Por Mauro Eustáquio Ferreira
Transcrevemos aqui o texto “Frei Randag: o sacerdote-pintor”, publicado na revista Presença Seráfica, jun. 1995.
O artigo intitulado “Grande pintor sacro e sacerdote no Santuário de Santo Antônio", assinado por “RAF” (frei Rafael van Zevenhoven, o.f.m.) e publicado em 24 de julho de 1949, no jornal A Semana, de Divinópolis, contém algumas informações sobre este artista: frei Humberto Randag. No início de sua crônica, narrava frei Rafael: “Foi em dezembro de 1948 que tive a oportunidade de me encontrar com o sacerdote-pintor, em seu atelier em Amsterdam, na Holanda”. Mais adiante contava o cronista: “Não o conhecia ainda, isto é, apenas de nome, pois em toda parte é conhecido o frade-pintor, através das suas obras de pinturas e desenhos, que ornamentam e enfeitam as maiores igrejas e salões de várias cidades europeias”.
Ainda é frei Rafael que relata: “Formado na escola de Belas-Artes na capital da Holanda, em Amsterdam, o frade-pintor começou logo a chamar a atenção dos seus superiores, que o destinaram para a execução de várias obras de arte em diversas igrejas no país. Rapidamente se espraiava o nome de Randag pelas cidades grandes e pequenas dos Países Baixos, e grande foi o número dos concorrentes que desejavam possuir as obras, paramentos e ornamentações de Randag. Uns anos depois, frei Humberto já podia ombrear-se com os grandes artistas holandeses, granjeando o justo renome de pintor moderno, mas, moderno sem os excessos”. Depois o cronista profetiza que a pintura sacra do santuário de Divinópolis “será orgulho do povo divinopolitano”.
O Livro do Tombo da Paróquia de Santo Antônio registra que: “Chegou nos fins de julho Padre Frei Humberto Randag OFM, da Holanda, a fim de pintar o Santuário de Santo Antônio. O trabalho terminou-se no mês de dezembro do mesmo ano. Começou o pintor a mandar limpar as paredes de cima para baixo de toda a caiação. A matéria com que pintou eram tintas minerais dissolvidas em silicato de sódio (água de vidro)”. Ainda segundo o mesmo livro, em 11 de dezembro de 1949, o pintor viajou para o Rio de Janeiro, onde embarcou de volta para Holanda.
Nascido em 18 de outubro de 1885, em Amsterdam, Holanda, frei Humberto, cujo nome de batismo era Wilhelmus Franciscus Constantinus Maria Randag, entrou na Ordem dos Frades Menores, em 11 de março de 1923, na cidade holandesa de Weert. Entre os anos de 1924 a 1931, foi aluno da Academia de Arte, em Tilburg e Amsterdam, tendo sido considerado como “o melhor aluno da turma” pelo mestre Roland Holst.
A primeira grande obra da arte de frei Randag foi a coleção de vitrais para a cidade de Gorcum, muito bem aceita pela crítica.
Por dois períodos, frei Humberto foi coadjutor paroquial em Amsterdam (de 1931 a 1937 e de 1942 a 1965). Ele também foi mestre dos clérigos de Venraij e Weert (de 1937 a 1941).
Ao mesmo tempo em que se dedicava ao trabalho tradicional de um religioso, o frade-artista empreendeu também o caminho da arte para divulgar as mensagens evangélicas. A admiração pelos vitrais de Gorcum foi acompanhada por muitas encomendas: murais, quadros, vitrais, crucifixos, desenhos para ilustrarem livros catequéticos e religiosos, e principalmente paramentos e mosaicos, que tornaram o franciscano mais conhecido como artista.
A maior parte dos trabalhos artísticos de Randag foi realizada na Holanda. No entanto, por muitas vezes convidado para realizar algumas obras no exterior, o sacerdote-artista somente executou o seguinte: mosaicos na Itália (Roma); murais de têmpera à caseína (que foi confundida com afrescos) no Brasil (Divinópolis), em 1949; murais e mosaicos nos Estados Unidos, em 1951 e 1955.
Os dons artísticos de frei Humberto também se manifestaram quando criou e dirigiu um coral de meninos-cantores e, pouco mais tarde, como coadjutor, logo depois da Segunda Guerra Mundial, soube congregar um grupo de jovens artistas (o grupo Homo Ludens) para apresentar programas de divertimento e recreação.
De acordo com professor Henk Rozestraten (ex-frei Benedito, OFM), que repassou estas informações biográficas, os confrades de frei Humberto consideravam-no “um homem piedoso, cumpridor de seus deveres como religioso e franciscano”, “um homem profundamente apostólico”.
Depois de ter intensamente propagado a fé cristã por meio de sua arte genuína, transmitido seu ensinamentos a vários discípulos e vivido virtuosamente seu sacerdócio, frei Humberto Randag faleceu aos 22 de agosto de 1965, em Amsterdam. Foi sepultado no cemitério dos franciscanos em Katwijk ann Rijn, em 26 de agosto.
A ajudante e modelo
Durante os quatro meses em que ficou em Divinópolis, frei Randag teve pouco relacionamento com os divinopolitanos. Uma das pessoas com quem ele se relacionou foi a então jovem Geralda de Souza, que, em 1949, era aluna do curso de formação da Escola Normal Mário Casassanta, desde 1961 Instituto Nossa Senhora do Sagrado Coração. Ela fora a escolhida pelo próprio frade, após um teste aplicado entre as estudantes de pintura do citado colégio de freiras, para com ele colaborar nos painéis da nova igreja dos franciscanos.
Como ajudante do pintor nos murais do santuário, Geralda tinha de com ele conversar. É ela quem conta: “Nós nos comunicávamos em francês, porque frei Humberto não falava a nossa língua”.
“Ele era um pessoa muito alegre; cantava o tempo todo; era muito simples e pintava rápido. Sim, frei Humberto era muito rápido para pintar” — lembra Geralda, que estudava pela manhã e, à tarde, colaborava na pintura dos painéis. Depois ela acrescenta: “Eu pintava os complementos: por exemplo, os cabelos e as flores. ele fazia as marcações e pintava as partes mais importantes. Depois eu vinha completando”. E ressalta que o frade-pintor lhe dava plena liberdade de criar as flores e outros detalhes.
Durante todo o tempo em que estava sendo pintado o grande painel do altar-mor, uma enorme cortina escondeu os andaimes e o desenvolvimento dos trabalhos. O povo só pôde ver a obra depois de toda pronta. Geralda conta também que somente alguns convidados é que tiveram acesso àquele espaço enquanto se processava a pintura.
Natural de Bambuí, Minas Gerais, Geralda mudou-se ainda criança para Divinópolis. Hoje, aposentada da Rede Ferroviária Federal S/A, onde trabalhou no setor de Relações Públicas, e morando em Belo Horizonte, ela guarda com muita saudade e reverência as lembranças da sua participação naquele empreendimento e ainda revela que, além de ter colaborado como pintora dos painéis de frei Randag, serviu-lhe de modelo para que fosse retratado o rosto de Nossa Senhora junto ao Cristo, na via-sacra.
Fonte: Franciscanos na Terra do Divino: Presença, Palavras e Ações por Frei Leonardo Lucas Pereira, o.f.m., Sheila Almeida Nery Lunkes & Mauro Eustáquio Ferreira (organizadores), Petrópolis: Editora Vozes, 2021, p. 401-403.
II. AGRADECIMENTO
O gerente do Blog agradece à sua amada esposa Rute Pardini Braga pela formatação do registro fotográfico utilizado neste trabalho.
O gerente do Blog agradece à sua amada esposa Rute Pardini Braga pela formatação do registro fotográfico utilizado neste trabalho.
Um comentário:
Francisco José dos Santos Braga (compositor, pianista, escritor, tradutor, gerente do Blog do Braga e do Blog de São João del-Rei) disse...
Prezad@,
No 2º semestre de 1949, o frei holandês HUMBERTO RANDAG o.f.m. foi contratado para pintar os grandes murais do Santuário de Santo Antônio, em Divinópolis-MG, quando já contava 64 anos de idade. Após 4 meses de sua chegada ao Brasil e intensa atividade artística, deixou um legado que é "orgulho do povo divinopolitano". Desta forma, propagou a fé cristã por meio de sua arte genuína. Neste artigo no Blog de São João del-Rei, com ilustrações da obra do frade-artista, será retratado um pouco de sua arte.
TEXTO
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2024/12/os-murais-de-frei-humberto-randag-no.html
BREVE BIOGRAFIA DE FREI HUMBERTO RANDAG o.f.m.
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2024/12/colaborador-frei-humberto-randag-ofm.html
Cordial abraço,
Francisco Braga
Gerente do Blog de São João del-Rei
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