segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

RESENHA CRÍTICA DO LIVRO “PASSEIO SENTIMENTAL”


Por Francisco José dos Santos Braga


 

Antes da análise do livro PASSEIO SENTIMENTAL ¹, da autoria de Prof. Evandro de Almeida Coelho, cabe-nos reproduzir as partes constitutivas da obra. 
Inicialmente, na "orelha" da contracapa, lemos as seguintes informações sobre o livro: 
A obra tem duas fontes principais: o Passeio Sentimental começou com o pedido de cinco alunos monlevadenses que se dispuseram a conhecer a "segunda cidade do mundo". Preparada a viagem de carro, foram recomendados a ir de véspera e usar um hotel conhecido para o descanso noturno. Acordaram com repiques e dobres dos sinos, reforçaram o café da manhã e... rua! 
Encontraram o Museu Regional e fizeram a rota do passeio a pé na primeira parte. Para a segunda parte, com vistas mais gerais, usaram o automóvel nas ladeiras e subidas. Gostaram do que viram e das informações complementares. De volta contaram aos amigos o roteiro e vários pediram cópias, que foram ampliadas por vários anos. 
As crônicas sobre a história começaram com uma sugestão da Diretora da "minha escola" João dos Santos, a professora Neide. Como fiz jornal e revista na faculdade, fui chamado para fazer um jornal independente em Monlevade. Foi o início de uma imprensa livre, noticiosa e variada, base para historiadores futuros. Entrevistamos antigos moradores anteriores aos belgominas. Depois de aposentado, voltei para a "Odalisca das Vertentes". A diretora me falou da dificuldade dos alunos em consultar bibliografia sobre a História da cidade. Trabalhamos na consulta anotando muitas obras antigas e mais novas, redigimos estas crônicas dos tempos passados. Com a opinião de alguns leitores sobre os primeiros esboços, acho que melhorou bastante. Espero que outros pesquisadores possam fazer obras de maior vulto: a cidade merece uma História maiúscula.
Abre-se o livro com o Sumário, isto é, suas principais divisões, a saber: 
Passeio muito sentimental, p. 13-36 
São João del-Rei no século XVIII, p. 37-54 
O século XIX, p. 55-84 
Cem anos se passaram..., p. 85-87 
Menos de cem anos..., p. 88-90. 
 
A seguir, o autor manifesta Agradecimentos para com as suas principais fontes de sua pesquisa, a saber:  
Aos historiadores mais antigos consultados: Antônio Guerra, Augusto Viegas, Fábio Guimarães, Geraldo Guimarães, Hélio Conceição, José Bellini dos Santos, José Vítor Barbosa, Luís Alvarenga e Waldemar Barbosa; 
Aos antigos amigos dos velhos tempos: Aurélio Afonso de Almeida, José Leôncio coelho, Monsenhor Almir de Rezende Aquino e professor Pedro Raposo; 
Aos confrades do Instituto Histórico de São João del-Rei, na pessoa do professor Antônio Gaio Sobrinho, pesquisador incansável, incessante e inteligente por seus livros e observações, representante dos atuais e antigos colegas; 
Às Bibliotecas que sempre me atenderam prestimosamente; 
Aos jornalistas com suas variedades de informações que me foram utilíssimas. 
 
Em curto mas poético Prefácio, nas p. 09-11, datado de 29/05/2020, intitulado "São João del-Rei e seus sentimentais caminhos", o presidente do IHG-SJDR, sociólogo e escritor Paulo Roberto de Sousa Lima, apresenta a obra, em que finaliza com as seguintes palavras cheias de entusiasmo: 
(...) Esse livro singelo, mas importante, e que ouso apresentar em linhas tecidas de sonho e imaginação, nos ensina a olhar para ruas e praças; Igrejas, casarões e casinhas desta bendita São João e nelas sentir que esse povo que aqui habita é mineiro, de vale e monte; brejeiro, mas de Barão e Conde e hospitaleiro, o bastante. (...)

 

I.  PASSEIO MUITO SENTIMENTAL 

No primeiro capítulo ou divisão, observa-se qual a intenção original do autor com seu livro Passeio Sentimental: ser um bom guia turístico (isto é, roteiro impresso com informações dos passeios e fartas atrações turísticas na cidade de São João del-Rei) e suscitar a admiração e a curiosidade do turista com "causos", pontuados por elementos da história são-joanense. Para isso, o autor completa seu Passeio muito sentimental com algumas informações mais amplas sobre alguns topônimos ou termos utilizados no roteiro. 
Quem pensa que este primeiro capítulo é a própria razão de ser do livro, engana-se. 
 
 
II. SÃO JOÃO DEL-REI NO SÉCULO XVIII
 
O segundo capítulo São João del-Rei no século XVIII é uma dissertação sobre o 1º século de existência de São João del-Rei, desde os tempos do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar do Rio das Mortes depois da descoberta do ouro em suas encostas, passando pela Guerra dos Emboabas, criação da Vila de São João del-Rei (8/12/1713), etc. O trecho desse segundo capítulo que será reproduzido aqui foi retirado do referido capítulo, p. 46, a saber: 
Podemos fazer ideia do tamanho das lavras do ouro entre o atual morro da Igreja das Mercês e as proximidades do Ribeirão de São Francisco. Hoje, teríamos toda a serra onde está a imagem do Cristo (Redentor), os Altos de São Geraldo, indo acima de Dom Bosco até as colônias na margem do Rio das Mortes. Em 1780, pelo que soube Eschwege, em 1821, havia as lavras do Barro Vermelho, com 999 escravos; a de Antônio Teixeira Carneiro, com 100 escravos; a de Lourenço Bengala, 80 escravos; mais para cima do morro, a de João Rodrigues, 400 escravos; do Capitão José Rodrigues Criolo, 77 escravos; de Padre Gervásio, 200 escravos; a Praia da Serra, com 150 escravos; mais abaixo, perto do Rio, os serviços do negro José da Silva, com 60 escravos; um pouco mais além, serviços de Franco Ferreira, com 20 escravos. Os dados são dos registros de capitação impostos pagos por cabeça de trabalhador com o total de 2.426 escravos na área do Barro Vermelho.
Completando suas informações sobre o ouro, o autor continua ainda no segundo capítulo nas p. 48-9: 
Podemos notar que a Vila de São João del-Rei começou com a agricultura e o comércio para abastecer os viajantes que prosseguiram seus caminhos. O ouro foi descoberto, mas não era em quantidade para competir com outras vilas. Pelo cálculo dos quintos - vinte por cento da extração - podemos verificar quanto ouro era extraído e declarado. O quinto não era o que hoje chamamos de imposto. A mentalidade dos governantes e governados ainda era bastante medieval, diferente dos sistemas de governo atuais. Era um direito senhorial, devido à Sua Majestade como fruto das terras que o mesmo Senhor tem domínio. Atualmente se chama "aforamento" ou "enfiteuse" a cessão dos direitos úteis mediante pagamento de "foro". Antônio de Albuquerque fez acordo com os mineradores para o pagamento de dez oitavas ² de ouro por bateia de escravo. Tanto pagavam os que achavam ouro como os que não o encontravam. O segundo governador, Braz Baltazar foi autorizado a mudar o sistema para outro que lhe aprouvesse. Fez o ajuste com a cota geral de 20 arrobas de ouro, quitado na saída da capitania. Em 1715, foram fixados os limites das comarcas e se estabeleceu que São João del-Rei pagará 5 arrobas e 10 libras dos quintos. Vila Rica pagará 12 arrobas; a Vila Real do Sabará pagará 10 arrobas e 22 libras, mais 2 arrobas dos quintos de gados. Total dos quintos, 30 arrobas para a Capitania. 
A vida comum era bem variada. Em 1718, a Câmara contratou o médico de Coimbra, Dr. José Macedo Correa por uma libra de ouro anual, para "curar os pobres, de graça". Quem era rico ia curar-se no Rio de Janeiro. Em 1719, quando o Conde de Assumir visitou a comunidade, o Senado da Câmara mandou pagar 275 oitavas de ouro pelas despesas de estadia. As festas do Corpo de Deus, em 1725, gastaram 53 oitavas de ouro como pagamento da cera gasta. O ouvidor e corregedor Dr. Tomé Godinho, achou o gasto exagerado. Os casamentos da princesa Dona Maria Bárbara e do Príncipe Dom José, que se casaram fora de Portugal, foram motivo para doação de 125 arrobas de ouro em pó, pagáveis em seis anos, formando parte do dote nos dois matrimônios. Era o ano de 1727. 
A eleição dos juízes de vários ofícios, em 1739, teve também a aprovação do tabelamento de alguns preços, aprovados pelo Senado da Câmara, com a assistência dos "homens bons". Alguns exemplos: feitio de sapato liso 2 oitavas de ouro; chinelos de mulher, em couro comum 1 oitava e meia; de marroquim 2 oitavas; bota de canhão 6 oitavas; sem canhão 4 oitavas; feitio de vestido de pano, abotoado de fio 13 oitavas; vestido de luto 5 oitavas; calção de pano ou seda, abotoado 3 oitavas; vestido de seda 2 oitavas; saia de seda 1 oitava e meia; manto de seda 1 oitava e dois quartos; colete de seda 1 oitava e meia. 
Quem participava das festas e solenidades oficiais recebia propinas em ouro, além dos proventos do cargo. Dom João V faleceu em 1750 e o Senado da Câmara aprovou as despesas com as exéquias em 468 oitavas e 7 vinténs em ouro, sendo 80 oitavas em favor de Estevão Andrade, artista que preparou a essa de Sua Majestade. Outras propinas para "botarem luto": os juízes e o ouvidor geral 111 oitavas; os vereadores, procurador, alcaide, porteiro, almotacés, cada um 50 oitavas; o tesoureiro do Senado da Câmara 25 oitavas; o alferes do estandarte do Senado 31 oitavas; o juiz de órfãos 101 oitavas. (...)”

 

III. O SÉCULO XIX

O terceiro capítulo, intitulado O século XIX, é constituído de uma coleção de efemérides, em cronologia crescente. É claro que todos os importantes fatos e feitos históricos foram abordados com olhos de historiador que é, mas, como a atividade precípua do autor foi a de professor, é natural que dê destaque à educação, conforme já se vê no início do capítulo, cuja primeira efeméride (ano de 1803) já inaugura o século com assunto educacional: 
A educação era fundamental para os habitantes. Em 1803, foi nomeado o Padre-Mestre Manoel da Paixão e Paiva, substituindo o Padre Marçal da Cunha Matos, designado, em 1774, para lecionar gramática latina para alunos que se ordenaram presbíteros ou se formaram em Coimbra, nas diferentes faculdades. Padre Manoel lecionou até 1820, e em seu testamento reconheceu oito filhos de várias mães. No mesmo ano de 1803 há uma carta do Juiz e dos oficiais da Câmara para o Ouvidor Geral e Corregedor da Comarca, por ordem do Príncipe Dom João, dizendo: "A cadeira de ler, escrever e contar ocupada pelo Alferes José Pedro da Costa Batista, que anualmente recebe ordenado de cento e cinquenta mil réis... sem fruto talvez pela incapacidade do professor... reduzida a pequeno número de alunos pardos, pretos e cativos ou de outros da plebe tão necessitada e pobre que não pode pagar a um bom mestre". Há nesta vila quatro escolas públicas que são as de Antônio dos Santos Cunha, Francisco José Cardoso, José Joaquim de Miranda e Bernardo Ferraz, além de outros que ensinam pelas casas.
Vamos coletar apenas as efemérides que se referem ao mesmo tema da educação e assuntos correlatos. Não que as de outra natureza careçam de importância, mas porque vêm comprovar que o autor, ao coletar fatos e feitos históricos, teve em mira constatar a evolução da área da educação em seu torrão natal, há tempos seu fecundo objeto de pesquisa. Convém frisar aqui o seu pioneirismo em tratar com tanta relevância do assunto educacional, reiterando, mais uma vez e sempre, com seu permanente olhar de educador. 
20/08/1824: O Presidente da Província encaminha a João Severiano Maciel da Costa parecer favorável à representação de Batista Caetano (de Almeida) para criar biblioteca, já que doou 800 volumes para seu patrimônio. 
20/11/1826: Circula o periódico "Astro de Minas", fundado e mantido por Batista Caetano. Circulou até 6 de junho de 1839. Na época, foi instalada a biblioteca criada por Batista Caetano na Casa de Caridade ³ e, depois, em 1848, transferida para a Casa da Câmara e cadeia.
04/08/1827: Começou o uso permanente de vacinação, sob direção do médico inglês Doutor Jorge Such, que tinha grande prática obtida na Ásia e África, com grande conhecimento.
14/06/1828: Nasceu João Batista dos Santos, depois, Visconde de Ibituruna. Formou-se em medicina no Rio de Janeiro, foi médico particular de Dom Pedro II. Quando proclamada a República, presidiu a província de Minas Gerais. Faleceu a 11 de janeiro de 1911.  
No mesmo ano de 1828, o mestre-escola de Baependi, José Alcibíades Carneiro, requereu transferência para São João del-Rei. Teve parecer favorável da Câmara Municipal e foi atendido pelo governo provincial. Tinha 31 alunos. Em 1832, foi eleito vereador e substituiu interinamente o Pe. José Antônio Marinho como lente de Filosofia. Em 1840, foi eleito deputado pela província, transferindo-se para a Corte, no Rio de Janeiro. Substituído por Reginaldo Pereira de Barros, que teve apenas 8 alunos. Esta aula pública de latim, criada em 1774, só foi extinta em 1890. 
10/11/1828: Começa a funcionar o Colégio Feminino de Margarida Cortona de Aguiar, situado à Rua da Ponte da Misericórdia. Aceitava pensionistas de fora e "da terra"). Ensinava a ler, escrever e contar, além das prendas de uma senhora: costurar, cortar, bordar, dançar, ler e falar a língua francesa e princípios de música.
A título de observação, o autor acrescenta: Houve notícias da sequência da aula de ensino mútuo, método Lancaster, onde dez alunos eram dirigidos por um decurião. Há poucas informações do fato.
09/03/1829: Eram vereadores da Vila Francisco de Paula Almeida Magalhães, João Pereira Pimentel, Batista Caetano de Almeida, Gabriel Francisco Junqueira, José Fernandes Pena, Padre Antônio Joaquim de Medeiros, Padre João Ferreira Leite e Antônio Fernandes Moreira, que tomaram posse no dia 14 de março.
07/04/1829: Apresentada na Câmara uma subscrição popular para construir nova cadeia. O vereador Batista Caetano doou o terreno no valor de quatrocentos mil réis.
Ainda neste ano, fundação do Colégio Policena, nome de sua proprietária, perto da casa que foi da administração da Câmara entre 1719 e 1849. Esta casa foi residência para o Juiz de Fora, quando na vila. Na casa, funcionou também o Colégio Conceição, o Colégio Maciel e, depois, o Hospital do Rosário. Neste local, atualmente, é o hospital das Mercês, completamente novo!
1830: A São João del-Rei Mining Company, fundada em 1830, distribuiu salários no primeiro ano, de 2.310 libras. De 1831 a 1834 respirava-se otimismo com as atividades das galerias (o "canal dos ingleses") protegidas por obras de alvenaria, represas para lavagem do minério, residências, depósitos e escritórios. A saída da empresa foi uma catástrofe.
De 1830 a 1833: A convite de Batista Caetano, houve um curso de Belas Artes com o padre português Francisco Freire de Carvalho lecionando retórica, poética, eloquência, crítica e poesia. Nessa escola, o padre José Joaquim de Santana ensinava francês, latim, música e dança.
05/10/1831: Informações de João Pereira Pimentel e José Dias de Oliveira sobre a instrução na vila de São João del-Rei e seu termo. São três aulas públicas: a primeira, de ensino mútuo, com o professor interino Antônio Mariano Pereira Pimentel, 59 alunos; segunda, de meninas, com a professora Policena Tertuliana de Oliveira com 75 alunas; terceira, de gramática latina com o professor José Alcibíades Carneiro, com 31 alunos. Duas escolas particulares de primeiras letras, do professor Guilherme José da Costa, com 40 alunos e do professor Antônio Dias Pereira, com 62 alunos. Havia o Colégio particular do Padre José Joaquim de Santana, com 10 alunos que moravam com o professor, que ensinava música, dança, francês e latim. O português Padre Francisco Freire de Carvalho com 4 alunos ensinava retórica, poética, eloquência, crítica e poesia.
1835: A Lei 13, de 28 de março, e o regulamento 3, de 22 de abril, estabelecia que a instrução intermédia contava com as seguintes matérias: 13 cadeiras de latim e poética, incluindo São João del-Rei; 17 cadeiras de latim e francês, somando 30 cadeiras. (...) Nos externatos de Diamantina e São João del-Rei havia cadeiras de latim e poética respectiva, francês e inglês, retórica e literatura clássica, língua e poética portuguesa, filosofia e princípios de direito natural, geografia universal, corografia do Brasil, cronologia e história universal, aritmética e álgebra limitada às equações de segundo grau, escrituração mercantil, geometria plana, desenho linear, topografia e agrimensura.
07/08/1835: Anúncio de aulas de dança: "uma arte encantadora para uma educação cuidadosa
21/10/1837: Nasce Antônio José da Costa Machado (mais tarde Padre Machado), que se tornou pessoa eminente na educação.
1838: Início do colégio Nossa Senhora da Conceição, externato de educação intermédia, ensinando latim, francês, inglês, geografia e filosofia. O Padre José Antônio Marinho ensinava filosofia moral e retórica desde 1832, mas foi suspenso e demitido na Revolução Liberal de 1842. 
Neste ano, em 08/12/1838, dá-se a elevação da Vila a Cidade.
1839: Neste ano foram criadas escolas de farmácia em Ouro Preto e São João del-Rei, ensinando farmácia e matéria médica. A escola de Ouro Preto ainda funciona e a nossa teve pouca duração.
1843: Neste ano, funcionava o colégio Margarida Cortona, ensinando a instrução primária, a doutrina cristã, gramática nacional, francês, desenho e prendas domésticas como "ponto-de-marca", música e dança.
1848: Funcionava o Colégio Duval, um dos melhores do Império, fundado por ingleses que vieram explorar ouro desde 1830. O colégio ensinava primeiras letras, doutrina cristã, latim, francês, inglês, aritmética, geometria, filosofia, geografia, história, retórica, desenho, música vocal e instrumental. Funcionou na Casa da Intendência, junto com a residência dos ouvidores, o quartel e a fundição oficial de ouro.
1854: O Colégio Dalle passou da Rua de São Francisco para Matola.
1856: A célebre cantora Candiani cantou na Procissão do Enterro como Verônica.
Ainda no mesmo ano, o Colégio Nossa Senhora das Dores ou das Mercês avisa que o ano letivo começa no dia 7 de janeiro e vai até 20 de dezembro.
07/03/1858: O diretor do Colégio Duval entrega cinco contos de réis como primeira prestação de um empréstimo feito pelo governo provincial.
1859: José Antônio Rodrigues escreve nos "Apontamentos e notícias cronológicas de São João del-Rei", que o Padre Antônio Caetano de Almeida Villas Boas, orador sagrado, era o "terror do pecado e eco eloquente dos Evangelhos". Cita mais sete outros oradores sagrados nascidos nesta cidade. Dá como notícia cultural haver quarenta pianos na cidade. Diz também que as festas gastaram 150 arrobas de cera nas igrejas. Na revista do IHG-SJDR, volume IV, um artigo de Geraldo Guimarães noticia que, em 1859, havia uma população de 21.500 habitantes, sendo 15.200 homens livres, 6.300 escravos e 100 estrangeiros. A biblioteca possuía 9.000 volumes. Richard Burton visitou o externato (Colégio Duval), fundado em 1848, dirigido por um inglês, depois por um francês. Comentou a vista magnífica, na parte sul, no prédio em que funcionavam a Casa da Intendência, a residência dos ouvidores e o quartel das tropas de linha. Visitou a Santa Casa da Misericórdia, funcionando desde 1817. Elogiou a igreja de São Francisco, a mais famosa da cidade, senão de Minas Gerais. Pelas notícias do mesmo José Antônio, a cidade tem 8.500 habitantes em 160 casas, sendo 80 sobrados em 25 ruas calçadas. Havia 64 "casas de negócio". Quem mais certo? Rodrigues diz também que a cidade não entrou em decadência depois da fase do ouro por ser um entreposto comercial forte. Os capitais acumulados por parte da elite econômica centralizaram o crédito.
19/03/1860: Fundação da Casa Bancária de Custódio de Almeida Magalhães, depois transformada em banco.
17/01/1861: O Presidente da Província cria o externato de São João del-Rei. Neste ano, o Padre Machado foi nomeado para as cadeiras de Filosofia e Latim. Seu colégio surpreendeu o Imperador Dom Pedro II com a biblioteca, uma das mais ricas da província, com a cultura do Diretor e com a aplicação dos alunos em latim e francês. Funcionava em uma casa na Praça do Carmo.
1865: Neste ano, houve a publicação de Elementos de Estatística, de Sebastião Ferreira Soares, onde se afirma que São João del-Rei é a principal cidade comercial da província de Minas Gerais. Cita que, em 1861, só perdia em arrecadação para a capital, Ouro Preto.
1867: Neste ano, Richard Burton - o que citamos como visitante do externato - esteve na cidade e escreveu que teve prazer em chegar ao vale do Rio das Mortes. Este inglês comentou a rua principal e uma praça quadrada formada pelas melhores casas, cada qual com seu jardim. "Aboletou-se" no Hotel Almada e procurou o Capitão Custódio de Almeida Magalhaes. Conversou com o doutor Lee, médico que se casara na cidade há trinta anos. Foi apresentado ao senhor Carlos Copsey, de Cambridge, professor de inglês, matemática e geografia no liceu da cidade.
15/07/1867: Pedido de duas loterias nacionais para conseguir melhores cômodos onde ficariam os alienados, morféticos, doentes contagiosos, além da melhoria para recolhimento, educação e amparo dos expostos e abandonados. Foram concedidos em outubro.
1869: Outro colégio, Nossa Senhora das Dores, é citado pela qualidade do ensino. Atraía moças de Minas, São Paulo e da capital federal. Foi elogiado por Dom Pedro II e por Carlos de Laet, algum tempo depois.
07/08/1870: Marcado o dia 21 de agosto para inauguração do "recolhimento dos expostos" com despesas autorizadas para missa com música, convite às autoridades civis e religiosas, e a todos os irmãos. Depois da missa, a bênção do prédio.
08/03/1877: Começa a circular o jornal "Astro de Minas", que durou até 1888.
07/01/1878: Foi inaugurado o colégio São José, de Cândido José Coelho de Moura.
08/05/1878: Circulou o jornal "O Escolástico", com redação de Elói dos Reis e Silva, médico, e depois Deputado Constituinte da República, e de Fernando Cotrim Moreira da Silva, capitalista, benfeitor da Santa Casa da Misericórdia e outras entidades.
24/04/1881: Chegou a comitiva de Dom Pedro II e a Imperatriz. No dia 23, ele visitou o Externato e ainda inaugurou a Escola João dos Santos, na Rua da Prainha, mantida pelo Visconde de Ibituruna. Eram professores Aureliano Pimentel e Maria Eugênia Carramanhos. O nome da escola foi escolhido em homenagem ao pai do Visconde. Em 1911, com a morte do fundador, o prédio da Prainha passou ao Estado e à Santa Casa, até fechar. O Grupo Escolar de São João del-Rei funcionou de 1908 a 1918 na Rua da Prata e, depois, para o prédio próprio só em 1919.
1883: Neste ano, a Escola Normal anexa ao Externato, que foi reformado em 1871, ensinava: língua nacional, instrução moral, religiosa e cívica, história, geografia, francês, noções de ciências naturais, física, química, desenho linear e de imitação e música. Teve anexo um curso de agronomia para moças. A escola foi suprimida, em 1906, por economia do Estado e porque já funcionava o Colégio Nossa Senhora das Dores.
24/06/1884: Faleceu o Cônego Antônio José da Costa Machado, grande educador. Seu colégio , Nossa Senhora da Conceição, teve posição ímpar na galeria são-joanense. Foi sepultado na Capela do Santíssimo, Matriz do Pilar. Foi homenageado pelo professor Lara Resende quando criou o Colégio Padre Machado. 
Antes de 1890, houve o Colégio São Francisco, anexo ao asilo de órfãos, com o Padre João Sacramento. Pela qualidade do ensino foi equiparado ao Gymnasio Nacional Pedro II, no Rio de Janeiro, em 1904. Depois de 1913, instalou-se no "sobrado da frente", onde é, atualmente a Ladeira Tenente Vilas Boas. Na mesma casa, funcionou a Escola de Farmácia e, em 1915, começou o curso de odontologia, ambos do professor "Toniquinho" . O colégio funcionou até 1920.
16/06/1888: No salão da Philarmonica houve reunião dos eleitores republicanos para criar um jornal. Como não houve sucesso na venda de cotas, o professor Sebastião Rodrigues Sette Câmara resolveu editar por sua conta "A Pátria Mineira".
Obs.: Nos anos de 1890, a Philarmonica se exibiu em sua sala, no salão do Hotel Oeste, em casa do Professor Guilherme Barreto e no Clube São-joanense.
1891: Funcionou o colégio Jardim de Infância, lecionando todos os preparatórios e as matérias exigidas para qualquer carreira particular. Funcionou perto da Matriz e na Rua da Prainha. Havia também o Externato Travanca e o Instituto Caligráfico Travanca, na rua Antônio Rocha, depois na rua da Cruz, e depois na rua Santo Antônio.
 
 
IV. CEM ANOS SE PASSARAM... e V. MENOS DE CEM ANOS...
 
Após ter realizado a pesquisa sobre os séculos XVIII e XIX, onde prevaleceu o senso crítico do autor,  parece que ele não manteve a mesma linha metodológica que utilizou para lidar com fatos mais recentes, deixando transparecer o senso comum. Depois de 1917 até hoje, o autor se reportou a duas crônicas suas publicadas no jornal Tribuna Sanjoanense, respectivamente nas edições de 27/06/2017 e de 08 a 18/09/2017, incluindo, na parte final de seu livro, dois trechos dessas crônicas. Em linhas gerais, elas tratam de costumes de época e hábitos domésticos e sociais, reconhecendo ao final que pretende com elas despertar os historiadores para "completar os fatos" e que "há outras pesquisas, teses e escritos sobre o período, mas... Saudade é coisa muito boa...".

 

I. NOTAS EXPLICATIVAS

 

¹  COELHO, Evandro de Almeida: PASSEIO SENTIMENTAL, Barbacena: Gráfica e Editora Cidade de Barbacena, 2020, 90 p. 
 
²  De acordo com o Compendio Elementar de Metrologia para Uso das Escolas Primarias, por Dr. Jorge de Lossio, Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1865, as correspondências atuais para as unidades de peso que veremos aqui são: 
Arroba = 32 libras = 14.689,6 gramas, ou seja, quase 15 quilos 
Libra = 459,05 gramas, ou seja, quase meio quilo
Oitava = 3,5863 gramas 
Obs.: O ouro é um metal bastante denso. Enquanto um litro de água pesa um quilo (densidade de 1 g/ml), um litro de ouro (no estado sólido) pesa 19,3 kg (densidade de 19,4 g/ml). Mesmo comparado a outros metais, como o ferro (7,87 g/ml), o ouro ainda é bem pesado. Deve causar surpresa o fato de que todo o ouro já extraído no mundo, desde a antiguidade até hoje, caberia em apenas quatro piscinas olímpicas.
 
³  Aos 21 dias de janeiro de 1817 houve a mudança do nome da Casa de Caridade para de Misericórdia (conforme Ata transcrita na p. 137 do livro História da Santa Casa da Misericórdia de São João del-Rei (1783-1983), por Luís de Melo Alvarenga, Belo Horizonte: Gráfica Formato (apoio: BDMG Cultural), 2009, 444 p. 
 
  Há um pouco de confusão para nós com o que denominavam "colégio". Na época, ajuntar alunos e ensinar alguma coisa era tarefa do "professor". Depois da reforma Capanema, em 1942, houve mais segurança no vocabulário.

  Conforme notícia de falecimento do Professor Antônio Augusto Ribeiro Campos, do jornal A Nota, edição do dia 30/11/1917, esse professor depois de ter frequentado o Instituto de Humanidades, os colégios São Francisco e Maciel, cursou a Escola Normal desta cidade, onde, com dedicação e inteligência, se diplomou em 1899; mais tarde, foi nomeado inspetor técnico interino do ensino, função que cabalmente desempenhou durante um ano, pois que, ao fim deste tempo, deixou esse cargo para fundar o Liceu São Gerardo; fechado esse estabelecimento de ensino, voltou de novo o professor à inspeção técnica do ensino, cargo este que ultimamente exercia. Nasceu em Carmo do Rio Claro, em 1880 e faleceu em 27/11/1917, na véspera de completar 37 anos. 

  Externato Travanca, dirigido pelo Prof. José Rodrigues Ferreira Travanca, o qual, comprometido na propaganda republicana em Portugal, se refugiou em São João del-Rei e aqui, a 31/01/1903 desposou Ana Machado. No que se refere ao último endereço do Externato Travanca, ouvi de nossa avó paterna, Josefina Fonseca Braga, a informação de que a referida instituição educacional existira onde ela residia (atuais números 132 e 136 da Rua Santo Antônio). Sobre a austeridade do professor Travanca, ela narrava diversos "causos" divertidos.

15 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Tenho o prazer de enviar-lhe meu trabalho de resenha do livro PASSEIO SENTIMENTAL, de EVANDRO DE ALMEIDA COELHO, membro do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei.
Este é um livro que trata de sanjoanidades. Nele pulsa a emoção de alguém que se desdobra pela riqueza histórica de seu torrão natal. Isso se observa em tudo o que ele escreve.
O Blog de São João del-Rei o tem como colaborador desde 21/04/2014.

TEXTO
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2021/02/resenha-critica-do-livro-passeio.html

BREVE BIOGRAFIA
https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2014/04/colaborador-evandro-de-almeida-coelho.html

Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei

Gustavo Dourado (escritor, poeta de cordel e presidente da Academia Taguatinguense de Letras) disse...

Gratidão, confrade FJBraga. Sempre com bons textos, bons colaboradores e com boas informações, parabéns.
Abraços.
Gustavo Dourado

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (professor universitário, desembargador, ex-presidente do TRE/MG, escritor e membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Excelente livro do Evandro!!!

Frei Joel Postma o.f.m. (compositor sacro, autor de 5 hinários, cantatas, missas e peças avulsas) disse...

Olá Francisco e Rute. Obrigado pelas suas informações sobre este grande colaborador! Desejo-lhes, franciscanamente, "Paz e Bem!" na sua caminhada! f. Joel.

Pe. Sílvio Firmo do Nascimento (professor, escritor e editor da Revista Saberes Interdisciplinares da UNIPTAN e membro da Academia de Letras de SJDR) disse...

Recebido e agradecido
Abç
Pe. Sílvio

Unknown disse...

Querido Franz,
parabéns pela resenha, com observações importantes e perspicazes sobre a obra, em especial os aspectos relativos ao interesse do autor pela educação.
Parabéns ao querido Evandro de Almeida Coelho, incansável pesquisador, pelo livro que é, ao mesmo tempo, um guia turístico e um olhar sobre a história da nossa terra natal.
Abraços,
Petete
(Elizabeth dos Santos Braga)

Elizabeth dos Santos Braga (professora universitária (da USP), orientadora de monografias e teses na área da Educação e escritora) disse...

Querido Franz,
parabéns pela resenha, com observações importantes e perspicazes sobre a obra, em especial os aspectos relativos ao interesse do autor pela educação.
Parabéns ao querido Evandro de Almeida Coelho, incansável pesquisador, pelo livro que é, ao mesmo tempo, um guia turístico e um olhar sobre a história da nossa terra natal.
Abraços,
Petete
(Elizabeth dos Santos Braga)

Unknown disse...

Quanta riqueza, tempos fecundos!
Parabéns, parabéns!
Vontade de ter vivenciado esse passado!
Impossível, pois são muitos e mtos anos!
Leitura gratificante!
Parabéns, parabéns!

Prof. Fernando de Oliveira Teixeira (professor universitário, escritor, poeta e membro da Academia Divinopolitana de Letras) disse...

Prezado Braga, laus Deo. Agradeço o envio. Saudações também para a esposa.

João Carlos Ramos (poeta, escritor, membro e ex-presidente da Academia Divinopolitana de Letras e sócio correspondente da Academia de Letras de São João del-Rei e da Academia Lavrense de Letras) disse...

Parabéns pelo texto.O passado é importante para quem tem sede. Obrigado!

Paulo Roberto Sousa Lima (escritor, gestor cultural e presidente reeleito do IHG de São João del-Rei para o triênio 2021-2023) disse...

Prezado confrade, boa tarde.
Vc é cada vez mais um surpreendente redator: com sua lucidez, competência e conhecimento, enobrece o texto que resenha. Parabéns e obrigado pelo carinho ao nosso confrade Evandro Coelho.
Abraços fraternos para vc e Rute.
Paulo Sousa Lima

Danilo Gomes (escritor, jornalista e cronista, membro das Academias Mineira de Letras, Marianense de Letras e Brasiliense de Letras) disse...

Mestre Braga,
agradeço o envio da matéria sanjoanense do Dr. Evandro de Almeida Coelho, "Passeio sentimental", que li com proveito.
Abraço do Danilo Gomes.

Gilberto Mendonça Teles (autor de O terra a terra da linguagem e Hora Aberta-Poemas Reunidos e é membro da Academia Goiana de Letras) disse...

Obrigado, meu caro Francisco Braga. Aprendi muito bem sobre a história da sua famosa cidade.
Abraço do Gilberto Mendonça Teles

Frei Joel Postma o.f.m. (compositor sacro, autor de 5 hinários, cantatas, missas e peças avulsas) disse...

Olá, Francisco e Rute,
Obrigado pelas suas informações sobre este grande colaborador. Desejo-lhes franciscanamente "Paz e Bem!".
Abraço. F. Joel.

Anizabel Nunes Rodrigues de Lucas (flautista, professora de música e regente são-joanense) disse...

Excelente o livro do nosso amigo Prof. Evandro como também excelentes seus comentários sobre o mesmo. Temos que nos sentirmos muito orgulhosos em sermos sanjoanenses pela riqueza de nossa história cultural.