domingo, 27 de julho de 2025

OUTRAS TRILHAS...

Por José Carlos Hernández Prieto *

Transcrevemos com a devida vênia do autor excertos de seu livro OUTRAS TRILHAS..., pp. 106-7, 117 e 146-7
À Espanha que me viu nascer,
e ao Brasil que me acolheu.
.

 VIVA ESPAÑA

A Espanha é uma das quatro únicas nações do mundo cujo hino não tem letra ¹. Apenas música. Essa idiossincrasia toda tem suas explicações, que acredito não caberem aqui. Sirva, a título de resumo e pista, a expressão que Bismark, o "Marechal de Ferro" e grande mestre da reunificação alemã no século XIX, cunhou para se referir a esse "país esquisito": A Espanha é a nação mais forte do mundo. Os espanhóis estão tentando destruí-la há séculos e não conseguem

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pois bem; num arroubo do orgulho ferido ao se defrontar com o meu DNA, criei uma letra. Se não servir para a Espanha, servirá para mim. 
 
Viva España, 
idea de esperanza 
cuya vista alcanza 
el cielo y el porvenir. 
 
Viva España 
farola de alumbrar 
la Océana Mar 
y la paz de vivir. 
 
Vamos juntos 
a la historia honrar 
y el ejemplo dar 
con luz y dignidad. 
 
Vamos hispanos, 
cantar Libertad, 
la Democracia y Paz 
que nos queremos dar.
 

 
OUTRAS TRILHAS...

Na trilha da vida segui um roteiro; 
saí como Don Quixote a cavalgar. 
Bem pudera ser eu Sancho Escudeiro, 
que não fosse obrigado a enfrentar 
da vã utopia o Desafio matreiro. 
 
Porém, por obra e arte de Alquimia, 
ao querer, olhar longe e separar 
o bem do mal, onde o Saber se cria, 
vi, qual arco-íris, uma luz a entrar 
na canhestra prisão que me tolhia. 
 
Por fim em paz, pôde então minha mente 
entender o que o Sábio disse à grei: 
Livre das "certezas", meu ser latente, 
livre das "verdades", sei que não sei. 
 
Liberdade ganhei para pensar, 
e tenho, além, coragem para agir, 
tirar, pois, a couraça e caminhar, 
leve como a pluma a vida seguir.
 

 
En búsqueda del abrazo perdido 
 
¿En qué lugar te escondiste, querido abrazo; 
qué tormentas te llevaron tan lejos de mí? 
Detrás quedó el tiempo de tu cálido lazo, 
del cariño que ofreces a mi cuerpo, sí... 
 
Me cuentan que un virus te raptó sin piedad, 
que tan pronto no te tendré de vuelta a mi lado; 
sufriré angustias por tu falta  ¡a esta edad! 
Qué hacer... quizá apelar a ese dios alado, 
 
para que, muy breve, te traiga nuevamente 
a presencia de mis emociones, acurrucadas, 
tu humano toque a donarse, oferente, 
 
a mi alma, a tantas preces apaciguadas, 
saciadas con tu aceite alcanforado, silente, 
¡para nunca, jamás, perder tus gracias amadas! 
 
Tradução do próprio autor: 
Em busca do abraço perdido 
 
Em que lugar te escondeste, querido abraço; 
que ventos te levaram para longe de mim? 
Atrás ficou o tempo de teu cálido laço, 
do aconchego que ofereces ao meu corpo, sim... 
 
Contam-me que um vírus raptou-te sem piedade, 
que tão cedo não ter-te-ei de volta ao meu lado; 
sofrerei angústias por tua falta  nesta idade! 
O que fazer... talvez apelar ao deus alado, 
 
para que, muito breve, te traga novamente 
ao seio de minhas emoções acalentadas, 
teu humano toque a se doar, oferente, 
 
à minha alma, às minhas preces apaziguadas, 
saciadas com teu óleo canforado, silente, 
para nunca, jamais, perder tuas graças amadas!
 
 
II. NOTA EXPLICATIVA
 
 
¹  As outras três são Bósnia e Herzegovina, San Marino e Kosovo. 
 
 
* Natural de Salamanca, Espanha em 1953, veio para São João del-Rei em 1960 acompanhando seus pais. Em 1970, mudou-se para Belo Horizonte, onde se formou em Administração de Empresas na UFMG. Retornou definitivamente à sua terra de adoção em janeiro de 2013. É escritor, articulista e tradutor técnico e literário do espanhol. Foi nomeado tradutor juramentado em El Salvador em 2004 e no Brasil em 2009.  Tendo sido convidado para participar do Instituto Histórico e Geográfico e da Academia de Letras desta cidade, atualmente é membro efetivo dessas duas instituições são-joanenses.


III. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


PRIETO, José Carlos Hernández: OUTRAS TRILHAS..., Barbacena: Gráfica e Editora Cidade de Barbacena, 2022, 160 p.
 
____________________________:  Quando o Brasil virou a casa da Mãe Joana,  publicado pelo Blog de São João del-Rei em 07/08/2017.

____________________________: Elogio ao Patrono Hildebrando Bolívar de Magalhães, pelo Acadêmico José Carlos Hernández Prieto, publicado pelo Blog de São João del-Rei em 10/09/2016.

____________________________: Irmã Gema: exemplo de vida, publicado pelo Blog de São João del-Rei em 30/11/2015

____________________________: Meu tipo inesquecível, publicado pelo Blog de São João del-Rei em 16/10/2015

____________________________: Colaborador: JOSÉ CARLOS HERNÁNDEZ PRIETO, publicado pelo Blog de São João del-Rei em 16/10/2015

domingo, 20 de julho de 2025

A TEORIA DA MINEIRIDADE


Por BENÍCIO MEDEIROS *
"O mineiro é velhíssimo, é um ser reflexivo, com segundos propósitos e enrolada natureza."
      João Guimarães Rosa  
Otto Lara Resende (✰ São João del-Rei, 1º/05/1922 ✞ Rio de Janeiro, 28/12/1992) ocupou a cadeira nº 39 da Academia Brasileira de Letras.

Minas assumiu o poder com a Revolução de 30. Não o poder político. O poder cultural. Embora o movimento tenha sido liderado pelos gaúchos, com Getúlio Vargas à frente, coube a um mineiro, Gustavo Capanema, dirigir a política educacional e cultural do governo Vargas, na qualidade de ministro da Educação e Saúde Pública. 

Muito já se falou da luminosa passagem de Capanema pelo MES. Decerto favorecido pela ditadura estadonovista, que tornou de fato efetiva a carta-branca a ele conferida por Getúlio, Capanema, durante a sua gestão, promoveu a sua revolução particular, espanando, com extraordinário vigor, o empoeirado universo cultural da época. 

Com o poder que lhe foi delegado, ele introduziu nos sistemas oficiais conceitos e pontos-de-vista ao gosto dos modernistas de 22 que não haviam no entanto, àquela altura, merecido o crédito da sociedade e, menos ainda, das chamadas autoridades constituídas. O Brasil, culturalmente falando, era ainda um país tacanho, dos saraus pseudoliterários e das conferências meloparnasianas, comandado, esteticamente, pelos cânones mais retrógrados das beaux arts

Mineiro, Capanema cercou-se de mineiros. Pôs como seu chefe de gabinete Carlos Drummond de Andrade (como o ministro, de uma geração anterior à de Otto ¹), o que por si só equivalia a uma tomada de posição. O poeta, tido como comunista, não era benquisto pela nata da sociedade conservadora, incluindo-se aí os velhos mandarins dos círculos literários oficiais e os representantes da direita católica. 

Eram conhecidas, por exemplo, as diferenças entre o poeta de Claro Enigma e o crítico Alceu Amoroso Lima ². Em março de 1936, Drummond recusou-se a assistir a uma conferência de Alceu, "A educação e o comunismo", no MES. Por causa disso, o poeta-funcionário-público se viu obrigado a por o cargo à disposição do ministro, que, no entanto, desconsiderou sua atitude. 

O episódio pode parecer estranho à luz da atualidade. Mas fazia parte da guerra ideológica que se travava no período. Cruzado e patrulheiro da causa do catolicismo, embora com os anos tenha arrefecido sua posição no que esta tinha de mais intolerante, Alceu Amoroso Lima foi, na mesma época, o responsável pela demissão do cronista Rubem Braga do Diário da Noite, de Assis Chateaubriand. Irreverente e anticlerical, Braga escreveu, num momento infeliz, que a Igreja espanhola "não passava de uma pinóia". Só por causa disso Alceu, indignado, pediu a cabeça do jornalista. Chateaubriand a concedeu. 

Outro mineiro ilustre no MES foi o jovem advogado, escritor e jornalista Rodrigo Melo Franco de Andrade. Para não fugir à regra da tradição da sua terra, tinha publicado um livro de contos tristes, Velórios, do qual aliás não gostava. Rodrigo foi o criador, em 1937, do antigo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN), voltado, pioneiramente, para a preservação do patrimônio cultural brasileiro. 

A perspectiva do MES era a de reconhecer e identificar os valores notáveis do nosso passado, através do SPHAN, e, ao mesmo tempo, projetá-los ao futuro, a partir do reconhecimento de certas propostas da vanguarda que ainda causavam ojeriza tanto ao senso comum como às elites renitentes. Algumas das cabeças mais brilhantes da época se associaram a essa tarefa de redescobrir, com novos olhos, o passado cultural brasileiro. 

Mário de Andrade, por exemplo, foi um colaborador incansável de Rodrigo desde os primeiros tempos, tendo redigido o anteprojeto de criação do SPHAN e, mais tarde, como um caçador de relíquias, saído pessoalmente à cata de dados pelo país, particularmente o interior de São Paulo, que enriqueceriam o repertório conceitual da instituição e engrossariam as suas primeiras listas de bens tombados. 

Mário de Andrade se tornaria uma espécie de mentor e orientador intelectual do grupo de mineiros de que Otto Lara Resende fazia parte. De espírito aberto e extrovertido, entusiasta dos esforços literários da juventude, o autor de Macunaíma, a partir da sua obra e de suas passagens por Belo Horizonte, influenciaria de forma decisiva a carreira de Otto e de seus amigos, que, durante anos, mantiveram correspondência com o escritor, já então consagrado. 

O MES, ou melhor, Gustavo Capanema, acolheu e prestigiou artistas que encontrariam, naquela época, pouco espaço de atuação fora do abrigo da estruturas oficiais. Encomendou painéis ao incompreendido Portinari. Esculturas aos malditos Celso Antônio, Bruno Giorgi e Lipchitz, cujo talhe moderno incomodava a muitos. E até um edifício inteiro, a superenvidraçada sede do MES, a um grupo de arquitetos liderados por Lúcio Costa, achando-se entre estes um jovem especialmente talentoso, porém ainda desconhecido: Oscar Niemeyer. 

Tanto Lúcio Costa como Niemeyer  conduzidos logo depois, pelas mãos de Juscelino Kubitschek, a Belo Horizonte  teriam papel destacado no sentido de arejar um pouco a então fechada, e mesmo opressiva, sociedade mineira. Por volta de 1940, no entanto, os jovens mais esclarecidos de Belo Horizonte, entre os quais Otto Lara Resende, só tinham olhos para a guerra na Europa. E, apesar dos feitos vanguardistas do conterrâneo Capanema na Capital Federal, todos detestavam Getúlio. 

Mais de uma vez, Otto Lara Resende valendo-se, em geral, de opiniões alheias pautadas no determinismo geográfico, descreveu o mineiro como um ser à parte no contexto das psicologias regionais. Se o brasileiro do litoral, por exemplo, tendia à comunicabilidade e à extroversão, o homem da montanha era, em geral, um ser reservado, desconfiado e muito cioso do seu universo individual. 

Num artigo sobre Carlos Drummond de Andrade "O mel oculto, o áspero minério", na tentativa de explicar a personalidade do poeta, Otto se refere a um texto de Guimarães Rosa sobre o "enigma mineiro" (expressão de Otto). Nele, ao seu estilo, o autor de Tutameia arrola algumas características que lhe pareciam fundamentais do montanhês:

Seu gosto do dinheiro em abstrato. Sua desconfiança e cautela. Sua honesta astúcia meandrosa, de regato serrano, de mestres na resistência passiva. Seu vezo inibido, de homens aprisionados nas manhãs nebulosas e noites nevoentas de cidades tristes, entre a religião e a regra coletiva, austeras, homens de alma encapotada, posto que urbanos e polidos.
A opinião de Drummond não é muito diferente:
O Estado mais tipicamente conservador da União abriga o espírito mais livre. Sua aparente docilidade esconde reservas de insubmissão, às vezes convertida em ironia, e de algum modo chocada na pachorra de esperar, que tanto ilude o observador apressado, incapaz de perceber a chama latente do borralho. As revoluções liberais em Minas ilustram isso.
A teoria da mineiridade explicaria em parte, assim, a Inconfidência e outros episódios históricos. A ironia e a dicotomia de espírito a que se refere Drummond estariam também na base do extenso anedotário envolvendo alguns políticos mineiros ilustres, de Benedito Valadares a José Maria Alkmin e Tancredo Neves. Valadares foi o interventor escolhido por Getúlio para governar Minas no Estado Novo. A notícia da sua nomeação causou surpresa à própria mãe, que não confiaria muito nos dotes intelectuais do filho. "Mas será o Benedito?" ³  teria ela exclamado, introduzindo assim no repertório popular uma nova interjeição. 

Outra anedota envolvendo Benedito Valares versa sobre um discurso que o político teria feito numa cidade do interior de Minas, conhecida pelo cultivo de uma fibra vegetal chamada pita. Começava assim: "Nesta região, onde a pita abunda..." Percebendo o cacófato, ele voltou atrás, tentou corrigir, mas a emenda saiu pior que o soneto: "Nesta região, onde abunda a pita..." 

A julgar até pela sua frase mais famosa, Otto Lara Resende, apesar da fidelidade às suas raízes, não cultivava bairrismo em relação a Minas. Disse ele:

O fato de Minas produzir muito escritor e muito banqueiro tem certamente a mesma explicação pela ecologia e pela sociologia. Mineiro é o povo que se deixa cortar o pescoço para não pagar imposto, porque não acredita no Estado. A própria formação de Minas, com aquelas levas de aventureiros de diferentes etnias que procuravam vender pastéis e miçangas aos arruinados do ouro, determinou uma economia de reflexos fechados, à base do pé-de-meia individual.
A mudança de eixo no poder, com a consequente abolição da "política do café-com-leite", pela Revolução de 30, gerou certamente, entre os mineiros, ressentimentos e preconceitos em relação ao governo central. Essa sensação de esvaziamento explicaria, em certa medida, o horror que Getúlio Vargas despertava em Minas, ao qual Otto e o seu grupo não eram indiferentes. Anos depois, já entendendo melhor os complicados meandros da política nacional, o escritor mudaria de ideia. 

Como jovem repórter, já no Rio, cobrindo a instalação da Constituinte de 1946 para O Globo, Otto Lara Resende teve a oportunidade de conhecer de perto Getúlio Vargas, então um ex-presidente retornando ao poder, dessa vez ao poder legislativo, na qualidade de senador dos mais votados. Essa entrevista renderia a Otto, mais tarde, algumas de suas melhores páginas. 

Ele encontrou-se com Getúlio no apartamento deste, no Morro da Viúva. Em vez do repulsivo tirano da sua adolescência, deparou-se com um homem algo bonachão, às vezes mesmo meio tímido, disposto a ouvi-lo paternal e pacientemente, sempre com um atencioso sorriso nos lábios. Deu até espaço para que Otto, um mero foca ³, explicitasse todas as suas furibundas críticas acumuladas contra o Estado Novo. Depois disse: "Tu és ainda muito jovem e não sabes que um ditador não pode fazer tudo. Um dia saberás." 

Curioso, anotou o repórter, é que o ex-presidente chamava-se a si próprio de "ditador", mesmo termo usado pela imprensa de oposição para ofendê-lo. Anos depois, anotaria o escritor maduro:

A despeito de seu estilo caudilhesco, de sua formação pouco inclinada ao prestígio das instituições democráticas, é possível que a História venha um dia a reconhecer, sem paixão, que Getúlio Vargas foi um momento importante em nossa trajetória republicana.
Nos tempos da juventude de Otto, no entanto, eram poucos os mineiros que pensavam assim.
 
 
* Jornalista e escritor, nasceu em Niterói-RJ em 1947 e faleceu no Rio de Janeiro em 11/10/2019. Estreou na imprensa em 1970 como repórter do jornal Última Hora. Trabalhou como editorialista no Jornal do Brasil, no Estado de S. Paulo; foi repórter e crítico literário da revista Veja, redator da revista Isto É, editor do Jornal da Globo e redator-chefe da revista Manchete. Também foi diretor de jornalismo da Academia Brasileira de Imprensa (ABI), editor da Revista do Livro da Biblioteca Nacional, tendo participado do conselho editorial da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. É autor de “A poeira da Glória” (Relume Dumará, 1998), “Brilho e sombra” (Bem-Te-Vi, 2006), sobre a vida e obra de Otto Lara Resende, e “A rotativa parou” (Record, 2010), que relata a história do jornalista Samuel Wainer à frente do jornal Última Hora.
 
 
II. NOTA EXPLICATIVA do gerente do Blog 

 
¹ Efetivamente, é da vida e obra de Otto Lara Resende que trata o livro "A Poeira da Glória" de Benício Medeiros, de cujo terceiro capítulo intitulado "A teoria da mineiridade", esse texto foi extraído. 
 
² O célebre pensador e crítico literário brasileiro, Alceu Amoroso Lima, adotou o pseudônimo de Tristão de Athayde, ao se tornar crítico em O Jornal (1919).
 
³  Na gíria brasileira, "foca" significa jornalista novato, sem experiência. 
 
Marcelo Duarte, in Guia dos Curiosos, dá a seguinte versão para o dito popular: "A expressão "Será o Benedito?" nasceu em 1933, quando o presidente Getúlio Vargas demorou muito para escolher o interventor de Minas Gerais. Todos temiam que ele escolhesse o pior candidato, Benedito Valadares. Por isso, a população se perguntava: "Será o Benedito?" E o Benedito foi o escolhido."
 
 
III. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
 
 
MEDEIROS, Benício: OTTO LARA RESENDE: a poeira da Glória, integrante da série Perfis do Rio. Rio de Janeiro: Ed. Relume Dumará: Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, 1998, 141 p. 
 
__________________: À SOMBRA DO CARAÇA, 2º capítulo do livro A POEIRA DA GLÓRIA, postado no Blog de São João del-Rei em 08/01/2025  

sexta-feira, 4 de julho de 2025

SER NOBRE É TER IDENTIDADE: patrimônio sociocultural de São João del-Rei

Por ALZIRA AGOSTINI HADDAD *

Este livro integra o "Projeto Ser nobre é ter identidade: patrimônio sociocultural de São João del-Rei", aprovado pela Lei Rouanet de incentivo à Cultura e conta com o patrocínio da Cemig. Tem por objetivo identificar, valorizar, divulgar e registrar pesquisas e registros do patrimônio da Estrada Real através de ações socioculturais, publicações de educação patrimonial diversas, exposições presenciais e virtuais e portal/Banco de Dados e Imagens.
A Estrada Real foi instituída como rota oficial da Coroa Portuguesa no século XVII e é considerado o mais importante circuito histórico-turístico-cultural no Brasil. O Circuito Estrada Real é um projeto que nasceu em São João del-Rei/MG, idealizado por Átila C. Godoy e Oyama Ramalho.
Criação, projeto gráfico, editoração digital, tratamento das imagens, pesquisa, textos, capa e coordenação: Alzira Agostini Haddad/Atitude Cultural São João del-Rei.

 


Apresentação
 
Este livro apresenta a história real de um projeto de vida que envolve e interliga inúmeros projetos de vida, registrados neste inventário interativo e também digital, sobre os potenciais e as vulnerabilidades das cidades via Banco de Dados/Rede Colaborativa pró-Agenda 2030/Cidades Transparentes, projeto-piloto focado nas práticas, na identidade e na memória social. Exemplos, fatos, citações históricas, pesquisas, realizações, manifestações diversas fortalecem nossa capacidade de superar inevitáveis riscos e perdas a que a condição humana nos submete, assim como incontáveis ganhos, sementes, reinvenções, reivindicações, transformações e possibilidades que todas as experiências compartilhadas trazem em seu âmago. 
 
Por conta das dinâmicas sociais vulneráveis, dos desafios climáticos, desastres naturais e dos desmontes das conquistas sociais, ter um Banco de Dados Colaborativo é fundamental. Empodera os esforços e projetos dos protagonistas e das lideranças da comunidade, alinha-se com as principais referências e ODS-Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que recomendam preservar a qualidade de vida, a paisagem urbana e o meio ambiente. O desenvolvimento local mais consciente e sustentável envolve caminhar em sincronia com esses princípios rumo a uma direção mais lúcida e promissora. Organizar dados à deriva com uma curadoria inteligente de conteúdos gera esperança de poder favorecer um alinhamento e a planificação de conceitos, avanços, estratégias, técnicas e metodologias, pró-produção e aplicação mais correta do conhecimento. Beneficia o potencial que só uma rede colaborativa permanentemente interconectada torna possível, possibilitando parcerias, representatividade e cooperação local e internacional. 
 
O Brasil está bastante avançado na área de governo digital/e-Gov. Muitos são os desafios e as oportunidades para se construir uma confiável rede de apoio e de transformação que possa favorecer a Inteligência Artificial (IA) entre outros, e tem-se feito isso com muita determinação, sistematizando e catalogando, dentro do possível, toda construção humana acessível. Que esses esforços possam estruturar e inspirar melhores práticas, melhoria no sistema como um todo, nos empreendimentos e serviços, encontrar soluções economicamente mais sustentáveis e sobretudo favorecer a geração de trabalho e renda através dos legados e produtos locais. Portais de transparência e redes de referência somam esforços na esperança de se romper com o que as nações vêm vivenciando com relação às violações dos direitos humanos e princípios fundamentais da Humanidade. 
 
O processo de construção deste livro integra e representa parte do acervo digital de conteúdos e de fotografia documental do Portal SJDRT/Atitude Cultural e conta com a contribuição de diversos profissionais e fotógrafos. Buscamos uma representatividade entre as mais de 45 mil imagens pesquisadas e selecionadas para esta publicação, dos temas aqui apresentados da personalidade do nosso universo cultural. Um mosaico de dados, de fotos e manifestações, projetos e iniciativas que conta a trajetória de mestres, artistas, grupos, entidades, instituições, projetos e iniciativas de São João del-Rei, relacionando e envolvendo fios do tempo e de histórias, agora interligando Tiradentes e Ouro Preto
 
Ser nobre é ter identidade, projeto aprovado pelo Ministério da Cultura

 
Apresentamos também o inventário dos projetos da Atitude Cultural de pesquisa-ação, metodologia que possibilita a observação, a análise, as propostas e a detalhada divulgação dos registros coletados, envolvendo interação, moderação e decisão conjunta e participativa das ações e dos projetos, associando todas as conexões possíveis, o que se tem realizado sob diversos formatos: exposições, publicações, documentários, ações de educação patrimonial, produtos culturais e o Bando de Dados e Imagens. Esse nosso recorte remonta linearmente uma soma de esforços coletivos que relatam parte do nosso patrimônio cultural e memória afetiva; um livro impresso e digital sobre diversos temas e projetos, com o link da versão e-book gratuitamente disponibilizado e Áudio livro, que apresenta em detalhes a alma das cidades via Banco de dados e imagens, com milhares de QR Codes que se desdobram em milhares de hiperlinks. Projetos, manifestações, portal e livro dinâmicos, que se atualizam e se transformam diariamente fazendo pontes e vínculos infinitos, uma co-construção que, por sua característica, felizmente, nunca haverá de terminar. 
 
Acreditamos que toda cultura gerada com recursos públicos precisa ser inventariada, ser registrada e disponibilizada em Bancos de Dados local/global, para que possam identificar, divulgar e testemunhar o trabalho e a dedicação de todos para esta e as próximas gerações e é o que temos feito. A todos os protagonistas e guardiões do nosso bem mais precioso e da nossa herança cultural todo o nosso respeito e nossa gratidão. 
 
A identidade sociocultural com que sonhamos é a identidade sociocultural que podemos construir. 
 
Para acessar o e-book do livro Ser Nobre é ter Identidade, queira clicar no Linkhttps://saojoaodelreitransparente.com.br/files/ebooksernobre.pdf
 
 
* Nascida em São João del-Rei, é cidadã ítalo-brasileira, graduou-se em Psicologia pela
 UFSJ-Universidade Federal de São João del-Rei, é pós-graduada em "Revitalização Urbana e Arquitetônica" pela UFMG, em "Conservação, Gestão e Valorização de Bens Culturais" pelo IILA-Instituto Ítalo Latinoamericano, em "Desenvolvimento Local" pela OIT-Organização Internacional do Trabalho, em Gestão Cultural com ênfase em Cooperação Internacional/Instituto Hominus/PA e Duo Informação e Cultura; possui Curso de Gestão Colaborativa e Curso Hackeando a Burocracia da Colab University. É fundadora e curadora da Atitude Cultural e do Banco de Dados e Imagens/Portal São João del-Rei, Tiradentes e Ouro Preto Transparentes e já representou São João del-Rei e o Brasil em eventos nacionais e internacionais. É gestora sociocultural, fotógrafa, designer, pesquisadora, escritora. Publicou agendas, fotolivros e livros de educação patrimonial diversos. Desenvolve projetos e ações ligadas ao resgate das principais manifestações culturais e tradições populares e eruditas, com temas relacionados à identidade cultural e à sua preservação.

quarta-feira, 2 de julho de 2025

150 anos do falecimento do Venerável Dom Viçoso

Por Instituto Roque Camêllo *

Daniel Viçoso Ferreira Rolim (Viçoso, acrescentado a seu nome por ter sido miraculado pela intercessão do Venerável Dom Viçoso), assinando o livro de presença na Cartuxa.

No próximo 07 de julho de 2025, por ocasião dos 150 anos do falecimento de Dom Viçoso, haverá a peregrinação para Cartuxa, local onde ele faleceu, com saída às 07h30min da Catedral, e às 10h, na Cartuxa, a Celebração Eucarística, com participação de Pedro Antônio e Vítor Leonardo, conhecidos como “Meninos de Mafra”, quando irão interpretar o Hino a Dom Viçoso. 
 
Estudar música disciplina a criança e a enriquece espiritualmente.” Frase repetida pelo professor Roque Camêllo, homem que via na educação séria e comprometida a força motora de libertação de um povo. Por isso, seu encantamento e sua devoção a Dom Viçoso, 7º bispo de Mariana e de todo o território mineiro àquela época. 
 
Dom Viçoso era o “Santo Particular” da família do poeta Carlos Drummond de Andrade, que lhe dedicou uma poesia com esse título. Ele nasceu em Portugal e veio para o Brasil a convite de Dom João VI, com o objetivo de ajudar na evangelização do povo. Aqui chegando, fundou colégios, pregou missões, restaurou o prédio e a pedagogia do Seminário de Mariana, além de promover a reforma do clero em Minas Gerais, posteriormente adotada por outras dioceses. 
 
Para Roque Camêllo e seu irmão, o Professor Maurílio Camêllo – este o responsável pela Positio super virtutibus et fama sanctitatis (Exposição sobre as virtudes e fama de santidade), que integra o processo de beatificação de Dom Viçoso –, o “Santo Particular” foi um homem de fé, sabedoria, realizador, culto e avançado para o seu tempo. 
 
Ao perceber que a escravidão e o analfabetismo persistiam, Dom Viçoso mandou buscar, em Paris, as Filhas da Caridade, conhecidas como Irmãs Vicentinas, para fundarem orfanatos, acolherem meninas que perambulavam pelas ruas e criarem um colégio destinado à educação das jovens. A finalidade era também sustentar os orfanatos. Para Roque Camêllo, era lapidar a justificativa de Dom Viçoso ao convocar as religiosas: “Somente proporcionando às jovens uma educação cristã e cultural, teremos uma sociedade mais civilizada e preparada, para dar à Pátria cidadãos completos. Não vos esqueçais de que a mulher, sobretudo a mãe, sempre será a primeira mestra”. 
 
O Conde da Conceição (título que Dom Viçoso recebeu do Imperador Dom Pedro II) foi o maior benfeitor de Mariana e do nosso Estado, tendo mudado a história do Estado. Faleceu pobre, em 07 de julho de 1875, na Chácara da Cartuxa, já com fama de santidade e amplamente reconhecido como o “Santo de Minas”. 
 
Seu processo de beatificação, iniciado por seu biógrafo, o primeiro arcebispo mineiro Dom Silvério Gomes Pimenta, ficou estagnado por mais de sessenta anos, até ser retomado por Dom Oscar de Oliveira. Posteriormente, foi Dom Francisco Barroso Filho, então bispo nomeado de Oliveira-MG, quem levou a documentação ao Vaticano, em 1984. 
 
Seu legado ultrapassa as fronteiras eclesiásticas: é reconhecido por estudiosos da história, da filologia, da literatura e da educação; foi tema de obras literárias e estudos acadêmicos; e sua importância é reconhecida pelo Vaticano, estando atualmente em curso seu processo de beatificação, já tendo recebido o título de Venerável de Deus. Aguarda-se a comprovação científica de mais milagres por intercessão do Venerável Dom Viçoso para dar o próximo passo no processo de canonização, que é a beatificação. 
 
Há muitos anos, Dona Efigênia Sacramento lidera um grupo de fiéis em peregrinação, da porta da Catedral até a Cartuxa, em oração, para participarem da Santa Missa. A caminhada ocorre todo dia 13 de cada mês, data de nascimento de Dom Viçoso, em Peniche, no dia 13 de maio de 1787. Este ano, a peregrinação será no dia 07. 
 
Pedro Antônio e Vítor Leonardo, conhecidos como “Meninos de Mafra”, estarão na Cartuxa, às 10h, para cantar na Celebração Eucarística e interpretar o Hino a Dom Viçoso. A mãe deles, Juliana Kuss, entoará o Salmo. Os irmãos Pedro Antônio e Vítor Leonardo farão refletir a riqueza da música nascida da fé e da tradição, em um percurso que remete às histórias de Roque Camêllo e Dom Viçoso. 
 
Meninos de Mafra
 
Assim como Roque, que acreditava no poder transformador das artes e defendia a música como expressão de valores e identidade, os “Meninos de Mafra” encantam por unir talento e espiritualidade, revelando que o canto que nasce do interior pode alcançar corações por todo o país, com a mesma simplicidade e força que marcaram o legado de Dom Viçoso, cuja fé também se manifestava em gestos culturais e educativos. 
 
* Fundado em 18 de março de 2018 em Mariana-MG.