segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Padre José Maria Xavier, sua vida e sua obra, no contexto de sua época >>> Parte 4


Por Abgar Antônio Campos Tirado *


A obra

Dentre as composições do Padre José Maria Xavier, sejam citadas: - Música completa para a Semana Santa – em que a Paixão e Morte de Cristo são sublinhadas de forma pungente, e por vezes, descritiva, como nos exemplos: O 2º Responsório do Ofício de Trevas de Quinta-feira Santa – rezado ao anoitecer de quarta-feira – "Vos fugam capietis" é escrito num fugato que sugere a fuga dos apóstolos; também no 8º Responsório do mesmo Ofício, no trecho "Sed festinat tradere me Judaeis", a música apresenta, nas cordas, desenhos ascendentes rápidos, descrevendo o fato de Judas apressar-se (festinat) para entregar Jesus. No 1º Responsório do Ofício de Sexta-feira Santa no "Velum templi scissum est", o desenho melódico descendente nas palavras "scissum est" sugere o véu do templo se rasgando de alto a baixo; logo a seguir, no "et omnis terra tremuit", a música apresenta um trêmulo, traduzindo o tremer da terra. Já no 7º Responsório do Ofício do mesmo dia, no trecho "Et sicut gigantes steterunt contra me", a voz de trompas de caça lembra os passos de gigantes.

Toda a música do Padre José Maria para os Ofícios de Trevas foi gravada pela Orquestra e Coro dos Inconfidentes, de Belo Horizonte, sob a regência do são-joanense Marcelo Ramos.

1) Matinas do Natal de N. S. Jesus Cristo – para quatro vozes e pequena orquestra. Obra composta em 1866 e impressa em Munique (Alemanha), em junho de 1885. É orquestrada para violino I, violino II, viola, baixos, oficleide, flauta, clarineta, trompete e trompas, além das quatro vozes (tiple, altas, tenor e baixa). Segue a forma geral das Matinas: Invitatório (Christus natus est nobis. Venite adoremus) – 1º Noturno (três Responsórios), 2º Noturno (três Responsórios) a 3º Noturno (dois Responsórios). Essa obra foi gravada integralmente pela orquestra Ribeiro Bastos, sob a regência do Dr. José Maria Neves, que é também autor do instrutivo folheto sobre o autor e obra, que acompanha o disco;

2) Matinas d' Assunção e Novena própria;

3) Matinas de Santa Cecília, da Conceição, do Espírito Santo, do Patrocínio de São José, do Sagrado Coração de Jesus e da Ressurreição;

4) Novenas de Santa Rita, de São Sebastião e de Nossa Senhora do Carmo;

5) Seis missas e cinco credos (na tradição luso-brasileira,a forma Missa compreendia o Kyrie e o Glória; e a forma Credo, o Credo propriamente dito, o Sanctus, o Benedictus e o Agnus Dei). Dentre as Missas, podemos citar a da Assunção (1851), que sugere a forma cíclica, voltando o tema do Kyrie no "Cum Sancto Spiritu". É uma bela composição, assim constituída: 1 – Glória in excelsis Deo (coro, com predominância do uníssono e orquestra); 2 – Laudamus te (terceto: soprano, alto e baixo); Gratias agimus (tenor-solo); Domine Deus e Qui tollis (quarteto vocal); Qui sedes (introdução-cordas/coral a capella/coral e cordas); Cum Sancto Spiritu (tema do Kyrie – coro e orquestra). Outra bela Missa é a do Espírito Santo; e a Missa nº 5, composta em 1880, foi impressa em 1884, em Munique. Essa última foi gravada pela Orquestra e Coro do 14º Inverno Cultural, da UFSJ, sob a regência de Paulo Miranda, sendo ao mesmo tempo lançada, em esmerada edição, a partitura dessa Missa. Também a Missa do Sábado Santo, chamada Missa de Catedral, já está gravada pela mesma orquestra e coro, sob a regência do referido maestro, gravação essa que aguarda reprodução.

6) Para os defuntos: Missa de Requiem – Responsórios Fúnebres – Dois Mementos – Ofício Fúnebre – Encomendação do Carmo e Encomendação de São Francisco;

7) Diversas antífonas, solos, hinos, ladainhas, Veni Domine, Glória Patri para novenas, Tractus, Popule meus, Adoramus te Christe, Bradados;

8) Três Te Deum(s) (o 3º pertencente às Matinas do Espírito Santo);

No campo da música não-sacra instrumental encontram-se valsas, minuetos (seis festivos e três quaresmais) e outras composições, de acordo com o estilo e gosto da época. Aqui poderia incluir-se a Abertura para o dia 14 de agosto (Trânsito de Nossa Senhora).

Continua...



* Abgar Antônio Campos Tirado é natural de São João del-Rei, MG. Com formação na área das Letras e da Música, é professor, palestrante, comentarista cultural, escritor, pianista e compositor, com obras já executadas no exterior. Foi diretor por vários anos do Conservatório Estadual de Música “Padre José Maria Xavier” de São João del-Rei, onde se aposentou. É sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei e membro efetivo da Academia de Letras da mesma cidade, bem como da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais. Mais...

Um comentário:

José Antônio de Ávila disse...

Meu amigo e confrade Abgar Tirado foi, é e sempre será formidável e perfeito nos seus profundos e bem fundamentados conhecimentos, nas suas ações a favor da cultura local (sobretudo a cultura musical), nos seus escritos e nos seus ensinamentos.
É uma grande reserva intelectual que ainda possuímos na cidade de São João del-Rei!