lembrança nem entrou no sequestro nem sei que papeis forão. Segundo a minha lembrança tambem estava dentro dessa caixa hum credito pella quantia, restava-me o sobretercero da ditta Ordem certa quantia e porque este credito não apareceo, meu Testamenteiro lhe mandará deferir Juramento para declarar se o deve ou não ou se me deve mais algum dinheiro de imprestimo, pois que quando elle carecia de dinheiro me pedia as chaves de minha comoda e levava o que necessitava. = Declaro que sou Irmam da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo desta Villa e Irmam das Almas desta Villa, e do Santissimo Sacramento a quem se pagará alguns anuaes que deva, asim como pagará o meo Testamenteiro algua divida, que inda dever, sem contenda de justiça, sendo pessoa verdadeira. = Declaro, que cumprido o meo Funeral, e sufragios, a eleição do meo Testamenteiro, e paga algua divida que dever do resto dos meus bens instituo por meo universal herdeiro ao ditto meo primeiro Testamenteiro Alferes Jozé Antonio da Costa, e se este for falecido a sua filha por nome Thereza. E nesta forma tenho feito estte meu Testamento, e ultima vontade e o fasso asim por confiar do ditto meo primeiro Testamenteiro que tudo hade cumprir por caridade e amor de Deos, e quero que este valha e inteiramente se cumpra , para o que pesso e rogo, as Justiças de Sua Alteza Real, lhe dem inteiro vigor e para firmeza de tudo mandei escrever este por Antonio Francisco de Almeida e Gama e vai somente por mim assignado. Villa de Sam João - vinte e sinco de maio de mil oitosenttos e sette. = Francisco de Lima Cerqueira = Como testemunha que este fis a rogo do Testador Antonio Francisco de Almeida e Gama. E nada mais se continha em o testamento do sobreditto fallecido, ao qual me reporto e vinha aprovado pello Tabelliam do Publico Judicial e Nottas desta sobreditta Villa, Caetano Jozé de Almeida, em presença das Testemunhas mencionadas Antonio Francisco de Almeida Guimarães, Faz José de Sôza Caetano, Jozé da Silveira, Francisco de Mattos Pinho, Narcizo José de Souza e por ser o próprio aqui o mandei trasladar e por verdade Juro.
O Coadjutor Manoel Antonio de Castro." 

Fonte: Revista Vozes de Petrópolis, maio-junho 1947, p. 362-369. Mais tarde, em 1975, a Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei-Volume II, 1974-1975, às páginas 43 a 71, reproduziu esse artigo revisto e ampliado, com anexos e fotocópias com destaque para a da rasura de antigo documento em que, em vez do nome de Antonio Martins, prevalece o de Antonio Francisco Lisboa, o "Aleijadinho". Ou seja, o sobrenome "Martins" aparece riscado e substituído à margem por "Francisco Lisboa".











AGRADECIMENTO

A Rute Pardini Braga pelas fotos que tirou e editou para os fins desta matéria.

3 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

O Blog de São João del-Rei tem o prazer de publicar mais um trabalho de LUÍS DE MELO ALVARENGA, "Francisco de Lima Cerqueira", um dentre muitos publicados originalmente pela Revista Vozes de Petrópolis. Luís de Melo Alvarenga era natural de São João del-Rei, onde nasceu em 11/03/1902 e onde faleceu aos 87 anos, em 23/11/1989.

Sobre o presente artigo do escritor e historiador Luís de Melo Alvarenga, faço minhas as palavras do escritor e historiador Dr. Paulo Krüger Corrêa Mourão, autor de As Igrejas setecentistas de Minas, que assim se manifestou a respeito do genial arquiteto português que atuou tão brilhantemente em dois templos de São João del-Rei, entre outras obras: “A propósito deste artista (FRANCISCO DE LIMA CERQUEIRA), cujo tempo de atividade coincide com o do "Aleijadinho", cabe ponderar que, em nossa opinião, a história da arte colonial mineira lhe tem sido injusta, não proclamando os seus grandes e incontestáveis méritos, nem realçando a sua grande obra em São João del-Rei, cidade que ele magnificamente embelezou. A razão deste fato advém da sua ofuscação pelo mestre Antônio Francisco Lisboa, cuja grande obra não se circunscreveu a apenas uma cidade, porém, extravasou por extensa região de Minas. O elogio da obra de “Aleijadinho” tomou tais proporções, por parte de nossos críticos de arte, que outras figuras, como a de Francisco de Lima Cerqueira, ficaram injustamente esquecidas. A nosso ver, isso foi um erro deplorável, em desacordo com a imparcialidade e justiça com que devem ser orientados os estudos históricos.” (in O Diário, de Belo Horizonte, sobre As Igrejas setecentistas de Minas, Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1964, 1ª edição)

É, portanto, com pesar que constatamos que Rodrigo M.F. de Andrade não dedicou nenhum capítulo de seu livro intitulado Artistas Coloniais a Francisco de Lima Cerqueira, livro este impresso em 1958 pelo Departamento de Imprensa Nacional atendendo pedido do Serviço de Documentação do MEC.


https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2019/02/francisco-de-lima-cerqueira.html


Cordial abraço,

Francisco Braga

Gerente do Blog de São João del-Rei

Diamantino Bártolo (professor universitário Venade-Caminha-Portugal, gerente de blog que leva o seu nome http://diamantinobartolo.blogspot.com.br/) disse...

Muito obrigado
Estimado Francisco.
Boa semana.
Abraço.
Diamantino

Prof. Fernando de Oliveira Teixeira (professor universitário, escritor, poeta e membro da Academia Divinopolitana de Letras, onde é Presidente) disse...

Grato pelo envio, amigo Braga. Saudação amiga paravocê e esposa. Fernando Teixeira