domingo, 4 de novembro de 2018

HOMENAGEM AOS SÓCIOS FALECIDOS NO IHG DE SÃO JOÃO DEL-REI


 
Por Francisco José dos Santos Braga


Neste domingo, dia 04/11/2018, a 541ª Assembleia Ordinária do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, sob a presidência de Paulo Roberto Sousa Lima e a vice-presidência de Maria Lúcia Monteiro Guimarães, retomou, numa das seções da pauta dos trabalhos, uma singela e merecida homenagem a confrades falecidos, distinguindo os seguintes nomes: Álvaro Bosco Lopes de Oliveira, Astrogildo de Assis, Benito Mussolini Grassi; José de Alencar Ávila Carvalho e Maria José Dutra de Carvalho ("Mara Ávila"); José Augusto Moreira, José Roberto Vitral e Laís Medeiros Garcia de Lima.

Além do belo panegírico proferido por Wainer de Carvalho Ávila, em discurso oficial, homenageando todos os confrades falecidos acima citados, achei por bem acrescentar, na seção Palavra Livre, algumas palavras sobre meu saudoso benfeitor e primo 



ÁLVARO BOSCO LOPES DE OLIVEIRA (1937-2009), filho de Anna Braga Lopes e Miguel Lopes de Oliveira, advogado e pessoa digna, foi um dedicado membro efetivo desta Casa e aqui foi admitido por seus conhecimentos na área da Geografia e suas elevadas qualidades pessoais, reconhecidas por todos os seus confrades: lealdade, capacidade de ouvir, generosidade, amizade e, em especial, por ser possuidor de um dom especial para conciliar e reconciliar na busca da concórdia entre seus pares. Dono de invejável bom senso e uma cultura geral ampla e diversificada, pôde muito contribuir para as discussões e aprofundamento das matérias em estudo, especialmente quando membro da Comissão de Geografia deste IHG. Orgulhava-se de pertencer ao Quadro de Sócios Efetivos, exaltando, quanto pôde, o nome do seu querido Sodalício. Seu nome já constava como Sócio Efetivo deste IHG na Revista nº 3, de junho de 1985. Na Revista nº 5, de 1987, na qual o IHG aparecia distribuído por Comissões, pela primeira vez, ali seu nome já figurava ao lado de Geraldo Guimarães, de quem era dileto amigo, e Aderbal Malta, como os três integrantes da Comissão de Geografia. Ocupou a Cadeira nº 17, patroneada por Severiano Nunes Cardoso de Rezende. 

Era forte o seu senso de pertencimento a este Sodalício, tendo permanecido fiel à sua vocação de historiador até 22 de maio de 2009, data de seu falecimento em Belo Horizonte. Casou-se com Emma Parentoni Lanna de Oliveira, aqui presente nesta singela homenagem a seu marido, cujo enlace matrimonial se deu em 30 de dezembro de 2000 e ao lado de quem foi feliz por nove anos. Seu nome é também lembrado como exímio jogador de damas e contador de “causos” e piadas, sempre recheadas com seu toque inconfundível de bom humor. 

Álvaro Bosco foi meu "padrinho" nesta Casa, indicando meu nome ao presidente José Antônio de Ávila Sacramento, o qual, a 3 de junho de 2007, me deu posse como Sócio Correspondente; da mesma forma agiu, indicando meu nome para a Academia são-joanense de Letras, presidida por Wainer de Carvalho Ávila, que me admitiu como Sócio Correspondente em 29 de julho de 2007. 

Outrossim, em 18 de fevereiro de 2014, no Blog de São João del-Rei, publiquei um elogio fúnebre em homenagem ao meu primo e amigo Álvaro Bosco Lopes de Oliveira, onde figura um texto de suas memórias intitulado “O fim da guerra”, recuperando as sensações que vivenciou no seu 8º aniversário, ou seja, em 6 de maio de 1945.

O FIM DA GUERRA 

Por Álvaro Bosco Lopes de Oliveira

Os convocados tinham o apelido de ARIGÓS ¹ , porque eram na sua maioria gente simples da roça. Naquele dia 6 de maio de 1945 eles chegaram à pensão de meu pai, eufóricos, transbordando de alegria.
Pensão de Miguel Lopes de Oliveira (a mesma casa retratada no conto "O Segredo", de Lincoln de Souza, na  6ª edição do seu livro "Contam que...", de 1957, segundo desenho de Armando Pacheco, com base em fotografia fornecida pelo autor)
Chegaram me jogando para cima, fazendo festa. O clima de alegria contageou a todos. Meu pai trouxe guaraná e cerveja e a festa foi se avolumando, pipocando por toda a cidade. Fiquei perplexo com aquela grande festa, na pensão de meu pai, no Segredo e no resto da cidade... No pouco entendimento dos meus oito anos, eu achei que aquilo era uma grande festa do meu aniversário. Só mais tarde vim a saber que toda aquela festa contagiante era porque tinham se livrado da Guerra, tinham se livrado da perspectiva da morte nos campos de batalha da Itália, para onde muitos já haviam ido; aquele 6 de maio de 1945 foi o dia da rendição alemã, o fim da II GRANDE GUERRA.

Mas a festa não ficou só na cerveja e guaraná. Teve outros lances. E um, digno de registro: um soldado do glorioso 11º Regimento Tiradentes, junto com o piloto Messias, sobrevoou, deu voos rasantes sobre o Regimento e imediações, jogando cal, purificando e embranquecendo as pessoas, pacificando o mundo!

E o soldado? E aquele soldado que jogava cal de um teco-teco? Quem era?

O soldado que teve participação tão original nas comemorações do fim da Segunda Guerra era FERNANDO SABINO. Também ele aguardava com ansiedade o desenrolar da Guerra na expectativa de ir para a frente de combate.

Não conheço nenhuma crônica de Fernando Sabino que faça alusão ao fato, mas em "O Grande Mentecapto" ele faz o herói do livro, Viramundo, viver parte de sua vida aventurosa e picaresca em São João del-Rei. Nesta passagem por São João del-Rei, Viramundo acaba participando de uma orquestra local, e aí, como em todos os lances do romance, faz as suas trapalhadas, de forma saborosa para o leitor.

Mas deixemos de divagações, voltemos ao dia 6 de maio de 1945. A rendição alemã tirou um peso do mundo. A humanidade voltou a respirar aliviada, cheia de entusiasmo para reconstruir dos escombros os edifícios e cidades que a loucura de HITLER havia atingido. 



NOTAS EXPLICATIVAS



¹ Nos Estados do Amazonas e Pará, principalmente, arigó é a designação dada aos nordestinos, em especial cearenses, que para lá migraram a fim de participar, como "soldados da borracha", da extração do látex das seringueiras no esforço de guerra durante a II Guerra Mundial. Foram, ao todo, 55.000 brasileiros recrutados pelo governo Getúlio Vargas para produzir, nos seringais da Amazônia, 100.000 toneladas de borracha por ano para os países aliados. Fugindo da seca de 1942, os nordestinos se alistaram como voluntários, dos quais pelo menos 31.000 morreram, vítimas de malária e outras enfermidades, além dos problemas decorrentes da dura jornada de trabalho.

14 comentários:

Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...

Tenho o prazer de publicar breve crônica sobre uma homenagem que se prestou aos sócios falecidos, em 04/11/2018, no IHG de São João del-Rei, com destaque para minha fala enaltecendo a figura de Dr. Álvaro Bosco Lopes de Oliveira.

https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2018/11/homenagem-aos-socios-falecidos-no-ihg.html

Cordial abraço,
Francisco Braga

Dr. Mário Pellegrini Cupello (escritor, pesquisador, presidente do Instituto Cultural Visconde do Rio Preto de Valença-RJ, e sócio correspondente do IHG e Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Caro amigo Braga

Agradeço pelo envio de seu belo panegírico, brilhante como sempre (!), o que me fez lembrar um episódio que até hoje guardo em minha memória.

Era eu menino ainda quando, em Valença, os sinos da Igreja Catedral passaram a soar – insistentemente! – como que em comemoração festiva. Ouvi fogos estourando e grande clamor de muitas vozes. Chamou-me a atenção a euforia das pessoas em meio à rua principal da cidade – Rua dos Mineiros – abraçando-se, efusivamente, em comemoração a algo que até então eu não compreendia: mas era o final da II Guerra Mundial!

Meus pais, que até então acompanhavam pelo rádio as notícias do “front”, no cenário de guerra na Itália, abraçavam-se com grande emoção, dizendo-me que “agora você e todos nós somos pessoas livres”: ouvi isto várias vezes, deles e de meus tios!

Peço-lhe desculpas se me estendi um pouco, mas este fato foi muito marcante para mim.

Com o meu abraço e o de Beth,

O amigo Mario.

Dr. José Antônio de Ávila Sacramento (advogado, escritor, pesquisador, gerente do portal Pátria Mineira, sócio correspondente do IHGMG e do IHG Paraibano, membro efetivo do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

No tocante ao saudoso
amigo Álvaro, parabéns!

Dolores Olívia Ferraz (professora universitária são-joanense) disse...

Oi Francisco, boa noite!!!

Adorei, lamentei não ter conseguido comparecer na reunião!

Agradeço sua gentileza por ter me enviado.

Abraços Dolores

Rute Pardini (cantora lírica, soprano) disse...

Meu amado esposo, gostei muito de ler sua crônica enaltecendo oito confrades do IHG, especialmente nosso querido Álvaro. Ah! só saudades, né? E quando ele o chamava: Francisco José...
Sempre brincava comigo, sempre de bom humor!
Adorava mostrar para mim as fotos da viagem que vocês (Emma, Álvaro e você) fizeram à Grécia em 2001, quando contava as peripécias de vocês por todo o país. Meu Deus, como ele era seu amigo! Nosso querido Álvaro nos deixou muitas lembranças para podermos às vezes “abrir o álbum” e passear naqueles caminhos que guardam muitas passagens vividas por vocês!
Parabéns pelo seu carinho e apreço pelo primo irmão, o "Parakaló"!
Neste momento, abraço-o também, tentando lhe dar o conforto pela falta que Alvaro lhe faz!

Alan Elias da Silva (ex-comandante do 38º BPM de São João del-Rei) disse...

Bom dia meu amigo.

Li e apreciei.

Tenha uma ótima semana abençoada.

Abraços.

Prof. Fernando de Oliveira Teixeira (professor universitário, escritor, poeta e membro da Academia Divinopolitana de Letras, onde é Presidente) disse...

Muito grato pelo envio, caro Braga. Abraço do Fernando Teixeira

Dr. Rogério Medeiros Garcia de Lima (professor universitário, desembargador do TJMG, escritor e membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Bravo! Mais uma vez, muito grato!

ANIZABEL disse...

Merecida homenagem. Parabéns.

Betânia Betânia Maria Monteiro Guimarães (escritora, pesquisadora, professora universitária e membro do IHG e da Academia de Letras de São João del-Rei) disse...

Parabéns, Francisco!
Você nos fez relembrar com emoção o nosso tão amigo Álvaro. Ainda tenho jogos de cama que adquiri de suas mãos para o meu enxoval. Ele foi muito amigo de uma tia minha, comerciante também, de nome Regina.

Anônimo disse...

Prezado confrade Francisco Braga. Parabéns pela peça que complementou, e bem, o sentido da singela, mas marcante, homenagem a nossos confrades falecidos. Vc tem o dom e a sensibilidade de fazer o comum virar significativo, e o simples, empolgante. Obrigado pela contribuição que farei constar em anexo na ata 541.

Paulo Roberto Sousa Lima (escritor, gestor cultural e presidente eleito do IHG de São João del-Rei para o triênio 2018-2020) disse...

Obrigado pelo envio. Farei anexar à ata 541.
Abraços fraternos,
Paulo Sousa Lima

Maria Auxiliadora Muffato (poetisa são-joanense) disse...

Francisco, agradeço a delicadeza em enviar-me, com frequência,
informações tão ricas, que tanto aprecio - como esta homenagem
aos sócios já falecidos -, em especial o Álvaro, pessoa muito conhecida
dos são-joanenses.
Abraços de Maria Auxiliadora Muffato (“Gina”)

Prof. Cupertino Santos (professor aposentado da rede paulistana de ensino fundamental) disse...

Caro professor Braga;
É sempre importante relembrar a memória daqueles que se foram, deixando sua obra e seu exemplo. Parabéns ao Instituto e particularmente ao amigo pelas referências ao seu eterno "padrinho". Aliás, muito interessante a lembrança afetiva dele sobre a repercussão nessa cidade do final da Grande Guerra.
Grato,
Cupertino