segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Padre José Maria Xavier, sua vida e sua obra, no contexto de sua época >>> Parte 2


Por Abgar Antônio Campos Tirado *


Em São João del-Rei, exerceu cargos e funções diversas, a saber: Capelania no Colégio Duval, magistério no mesmo colégio e, mais tarde, em outras escolas; Vigário da vara de São João del-Rei, em 1854, cargo que exerceu por pouco mais de dois anos com extrema dedicação e devido rigor, o que lhe valeu aborrecimentos, mesmo com irmãos no sacerdócio, de quem exigia o integral cumprimento do dever; Definidor da Ordem Terceira de São Francisco, estando seu nome inscrito no Quadro de Benfeitores; Definidor, de 1855 a 1856, da Confraria de São Francisco de Assis e São Gonçalo Garcia, da qual foi extraordinário colaborador; Comissário da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, à qual se dedicou com sumo zelo (Eleição confirmada a 12 de outubro de 1859, pelo Revmo. Provincial Frei Luiz de Santa Bárbara Pereira); eleito em 1879 e 1880 Provedor da Santa Casa da Misericórdia, nesse encargo trabalhando incansavelmente, tanto na assistência espiritual e material aos doentes como, segundo ilustre médico, antecipando de cem anos métodos de administração hospitalar, além de promover a humanização no tratamento dos doentes mentais, levados a efeito nesse pioneiro nosocômio; membro da Conferência de São Vicente de Paulo, à qual tudo fazia para servir, não medindo os maiores sacrifícios; membro da Irmandade de N. S.ª da Boa Morte; Capelão, nos últimos tempos, da Irmandade dos Passos e da Confraria de Nossa Senhora do Rosário, entidades às quais deu o melhor de si, distribuindo, entre os pobres, parte dos pequenos proventos recebidos, realizando igualmente diversos atos litúrgicos, principalmente funerais, sem remuneração alguma. A propósito, vale lembrar o aborrecimento sofrido, quando Capelão da Irmandade dos Passos, no dia 23/03/1879: Advertindo o Padre José Maria os responsáveis pelo abuso no toque de sinos ao ensejo das comemorações de Passos, foi ele aparentemente obedecido na véspera da festa; todavia, no dia seguinte, os sineiros, num desafio ao respeitado sacerdote, fizeram as campanas soar como bem lhes ditou o alvedrio (cumpre ressaltar que, na época, era forte, sobretudo na Europa, a onda do anticlericalismo ou de indiferentismo religioso, fruto de filosofias estribadas unicamente na razão e que já se vinham insinuando desde séculos anteriores, culminando no século XIX com filosofias antimetafísicas como o Positivismo e o Materialismo, juntamente com a revolução científica e industrial. Todavia, o ambiente em São João del-Rei e em cidades congêneres, era, por assim dizer, acentuadamente teocêntrico, sendo grande a autoridade da Igreja; nesse tipo de realidade, não era incomum, ao lado da extrema submissão às normas eclesiásticas, movimentos, isolados e esporádicos, de grande rebeldia). Em ofício datado de 29/04/1879 o Padre José Maria se dirige à Irmandade, relatando a Lamentável ocorrência, dizendo textualmente: "...........foram as torres d’improviso assaltadas (na Matriz até com arrombamento) por aqueles heróis de campanário, invictos atletas de ........... (empinar sinos) e que se julgam sobranceiros a qualquer coibição legal, máxime da Igreja".

Na política, chegou o Ilustre sacerdote a militar por algum tempo no Partido Conservador, abandonando-o motivado por algumas divergências, mas conservando os princípios.

Possuía o Padre José Maria um caráter irrepreensível e um grande amor à virtude, que o fazia levar uma vida austera, de rigorosa observância dos deveres de estado e de privação de prazeres, exceção feita ao cultivo da música, quando em determinados dias da semana se reunia com alguns amigos, para fazer música de câmera.

Sua sabedoria e prudência faziam-no sempre procurado para a solução dos mais diversos problemas, notadamente em delicados casos de consciência e em questões conjugais. Foram muitos também os que o quiseram como testamenteiro. Segundo seu amigo e biógrafo, Severiano Nunes Cardoso de Resende (08/11/1847 – 13/05/1920), caracterizava-o também certo pessimismo no que tangia a assuntos seculares, sendo comum, em questões secundárias, assumir posição antagônica a seus interlocutores, muito embora, nas causas realmente graves, fosse um eterno conciliador. Principalmente em seus últimos anos, quando levava a vida de simples sacerdote, dedicava-se com afinco ao estudo de línguas e de ciências, também lecionando, gratuitamente, para meninos pobres. Sua grande caridade fez com que, na terrível epidemia de varíola que assolou São João del-Rei em 1878, visitasse com freqüência os doentes, mesmo com alto risco de contágio. Seu amigo e também biógrafo Aureliano Correia Pereira Pimentel (20/11/1830 – 31/12/1908) nos conta que era o Padre José Maria o sacerdote que assistia espiritualmente os condenados à forca, nos instantes que precediam a consumação da pena capital.

Continua...



* Abgar Antônio Campos Tirado é natural de São João del-Rei, MG. Com formação na área das Letras e da Música, é professor, palestrante, comentarista cultural, escritor, pianista e compositor, com obras já executadas no exterior. Foi diretor por vários anos do Conservatório Estadual de Música “Padre José Maria Xavier” de São João del-Rei, onde se aposentou. É sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei e membro efetivo da Academia de Letras da mesma cidade, bem como da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais. Mais...

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