domingo, 12 de julho de 2015

1ª edição do jornal "MOSQUITO", órgão oficial do Clube Literário "Pe. João Gualberto" do GINÁSIO SANTO ANTÔNIO DE SÃO JOÃO DEL-REI


Por Francisco José dos Santos Braga *

Dedico este artigo ao saudoso pesquisador e historiador são-joanense LUIZ ANTÔNIO FERREIRA, "Irmão", que partiu desta vida, deixando-nos órfãos de seu companheirismo fraterno, sem ter tempo de ver concluído este trabalho que incentivou e com o qual colaborou. Compartilhava graciosamente com todos os estudiosos o resultado de suas pesquisas solitárias. "Irmão" também será sempre lembrado por seu tom amistoso e conciliador que promovia a paz e como abnegado divulgador da obra e da história dos freis franciscanos que fundaram, ergueram e dirigiram o Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei desde 1904 a 1968.
Em primeiro plano: esq. p/ dir.: Luiz Antônio Ferreira, "Irmão"
e Rute Pardini, minha esposa; no fundo, Tuffy Resgalla Neto. Fotografia tirada por ocasião do meu Discurso de Defesa em homenagem a meu Patrono Lincoln de Souza - cadeira nº 22 do IHG de São João del-Rei (03/02/2013)




I.  INTRODUÇÃO



Tenho a grata satisfação de divulgar, do acervo do historiador Luiz Antônio Ferreira, por sua especial concessão, a 1ª edição do jornal "Mosquito", o qual circulou quinzenalmente em São João del-Rei de 20 de maio de 1917 até pelo menos a edição de nº 57, datada de 31 de outubro de 1920. 

Da 1ª edição do referido jornal extraí a matéria "Mosquito", que relata as peripécias por que passou a equipe de redação pesquisando um nome para o jornal até a escolha recair finalmente na denominação "Mosquito". Preocupações mercadológicas atordoavam-lhe a mente, pois do nome escolhido dependia a longevidade do jornal. O texto é ameno e bem humorado, mostrando elegância de estilo. 

Da 2ª edição do jornal quinzenal "MOSQUITO", datado de 31 de maio de 1917, também extraí o artigo intitulado "24 de Maio" para a composição da presente matéria.
Será rigorosamente respeitada a grafia da época.


Ginásio Santo Antônio de São João del-Rei


II.  MATÉRIA CURIOSA DA 1ª EDIÇÃO DO JORNAL "MOSQUITO"

 
"MOSQUITO" 
MOSQUITO Anno I São João d'El-Rey, 20 de maio de 1917 Nº 1
 
Questão de grande contravessia foi o saber-se que nome receberia o nosso jornaleco. Foi uma chusma de propostas, cada qual mais interessante, e das outras mais diversa. "Perereca".

"Formiga" e "Mosquito" foram os nomes que mais consideração mereceram no grave negocio.

Quiseram chamar-lhe "Perereca", mas e o medo de o levar à "breca"? Queremos que o "rapazito" tenha vida longa; não pensámos, mais, portanto, em o nome que suscita tal rima. "Formiga" - propuseram alguns. Má não era a idéa; mas ainda se lembrou alguem de pôr o seu "veto" allegando que "Formiga" podia criar asas "para morrer". Restava o "Mosquito".

Discussões ainda surgiram; mas era o nome que se lhe havia de dar ao novo "orgão", sob pena, talvez, de se chamar "Pagão".

Pretenderá ainda alguem que mal escolhido foi o nome; que tal bichinho é "implicante", nauseabundo, conductor de microbios, e não sei mais o que.

Que vá este alguem "pentear macaco ou assombrar porco"! "Mosquito" é que se ha-de chamar o nosso grande e imperterrito jornaleco! Bem o sabemos: o mosquito é conductor de microbios; mas é justamente o que nos serve. Queremos, deveras, espalhar microbios por todas "as quinze bandas".

Mister, porém, não se fará que evitem o encontro e a leitura da nossa grande folha, ou que a leiam, munidos de mil antisepticos, ou ainda que, antes, a sujeitem a um prolongado banho de "cruzvaldina"... Nada disso, boa gente! Os taes microbios serão todos bomzinhos, e não farão mal a ninguém. Queremos espalhar, por entre os nosso collegas, não o bacillo da tuberculose, da febre, ou cousa assim, mas o bacillo do estimulo, da boa vontade, do trabalho, e, por conseguinte, do progresso nos estudos, e, muito especialmente, na lingua vernacula.

O "Mosquito" será, pois, o orgão official, (e "brilhante orgão") do nosso club litterario "João Gualberto", pugnando a seu lado, sempre destemido, e munido de todas as armas legaes, pelo adiantamento dos alumnos do Gymnasio Santo Antonio.

Viva, pois, o "Mosquito", uma vida longa e fertil em beneficios!...

A alguem que tenha, por ventura, a "cachimonia" de devolver o nosso carrancudo e valente "Mosquito", desde já, aqui lhe desejamos uma recompensa: que, durante toda a vida o visitem, quotidianamente, todos os mosquitos que existam ahi pela praia afóra, deleitando-o, todas as noites, com aquella excellente orchestra e dansa interessante, que só elles sabem apresentar...

No proximo numero, que sairá pelo fim do mez corrente, mostraremos as vantagens que terão os paes de nossos collegas se receberem sempre, de boa vontade, o nosso "Mosquito".


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Com grande animação fundou-se, no Gymnasio Santo Antonio, um gremio litterario, destinado ao desenvolvimento intellectual dos alumnos deste Gymnasio. Em 21 de abril houve eleição da directoria que teve o seguinte resultado: director honorario e thesoureiro Pe. fr. Florentino; director, professor A. Rezende; presidente, Eurico Trindade; vice-presidente, Ignacio Ferreira; secretario, Vicente Soares; bibliothecario, Severo A. Ribeiro e procurador Silvio Ferreira.

Em commemoração a 13 de maio de 1888, houve uma pomposa reunião, na qual falaram os palestrantes Professor A. Rezende e Euclydes Soares.

Depois de haverem falado os palestrantes, o sr. presidente nomeou os oradores que devem falar na proxima reunião de 20 de maio.


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No dia 24, conforme está combinado, os alumnos do Gymnasio S. Antonio farão uma passeata militar pelas ruas da cidade, acompanhados pela banda de musica do 51 ¹.



Fonte: "MOSQUITO", orgão quinzenal do Club Litterario "Pe. João Gualberto" ², mantido e redigido pelos alumnos do Gymnasio Santo Antonio, Anno 1, nº 1, São João d' El-Rey, 20 de maio de 1917.


Corpo docente do Ginásio Santo Antônio (em 1944 aprox.) ³




III.  NOTAS EXPLICATIVAS DE FRANCISCO JOSÉ DOS SANTOS BRAGA



¹  O "51", como era normalmente chamado o 51º Batalhão de Caçadores, sediado em São João del-Rei no prédio da atual Escola Municipal Maria Tereza, dava para a Praça da República em 1917, a qual em 1928 teve seu nome alterado para Praça dos Andradas (atual Praça dos Expedicionários). Em 1920 o 51º Batalhão de Caçadores recebeu o reforço do 54º Batalhão de Caçadores, dando origem a uma nova unidade estruturada que recebeu o nome de 11º Regimento de Infantaria.

Atual Escola Municipal "Maria Teresa", que na época do texto sediava o 51º Batalhão de Caçadores

O 11º Regimento de Infantaria de Montanha (carinhosamente chamado de "11" ou Regimento Tiradentes pelo povo são-joanense) está sediado no prédio do Ginásio S. Francisco, onde funcionou a Escola de Farmácia de São João del-Rei (instalada em 12/01/1913 mantida pela Ordem de S. Francisco), o qual passou por muitas reformas e ampliações. Nos primórdios da Vila de São João del-Rei, nessas mesmas imediações havia o casarão e uma capela de Ambrósio Caldeira Brant, Mestre de Campo e Juiz Ordinário da vila.



Importante destacar a forte ligação desse destacamento militar com as forças vivas da sociedade - a sua juventude estudantil, conforme comprova a foto do corpo docente do Ginásio Santo Antônio, como também a foto abaixo dos ginasianos com seu uniforme cáqui característico:

Festa da Cruzada Mariana no Ginásio Santo Antônio  Obs.: O 2º menino sentado da 1ª fila (da dir. p/ esq.) é o saudoso Antônio Campos Tirado, "Antonito", irmão de Abgar Campos Tirado

Esse envolvimento fica perfeitamente evidenciado na descrição da referida passeata militar - a começar pelo nome - que teve lugar no dia 24 de maio daquele ano de 1917, data comemorativa da batalha de Tuiuti, a maior batalha campal da América do Sul, em artigo intitulado "24 de Maio", na 2ª edição do jornal "MOSQUITO", datado de 31 de maio de 1917. Vejamos, pois, o vigor dessa parceria:

"24 de Maio

Grande foi o enthusiasmo com que fizemos a nossa passeata militar, no dia 24 do mês corrente.

De uniforme kaki e perneiras brancas, estava um batalhão luzido e enthusiasmado a mais não poder.

Logo após o café, às 13 horas, começamos todos a andar numa roda viva, como soe sempre acontecer antes de taes festas collegiaes. Era um vae-vem sem fim, uma azáfama sem igual.

Rapazes e "guris" por todos os lados se viam a correr, este levando a farda, aquelle as perneiras, o boné, aquell'outro; todos, emfim, preoccupados, nervosos, eletrizados, como na espectativa de um magno acontecimento.

Às 16 horas, demandavamos o quartel do 51º . Lá chegados, recebemos o nosso bello pendão, os devidos armamentos; e, pondo-nos, de novo, em marcha, descemos pela Av. Carneiro Felippe e circundamos os caes, percorrendo depois as ruas Moreira Cezar, do Commercio, do Carmo, Marechal Bittencourt, do Rosario, da Prata e de S. Francisco , de novo indo ter ao quartel, onde, após as cerimonias de estilo, debandamos, tornando logo ao Gymnasio.

Eram já quasi 18 horas. Imaginem, por ahi, que "bulimia" não era a que nos assaltava furiosamente!...  Centenas de roedores parecia darem-se porfiadamente ao mesmo mister lá pelas "internas regiões estomacaes"...

E foi mesmo um "destroçar nunca dantes cá notado"... Se voltaram os talheres, até nem sabemos por que foi... dó, talvez, do nosso bom director, ou receio de ...., no dia seguinte, termos que lançar mão da moda feminina...

Talvez não tenhamos correspondido aos esforços do sr. tenente Rosemiro, nosso zeloso instructor. Em todo caso, merece elle parabens, por não ter, de todo, perdido tanto desvêlo.

✩     ✩

Qual seja o motivo de festejarmos aquelle dia, bem o sabe todo e qualquer brasileiro.

24 de maio é o anniversario de uma das maiores e mais gloriosas batalhas que se feriram na guerra do Paraguay.

Depois de alguns combates felizes, repousavam os nossos bravos soldados em Tuyuty, preparando-se para um ataque geral ao inimigo, quando, às 11 horas do dia 24 de maio, foram sorprehendidos pelo impeto de 25.000 adversarios. Terrivel foi o embate, e, a principio, aos paraguayos parecia sorrir a victoria. Alli, porém, é que com mais intenso fulgor devia de luzir a estrella do nosso grande general Osorio.

Ao cabo de cinco horas de peleja, desesperada de lado a lado, via-se o inimigo obrigado a ceder, ante o choque tremendo dos nossos heroicos soldados, dirigidos pela pericia e bravura do Marquês do Herval. Treze mil paraguayos coalhavam o campo de batalha.

Poucos tambem não foram os nossos destemidos compatriotas que ali dormiram o somno derradeiro. Perto de 4.000 brasileiros ali se entregaram nos braços desta morte que só é dada

"Àquelles que, por obras valerosas,
Se vão da lei da morte libertando..." 

Com os gemidos, porém, dos nossos heroicos moribundos, consolador se casava o sussurrar das asas da victoria, que adejava, sorridente, sobre as nossas fileiras.

Dez lustros já se amontoaram sobre a jornada gloriosa de 24 de maio de 1866; milhares e milhares de sóes já illuminaram aquellas paragens regadas com o sangue dos nossos valentes compatriotas! Interrogae, no entanto, as florestas e as montanhas, os arroios e os arbustos, os ceus e as campinas daquellas plagas longinquas, e ouvireis que tambem a nossa patria idolatrada tem tido filhos valentes e generosos; que tambem o nosso Brasil querido pode, com razão, ufanar-se de guardar, no seio da sua historia, paginas admiraveis, fulgurantes de gloria e de patriotistmo!

Visitae aquellas regiões do sul, e vereis que o farfalhar das arvores seculares, e o retumbar das cachoeiras alterosas, e o murmurar dos arroios colubrinos, e o trinar da passarada sempre leda, tudo e tudo, com harmonia, se entrelaça, erguendo, num côro eloquente e altisonante, um hymno de gloria e apotheose ao grande e legendario Marquês do Herval e a todos aquelles bravos que ainda lá repousam para sempre no seio daquella terra abeberada pelo sangue de tantos filhos da Terra de Santa Cruz!

Admiremos a bravura de tão valorosos compatriotas e procuremos imitá-los, se, um dia, de nosso serviço precisar a nossa Patria estremecida!"

²   Trata-se do Pe. João Gualberto do Amaral, colega de seminário do Pe. José Severiano de Resende. [LIMA JÚNIOR, 2002, 64-69] informa que Pe. João Gualberto, em 1907, respondeu prontamente às conferências do criminalista italiano anticlerical de esquerda Enrico Ferri com duas tumultuosas palestras: "Lição a Ferri" e "Má fé e incoerência de Ferri", apud BROCA, Brito: A vida literária no Brasil-1900. Pe. João Gualberto foi membro da Academia Paulista de Letras. A ele foi dedicado o poema "Miserere", constante do único livro de poemas (Mysterios) de José Severiano de Resende, conforme transcrito abaixo:
MISERERE

    A João Gualberto do Amaral – Sacerdos in aeternum

Por eu ser o mais réu dos demais pecadores
(E por ter a consciência escura e corrompida)
Longamente sonhei horrores sobre horrores,
Tenebrosas alucinações desta vida.

... (Eu vi sair do templo a procissão da Mágoa
Entre o horrendo sabat das turbas dissolutas
E pálido fiquei, com os olhos rasos d´água,
Ouvindo aos pés do altar sorrir as prostitutas...

... Vi o estertor feral do sacrilégio imundo
Insultar o Senhor na pompa do pecado
E tive compaixão dos homens e do mundo,
Quando o crime poluiu o Corpo Consagrado.

... Vi Satanás vestir os buréis dos ascetas
E, enchendo os corações de anátemas e sustos,
Arremedar a voz augusta dos Profetas
E ir às portas da morte interpelar os Justos...)

Orei ao Senhor Deus diante de tais horrores,
O meu rosto escondi na poeira das estradas
E deixei o clamor dos grandes pecadores
Ecoar no coração das almas condenadas.

Relata ainda Lima Júnior que o autor desses versos, quando de sua curta passagem por São João del-Rei (janeiro de 1900 a novembro de 1902), também indicou o Pe. João Gualberto para vigário interino da Paróquia da Matriz de Nossa Senhora do Pilar em substituição do Vigário Pe. João Batista Pereira Pimentel, o qual dividia as funções sacerdotais com as de presidente da Câmara Municipal e o resultado não era positivo para a comunidade. Como não foi aceita a indicação,  assumiu o cargo em 1902 o Pe. Gustavo Ernesto Coelho, com o apoio do vigário deposto.
Consta que essa indicação frustrada, feita pelo Pe. José Severiano de Resende, foi a gota d'água para o próprio pedido de demissão do cargo de capelão  da Santa Casa da Misericórdia são-joanense, datado de 2 de novembro de 1902, o qual vinha ocupando pelo menos desde junho do ano anterior.
[ALVARENGA, 2009, 354] registra nas suas Efemérides da Santa Casa da Misericórdia: "Dia 2 de novembro de 1902 - Lido ofício do Rev. Padre José Severiano de Resende, pedindo sua exoneração. Ficou encarregado da Capelania o Pe. José Pedro da Costa Guimarães, até quando a Mesa possa contratar novo Capelão."

³  Esta foto do corpo docente do Ginásio Santo Antônio não é contemporânea aos fatos relatados  na primeira e segunda edições do jornal "Mosquito" e só foi colocada aqui, para deixar evidente a perfeita integração que existiu entre aquele educandário e o Quartel sediado em São João del-Rei. Na realidade, esta fotografia deve datar do período entre dezembro de 1938 e 20 de julho de 1944. Tirei essa conclusão porque Frei Orlando, o herói da F.E.B., chegou a São João del-Rei em dezembro de 1938 e deve ter-se despedido daqui em meados de julho de 1944. É certo que ele se apresentou em 20 de julho de 1944 como Capelão Militar no Morro Capistrano, na Vila Militar do Rio de Janeiro, donde saiu somente em 22 de setembro de 1944, com destino à Itália.

Conseguimos identificar os seguintes professores na foto em questão:
Sentados (da esq. p/ dir.): Mário Mourão, Monsenhor José Maria Fernandes, Inspetor Mário de Castro Cunha, frei Aristides, ..., frei Erardo,  frei ..., Jupira Raposo. Em pé, na segunda fileira: Domingos Horta, Ten. Mário César Lopes, frei Bertrando, Assis, Matilde Gaede, ..., Dona Carmita. Em pé, na terceira fileira: Ten. Luís Gillarducci, Tomaz Perilli, frei Esteves, frei Optato, frei Clemenciano, frei Orlando, frei Bertrando, frei Jordano, Antônio Martins Castilho, frei Beno, frei..., frei Felicíssimo, Valdir Martins, Ten. ...                                
As reticências indicam que ignoramos o professor ou a professora a que se referem.

Em post anterior (http://bragamusician.blogspot.com.br/2009/12/105-anos-da-presenca-franciscana-em-sao_9760.html), no Blog do Braga, foi listada uma série de iniciativas tomadas no âmbito do Ginásio, que tiveram a participação direta do 51º e, mais tarde, 11º R.I.: desde 1920, houve uma Banda do Ginásio sob a regência do Prof. Tenente Christiano Müller cujo nome oficial era Lira São Francisco, apelidada "A Furiosa"; também, digno de nota foi um coral ginasiano regido pelo Maestro Tenente João Cavalcante, como se lê em "O Porvir" nº 324, Ano XX, de 11/11/1943.

Segundo o saudoso historiador do Ginásio Santo Antônio, o Sr. Luiz Antônio Ferreira, que foi funcionário do SETEC da UFSJ por mais de 30 anos, o uniforme dos ginasianos imitava o uniforme do Quartel, com exceção da cor, que, para aqueles, era cáqui e, para esses, verde. Portanto, além do uniforme cáqui, os ginasianos usavam bota quase até o joelho, calça por dentro da bota, desfilavam com carabina ao ombro, etc. Relatou que na década de 40 o instrutor de ordem unida para os ginasianos era o Tenente Mário César Lopes. Nossa terra lhe presta uma homenagem, ao denominar uma das ruas do Bonfim com o seu nome. Também o Ginásio, segundo o historiador Ferreira, adotou o sistema de usar flâmulas nas suas Olimpíadas disputadas entre alunos dos Cursos Ginasial e Colegial, em várias modalidades de esportes, tais como salto em altura e em extensão, corrida, lançamento de peso, dardo, provas de atletismo e provas aquáticas, como a ocorrida de 21/10 a 24/10/1948 em homenagem a frei Bertrando van Breukelen, noticiada em "O Porvir" de 21/10/1948. Finalmente, relatou Ferreira que houve manifestações conjuntas do Ginásio Santo Antônio e do Quartel contra Hitler, pelas ruas de São João del-Rei, sendo memorável a que foi realizada diante da antiga sede do Banco do Brasil, na Avenida Tiradentes.
"Irmão" e este autor conversando sobre a 
Família Franciscana do Brasil e outros assuntos, 
     no corredor próximo à cantina, nas instalações do antigo 
Ginásio Santo Antônio (atualmente, UFSJ)


  A denominação desses logradouros foi modificada às vezes em mais de uma ocasião, atendendo a motivação de ordem política, o que é criticável para muitos historiadores. Muitos nomes de ruas que foram estabelecidos durante o Império, foram modificados no início do século XX para atender a nova ordem republicana vigente.
A Avenida Carneiro Felippe, referida no texto, anteriormente denominada Rua do Paissandu, recebeu dois novos nomes a partir dessa época: Avenida Rui Barbosa (1918) e, mais tarde, Avenida Tancredo Neves (1985).
A Rua Moreira Cezar (em homenagem ao Cel. Moreira César, falecido em 03/03/1897 na Guerra dos Canudos, dando o seu nome ao da Rua Municipal até então vigente) passou a denominar-se atualmente Rua Ministro Gabriel Passos, do lado direito da Ponte da Cadeia. Essa mesma ponte teve seu nome alterado diversas vezes: Ponte (nova) da Intendência, Ponte de Baixo, Ponte da Cadeia e, após 1926, Ponte Municipal. Acredito que o nome atual não "pegou", porque continua a ser chamada de Ponte da Cadeia.
A Rua do Commercio passou a ser conhecida por Rua Marechal Deodoro.
A Rua do Carmo conserva a antiga denominação.
A então Rua Marechal Bittencourt tinha sido anteriormente conhecida e mencionada em antigos inventários como Rua da Cachaça. O pesquisador e historiador Aluízio José Viegas informa que já localizou no livro da Ordem do Carmo o sugestivo nome de Rua das Mães Joanas do Cabo Verde, vigente durante o século XVIII.
O nome Rua do Rosário, que, segundo Viegas, se iniciava no declive anterior à Ponte do Rosário, do lado esquerdo do Córrego do Lenheiro, e atingia a extremidade superior do Beco da Romeira, foi trocado por Praça Embaixador Gastão da Cunha. Naquela ocasião, a Rua Direita ligava a Rua do Rosário ao Largo do Carmo.
A Rua da Prata recebeu um novo nome: Rua Padre José Maria Xavier, em homenagem ao grande compositor são-joanense.
A Rua São Francisco teve seu nome alterado para Rua Dr. Balbino da Cunha.

[GUIMARÃES, 1994, 51-52] teceu interessantes considerações sobre a principal artéria de São João del-Rei, quanto à sua denominação.
Antes de adentrar o tema que o absorvia, fez pequena digressão de um parágrafo a título de preâmbulo:
"Em 1909, Rui Barbosa passou por Sítio, em campanha à presidência da República. Desse evento, possuo três fotos, onde se vêem Frei Cândido e o poeta Bento Ernesto Jr., entre outros. Mas, nem aqui ele veio.
Conversando com o historiador Luiz de Melo Alvarenga (⭐︎ 11/03/1902  ✞ 23/11/1989), certa feita, ele me ofereceu um manuscrito que se refere à principal artéria de São João del-Rei, quanto à sua denominação.
Ora, a lei municipal nº 178, de setembro de 1907, trocou para avenida Carneiro Felipe o nome da então rua do Paisandu. A 13 de agosto de 1918, aquele nome foi alterado para avenida Rui Barbosa, por influência republicana e, como consequência, a família do deposto mudou-se daqui.
É o seguinte o teor do manuscrito de Luiz Alvarenga:
A Resolução nº 407, de 13 de agosto de 1918, da Câmara Municipal, mudou o nome da Avenida Carneiro Felipe para Avenida Rui Barbosa, em homenagem aos 50 anos de vida... deste eminente baiano.
Sobre esse assunto a Reforma, sob o título "Ofensivo e Ilegal", comenta o ato da Câmara Municipal, que, em sessão extraordinária, ao anoitecer, resolveu substituir o nome da avenida Carneiro Felipe para avenida Rui Barbosa.
Diversas pessoas endereçaram ao Dr. José Carneiro Felipe, em Belo Horizonte onde reside, cartas protestando contra "o insólito deslise" e assegurando que a memória de seu pai não desmereceu da veneração, da estima e do conceito que sempre gosou.
Foi uma "afronta pública à família presente, que assistiu ser arrancada a placa com o nome do chefe querido, já morto e ainda pranteado pelos seus parentes e amigos".
Finalmente, o batismo definitivo de avenida Presidente Tancredo Neves constitui o reconhecimento sincero e eterno à memória de seu querido e indeslembrável filho são-joanense."



IV.  BIBLIOGRAFIA 




ALVARENGA, Luís de Melo: História da Santa Casa da Misericórdia de São João del-Rei (1783-1983), Belo Horizonte: Gráfica Formato, 2009, 443 p. (edição patrocinada pelo BDMG Cultural)

CINTRA, Sebastião de Oliveira: Nomenclatura de ruas de São João del-Rei, in Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, vol. VI, 1988, p. 05-24

GUIMARÃES, Fábio Nelson: Ruas de São João del-Rei, 1994, 55 p. (obra patrocinada pela FAPEC-Fundação de Apoio à Pesquisa, Educação e Cultura-São João del-Rei)

LIMA JÚNIOR, Renato Rodrigues: "O Refratário e Abnegado Pe. Severiano de Rezende". UNICAMP. Campinas: Biblioteca do Instituto de Estudos da Linguagem, 2002, 218 p.



V.  AGRADECIMENTOS


Gostaria de registrar aqui meu agradecimento a Bruno Braga Campos por ter localizado na Internet fotografia do corpo docente do Ginásio Santo Antônio, utilizada neste artigo com ótima resolução, e à minha esposa Rute Pardini pela permanente disponibilidade de dar sugestões para enriquecimento do texto e de perpetuar, através de seu iPhone, os momentos de saudável  convivência.





* O autor tem Bacharelado em Letras e Composição Musical, bem como Mestrado em Administração. Participa ativamente como membro de diversas instituições de cultura no País e no exterior. Possui o Blog do Braga (www.bragamusician.blogspot.com.br/) e é um dos colaboradores e gerente do Blog de São João del-Rei. Escreve artigos e ensaios para revistas, sites e portais de música e periódicos. 
O autor é escritor, compositor e pianista, membro do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, onde ocupa a cadeira nº 22 patronímica do escritor e poeta são-joanense Lincoln de Souza, e da Academia de Letras de São João del-Rei, onde ocupa a cadeira 28 patronímica de Dr. Antônio de Andrade Reis. Outras instituições de que participa como membro: IHG de Campanha, Academia Valenciana de Letras e Instituto Cultural Visconde do Rio Preto (Valença-RJ), Academia Divinopolitana de Letras, IHG-DF, Academia Taguatinguense de Letras, Academia Barbacenense de Letras, Academia Formiguense de Letras e Colégio Brasileiro de Genealogia (Rio de Janeiro-RJ).

8 comentários:

Júlio César Carvalho Ferreira (filho de Luiz Antônio Ferreira, 2º Sargento servindo no 36º BIMtz em Uberlândia-MG) disse...

Muito bonita a homenagem, fiquei emocionado.
Júlio César

Aline Maria Carvalho Ferreira (filha de Luiz Antônio Ferreira, graduada em Pedagogia pela UFSJ) disse...

Que coisa linda! Obrigada pelo carinho,
Aline

Otávio Luís Carvalho Ferreira (filho de Luiz Antônio Ferreira, comerciante) disse...

Somos mais que gratos em tê-los como verdadeiros amigos. Nós amamos vcs de verdade.
Otávio

Jota Dangelo (médico, diretor teatral, ator, dramaturgo, gestor cultural e fundador da Escola de Samba Qualquer Nome Serve) disse...

Gostei de ver a foto dos docentes do Ginasio Santo Antonio, muitos deles foram meus professores ja que entrei no Ginasio em 1943. Bela materia sobre o Mosquito. Dangelo

Bruno Nascimento Campos (mestre e doutor em História pela UFSJ, proprietário do Blog Zimeose - Um dedin di prosa... e membro do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei) disse...

Grande Luiz!
Ele detinha um acervo riquíssimo da história são-joanense, sobretudo dos franciscanos e da UFSJ, por extensão.
Abraços,
Bruno

Tânia Tavares disse...

Agradeço a gentileza por todos os emails enviados . Atenciosamente Tânia Tavares .

Luiz Antônio Tavares disse...

Peço mil desculpas por não ter agradecido seus últimos e interessantíssimos emails . Estávamos em Teresópolis para curtir o PARNASO . Só retornamos 13/07.Abraços : Luiz Antônio .

Prof. Fernando Teixeira (professor universitário, escritor e Secretário Geral da Academia Divinopolitana de Letras) disse...

Parabéns por suas pesquisas históricas. São João del-Rei há de ser-lhe grata sempre. Abraço para o amigo e esposa. Fernando Teixeira