sexta-feira, 3 de maio de 2019

ARQUIVOS MUSICAIS MINEIROS


Por Aluízio José Viegas


I SIMPÓSIO LATINO-AMERICANO DE MUSICOLOGIA, Curitiba, 10-12 jan 1997. Anais. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 1998, p. 110-130.

Aluízio José Viegas (✰ São João del-Rei, 26/03/1941-✞ Nova Lima, 27/07/2015)


INTRODUÇÃO 


Em Minas Gerais existe um expressivo número de acervos musicais, especialmente de música sacra e de obras para banda. Mesmo após as pesquisas de Curt Lange ¹ e divulgação de seus resultados, muitos desses acervos continuam ignorados, entregues ao esquecimento.

Até princípios do século XX, proliferavam, em Minas Gerais, grupos musicais encarregados de prover a música sacra nas cerimônias religiosas da Igreja Católica. Por menor que fosse a cidade, vila ou lugarejo, ali havia música para a Igreja e, junto desses grupos, a banda de música.

Com as modificações advindas do Motu Proprio de Pio X (1903) ², a grande maioria desses grupos caiu em declínio e muitos encerraram suas atividades, especialmente na utilização do coro e orquestra nas igrejas. Com isso, os acervos musicais sacros, geralmente anexos aos das bandas de músicas, foram relegados ao silêncio, cedendo lugar às músicas recomendadas pelo documento pontifício ³.

Entretanto, muitas localidades continuaram a cultivar o gênero sacro de coro e orquestra até o Concílio Vaticano II (1961-1965) ,  quando então esta prática foi praticamente suprimida. Somente São João del-Rei e as vizinhas Prados e Tiradentes, por um consenso entre as entidades musicais existentes e as autoridades eclesiásticas locais, baseadas na longa tradição e no grande amor à música sacra por suas populações, fez permanecer a prática de coro e orquestra nas igrejas.

Após as múltiplas interpretações – corretas e incorretas – das decisões conciliares, houve um ressurgimento da música sacra. Por um lado, posições radicais favoráveis à extinção de todas as manifestações que possuíssem os rótulos de tradição, latim, liturgia, etc. Por outro, grupos conscientes do grande tesouro da música sacra têm envidado esforços para preservar, restaurar e criar grupos que possam, novamente, cultivar a prática de coro e orquestra nas igrejas.


 LOCALIZAÇÃO 


Os acervos de música brasileira que conheço, especialmente de música sacra, estão localizados em cidades próximas a São João del-Rei, na região do Campos das Vertentes . Além desses, há o do Museu da Música da Arquidiocese de Mariana, a Coleção Curt Lange do Museu da Inconfidência (Casa do Pilar) de Ouro Preto, o da Sociedade Musical Santa Cecília e o acervo particular da Família Aniceto, ambos de Piranga.

Em Conceição da Barra de Minas existe o acervo da banda de música local e o de propriedade dos descendentes do Maestro Mileto José Ambrósio, que ainda conheci na década de 1960, extremamente pobre e quase cego, predominando, neste último, peças compostas, copiadas ou obtidas por esse mestre. Ainda não foi realizada a catalogação das obras ali existentes.

Em Nazareno existe um material de propriedade da banda de música local, que ainda se executa nas festas religiosas, predominando cópias de Cunha Viegas, Secundo Marinho de Paula e de outros músicos locais. Nele existem obras comuns aos acervos regionais, com poucas obras de autores locais. A maior parte do acervo é destinado à banda de música.

Na Vila do Rio das Mortes, distrito de São João del-Rei, existe o acervo da banda de Música "Lira do Oriente", que contém música sacra do repertório regional.

Em Barbacena existe um pequeno acervo da Igreja, que contém muitas obras da autoria de Jacinto Augusto de Almeida (segunda metade do século XIX). Este músico e compositor foi criado pelo seu mestre de música Ribeiro Bastos (1835-1912). Convidado a lecionar música em Barbacena, transferiu sua residência para lá, onde faleceu antes de 1920.

Em Prados, o acervo de propriedade da Lira Ceciliana, fundada em 1856, tem obras importantes de música sacra. Segundo nos consta, a parte mais antiga e importante do arquivo, por incúria de familiares do músico que era o responsável pela sua conservação e que faleceu de doença contagiosa, foi incinerada como uma forma de profilaxia, perdendo-se importantes manuscritos dos séculos XVIII e XIX, incluindo, provavelmente, a maioria dos originais existentes de Joaquim de Paula Souza (17807-1842). Toda a produção do compositor Antônio Américo da Costa está preservada nesse arquivo e são seus descendentes os responsáveis pela direção da entidade. O Maestro Adhemar Campos Filho, regente, compositor e instrumentista, neto de Antônio Américo da Costa, é seu atual regente e diretor musical.

Um dos mais importantes acervos mineiros de música sacra está hoje concentrado no Museu da Música da Arquidiocese de Mariana, do qual foi célula mater o material encontrado em um armário na tribuna do coro da Sé-Catedral. Dom Oscar de Oliveira, hoje Arcebispo Emérito, incentivou a criação do Museu e conseguiu que a maioria dos acervos musicais das cidades da Arquidiocese de Mariana, onde existiam bandas de música e corporações musicais, fossem doados para que assim fossem preservados. D. Oscar justificava a iniciativa informando que, de acordo com as normas do Concílio Vaticano II relativas à música sacra, o material encontrava-se obsoleto e, para não ser eventualmente queimado ou servir de pasto às traças, seria melhor ficar resguardado no Museu da Música.

De fato, o Museu da Música de Mariana tem procurado, ainda que sem um apoio sistemático de órgãos constituídos, preservar o material que ali se encontra, oriundo de cidades como Mariana, Furquim, Barra Longa, Monsenhor Horta, Barão de Cocais, etc. Um acervo que existia na cidade do Serro foi adquirido pela FUNARTE, que o doou ao Museu da Música para ali ser preservado.

No Museu da Música existem obras de grande importância histórica, muitos manuscritos autógrafos e obras únicas. Muitos são os pesquisadores que têm obtido licença da direção do Museu para suas pesquisas com a elaboração de partituras, resgatando muitas obras do passado musical brasileiro. Hoje, composições de Lobo de Mesquita (17467-1805), Manoel Dias de Oliveira (1735-1813), Jerônimo de Souza Lobo (17xx-1800?), Pe. João de Deus de Castro Lobo (1794-1832) e de muitos outros anónimos, passaram a integrar o repertório de coros e, na impossibilidade de sua integração à liturgia nas igrejas, têm sido apresentadas em salas de concerto.

Em Ouro Preto, outrora grande centro musical, como capital que foi da Capitania das Minas Gerais, estão depositados na Casa do Pilar, do Museu da Inconfidência o acervo que pertenceu à Família Pompeu, de Campanha, um outro proveniente de Pitangui e a importantíssima Coleção Curt Lange. Há, ainda, em Ouro Preto, o material que pertenceu a D. Zizinha Cruz que, até sua morte, manteve o coro que abrilhantava as cerimônias religiosas tradicionais ouropretanas, com obras de compositores locais, predominando Jerônimo de Souza e Pe. João de Deus de Castro Lobo.

Em São João del-Rei estão concentrados, nas duas orquestras sacras (Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos), os dois mais importantes acervos de música sacra brasileira.


MATERIAL EXISTENTE 


No acervo da Orquestra Lira Sanjoanense (fundada em 1776) existe ainda muito material a ser pesquisado o qual, pela falta de recursos, ainda não foi catalogado. Somente agora, com a utilização da informática, será iniciado o levantamento de dados, que já conta com a aquisição da aparelhagem necessária. Neste acervo, como na maioria dos acervos mineiros, predomina o material manuscrito. Entre eles há expressivo número de originais autógrafos, especialmente de autores sanjoanenses, como o Padre José Maria Xavier (1819-1887), João Feliciano de Souza (1865-1925), João Francisco da Matta, Luiz Baptista Lopes (1854-1907), Marcos dos Passos Pereira (18 -1879) e muitos outros, cuja listagem é extensa. Entre as cópias do século XIX, predominam as de Hermenegildo José de Souza Trindade (1801-1887) que, se não primam pela beleza estética, são excelentes em precisão e em informações históricas, tais como autor, data da composição, origem da fonte, instrumentação, etc. Do século XX, predominam cópias de Fernando de Souza Caldas, Agostinho Mateus de Assis e Pedro de Souza.

É, também, expressivo o número de obras de autores estrangeiros, especialmente italianos do século XIX. Foi muito comum a aquisição de obras para vozes e órgão e que foram orquestradas por regentes sanjoanenses. Encontra-se, nesse caso, músicas de autores italianos como Luigi Rossi, Giuseppe Cerruti, Saverio Mercadante, Francesco Canetti, B. Accioli, etc., além de composições de outros autores europeus, como L. Bordèse, J. L. Bathmann e outros.

Atualmente, o acervo está resguardado em sala própria, isenta de infiltrações, em armários, estantes e arquivos de aço. Parte importante dele foi restaurada, especialmente manuscritos originais. Partituras e partes foram encadernadas, procurando preservar os documentos históricos. O material para uso da corporação é sempre constituído de cópias atuais, evitando-se, assim, o manuseio de manuscritos antigos.

O acervo da Orquestra Ribeiro Bastos identifica-se muito com o da Orquestra Lira Sanjoanense, existindo entre eles grande quantidade de obras idênticas, mas copiadas por diferentes copistas. Predominam, neste acervo, cópias de Francisco José das Chagas (1814-1859) e Martiniano Ribeiro Bastos (1834-1912). Do século XX, os principais copistas são João Evangelista Pequeno e Telêmaco Victor Neves. Há um expressivo número de autógrafos, sendo um dos mais importantes documentos as partituras dos Ofícios de Trevas de 4ª, 5ª e 6ª feiras da Semana Santa, de Antônio dos Santos Cunha, com duas versões distintas: a primeira apenas para vozes, cordas e trompas e a segunda com a inclusão de flauta e duas clarinetas. De Martiniano Ribeiro Bastos, patrono da entidade, toda a produção conhecida, em manuscritos autógrafos, está lá preservada.

Substituindo o Mestre Chagas na direção da corporação, em 1859, Ribeiro Bastos organizou o acervo e ampliou-o sobremaneira. O sistema de organização de arquivo pelo qual Ribeiro Bastos mantinha o seu acervo foi excelente para a época e, se hoje ele se constitui em uma das ótimas fontes de documentos musicais brasileiros, isto se deve a esse sistema. Cada obra era catalogada por um número simples, colocado na margem superior. As obras maiores eram encadernadas e, nas capas, com grande capricho, eram escritos o nome da voz ou do instrumento, o título da obra, o nome do autor e, no canto inferior direito, a propriedade - Ribeiro Bastos, R. Bastos ou, simplesmente, Bastos.

Segundo nos consta, essas capas eram realizadas por duas senhoras, uma delas professora de caligrafia, que julgo ser a Professora e Escritora Alexina de Magalhães Pinto (1870-1921), que a história sanjoanense cultua com grande orgulho, por seus notáveis trabalhos voltados ao folclore e à educação infantil.

Pelo vultoso acervo, pode-se afirmar que o Maestro Ribeiro Bastos passou grande parte de sua vida copiando música e encadernando partes, tendo sido esse capricho o responsável pela preservação de muitas obras e manuscritos únicos que hoje se constituem em fontes importantes para a historiografia musical brasileira.

Juntamente com o material sacro, Ribeiro Bastos possuiu importante biblioteca de partituras de óperas, a maioria em edições princeps para canto e piano, óperas reduzidas para quarteto de cordas, música de câmera e música de salão (valsas, polcas, mazurcas, etc.) e aberturas de óperas para grande e pequena orquestra.

No período de atuação do Maestro Martiniano, sua corporação musical era conhecida e chamada de "Orquestra do Ribeiro Bastos" e, após sua morte, em 8 de dezembro de 1912, passou a ser denominada "Orquestra Ribeiro Bastos", transformando-se em sociedade civil, com estatuto elaborado em 1949.

O arquivo musical e alguns de seus instrumentos eram propriedade particular do Maestro e, após sua morte, o herdeiro universal de seus bens foi o músico Japhet Maria da Conceição, seu filho de criação e aluno predileto. A corporação, dependendo do arquivo e dos instrumentos para sua sobrevivência musical, passou a adquirir do herdeiro, parceladamente, as músicas e instrumentos musicais, utilizando, para tal finalidade, os pequenos recursos obtidos de suas atividades nas igrejas sanjoanenses até, aproximadamente, 1950.

Infelizmente, uma considerável parte do acervo original não foi adquirida e teve fins diversos: parte da música de câmara, especialmente os quartetos de cordas, foi adquirida pelo Maestro João Cavalcante e, hoje, está em poder de sua família, em Belo Horizonte; as óperas, todas encadernadas com certo requinte, foram adquiridas pela Profª Janice Mendonça de Almeida. Devido a uma reforma em sua residência e sem ter como abrigar o que restava do acervo, os herdeiros de Japhet Conceição começaram a queimar as músicas que estavam em piores condições de preservação, dando este triste fim a muitas obras importantes. Ao tomar conhecimento do que ocorria, propus a aquisição do que restava de música sacra em manuscritos e impressos, constituindo, assim, o início de meu acervo pessoal, hoje incorporado ao da Orquestra Lira Sanjoanense, pelo qual sou o responsável.

Em 1992, o Maestro Ernâni Aguiar, o Prof. Alex Assis Milagre e eu iniciamos atividades enquanto equipe de pesquisa, preocupada com arquivos mineiros. A equipe foi ampliada com a inclusão de dois alunos do Maestro Aguiar, Carlos Eduardo Fecher e Francisco Sá d'El Rey. Pelos mínimos recursos diante do vultoso trabalho que pretendíamos realizar, desenvolvemos pesquisas somente em quatro cidades: Piranga, Carandaí, Mercês do Pomba e Rio Pomba.

A pesquisa em Piranga, apesar de incompleta, foi a que apresentou melhores resultados. Na Corporação Musical Santa Cecília, hoje uma banda de música, conseguimos selecionar, em verdadeiro trabalho de garimpo, cerca de cem obras que estavam misturadas com o material de banda. Dessas peças, muitas são encontradas em outros acervos. Entretanto, fomos surpreendidos pelo encontro de obras inéditas de Manoel Dias de Oliveira, Jerônimo de Souza Lobo, José Joaquim Emérico Lobo de Mesquita, Joaquim de Paula Souza e de um autor do século XVIII totalmente desconhecido – José Gomes Domingues – com um Ofício de Defuntos, do qual, infelizmente, só existe a parte de soprano.

O maior número de obras, porém, é de autores anônimos, como um Oficio para Domingo de Ramos para coro e baixo que, pelo tipo de papel, caligrafia e outras características, pode se tratar de obra e material da primeira metade do século XVIII. De um Credo a 4 vozes, 2 oboés, 2 trompas e cordas, já foi realizada a montagem da partitura, apresentada em concerto no Rio de Janeiro pela orquestra e coro da UNI-RIO. De Manoel Dias de Oliveira, localizamos uma notável Ladainha em Ré Maior, para 4 vozes, 2 trompas, violinos e baixo, da qual também foi preparada uma partitura que, apresentada em concerto, revelou-se uma das excelentes obras do compositor tiradentino.

Foi deste acervo que se definiu a versão correta da Missa Pequena em Dó Maior, de Joaquim de Paula Souza, pois nos manuscritos do Museu da Música, de Mariana, onde há material de diversas origens, as versões são confusas e foram muito alteradas pelos copistas. Um Credo do século XVIII, de autor anônimo, para 4 vozes, trompas, violinos e baixo, está sendo revisado para posterior divulgação. Como os manuscritos estão em estado precário de conservação, proporcionando grande dificuldade na leitura, os trabalhos são lentos e cansativos. O mesmo pode-se dizer do já referido Ofício de Domingo de Ramos, cujos manuscritos foram de tal maneira infestados de traças, que não podem mais ser manuseados, sob o risco de se perderem fragmentos. Felizmente, existem cópias posteriores da obra, apesar de incompletas, que facilitarão o trabalho, servindo os manuscritos antigos para uma conferência final. Do Pe. João de Deus de Castro Lobo, foi montada a partitura do In festo Pentecostes, ad Matutinum, cuja estreia contemporânea se deu em S. João del-Rei, durante o Inverno Cultural, sob a regência do Maestro Ernâni Aguiar. Realizamos uma listagem das 141 obras completas e incompletas encontradas em Piranga, com possibilidade de serem restauradas. Há, ainda, um bom volume de folhas soltas para serem pesquisadas.

Ainda em Piranga, de propriedade da Família Aniceto, existe um acervo de música sacra, pequeno, mas de grande importância pelas obras que contém. Um dos mais antigos manuscritos de obra musical brasileira, do final do século XVII ou princípios do século XVIII, está preservado nesse arquivo.

Em Carandaí, na Corporação Musical Santa Cecília, há um acervo que pertenceu ao Maestro Christovam Gonçalves Pinto, com um total de 123 obras. Grande parte do material ali existente foi copiado pelo seu proprietário, em São João del-Rei. Destacamos, nesse acervo, a Missa de Freitas Braus (?) para grande orquestra e a partitura original de um Te Deum de Francisco Manuel da Silva.

Em Mercês do Pomba e Rio Pomba, tinha-se notícia de um expressivo movimento musical no século XIX. Infelizmente, as pesquisas realizadas mostraram-se infrutíferas. As pessoas envolvidas na vida musical dessas localidades, atualmente, nada sabem a respeito de tal movimento, desconhecendo, inclusive, o nome de um compositor natural de Rio Pomba: Francisco de Paula Trindade.


ACESSO 


O acesso aos arquivos citados depende de seus proprietários. O Museu da Música da Arquidiocese de Mariana está hoje sediado no andar térreo da residência arquiepiscopal. Duas funcionárias catalogam o material e orientam os pesquisadores. Para pesquisas, é necessária licença e autorização especial, já que está sendo evitado o uso de cópia xerox para reprodução de documentos originais.

A Coleção Curt Lange, do Museu da Inconfidência, resguardada na Casa do Pilar, em Ouro Preto, não estava aberta à pesquisa até há bem pouco tempo atrás. Segundo a direção do Museu, a coleção (adquirida em 1982) estava sendo catalogada e microfilmada, estando já publicados dois dos três volumes previstos do seu catálogo temático. Hoje, no entanto, já é possível consultar os documentos musicais dessa coleção e iniciar sua pesquisa no âmbito musicológico.

A consulta ao acervo da Orquestra Lira Sanjoanense depende da autorização da Direção da entidade e da disponibilidade do responsável pelo arquivo. Brevemente, o acervo entrará em fase de catalogação e, nesse período, serão suspensas as pesquisas. A consulta ao acervo da Orquestra Ribeiro Bastos depende da autorização da Direção da entidade para pesquisas. Os acervos estudados pela Equipe de Pesquisa "Professor Curt Lange" não estão abertos a visitas e pesquisas: como os trabalhos não foram concluídos, orientou-se os proprietários a não consentir o manuseio das obras, até que seja elaborada a catalogação definitiva, para evitar-se problemas de modificação do arquivamento, ainda provisório.


TRABALHOS REALIZADOS


Dos arquivos pesquisados, já foram apresentados muitos trabalhos de restauração. Anualmente, uma extensa listagem de novas obras dos acervos das Orquestras Lira Sanjoanense e Ribeiro Bastos são restauradas, passando a integrar novamente o repertório das entidades. No acervo da Orquestra Lira Sanjoanense os trabalhos de restauração e revisão de partituras e cópias têm sido feitos por Aluízio Viegas e Geraldo Barbosa de Souza.

A Equipe de Pesquisa "Professor Curt Lange", dentro de suas possibilidades ainda mínimas, pretende continuar seus trabalhos na localização e organização de acervos. Se houver um apoio institucional, existe a possibilidade de acelerarem-se os trabalhos sobre tais acervos e de se publicar seus catálogos temáticos, que terão grande valia para os que se dedicarem à pesquisa musicológica.

À guisa de informação, anexamos a este trabalho uma listagem sumária de pequena parte do acervo da Orquestra Lira Sanjoanense, nela constando somente obras de autores mineiros, particularmente os sanjoanenses. O código "C" indica obra completa (todas as partes vocais e instrumentais preservadas) e "I" obra incompleta. 


NOTAS EXPLICATIVAS 


¹ Francisco Curt Lange faleceu em 3 de maio de 1997. Sua última vinda ao Brasil ocorreu em janeiro de 1997, por iniciativa deste Simpósio (nota da Comissão de Publicação).
 
² Entre as principais determinações de Pio X estava o cuidado com o "funesto influxo que sobre a arte sacra exerce a arte profana e teatral", característica crescente do repertório sacro católico dos séculos XVIII-XIX. Existe edição em português do Motu Proprio de Pio X, entre outros, em: Lyra Sacra: Cânticos a Nossa Senhora: parte IV: Ladainhas. Braga, S. Fiel, 1904. p. 7-12. 

³ No Motu Proprio de 22 de novembro de 1903 existe uma Instrução sobre a música sacra em 29 artigos, no terceiro dos quais determina-se que "uma composição para a igreja tanto mais sacra e litúrgica será, quanto mais no andamento, inspiração e sabor se aproximar da melodia gregoriana; e tanto menos digna será do templo, quanto mais se afastar d'aquele supremo modelo". Cf. Lyra Sacra, op. cit, p. 9.

 Cf. Concílio Ecumênico Vaticano II: constituições, decretos, declarações, documentos e discursos pontifícios. São Paulo, Edições Paulinas, 1967. 669 p.

 O primeiro catálogo de manuscritos musicais e documentos importantes para a pesquisa histórico-musical encontrados em acervos mineiros (Diamantina, Mariana, Prados, São João dei Rei e Tiradentes) foi publicada por: BARBOSA, Élmer Corrêa (org.). O ciclo do ouro: o tempo e a música do barroco católico; catálogo de um arquivo de microfilmes; elementos para uma história da arte no Brasil; pesquisa de Élmer C. Corrêa Barbosa; assessoria no trabalho de campo Adhemar Campos Filho, Aluízio José Viegas; Catalogação das músicas do séc. XVIII Cleofe Person de Mattos. Rio de Janeiro, PUC, FUNARTE, XEROX, 1978. 454 p.

 O Maestro Adhemar Campos Filho, convidado a participar deste I Simpósio, não pôde comparecer por motivos de saúde. A Comissão Organizadora, no entanto, decidiu incluir seu nome na lista dos convidados para o II Simpósio (janeiro/98), mas o Maestro Adhemar faleceu em 19 de julho de 1997 (Nota da Comissão de Publicação).

 Cf. CASTAGNA, Paulo. 0 manuscrito de Piranga (MG). Revista Música, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 116-133, nov. 1991.

 Estamos omitindo o Anexo apresentado pelo Prof. Aluízio José Viegas por fugir ao escopo informativo do presente trabalho e por questão de espaço da presente matéria, podendo, para tanto, ser usado o link fornecido como Fonte para a referida informação.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 


BARBOSA, Élmer Corrêa (org ). O ciclo do ouro: o tempo e a música do barroco católico; catálogo de um arquivo de microfilmes; elementos para uma história da arte no Brasil; pesquisa de Élmer C. Corrêa Barbosa; assessoria no trabalho de campo Adhemar Campos Filho, Aluízio José Viegas; Catalogação das músicas do séc. XVIII Cleofe Person de Mattos. Rio de Janeiro, PUC, FUNARTE, XEROX, 1978. 454 p.

CASTAGNA, Paulo. O manuscrito de Piranga (MG). Revista Música, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 116-133, nov. 1991.

Concílio Ecumênico Vaticano II: constituições, decretos, declarações, documentos e discursos pontifícios. São Paulo, Edições Paulinas, 1967. 669 p.

Lyra Sacra: Cânticos a Nossa Senhora: parte IV: Ladainhas. Braga, S. Fiel, 1904. 160 p.

MUSEU DA INCONFIDÊNCIA (Ouro Preto, MG). Acervo de manuscritos musicais: Coleção Francisco Curt Lange: Coordenação geral: Régis Duprat; Coordenação técnica: Carlos Alberto Baltazar. Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais. 1991-1994. 2 v. [v. 3: no prelo]

Fonte: https://archive.org/stream/AluizioJoseViegasArquivosMusicaisMineiros/2008-ArquivosMusicaisMineiros_djvu.txt

10 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

É com prazer que hospedo no Blog de São João del-Rei a monumental pesquisa de ALUÍZIO JOSÉ VIEGAS, musicólogo, pesquisador, escritor, regente, flautista, violoncelista e contrabaixista da Orquestra Lira Sanjoanense, intitulada ARQUIVOS MUSICAIS MINEIROS, apresentada no I SIMPÓSIO LATINO-AMERICANO DE MUSICOLOGIA, de Curitiba, 10-12 jan 1997.
Professores de música e seus alunos muito aproveitarão dessa leitura, onde cada parágrafo pode ser convertido em uma tese acadêmica.

Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei

Paulo Roberto Sousa Lima (escritor, gestor cultural e presidente eleito do IHG de São João del-Rei para o triênio 2018-2020) disse...

Obrigado pelo envio, prezado e produtivo confrade Francisco Braga. Esta mensagem me lembra que está programada para a assembleia de junho, ou um evento especial, uma homenagem ao Maestro e Músico Abgar Campos Tirado pelo novo livro dele "Partituras Inéditas", coordenado pelo Maestro Paulo Miranda e editado pelo IHG. Aproveitando o tema da sua mensagem, gostaria de convidá-lo a saudar o autor e confrade em nome do nosso sodalício. Aceita?
Abraços fraternos,
Paulo Sousa Lima

Prof. José Maurício de Carvalho (professor titular aposentado da UFSJ e do Centro Universitário Presidente Tancredo Neves - UNIPTAN, membro do Instituto de Filosofia Brasileira, do Instituto de Filosofia Luso-brasileira com sede em Lisboa, da Academia de Letras de São João del-Rei e da Academia Mantiqueira de Estudos Filosóficos) disse...

Parabéns, Braga! O trabalho merece. Abraços, Mauricio

Prof. Mário Celso Rios (presidente da Academia Barbacenense de Letras) disse...

BRAGA, bom dia!
Esse estudo de A. J. VIEGAS sobre a Lira Sanjoanense é fonte para se compreender a importância musical de São João de-Rei!
Obrigado mesmo!
Ótima iniciativa!
Abraço a todos !
MCR

João Pinto de Oliveira (presidente do Sicoob Credivertentes, membro correspondente do Instituto Histórico e Geográfico e membro efetivo da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Caro amigo e confrade Prof. Braga

Grato pela remessa da excelente matéria ARQUIVOS MUSICAIS MINEIROS que,
dentro de nossas limitações, procuraremos dar publicidade. Fiz o devido
encaminhamento à nossa gerência de comunicação e marketing para eventual
publicação em nossos periódicos.

Lamentável não dispormos, em nosso meio, de mecanismos (recursos humanos
e financeiros) para publicarmos e divulgarmos, de forma amplificada,
trabalhos de tão excelente monta como os de suas pesquisas. Não há,
infelizmente, sensibilidade por parte de nossos governantes e
empresários - e até mesmo nossa - quanto à magnitude de expansão do
conhecimento e da cultura, em especial em nossa região, verdadeiro
celeiro de artistas, intelectuais e pensadores. Sugeri, certa vez, ao
nosso companheiro Rosalvo Pinto e profª Elaine, buscarmos formas de
quotização (fundo privado) envolvendo pessoas fisicas e juridicas, para
darmos vazão às edições de obras e textos - temas artisticos,
históricos, religiosos etc - de nossa região. Assunto que sabemos ser de
complexa implantação, ficou no ar...

Com o Estado falido e as instituições públicas em descrédito, a situação
só piorou nos últimos tempos!

Abrs.

João

Dante José de Araújo disse...

Oi, Francisco,
Estive uma semana no Vale do Paraíba visitando meus parentes e
ao retornar li o artigo sobre Arquivos Musicais Mineiros, muito interessante.
Dante

Prof. Fernando de Oliveira Teixeira (professor universitário, escritor, poeta e membro da Academia Divinopolitana de Letras, onde é Presidente) disse...

Gratíssimo pelo envio, amigo Braga. Abraço para você e para a Rute. Fernando Teixeira

Jorge Antunes (Maestro e compositor da ópera Olga, entre outras obras, grande expoente da música contemporânea brasileira, ex-professor do Departamento de Música da UnB e membro da Academia Brasileira de Música) disse...

Oi, Braga:

Mais uma vez, parabenizo você pelo seu blog: cada vez melhor, com textos úteis e maravilhosos.
Aproveito para convidar você a ler o libreto de minha nova ópera de rua, que vai ser estreada no próximo dia 23 de maio, na UnB.
http://www.americasnet.com.br/antunes/exfakeado/

Abraços pra você e Rute,
Jorge Antunes

Dra. Merania de Oliveira (jornalista e viúva do ex-presidente da Academia Marianense de Letras, Dr. Roque Camêllo, e fundadora do Instituto Roque Camêllo) disse...

Parabéns Dr. Francisco pela iniciativa de hospedar as pesquisas do musicólogo que foi tão importante não só para sua terra, mas também para o projeto de pesquisas do Museu da Música de MARIANA.

Nosso querido prof. Roque Camêllo era muito agradecido ao Sr. Aluízio Viegas por este belo trabalho que ele desenvolveu.
Mais uma vez parabéns!

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga.
Impressiona esse patrimônio mineiro musical, bem como ressalta a importância de sua preservação e continuidade de estudo. Muito oportuna a publicação dessa interessante e valiosa pesquisa de Aluízio Viegas.
Grato.
Cupertino